domingo, 20 de dezembro de 2020

Itamaraty sem rumo



A política externa brasileira  deve ter por base a expansão de sua influência política junto aos países cuja relevância afetam e favorecem os objetivos nacionais. Outro pilar será a promoção e ampliação dos mercados externos. Agregar valor à nossa pauta comercial, buscar expansão, continuidade e segurança resultam em crescente credibilidade e poder negocial. Ainda, a economia,  fortalecida por crescente cobertura cambial acentua a blindagem e credibilidade face aos parceiros internos e externos.

No entanto, em surpreendente contradição, o governo Bolsonaro, vem escolhendo rumos contrários à estes objetivos.  Tanto o Presidente quanto o Chanceler,  contrariando a opinião dos melhores quadros da  diplomacia, levam o  Brasil a diálogo dissonante com seus melhores clientes. 

Relações estressadas existem, hoje, com a China, nosso maior parceiro comercial, com o novo governo norte americano, o maior parceiro político do Brasil, com a União Europeia, nossa maior fonte de investimentos, e com a Argentina, peça chave no Mercosul, porta de entrada ao mercado Latino Americano. 

Em outras palavra, contrariando nossa história diplomática, põe-se  em risco simultâneo as  relações com as entidades líderes do planeta, graças à uma visão inexplicável emanada de teorias exóticas e confusas de Olavo de Carvalho e seus seguidores, onde, não raro, despontam a família Bolsonaro e seus aderentes. 

À esta visão global estreita, soma-se uma íntima, ainda que terminal,  parceria com o presidente Trump, onde a Nação se apequena ao viver uma relação que mais lembra o subordinado oferecendo-se ao chefe em troca de promessas vazias.  

Nada ganhou o Brasil pelos inúmeros benefícios que ofereceu nestes últimos dois anos ao colosso norte americano. Contrariou-se a tradicional política externa  brasileira, onde prevalecía a norma de reciprocidade no trato comercial e político,  em quadro de respeito mútuo. 

Foram muitas as concessões ao governo americano; a exclusão de visto para cidadãos americanos, a cessão da base em Alcântara, a importação de alimentos isenta de impostos, o afastamento da Organização Mundial do Comércio (em troca não cumprida de apoio junto à OCDE), a autorização da venda da Embraer, jóia tecnológica brasileira, à empresa Boeing (de triste resultado),  encabeçam extensa lista de onde nenhuma compensação fluiu do governo Trump. 

Nem mesmo obteve Bolsonaro a embaixada de Washington para seu filho Eduardo, segundo certas fontes,  negada sotto voce  pela chancelaria americana!

Agravando o quadro,  Brasília deixa-se atrair para uma disputa entre os Estados Unidos e a China, que não é  de seu interêsse. Privilegiar os interesses de Washington se justifica plenamente quando tais interesses sejam compatíveis com àqueles do Brasil, mas não quando os contrária.

Por pressão de Washington, o Brasil mostra-se propenso a não contratar o sistema 5G, assim abrindo mão de salto tecnológico crucial para sua infraestrutura de comunicação sem que obtenha qualquer compensação. A alegação norte americana de haver perigo de espionagem parece infantil, pois as técnicas de espionagem hoje existentes nas grandes potências, Estados Unidos e China incluidos, perfuram a seu bel prazer as barreiras que o Brasil possa levantar. Se ceder às pressões de Washington, o Brasil perderá um momento crucial de vantagem competitiva. 

Acresce que no campo financeiro, os investimentos chineses nestes últimos anos superam aqueles  provenientes da América do Norte. Ainda que incipiente, não deve ser desprezada  a participação no Banco de Desenvolvimento  dos Brics, fonte adicional de recursos para o Brasil.  

Ainda, o Itamaraty não ignora que, a persistir ou  se agravar as relações com a China, o que ora se observa, medidas retaliatórias poderão emergir. Vale observar as hostilidades comerciais ora em curso entre Pequim e Canberra. 

E last but not least tem-se o anedótico episódio onde o embaixador brasileiro  em Washington, Nestor Foster, ao prever a vitória eleitoral de Donald Trump (os votos contrários seriam fraudulentos e inválidos) recomendou ao Ministro Araújo e ao Presidente Bolsonaro  sustar qualquer cumprimento e reconhecimento ao vitorioso Joe Biden!

Somando-se a explícita intimidade com o presidente derrotado à manifesta antipatia que o presidente Bolsonaro dedica ao presidente-eleito norte americano, o Brasil se encontra no nadir de suas relações históricas  com as três mais importantes nações do planeta, os Estados Unidos da América, a União Europeia e a China.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Pandemia e Pandemônia

Ontem, Angela Merkel, Primeira Ministra da Alemanha, não se conteve ao conclamar seus concidadãos a adotar severo comportamento social afim de conter a pandemia. Face a tragédia em curso, revelando sua profunda empatia, não conteve lágrimas. 



Quase simultaneamente, Jair Bolsonaro, com alegre expressão, informa a Nação que "estamos no fim da pandemia. Ganhei!!" Ao fazê-lo, revela seu distanciamento das estatísticas que retratam a crescente ameaça à saúde de seu povo. Leva o assunto na risada, como se nada de grave houvesse.




"Ganhei"? Ganhou o que? Mais algumas milhares de mortes? O brasileiro assiste, neste momento trágico, um líder nacional que, em seu semblante alegre e despreocupado face às circunstâncias do momento, lembra indícios de sócio-patia. Sugere falta de empatia para com seus concidadãos atemorizados, hospitalizados, recém enterrados, insinua  complexa personalidade cuja compreensão dependa  de observador especializado.

Como se não bastasse, a Pandemonia junta-se à Pandemia. Num dia, em homenagem à ubíqua burocracia brasileira, seriam 60 dias para a liberaçãodas vacinas. No dia seguinte, o mesmo ministro da saúde (só lhe cabe letra minúscula) declara a liberação da vacina nos próximos dias. 

As idas e vindas, a reversão de decisões, as contradições, todas evidenciadas no que trata da vida ou morte de cidadãos brasileiros. Neste momento crucial revela-se o colapso do bom senso e da lógica na administração pública nacional.

De um lado, abnegados médicos, enfermeiros e auxiliares enfrentam, hora após hora, dias após dia, a morte de seus colegas e de pacientes. Do outro lado, a nação observa o jogo das ambições pessoais e eleitoreiras de uns e de outros subjugados pelo amor ao cargo e ao poder, anulando o sacrifício e abnegação destes novos heróis brasileiros.




domingo, 6 de dezembro de 2020

Responsabilidade legal



 Ao longo da pandemia que se alastra pelo país, onde 176.000 já faleceram, o brasileiro tem observado o repetido e insistente descaso do Presidente da República quanto à imperiosa necessidade de conter-se esta mortandade.

Desprezando as afirmações e recomendações de organizações internacionais e nacionais especializadas no trato da saúde pública, afastando os ministros da área específica por discordar de suas orientações profiláticas baseadas em observação e experiência científica, Jair Bolsonaro, privilegiando instinto sobre conhecimento, nega o perigo.   

A Constituição da República deixa  claro que assegurar a segurança interna do país é obrigação presidencial.. Dentre os conceitos que definem tal segurança, desponta, prioritariamente o Direito à Vida de seus cidadãos, e, como corolário, o direito à saúde. No momento atual, dada a extensão das perdas ocorridas e da ameaça sanitária decorrente do Covid 19, torna-se evidente que cabe à autoridade máxima da República envidar os esforços para sua contenção. Não fazê-lo, é crime. 

Tal esforço sanitário é observado pelas demais nações e organizações internacionais, onde o protocolo de distanciamento social e uso de máscaras, além da medicação específica, atinge comportamento consensual. Quando dele se afastam, certos governos são penalizados  com a retomada de altos índices de mortalidade. A"segunda onda" constatada mundo afora decorre de indisciplina sanitária, instando tais governos ao retorno aos procedimentos recomendados por instituições especializadas, tais como a  Organização Mundial da Saúde.    

Na contramão de governos estaduais e municipais, Jair Bolsonaro se manifesta oficialmente, por declarações em rede pública, contrário ao uso de máscara  (coisa de maricas), e defende, ao assim exibir-se em público, sua indiferença pelos perigos da aglomeração social. Desprotegido, dá ao cidadão o mau exemplo da autoridade máxima no país, o exemplo contrário à saúde e à vida. Estímula, assim, a propagação do virus, ameaçando a integridade vital do cidadão brasileiro.

Trata-se de Crime de Responsabilidade conforme consta do Código Penal.

O passo subsequente, para aqueles que prezam a Nação, seus entes próximos e queridos, deveria ser a instauração de denúncia cidadã contra o Presidente da República, por contrariar o Artigo 4 que rege o Crime de Responsabilidade, e, seu inciso 4 reza: "Atentar contra a Segurança Interna do País", onde se inclui a "defesa da Vida do cidadão", a qual só é possível com a preservação da Saúde.

Se guerra houvesse, caberia ao Ministério da Defesa e seus generais orientar a proteção do país.          Se epidemia há, cabe ao ministério da saúde e seus médicos combatê-la. Na derrota militar, substitui-se o general incompetente. Na realidade pandêmica, Bolsonaro substitui o Ministro Mandetta, responsável pelo rumo correto no combate ao vírus,  por um Pazuello incapaz de coordenar a defesa do país. 

Assim, o Ministério da Saúde, na prática, está acéfalo. Tal condição equivale a desproteger, voluntariamente,  a vida do cidadão brasileiro. As declarações de Bolsonaro, onde o Covid 19 não passa de  "uma gripezinha, onde "todo mundo morre, e daí?"e assim sucessivamente,  sugere  uma nítida ausência de empatia com consequências melhor exemplificadas em tratados psicológicos. Sob a ótica dos deveres de um primeiro mandatário é moral e legalmente inaceitável levar o povo brasileiro ao erro, tanto  quanto à atual gravidade sanitária e quanto à menosprezar a  imprescindível  obediência aos protocolos  de proteção. 



                                                             000000


Conforme estabelece o Código Penal brasileiro:

Art. 1º São crimes de responsabilidade os que esta lei especifica.

Art. 2º Os crimes definidos nesta lei, ainda quando simplesmente tentados, são passíveis da pena de perda do cargo, com inabilitação, até cinco anos, para o exercício de qualquer função pública, imposta pelo Senado Federal nos processos contra o Presidente da República ou Ministros de Estado, contra os Ministros do Supremo Tribunal Federal ou contra o Procurador Geral da República.

Art. 3º A imposição da pena referida no artigo anterior não exclui o processo e julgamento do acusado por crime comum, na justiça ordinária, nos termos das leis de processo penal.

Art. 4º São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentarem contra a Constituição Federal, e, especialmente, contra:

I - A existência da União:

II - O livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados;

III - O exercício dos direitos políticos, individuais e sociais:

IV - A segurança interna do país:

V - A probidade na administração;

VI - A lei orçamentária;

VII - A guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos;

VIII - O cumprimento das decisões judiciárias (Constituição, artigo 89).


Constitui crime violar patentemente qualquer direito ou garantia individual constante do art. 141 e bem assim os direitos sociais assegurados no artigo 17 da Constituição;

...e mais adiante:

§ 37 - É assegurado a quem quer que seja o direito de representar, mediante petição dirigida aos Poderes Públicos, contra abusos de autoridades, e promover a responsabilidade delas.


"No entanto, o direito à vida vai além de simplesmente viver: é preciso uma vida digna, acesso a serviços de saúdeeducaçãosegurança e cultura, cabendo ao Estado garantir acesso de qualidade a esses e a outros bens e serviços que venha a prestar."

      


domingo, 29 de novembro de 2020

No caminho certo



Preliminarmente, constata-se que o Brasil é primeiro mundo, pelo menos no que concerne a apuração e a divulgação de  resultados eleitorais. Às 19 horas de hoje, dia da eleição, a imprensa eletrônica  anunciava os resultados. Parabéns TSE pela atuação impecável sob o Ministro Barroso.

Irrespectivamente de nomes e partidos, já no fim da tarde pode-se constatar a derrota dos Extremos e a consolidação  do centro (não confundir com Centrão). Confrontado com os excessos da esquerda, tendo Lula por paladino, e da direita, tendo Bolsonaro por líder, o eleitorado brasileiro mostrou sua maturidade.

Do PT não se vê os rastros nas prefeituras relevantes. Nenhuma vitória nas capitais revela o colapso da esquerda corrupta. No outro extremo, o da direita, ligada ao Planalto, observa-se resultado melancólico. Como se o Mito Jair não existisse.  Sua tática de obter apoio apavorando o eleitor com  bichos-papão imaginários se revela ineficaz.

No  Rio de Janeiro um briza de esperança nasce com a eleição de Eduardo Paes, após a paralisia  administrativa de Crivella. Em São Paulo,  a vitória de Covas sobre o PROS alija a ameaça da esquerda radical que pairava sobre o centro econômico do país. Considerando a força do colégio eleitoral destas duas metrópoles, surge uma reconfiguração política com consequências para a  próxima eleição presidencial.

Desde  o Nordeste, com a vitória de Campos em Recife sobre sua prima radical do PT, até o Sul, onde Sebastião Melo empolga Porto Alegre, vê-se promessa de equilíbrio.

O Brasil, no caminho certo, merece parabéns.

    


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O andamento do xadrês



A 16 de agosto de 2020 esta coluna sugeria a até então impensável aliança entre dois Estados tão díspares: o Judeu, dirigido pelo israelense  Bibi Netanyahu e o reino Muçulmano-Wahabita sob comando do príncipe Sauditas, Mohamed Bin Salman.  Os dois mais ferozes adversários teológicos se unem sob o lema "o inimigo de meu inimigo, meu amigo é."

Em operação secreta, mas não o suficiente para impedir sua divulgação aos quatro pontos cardinais, um Primeiro Ministro acusado de crime financeiro e um Príncipe herdeiro acusado de assassinato, se reunem .  E qual seu objetivo? A formação de aliança político-militar, unindo Israel à Arábia Saudita,  tendo por objetivo a neutralização do Irã, seja pela negociação, seja pela confrontação militar.

Ambo países, armados pelos Estados Unidos com o dernier cri em tecnologia militar, se preparam para:

a) a guerra, ainda sob a proteção oficiosa de Donald Trump, visando a destruição das instalações nucleares do Irã, ou

b) exercer pressão sobre o recém empossado presidente Biden e seus aliados europeus para que exijam de Teerã o desmantelamento de seu arsenal de mísseis. Caso contrário, forte sería a probabilidade de  guerra.

Sabe-se que o presidente-eleito deseja retornar ao tratado anti-nuclear, ainda vigente com a parte europeia.. Porém, para salvar a face da diplomacia americana, esta provavelmente exigirá novas cláusulas para justificar tal retorno. Dentre as cláusulas provávelmente constará a exigência de destruição do arsenal de mísseis persa. 

A anuência iraniana parece pouco provável, uma vez que a retaliação balística sería a  única arma suficientemente eficaz para conter a agressão de seus inimigos. Ainda, saberá o Aiatolá que os efeitos de um conflito nas terras do petróleo trará ao mundo nova crise econômica em momento de tentativa de recuperação dos estragos da pandemia. Fica, assim, reduzida a capacidade suasória de Washington.

Ainda, as forças Xiitas sob influência Iraniana, diseminadas pelo Iraque, Síria e Líbano, representam ameaça des-estabilizadora da região, cujas consequências recessivas serão contrárias aos interesses das potências Ocidentais e Orientais.

Face a este "nó Górdio", resta saber quem ousará usar a espada.

                                                                  -----------------

Adendo em 28 de novembro 2020: O MOSSAD, serviço secreto israelense, assassinou hoje no Irã um de seus principais cientistas nuclear. 

      

sábado, 21 de novembro de 2020

E agora?



A derrota de Donald Trump nas recentes eleições promete importantes mudanças no cenário internacional. Tendo sido o presidente americano superado por Joe Biden, com diferente visão interna e externa, pode-se esperar relevantes mudanças em alianças e convergências entre os Estados Unidos e demais nações.

No que concerne ao Brasil de  hoje, no seu segundo ano de governo Bolsonaro, a outrora tradicional colaboração internacional vê-se  substituída por uma visão auto-centrada e terra-planista. A hoje propalada relação íntima Brasília-Washington, apregoada pelo governo brasileiro, tem se revelado insuficiente para atingir-se os objetivos da política externa brasileira.   

A ingênua expectativa de que as relações comerciais Brasil-Estados Unidos permitiriam substanciais ganhos mútuos não se concretizou. Pelo contrário, vem ocorrendo transferência de vantagens brasileiras em benefício dos Estados Unidos no comércio de aço, alumínio, álcool, milho, trigo e outros. Ainda a venda, ou melhor, a ruinosa venda da Embraer à Boeing, o boicote imposto ao 5G chinês por ordem de Washington, a cessão da Base de Alcântara em penumbra negocial, a não exigência de reciprocidade na concessão de visto à viajante norte-americanos, todas estas iniciativas evidenciam  uma subserviência brasileira em favor de outra Nação uma vez que dela não flui compensação equivalente.

Aliando-se à indiferença de seu parceiro Trump ao meio ambiente, o presidente Bolsonaro desafiou os alertas da política ambiental européia. Por resultado colheu, não só má vontade política, mas, também, perda econômica pela redução de entrada de recursos europeus necessários à relevantes programas empresariais e ambientais.

A iminente posse de Joseph Biden deverá sepultar o sonho de "relação carnal" tão almejado pelo  Capitão-Presidente. O ano de  2021 exigirá do Itamaraty, não apenas uma revisão, mas, sim, uma substancial reversão da política ora em curso, com retorno ao diálogo respeitoso e construtivo.¹ 

Hoje, o Brasil encontra-se fragilizado em sua política externa graças à incapacidade do Ministro  Ernesto Araújo, cuja atuação se pautou pelo mimetismo Trumpiano,  despresando o diálogo multilateral. Ao desdenhar a necessidade de plano contingêncial para o  caso de vitória de Biden, deixou o Brasil despreparado e enfraquecido.     

De pronto, providências parecem necessárias, tais como:  1) abertura de canal informal de diálogo com a equipe do presidente eleito,  2) a troca do atual  Chanceler por elemento sintonizado ao multilateralismo,   3) a seleção de um novo embaixador para Washington afinado à nova realidade, a ser indicado após a posse de Biden.  

A prevalecer o amadorismo ideológico na política externa brasileira que hoje se observa,  sérios problemas poderão resultar nas relações com a maior potência mundial.

1) Vide episódios com a Argentina e França.
  

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Saúde e termômetros




A sigla mais usada para medir-se o crescimento de um país é o "PIB" (Produto Interno Bruto). Passou ela a ser a métrica que determina o sucesso ou o fracasso de governantes. Transformou-se na medida de acerto ou de erro. Ela é constantemente usada pelos mais renomados economistas ao descrever a trajetória qualitativa de nações. No entanto, a mensagem solitária que o Produto Interno Bruto envia ao leitor  tanto é verdade quanto mentira. 

É como se a beleza de uma mulher fosse determinada apenas pela harmonia de seu rosto. O resto é escondido ao grande público, seja por decência, seja por recato, seja por vergonha. 

O PIB revela quanta riqueza um país produziu em um período, porém, um país nada é que não seja o seu  povo. Falha ao não mostrar qual o grau do bem-estar a quais os segmentos da população que se beneficiaram do aumento desta riqueza? Poder-se-ia indagar se 10% da população representa a Nação? Ou serão 20, 50  ou 100%? Afinal, o que é riqueza e para quem ela se manifesta?

Pelas dados disponíveis pela Fundação Getúlio  Vargas, sabe-se que, no Brasil de hoje, 10% da população recebe 80% da riqueza gerada no ano.  Assim sendo, se o valor do PIB em determinado ano atingisse R$ 7 trilhões, e se naquele ano mostrasse um crescimento  de 4%, ou seja, equivalente à 280 bilhões de cruzeiros, qual seria seu impacto sobre o brasileiro?

Destes 280  bilhões de aumento de PIB, 10% da populaçao, ou  20 milhões de brasileiros, teriam recebido 224 bilhões (80%), e o restante 180 milhões de cidadãos receberiam tão somente 56 bilhões. O "per capita" do primeiro grupo seria de R$ 11.200,00 enquanto o restante da população teria um "per capita" de  R$ 311,00.

Assim, razoável concluir-se que o acompanhamento da evolução de uma nação não deve se ater, apenas, à evolução ou involução do PIB. Se ao governo é demandada a informação sobre a condição  econômica do país, torna-se essencial, também, a divulgação tanto do Índice de Desenvolvimento Humano (¹), onde é avaliada a estrutura de serviços básicos, como saúde, educação, saneamento, à população, como, também, a evolução do Índice de Gini (²), onde se reflete a distribuição de renda aos habitantes.

Observa-se, que, ao examinar-se mais detalhadamente tais índices, o conceito de "Trickle down economy"(³), tão reverenciado pelos economistas liberais, vem demonstrando, empíricamente, sua fragilidade.  A economia tem beneficiado, sem dúvida o topo da pirâmide, mas revela, também, a estagnação das camadas inferiores e majoritárias.  Nos Estados Unidos, desde o governo Reagan (1981 a 1989) até os dias de hoje, o ganho real da classe média tem se revelado estagnado, em contrário à excepcional expansão das classe de maior conteúdo econômico.

Não apenas o governo, mas também a sociedade, deve acompanhar a eficácia da administração pública através de informações pertinentes. Neste caso é importante o questionamento da imprensa e dos que acompanham a economia do país. Desta visão mais ampla  se determinará o bom rumo, ou não, instruindo a escolha dos futuros governantes. Serão eles mais ou menos inclinados à prevalência do sistema capitalismo liberal, da democracia social ou da esquerda radical?

Sem dúvida, a pandemia tem imposto sérios obstáculos ao desenvolvimento do país. À luz da evolução destes índices qualitativos, porém, caberá à elite política, cultural e econômica, reconhecer que, no Século da expansão explosiva da comunicação em  massa, a insatisfação decorrente de agudas disparidades não mais deve ser ignorada, senão ao preço de adubar a insatisfação extremada.

Cabe a geração atual corrigir os rumos para que as gerações futuras não se encontrem em beco sem saída.      

                                                                 OOOOOO

(1). No final do próximo ano será publicado o estudo do ano de 2019. O IDH do Brasil foi de 0,761 em 2018 ante 0,760 em 2017, quando o país ficou em 78º lugar, de acordo com uma revisão dos dados do ano passado.

(2).   Considerando o rendimento médio mensal real domiciliar per capita, o Índice de Gini para o Brasil caiu de 0,545 em 2018, recorde da série histórica da pesquisa iniciada em 2012, para 0,543 em 2019.  O valor "0" indica  distribuição igualitária dentre a população.

(3). Publicado no Bloomberg em 2 de setembro 2019

"One of the big things we've seen this year is that putting cash into the hands of middle and lower-income households is an incredibly effective policy that has all kinds of positive overall benefits.Trickle-up economics works. So there's a lot of talk about tax and trade policies that we might implement on a permanent basis to shift buying power to people who are more inclined to spend that money, as opposed to rich households, who will just save it and bid up the price of financial assets."

domingo, 8 de novembro de 2020

The day after




Finalmente, chega-se ao final das eleições norte-americanas. Joe Biden é o vencedor. Os Estados Unidos, colocados  por think tank de Harvard no 76° lugar dentre as nações democráticas do globo no que tange a (in)eficiência de seu processo eleitoral, revelam-se sob angústia e insegurança. Será a eleição para valer, ou, como acontecido no passado, votos serão descartados e resultado alterado? Já veremos...

Tão importante quanto a ascensão de Biden é a derrota de Donald Trump. Fosse outro o político derrotado, pouca atenção mereceria. No caso de Trump o cenário parece ser outro. Ainda que, hoje, moribundo políticamente, poderá ele retornar. Sua força política e carisma, como evidenciadas pela sua excepcional votação, torna possível a consolidação de sua facção, agressiva e intolerante, em busca de revanche.   

Ainda que em pápeis invertidos, ambos protagonistas continuarão tendo forte influência nos destinos do país. A clivagem ideológica refletida nos estreitos resultados eleitorais promete uma nação ferida, polarizada e intolerante, onde o adversário político torna-se inimigo pessoal.

Tal polaridade trará o espectro da instabilidade, tanto interna quanto internacional.

A vitória, importante frisar, não é completa, uma vez que o Senado (48 a 46) permanece em mãos Republicanas, e na Câmara  com as dos Democratas (233 a 197). Biden tem, diante de si forte desafío, pois os avanços terão que ser negociados em busca de desarmamento ideológico. 

A derrota da pandemia e suas consequências tanto no aspecto sanitário quanto no econômico será prioridade no âmbito interno; liberação da vacina e dos incentivos para a retomada econômica. O Covid 19, cujo recrudescimento já leva a 1000 mortes por dia, será o adversário imediato.

Porém, não menos importantes serão as providências para reverter a realidade Republicana.  O projeto da saúde popular exigirá aperfeiçoamento, as regras imigratórias humanizadas, a proteção ao meio ambiente fortalecida, as agências reguladoras revigoradas, a expansão do endividamento público contido, a disparidade de renda atenuada mediante reformulação fiscal.  

Já, no plano internacional, deverá haver a retomada da globalização, desprezada e hostilizada pelo governo Trump. As Nações Unidas e suas agências, tais como UNESCO, OMS, OMC deverão ser re-incorporadas na agenda do Departamento de Estado. Os tratados abandonados, desde o Acordo de Paris até o retorno ao tratado de  desnuclearização do Irã também merecerão atenção.

A revisão das relações com a Europa/OTAN (aproximação), China (negociação), Rússia (prevenção), Israel (contensão) e a pequena Cuba (atração) deverá merecer especial atenção.O Brasil, com ênfase na proteção ambiental da Amazônia, também estará na agenda de "Foggy Bottom".¹

No rescaldo post-eleitoral, a partir da posse de Joe Biden em janeiro 2021, será conveniente a neutralização política de Trump através de projetos legislativos bi-partidários, assim desmontando a perigosa fórmula da intransigência negocial. A persistir em rumo onde prevaleça a sombra ideológica do ex-presidente, terá o partido Republicano por resultado  tolher suas alternativas políticas futuras, atando-se à âncora do personalismo radical.    

Os dois partidos fariam bem em priorizar a despolarização da política norte americana, uma vez que a tendência ao uno-partidarismo existente sob o comando de Donald Trump mostrou-se ineficaz e traumático, colocando em risco a estabilidade democrática da nação americana. 

(1) State Department



domingo, 1 de novembro de 2020

Charada eleitoral




Fossem as eleições em qualquer outro país que não os Estados Unidos, o seu sistema eleitoral levaria o observador à incredulidade. Como, no Seculo XXI, a escolha de um presidente possa ser outra que não decoresse do voto popular majoritário? Como um candidato perde a eleição e o acesso à Presidência do país tendo superado o adversário por diversos milhões de voto? Como o candidato perdedor do voto popular é levado à Presidência? Poder-se-ia clasificar tal país como "democrático"? (¹)

A resposta é NÃO. A adoção de tal procedimento seria rechaçada "urbi et orbi"; sendo os tribunais internacionais mobilizados para invalidar tal prática. Pressões econômicas, e, talvez, até militares seriam usadas para fazer com que tal país voltasse ao bom rumo.

Mas tal é a realidade. Aflito, o planeta observa e aguarda as imperfeitas eleições norte-americanas, cujo resultado determinará seu novo rumo. 

Tem-se, neste momento, a clara evidência da inter-relação global, onde nenhum país escapa da atração gravitacional que emana de Washington. A favor ou contra, nada se decide sem levá-la em conta.

No campo interno haverá o acirramento das noções opostas, acentuando os preceitos da economia liberal a níveis extremos por um lado, e, do outro, o retorno à visão sócio-capitalista 

A disputa que, também, se trava no palco internacional, oferece duas opções básicas:

_ A primeira escolha, sob Donald Trump,  refletirá o retorno ao passado onde, sob influência Mercantilista (¹), a nação Americana, auto centrada, verá o mundo, ou como concorrente a ser vencido, ou como parceiro menor, a ser subjugado, tanto comercial quanto políticamente. Rejeita o conceito de David Ricardo que privilegia a noção das vantagens relativas dos países no jogo de benefício mútuo.  

Por defender objetivos de soberânia extrema, Trump buscará o desmantelamento progressivo das instituições internacionais como as Nações Unidas que buscam a coordenação política e econômica tendo em conta o interesse global. Ameaça  a rede de proteção às nações, tanto poderosas como vulneráveis, criada no imediato pós-guerra.

Prevalecerá o atual descaso, senão abandono, das medidas de proteção ambiental, causando danos à esta e às futuras gerações.

No exterior, Trump manterá o apoio à expansão da influência israelense, alterando o equilíbrio de forças com o perigo de gerar desestabilização e conflito. Já na Europa provavelmente manterá seu descaso.

Pontualmente, pode prever-se o prosseguimento da Questão Chinesa, onde o acirramento da desavença comercial se transforma em ameaça de conflito internacional. Disseminando o germe da discórdia, Washington  imporá aos países em sua órbita o distanciamento comercial com Pequim (²), podendo causar-lhes perdas significativas. Hoje,  nenhum país pode prescindir do intercâmbio comercial e político com a China sem que pague alto preço.

Quanto ao Brasil, manter-se-á o mesmo desequilíbrio, onde o Brasil, como se rico fora, faz concessões comerciais e políticas aos Estados Unidos, recebendo em troca valiosas promessas...

Donald Trump vê no multilateralismo o esvaziamento de seu poder negocial. Para maximizar seu poder, buscará nas negociações  bilaterais a imposição de seu inigualável peso, ofuscando as pretensões de seu  interlocutor.

_ Já, na segunda opção,  a vitória de Joseph Biden deverá alterar e reverter as prioridades, tanto internas quanto externas. 

No campo doméstico, o governo eleito terá no Congresso o apoio da Câmara dos Deputados, o Senado passando para a oposição. No Supremo Tribunal os Democratas serão minoritários, mas os Juízes julgarão, ao que se supõe, de acordo com a lei, evitando interpretações politizadas.

Internamente estima-se uma visão mais voltado ao Social, tanto na saúde, no racial, no imigratório, no fiscal e no ambiental. Talvez dê maior atenção aos problemas causados pela crescente concentração de renda e no desamparo hospitalar.

Espera-se uma reabertura do diálogo multilateral, privilegiando as instituições internacionais. O retorno ao Acordo de Paris, talvez o tratado de não proliferação nuclear com o Irã, a retomada dos acordos comerciais com a União Europeia e a Ásia, provavelmente voltem à agenda.

No campo externo haverá a reaproximação com as demais nações, abandonando-se America First por, talvez, America Together. Atenuar a hostilidade nas relações com a China, retomar relações cordiais com a Europa (UE e Reino Unido) e refazer a receita Brasil-Estados Unidos com especial ênfase no ambiental.

Estas são alguns temas em torno deste crucial momento para americanos e para os demais cidadãos do planeta. A interrogação prevalece. Qual será o comportamento das facções mais intolerantes durante o processo eleitoral, até onde irá a inconformidade de Donald Trump caso perca, e até que ponto o processo judicial poderá interferir nos resultados da vontade popular? 


(1) America First

(2) Caso do 5G chinês 

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Vacina e política


                                                            Pazuello e Bolsonaro


Uma análise isenta da personalidade de Jair Bolsonaro levaria à conclusão que trata-se de uma pessoa dominada por suas emoções, a ponto de transformar suas percepções sobre os mais diversos assuntos em pseudo-realidade.

Tal desvio se acentua quando assentado sobre seu endêmico desconhecimento sobre os assuntos que lastreiam seu processo decisório. Tendo saído da Escola das Agulhas Negras como Tenente e deixado o Exército anos depois, ainda como Tenente (título de Capitão decorreu de seu afastamento), não mais demonstrou aprofundar seus conhecimentos. Limitando sua atuação parlamentar, uma vez eleito, conteve sua contribuição à missão corporativa promovendo o aumento de soldo de militares e policiais. Não ofereceu, nos seus oito anos de luta legislativa, qualquer projeto de lei  que pretendesse melhorar os destinos do país. 

Uma vez eleito à presidência, substitui a busca de consenso na sua equipe pela afirmação autoritária de  "quem manda sou eu". Assim, corre o risco de embasar suas decisões monocráticas em intuições e emoções, estas validadas pela posse da proverbial "caneta". 
   
Imprudentemente, Bolsonaro amarrou suas ambições eleitorais à pronta derrota do Corona virus. Assim, negou sua gravidade inicial taxando-o de "gripezinha", defendeu remédios exdrúxulos, menospresou máscara e distanciamento social, minimizou a perda de vidas (...e daí?), tudo na esperança que o virus cedesse em favor da retomada econômica necessária à sua reeleição.. 

Como se não bastasse, Jair Messias Bolsonaro agora comete o que poderá vir a ser capitulado como crime, ao intrometer suas preferências políticas em assunto diretamente ligados à saúde pública, daqueles que tem por missão proteger. 

Aliando-se mais uma vez a Donald Trump, em subserviência que talvez se desvende em estudos freudianos, lança-se o presidente brasileiro em campanha contrária à China, como se tal fosse do interesse do país. Sobrepondo-se aos métodos científicos para a seleção de vacinas anti Covid 19, o presidente declara-se contrário ao uso da CoronaVac, de origem chinesa, sem que, para tal exponha as razões que sustentem a sua decisão.

Dando sequência à esta preferência, Bolsonaro, mais uma vez, constrange seu Ministro da Saúde. Impõe ao Gen. Eduardo Pazuello a revogação da autorização por ele concedida à importação de insumos essenciais à produção da vacina. Em decisão meramente opinativa e política, sem qualquer base científica,  o presidente interrompe processo em desenvolvimento (cujo atraso redunda em maior número de mortes) essencial à saúde pública.

As vacinas em elaboração são do interesse vital do cidadão brasileiro ameaçado. Lhe cabe escolher dentre aquelas aprovadas pela Anvisa. Tendo-se em vista a enorme demanda prevista em país com mais de duzentos milhões de habitantes, a diversidade de opções é desejável.     

                                              



domingo, 18 de outubro de 2020

Tempos modernos




No princípio da cinematografia surge o filme "Tempos Modernos", dirigido e interpretado por Charles Chaplin. Tendo por tema a chegada explosiva da modernidade, Chaplin, com insuperável humor descreve os desafios e ansiedades humanas que acompanhavam e revolução industrial em curso.

Os dias de hoje bem se assemelham àqueles tempos.

Quanto mais tecnologia mais se aceleram as mudanças na sociedade e nos segmentos que a compõe. Um deles é a atividade bancária, onde a velocidade da luz dos circuitos aceleram as relações entre clientes e bancos. Acelera-se também o treinamento, a maturação do homem técnico que, ao dominar os labirintos virtuais, potencializa a capacidade de análise e solução de problemas.

Nos tempos idos do Século XX, o administrador de banco maturava qual vinho, colhendo com o tempo a experiência na lide dos fatores relevantes, tanto sob o aspecto operacional da mecânica financeira quanto sob a ótica mais abrangente do comportamento e motivações do mercado nas suas diversas fases.   

O que demandava o instrumental humano como centro da análise e previsão dos diversos fatores de risco que permitissem o sucesso do projeto, hoje os algoritmos reproduzem infinitas hipóteses e oferecem soluções para os mais variáveis cenários. 

Porém, esta revolução cibernética talvez não tenha ainda incorporado em suas equações o peso da ambição e da malícia que se escondem e se confundem no caleidoscópio das emoções humanas. As pulsões do Bem e do Mal, em permanente conflito bíblico, dificilmente serão dominadas pela arregimentação dos bytes.

Assim, duas realidades se criam, àquela gerada pelo consenso cibernético, que em processo circular cria e valida sua própria "verdade mecânica" e a "verdade humana" que, poderá chegar (após tempo e prejuízo) à contestação de tal validação. 

A capacidade de gerar, propagar, mobilizar e cooptar os fatores necessários para a geração de uma proto-realidade pode, também, tornar-se o germe de um grande engodo.   

O que nos traz aos momentos atuais de re-desenhamento do sistema bancário brasileiro, este dirigido por uma nova geração, sob a égide da "verdade virtual". O surgimento das quinhentas novas  "Fintecs"  e milhões de novos "Pix" propõe aumento de eficiência e velocidade que, no tempo, trarão benefícios aos mercados financeiros e seus clientes. 

Contudo, toda atividade que envolve valores monetários exigem especial cuidado tendo em vista sua natureza  fungível, passível de manipulação e artifícios. A eficiência, eficácia e prudência na  movimentação da poupança é de extrema relevância sócio-econômica, sendo também parâmetro de confiabilidade política.  Ainda, por sua complexidade e vulnerabilidade, exige  conhecimento, experiência e ética na sua condução.

Assim, a cautela se impõe no período de instalação e ajuste na implementação de novos sistemas, quando além das variáveis conhecidas surgirão as ainda por conhecer, sobretudo no que envolve  a segurança das partes.

  



quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Plano inclinado



Contrariando os interesses fundamentais do Brasil, o Itamaraty acaba de juntar-se aos Estados Unidos e o Japão para, nada mais nada menos, posicionar-se contra o seu maior parceiro comercial, a China! Sob a batuta do jejuno ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o governo Bolsonaro emite comunicado conjunto com os países acima mencionados.com o intuito de retirar à China as suas atuais condições de participação na Organização Mundial do Comércio. 

Assim o Brasil, imprudentemente,  posiciona-se contra os interesses da maior importadora de seus produtos, responsável pela manutenção do invejável saldo de moeda forte brasileiro, esteio de sua credibilidade fiscal e financeira no exterior. 

Simultaneamente, e na direção oposta, as estatísticas de nosso comercio exterior revelam uma precipitosa queda nas trocas comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Esta queda já se manifesta a partir de 2019 e ainda mais agravada em 2020, como resultado da política de "America First" instituída por Donald Trump. Apesar das inúmeras concessões do Brasil aos interesses norte-americanos, desde os estratégicos, aos comerciais. as tarifas norte americanas sobre nosso produto vem aumentando continuamente.

Ao Brasil cabe juntar-se aos Estados Unidos quando tal iniciativa condiga com seus interesses. A subserviência do governo Bolsonaro, que se observa desde seu início, ameaça a estabilidade econômica brasileira, a qual tem por parceiro comercial insubstituível, a China. 

Surpreende o alheamento do Congresso e das Forças Armadas quanto às consequências que redundariam de hostilidade gerada para com a fonte de riqueza crucial ao nosso desenvolvimento e segurança.

A atual política externa brasileira, contrariando todo o seu histórico republicano,  aproxima-se de crime de responsabilidade, por conspirar com potência estrangeira contra os interesse permanentes do Brasil.






sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Milicia e democracia



O que segue abaixo servirá de alerta para para brasileiros e norte-americanos. A mistura de radicalismo político e líderes radicais encerra novos perigos, até agora impensáveis. O Brasil não estará livre da infiltração política das milícias nos níveis sensíveis da estrutura política nacional, a serviço de lideres inescrupulosos.

O impróprio e o inoportuno ocorre no gélido estado de Michigan. Em plena campanha eleitoral, onde os ânimos se acirram, onde o contraditório se torna fanatizado, onde a proverbial lenha é jogada na fogueira das opiniões incendiárias, nos chega a surpreendente notícia de uma tentativa de  golpe de estado naquele estado. 

Para o observador distraído mais pareceria roteiro de novela barata. Mas, não, a notícia procede. O atentado, evitado em cima do laço, foi desbaratado pelo FBI. Os perpetrantes se originam na  denominada "Michigan Militia".

Não será por acaso que o poder a ser deposto seja exercido por uma mulher, Gretchen Whitmer, do partido Democrata

Esta e outras milícias, armadas "até os dentes", encontram em Donald Trump seu líder ideológico, defensor  do opaco machismo, do ultra nacionalismo, da supremacia da raça branca, da liberdade ilimitada do porte de qualquer arma. 

Na realidade estes grupos dedicam-se às armas fálicas, em compensação freudiana por uma virilidade ameaçada. Tentam compensar, de forma consciente e inconsciente, a frustração derivada de sua irrelevância cívica e existencial, tendo por armas a violência e a prepotência.  

Coincidência ou imprudência? Donald Trump, em tentativa de domínio dos "swing states", essencial à sua vitória eleitoral,  envia  recente mensagem: "Liberate Michigan". Insinuando trapaça adversária, aguça a desconfiança e a confrontação, propugnando a formação de grupos de vocação violenta, denominados "fiscais eleitorais". Ainda, seus  discursos contra as minorias raciais, pelo apoio aos  movimentos em prol da supremacia branca,  o Presidente americano vem  criando um ambiente sócio-político hostil, levando seus seguidores a confundir a realidade política com fantasia fanática. 

Porém o perigo pode ser bem maior uma vez que o início de movimentos violentos adquirem vida própria, fugindo, não raro, às intenções de seus criadores. Já faz tempo, milícias fortemente armadas vem  participando de reuniões públicas; até que ponto outros grupos semelhantes, disseminados país afora, não estarão contaminadas pelo mesmo vírus radical?

Observa-se, hoje, na sociedade norte americana, uma crescente dissonância sectária. Como pano de fundo, a  lei eleitoral americana se presta à contestação, uma vez que, não raro,  o voto popular, ao  subordinar-se ao sistema de colegiado, fragiliza a higidez democrática. 

Talvez, os ânimos ora acirrados causem séria contestação face aos resultados post eleitorais, abrindo caminho para uma crise institucional. Nestes tempos, tudo é possível...


sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Debate ou embate?

 


O que se observou no dia 29 de setembro em Cleveland, Ohio não foi um debate mas sim um embate. Em vez de seguir as regras enunciadas pelo mediador Chris Wallace, o que permitiria aos espectadores em teor bem mais pacífico do que muitos chamariam de "the Great Bully". 

Em vez de oferecer ao espectador as ideias e propostas dos candidatos, o que se viu foi um pugilato verbal iniciado e provocado  pelo presidente Donald Trump. Ameaçado de ser descartado e anulado, Joe Biden teve que reagir, ainda  que ris Wallace, mesmo sendo comentarista do canal Fox News, pró governo, tendo por natureza simpatia pelo atual presidente, viu-se levado a responsabilizar Donald Trump pelo fiasco.    

O Presidente, em vez de pautar-se por um debate disciplinado, falando e deixando falar,  lançou-se em ataques e interrupções, impedindo que o público assistente pudesse ouvir e compreender as declarações, de Joe Biden, seu adversário. Segundo o moderador, Trump interrompeu Biden 77 vezes, assim provocando a resposta do adversário em 22 vezes.

Porém, bem mais grave, foi Donald Trump exibir, de forma explicita, sua vocação ditatorial. Em vários momentos revelou não estar preparado para comandar dentro de balizamento democráticos, atropelando-os  em compreensão desvirtuada dos limites de seu poder.

Arrastado por sua arrogância

1. revela não aceitar os resultados das urnas se estes lhe forem adversos, predeterminando serem fraudados os votos pelo correio, estes preponderantes em condições de pandêmia. 

2. não admite críticas a seu governo e sua pessoa sem que reaja colérico. Como exemplo repudia a realidade ao se auto conferir eficiente combate à pandemia. Descarta ter desprezado o uso da máscara, o isolamento social, o respeito à medicação de fontes científicas, etc... 

3. promete invalidar, por fraudulentos, os votos a serem enviados pelo correio. Ameaça formação de grupos "fiscalizadores" nos locais  eleitorais servindo, assim,  para intimidar opositores. 

4. conta com o apoio das milícias armadas da Supremacia Branca

5. não hesita recorrer à mentiras facilmente verificáveis para embasar seus argumentos   

6. apesar de defender o conceito de "Law and Order"  desrespeita regras pré estabelecidas que venham a lhe tolher seus interesses

7. rompe as regras de educação e respeito devido em debate político ao acusar de drogado o filho de Joe Biden. 

Ainda mais relevante do que suas observações políticas durante o embate, Donald Trump revelou-se psicológicamente despreparado para o cargo que ocupa. Revelou ao público impetuosidade e falta de auto-contrôle verbal e mental. Sua irrascibilidade, seu desrespeito às regras do debate democrático revela um ethos refratário ao que conteste sua vontade.  Suas reações são incontroláveis, dentro do quadro de "custe o que custar", mesmo quando sabendo ser contrário ao seu interesse posterior ao imediato.

Esta "amostra" de sua personalidade dixa claro à nação norte-americana que a eleger-se Donald Trump à presidência não só o país ver-se-á sob as incertezas de uma mente inquieta, impulsiva, e, ainda, destituído  das defesas que um arcabouço cultural propicia, dando-lhe  referências essenciais ao bem governar.

Já, fora de fronteiras, cabe ao Brasil e seus governantes , meditar sobre os perigos de uma excessiva dependência a governo de alto risco para si e para a ordem internacional.   





domingo, 27 de setembro de 2020

Show na ONU



Há tempos, se algum, as Nações Unidas não assistem a tal espetáculo. Não era "Mutt & Jeff", nem "Tom & Jerry", nem "Abbot & Costello", era coisa bem mais preocupante. Mais chegado, talvez, à um "Bonnie & Clyde", onde dois protagonistas se unem na penumbra dos enganos. 

Assim, temos "Trump & Bolso". Vale notar que, em todas estas narrativas, existe o esperto e o bobo. Ao leitor cabe concluir  quem é quem.

É bem óbvio que ambos os discursos, supostamente dirigidos à comunidade das nações,  nada tinham de internacional, mas, na sua essência revelavam objetivos eleitorais. Na sua alocução Trump enfatiza o contencioso chinês, buscando na "pátria ultrajada" o voto patriótico. De seu lado, Bolsonaro dispara um rosário de afirmações duvidosas para municiar sua próxima eleição.    Ao observado cabe presumir que trata-sede diplomacia negativa, como desagradar países amigos.

Vale comentar alguns pontos do discurso do presidente norte-americano:

... com o olhar crispado e semblante belicoso, o Imperador Trump (pois não é do Império Americana que se trata?), ameaça a China por crimes cometidos e por cometer. A primeira afronta será a de ultrapassar, para futuro breve (cetibus paribus), a atual liderança econômica dos Estados Unidos. Pretende assim eliminar o "paribus". .Outros crimes são assacados contra Pequim, tal qual a intencional criação do Coronavírus com o fito de disseminá-lo nos Estados Unidos e sus aliados. 

- auto-elogiando seu desempenho, escamoteia seu declarado desprezo pelas medidas anti-pandêmicas, que rejeitando públicamente a necessária máscara e o distanciamento social.Com imprudência,  recomendava a seus cidadãos o uso de "remédios milagrosos", no caso inócuos quando não perigosos. 

- ainda, fingindo respeito á luta pro-ambiental, apesar de sua retirada do Acordo de Paris, Trump castiga a China por poluir o planeta. Segundo a imprensa, enquanto Pequim busca reduzir sua dependência no carvão como fonte energética e aumentar a incidência de automóveis elétricos, Donald estimula sua utilização em busca do voto "white trash" em West Virginia. Ainda, insiste em autorizar a expansão da prospecção e produção  de petróleo "in-shore" e no "fracking".

- proclamando ter causado a paz entre Israel, de um lado, e Árabes e Palestinos do outro, omite a  não participação da Palestina por persistir Israel na decisão de anexar as suas terras à nação judaica. Na realidade, as declarações dos participantes obscuram seu real objetivo, qual seja, uma aliança entre Israel e países Muçulmano-Sunitas do golfo Pérsico com o objetivo bélico contra o Irã.   

- encerra Trump propondo o esvaziamento da Organização das Nações Unidas, propondo a seus associados o caminho da exacerbação nacionalista, bem ilustrado pelo "America First". Aconselha o presidente norte-americano o retôrno aos tempos da rivalidade incontida, fonte histórica de inúmeras guerras e mortandade. Ou seja, mina o objetivo consensual que embasa as Nações Unidas, cuja criação hoje se celebra. 

Já, Jair Bolsonaro, contido por escopo mais modesto, deteve-se, sobretudo a questões internas brasileiras, tendo por objetivo aplacar oposição e fomentar apoio eleitoral. 

Dentre as mais relevantes afirmações, pode-se observar:

- imitando seu parceiro "senior", exaltou, com o mesmo desrespeito à verdade, seu bom desempenho face a pandemia. Diz lamentar a cada morte brasileira, esquecndo-se de suas antológicas frases: e daí! todos nós vamos morrer; trata-se de uma gripezinha; não usar máscar; distanciamento desnecessário, etc...Ainda, mesmo para a comunidade internacional, não deixou de lembrar a contestada excelência da ubíqua hidroxicloroquina!

- confrontado pelo insucesso trágico, o presidente culpa os governadores de incúria  como se o primeiro mandatário pouca responsabilidade tivesse no combate ao Covid-19, enquanto mostrava-se incapaz de respeitar os conselhos de seus ministros da Saúde. 

- já no campo internacional Bolsonaro manda o recado à China que não comprará o seu G5, por dizer negociar sómente com "países que prezem pela liberdade (sic.)" Ainda, acusa  a imprensa internacional bem como alguns países da União Europeia, apoiados pela imprensa internacional, de divulgar inverdades sbre o Brasil. 

- declara desejar a consumação do acordo Mercosul-União Europeia enquanto gera e estimula  o perigoso contencioso ambiental com os desejados parceiros.

- quanto à Venezuela observa-se uma ameaça velada, ao acusá-la de solertemente derramar petróleo em águas brasileiras. Neste contexto,  o presidente afirma que a "Paz não pode estar dissociada à Segurança." 

- elogia a paz promovida pelo parceiro Trump pela "retomada da solução do conflito israelense-palestino", referido-se a tratado recém celebrado entre árabes e israelenses sem que houvesse, sequer, a participação palestina.

- por fim, encerra sua mensagem ao mundo instando ao combate à "Cristofobia". Após longas consultas à teólogos próximos a este colunista, ainda não foi possível chegar-se à plena compreensão de qual o objetivo desta mensagem. 

Até onde irá esta parceria trági-cômica?




sábado, 12 de setembro de 2020

Leviatã ferido

 


Se alguma coisa de bom Donald Trump fez terá sido a decisão de retirar os Estados Unidos da guerra no Afeganistão. A reunião que ocorre hoje, entre Talibãs e membros do atual governo afegão sugere, não necessariamente uma paz duradoura (pouco provável), mas sim o pretexto para Washington desvencilhar-se de uma aventura mal sucedida.

Observa-se que a maior potência militar do planeta parece ter sido derrotada por um país próximo à Idade da Pedra. Depois de quinze anos de combate diário, após atingir um contingente de 200.000 soldados nos campos afegãos, Washington joga a toalha.

Após uma sequência de conflitos em terras Orientais, desde o Oriente Médio à longínqua Ásia, o colosso norte-americano parece chegar à conclusão que a imposição armada de sua vontade não mais se justifica; nem a perda de imagem, nem o custo financeiro e, menos ainda, as perdas de vidas humanas.

Enquanto a guerra do Vietnam em boa parte encontrava sua justificativa na “teoria do dominó”, onde a queda de um pais no Sudeste asiático sob o jugo comunista levaria os países  próximos ao mesmo destino, verificou-se, a posteriori, que a tese não se sustentava nos fatos. A intervenção militar norte americana no Vietnam do Sul iniciada em 1955 e, posteriormente tornando-se guerra contra o Vietnam do Norte, só terminou em abril de 1975 quando Saigon caia sob as catracas dos tanques comunistas. (¹)

Veio o Século XXI trazendo consigo um novo formato militar. Abandonando o recurso à conscrição impositiva, o Pentágono reformulou os seus exércitos, passando do exército-cidadão para o exército profissional. De fato, novo processo inicialmente  atenuou a oposição popular às guerras mas a insuspeita duração dos conflitos e seu peso fiscal  esgotou a paciência da sociedade. 

Hoje, o gosto amargo do insucesso ensina que, na guerra, nem o capital nem a tecnologia bastam para vencer um inimigo determinado, impelido por ideologia e resiliência cultural, seja ela política ou religiosa. A resistência inesperada alonga o tempo e o custo do conflito tornando-se chaga aberta no psique do povo americano.

Ignorando os ensinamentos do sábio estrategista Sun Tzu, o Pentágono parece ter desprezado o compendio que deveria ser leitura obrigatória para os generais do Pentágono: “conheça seu inimigo, conheça a terra, conheça a chuva, o vento...” Mergulhando em piscina desconhecida descobriu nela não a água transparente que esperavam, mas, sim, um caldo cultural insuspeito, grosso, resistente, pegajoso e tóxico.

Nesta guerra assimétrica pouco valeram as super bombas, os super aviões, os super tanques, os super homens (cuja estatura média seja, talvez, o dobro do escorregadio inimigo). Nas três guerras em que os Estados Unido não atingiram seus objetivos, a Vontade das “raças inferiores” superou a Tecnologia, a Riqueza. Pecaram, ainda, pela insensibilidade política ao jogar fora, ano após ano, as jovens vidas de seus soldados-cidadãos, perdidos em campo de batalha incompreensível, exótico, misterioso. Os “casus belli” não justificavam as enormes perdas. Nem no Vietnã (²), nem no Iraque (³), nem no Afeganistão (4).

Por consequência da paz que agora busca a Casa Branca, finalmente constatando o desastre repetido, ter-se-á uma indagação: para que serviu a delapidação financeira próxima ao trilhão de dólares quando o uso judicioso de tais recursos, mediante programas de aproximação econômica e política, trariam por prêmio a convergência com os governos anteriormente tidos por inimigo?

Foram “wars of choice” e não “wars of need”, onde o Leviatã, dominado pelo húbris, hoje depara-se com o retrato de Dorian Grey (5), revelando a cruel realidade até então insuspeita.


                                                             OOOOOOO


1) Contrariando a justificativa para o envolvimento americano, após a vitória de Hanoi os demais países da região não sucumbiram ao comunismo  mas, sim, mantiveram sua identidade capitalista.

    1. Vietnam:     153.000 feridos e 58.000 mortos.

    2. Iraque:          22.700 feridos e 4.600 mortos 

          4. Afeganistão: 20.000 feridos e 2.400 mortos

          5. livro de Oscar Wilde,  escritor irlandês.









sábado, 5 de setembro de 2020

Reescrevendo a história

 


Reescrever a história tem sido, no passado atividade preferida de governos totalitários. Por um longo período do Século XX, o exemplo cabe à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.  Seus livros de história recebiam novas versões dos acontecimentos passados de acordo com interesse  dos donos do poder. Não foram poucos os casos que as fotos de pessoas caídas em desgraça eram recortados e reimpressas sem constar das atualizadas  fotografias oficiais. Não existiram.   

Trinta anos após a queda do império comunista o mundo depara-se com novo movimento global, onde fatos e personagens do passado são excomungados no altar do "politicamente correto".

Somente àqueles desprovidos de sentimento humanitário teriam simpatia pelo instituto da escravidão. Sem medo de errar, somente sóciopatas veriam mérito em tal sistema. Ainda, cabe à todo ser humano possuidor  de princípios morais e empatia humana e social rejeitar e condenar tão abjeta condição.

Mas tais pensamentos e valores não refletem o que ocorreu no passado. pelo contrário, desde os primeiros passos do homem no planeta o mais forte dominava o mais fraco, seja pela força, seja pela persuasão. Nos primórdios, o derrotado na guerra era escravizado. Com o passar dos séculos cada sociedade lidava à sua maneira, com maior ou menor crueldade.  Seres de todas as raças, brancos, pretos, amarelos, bem como as demais cores do planeta, foram, a algum tempo, escravizadas.

Como disse, com acerto, um renomado filósofo Ortega y Gasset, "somos todos escravos de nossas circunstâncias". Assim o julgamento feito no Século XXI, não deve ignorar ou desprezar as circunstâncias vividas nos séculos passados. 

A derrubada de estátuas, a eliminação de peças de museus, a censura de livros tidos como racistas ferem o que é mais importante, o conhecimento do passado, da história, que nos serve de base para entender tanto o presente quanto o futuro. O repúdio, ou não, cabe à mente soberana do cidadão. A atitude niilista, de censura à outrance, torna-se instrumento totalitário, onde a imposição do pensamento "apropriado" aprisiona o livre voo da liberdade   

Há muito o que combater nos dias de hoje. Que deixem o passado ser como foi criado pelos seus contemporâneos, com seus acertos, com seus erros.  Como aprender com a história se não mais a conhecermos? 

Às admiráveis mentes e forças de mudança que tenham por objetivo a melhora dos vivos e daqueles  por vir; deixem os mortos com seus erros. Existem, ainda nos dias de hoje, formas de semiescravidão, que persistem, não mais de forma explícita, mas através de castas informais e pela insensibilidade social de algumas práticas econômicas.. 

Alguma coisa parece errada quando persistem instituições republicanas contaminadas pelo abuso endêmico de suas vantagens subterrâneas.  Quando se fala em aumentar impostos sem, preliminarmente, eliminar os meandros fiscais que permitem a isenção virtual...   Nem sempre se observa o repúdio geral contra estas condições inaceitáveis. É um escárnio quando se fala em abolir a dedução dos gastos dos remediados em saúde quando práticas vigentes, aceitas e nocivas superam exponencialmente sua relevância fiscal? 

Não queridos e sinceros rebeldes e inconformados, lutem por melhorar o presente; não gastem sua energia com o passado.



quarta-feira, 2 de setembro de 2020

VÁRIAS


Nesta semana algumas notícias merecem destaque por serem de conteúdo atípico:

1.  Publicado em 02/09/2020 por Boolmberg,  importante publicação americana:

Coins on Brown Wood

"Trickle up economy"

"One of the big things we've seen this year is that putting cash into the hands of middle and lower-income households is an incredibly effective policy that has all kinds of positive overall benefits. Trickle-up economics works. So there's a lot of talk about tax and trade policies that we might implement on a permanent basis to shift buying power to people who are more inclined to spend that money, as opposed to rich households, who will just save it and bid up the price of financial assets."

N.R: Parece inverter a verdade convencional. O conceito merece reflexão


2. Digno de nota trecho a entrevista de respeitado empresário nacional: para o jornal "Valor":



"Para o empresário, o maior acionista individual da Lojas Americanas e sócio de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles no 3G Capital, “o Brasil está permanentemente de cinco a dez anos atrás dos países mais avançados”, disse. “E isso é uma vantagem colossal, porque você pode aprender. O que mais fiz a minha vida toda foi copiar. E é copiar, melhorar...

Segundo ele, (diz o "Valor")  o Brasil tem vantagens em relação aos países mais desenvolvidos. “Temos questões tributárias, mas não temos concorrência como nos Estados Unidos, o que é mais fácil para operar. Lá, qualquer coisa que se faça tem 50 caras pensando e fazendo o mesmo mais barato”, disse.

N.R.  Não são muitas as interpretações cabíveis...


3. Ainda notícia do excelente jornal "Valor" de 01/09/2020

Photography of One US Dollar Banknotes

"O Banco Central (BC) teve perda de R$ 23,519 bilhões nas operações de swaps em agosto, até o dia 28, conforme divulgado nesta quarta-feira pela autoridade monetária. No acumulado desde o início do ano, houve perda de R$ 63,374 bilhões.
.   
N.R.  Não sai barato manter o mercado de cambio sobressaltado graças aos petardos presidenciais.



domingo, 30 de agosto de 2020

Metamorfose





A história começa com um jovem tenente que ameaça colocar uma bomba em algum lugar como parte de um  plano para aumentar o soldo dos militares. Este capítulo terminou mal, mas não tão mal quanto poderia ter sido; um tempo em prisão. Pelo contrário, de tenente virou capitão, por força de ter sido excluído do Exército. Em última análise foi beneficiado com uma promoção, apesar de grave falta,  para a qual nenhum esforço fez. Vá entender....

Depois veio o período legislativo, eleito Deputado Federal que foi, por parte suficiente do estamento militar. Parabéns,  Capitão. Após quase uma dezena de anos, o jovem político foi fiel à sua base, sempre propondo aumentos para a sua classe. Ao longo do caminho nada fez de substância, a não ser reações impetuosas e ofensivas quando confrontado.

E eis que a Providência lhe envia o grande presente de sua vida: Luiz Ignácio Lula da Silva.

A nação, desgastada e ferida pelos governos da esquerda inepta e cleptônoma partiu em busca eleitoral por um candidato que fosse o oposto do inconfiável Lula e da caricata Dilma. Basta de PT e congêneres...

Qual conto de fada, adentra o cavaleiro em reluzente armadura, levantando o estandarte da probidade pública, da pureza fiscal e do equilíbrio administrativo. Proclamando a higidez política que seu eleitorado buscava, o presidente declarou-se infenso às ambições mesquinhas de seus antecessores, recusando buscar a reeleição em prol de um governo centrado na urgente redenção política e econômica da Nação.

Tiro e queda! Com larga margem, Jair Messias Bolsonaro é eleito presidente da República! A classe média jubila, a elite se extasia, e com razão, pois chegara a esperança de racionalidade.

Mas os deuses pouca atenção dão às vãs esperanças dos simples mortais. Qual o deus grego Taranis, lançaram seu dardo, não como trovão mas como Pandemia. O desafio, já considerável, tornou-se inédito em sua intensidade. A sociedade, acuada pelo vírus, vê a avalanche de desafios sanitários e econômicos, clamando por liderança, denodo e competência.

Já Jair Bolsonaro, confrontado com as negras nuvens ameaçando seu futuro político refletidas na queda de sua popularidade em pesquisas, mudou o rumo, tendo por Norte garantir sua reeleição.

Buscando retomar a atividade econômica contida pelo "lockdown", entrou em negação, proclamou  ser o flagelo mera gripezinha, receitou remédios inapropriados,  desprezou o distanciamento social e o uso da máscara. Buscou um milagre que não se realizou. Confuso, preferiu enganar a remediar. Não mobilizou todo o arsenal que a presidência lhe confere. Em mensagem pública embaralhou a ação profilática, não coordenou, dentro dos limites da ciência e experiência internacional, a ação dos governadores e prefeitos. Pelo contrario, acentuou a desorientação popular, demitindo em série Ministros da Saúde por contrariarem suas visões panglossianas.

Mas não esmoreceu em seu projeto eleitoral. Surfando a onda distributivista imposta pela necessária assistência às classes mais pobres, o presidente constata o dividendo eleitoral que dela decorre. O Tesouro, mobilizado, veio à socorro. Transformando a outrora vilipendiada Bolsa Família, cria-se a Renda Brasil, esta sem, sequer, o benefício do vínculo escolar. Determina novas distribuições porém se aproxima do limite orçamentário, levantando a bandeira do alerta. Cria o Pro-Brasil, segundo ele um novo Plano Marshall, sem encontrar os recursos para sua realização.

Muito, senão tudo, indica que se aproxima a etapa final do desmonte do ministério dos sonhos iniciais de Jair Bolsonaro e o início da já conhecida era populista.. O desgaste crescente de Paulo Guedes parece indicar sua próxima substituição, pois é incompatível com a visão imediatista da nova aliança com o  Centrão fisiológico.

Estaria em jogo uma re-arrumação da base eleitoral; onde o apoio da burguesia favorável à disciplina orçamentária seria subordinado à conquista do lumpen-proletariado? A ver...






   

domingo, 16 de agosto de 2020

A temperatura aumenta

New Middle East railways map released by RAME UIC

Todo acordo que possa desarmar espíritos e atenuar tensões no Oriente Médio será sempre bem vindo pela comunidade internacional. Sob pressão (ou estímulo?) de Bill Clinton, um tratado de Paz foi celebrado entre Israel, de uma lado, e Egito e Jordânia do outro.  De fato, não mais houve guerra entre estas nações.

Hoje, foi a vez de Donald Trump,, artífice de acordo celebrado entre  Israel e os Emirados Árabes. Estes últimos, com o objetivo de atenuar o repúdio da população árabe face à  vilipendiada aproximação, buscou garantir a integridade do estado Palestino contra a anexação de suas terras por Israel.   Tal iniciativa mereceria aplausos desde que, efetivamente, desarmasse este contencioso.

Mas não foi isto que ocorreu; apoiado por Donald Trump, o primeiro ministro de Israel usou tática conhecida. Deixe o interlocutor se aprofundar na negociação e acreditar na aceitação de sua proposta para, nos momentos finais, retroceder. Confrontado com a mudança de posição, o Sheik Mahomad bin Zayed já se encontrava por demais  engajado com o presidente americano; retroceder seria embaraçoso e desmoralizante, criando hostilidade antes não existente. A contragosto aceitou a declaração de Netanyahu de ser o compromisso de respeitar a integridade Palestina apenas temporário, mantendo vivo o germe da discórdia entre os Semitas árabes e judeus.

Porém, perante a imprensa mundial, cercado de seus assessores o Presidente Trump não hesitou em declarar:

“This historic diplomatic breakthrough will advance peace in the Middle East region and is a testament to the bold diplomacy and vision of the three leaders and the courage of the United Arab Emirates and Israel to chart a new path that will unlock the great potential in the region,” ¹

A hipérbole presidencial parece infundada, tendo por objetivo  se auto-valorizar  Faz crer que a região torna-se pacificada quando uma análise isenta demonstra que nada mudou. Assim revela-se um acordo onde as razões de insatisfação prevalecem. A Palestina sob ameaça perene de desaparecer. Não é uma perspectiva pacificadora.

Contudo, o quadro que ora se cria é muito mais grave. Pode estender-se muito além destas fronteiras. Uma visão mais abrangente revela uma nova configuração e perigosa configuração geopolítica, trazendo à tona os ódios confessionais que tanto afligem a região. Uma análise sob o explícito, em busca do implícito, permite estimar-se que o acordo firmado, longe de tratar da questão Palestina visa, de fato, a contenção do Irã no Oriente Médio.

Assim, a razão indica que o acordo ora celebrado terá, em breve, a participação da Arábia Saudita e do Bahrein para, em inédita causa comum, amalgamar-se árabes-sunitas  e judeus. Razoável supor-se que a contensão do Irã pela mudança de seu regime venha a tornar-se prioridade. 

Já, as consequências geopolítica e militar que  derivam deste novo bloco de poder terá, possivelmente,  efeito desestabilizador no Oriente Médio, uma vez que nações antagônicas à estes objetivos venham a se resguardar do novo perigo. Do lado persa e de seu aliados pode-se esperar contramedidas, acentuando a probabilidade de escalada em lances recíprocos.

A concretizar-se tal cenário, outros países serão envolvidos neste contencioso.  A Turquia  não veria com agrado a formação deste novo bloco. Apesar de também ser majoritariamente Sunita, sua visão mais se apoia nos conceitos da Irmandade Muçulmana, movimento menos radical e mais político.  Sua extensa fronteira oriental e meridional com o Irã, Iraque e Síria seria fonte de sério desconforto em caso de acirramento dos ânimos. Hoje, as relações entre Ancara e Teerã são cordiais.

Quanto ao Iraque, país preponderantemente xiita, observa-se importante influência política e paramilitar iraniana disseminada através do país. Isto posto, Bagdá veria com preocupação a formação de tão poderoso bloco Sunita, potencialmente hostil, em suas fronteiras. A possível busca de proteção iraniana, irmãos de fé,  não deveria ser  descartada.

Porém os efeitos de tal conflito não se restringiriam, apenas, ao Oriente Médio. Tanto a Rússia quanto a China têm relevante interesse na atual integridade política do Irã. O primeiro, por situar-se o Irã no seu "under-belly"², fronteiriço aos "...estãos", membros da "área de colaboração" com a Rússia. A proximidade de forças hostis ao Kremlin às fronteiras de suas áreas de influência provavelmente provocaria sério desconforto.

Quanto aos interesses da China, o pleno acesso ao petróleo do Golfo Pérsico em geral, e ao Irã em particular, é essencial à sua sobrevivência, seja pela quantidade importada, seja pela diversificação de fontes de combustível. Qualquer tentativa de mudança de regime em Teerã, se colocado sob tutela norte americana, traria extrema preocupação a Pequim.

Toda atenção é pouca...


1) Entende-se que o um dos lideres homenageados seja ele próprio.
2) Parte vulnerável da Russia (o baixo estômago), composta pelos Afeganistão, Turquemenistão, Quirguistão, etc....

domingo, 9 de agosto de 2020

Esperanças e Temores

Um resumo dos 4 primeiros dias do governo Bolsonaro


O combate à corrupção  pela denominada Lava Jato, tomou conta da Nação. A cada processo, a cada inquirição, a cada julgamento, a cada condenação a grande maioria  do povo brasileiro se exaltava em júbilo. Até que em fim chegou a hora de acabar com a corrupção endêmica que afligia o Brasil. O combate ao rosário de crimes, a constelação de roubos dos cofres  públicos, o desfile dos poderosos até então impunes levava  o brasileiro à confiança no futuro e ao vislumbre de um novo país.

Um após o outro era encarcerado, não mais "fichinhas"  desimportantes;  as grades recebiam políticos orgulhosos por longo saque dos bens públicos, empresários endinheirados e acumpliciados com o poder se viam acompanhados pelo "japonês", inesperado símbolo asiático em terras tupiniquins.

E o reconhecimento, sim, o agradecimento àqueles jovens e corajosos procuradores e juízes, que contestando a tradição da criminosa tolerância,  decidiram derrubá-la.

Dentre eles, Sergio Moro, o juiz de imensa coragem, enfrentaram o até então invicto establishment, rompendo as barreiras jurídicas e políticas. Anteriormente protegida, a caterva  surpreendida, recuava, tergiversava, caluniava em busca desesperada por atenuantes. Porém o "Todo mundo faz" não mais tinha o peso de justificativa. O desnudar-se das Caixa 2 rompeu a opacidade que protegia o mal feito. O Brasil mudava, se iluminava pelo fim da impunidade, pela proteção ao erário, pela responsabilização do mal feitor.

Mas esse foi o primeiro Ato de uma peça de fim ainda desconhecido. Jair Bolsonaro, sustentado por  três colunas, Justiça sob Sérgio Moro, Economia sob Paulo Guedes e Política Externa sob Ernesto Araújo  deu início a seu governo com notável apoio eleitoral.

Passados 18 meses, sob o comando do Tenente², necessário se faz avaliar qual o estado da União? 

No que tange a Justiça, observa-se a tentativa de politizá-la e, por vezes,  subvertê-la.

- Demissão do Juiz Sérgio Moro, peça chave quando da eleição do Presidente;
- Dossiers sobre cidadãos opositores elaborados em sigilo;
- Politização da Polícia Federal e da ABIN;
- Escolha de Procurador Geral da União, ignorando a tradicional lista tríplice que busca isenção;
- Devassa nos processos da Lava Jato em busca de imperfeições jurídicas, assim favorecendo a      anulação das sentenças contra o ex-presidente Lula;
- Ocultação de suspeito de crime, procurado pela polícia;
- Aliança com o Centrão e o retorno às práticas políticas anteriormente criticadas, com abertura de    cargos administrativos em troca de apoio parlamentar.
- Acumpliciamento com a produção de Fake News.

Quanto à Economia, justo dizer-se que a ocorrência da Pandemia impede uma avaliação clara de sua condução. Contudo, a decisão estratégica de adiar-se a votação das reformas Tributárias e Administrativas ainda em 2019, quando o poder político do Presidente encontrava-se no ápice, não tem explicação convincente, a não ser a própria indecisão do Presidente.

Divergindo de suas iniciais  afirmações contrárias à Bolsa Família, Bolsonaro revela o pendor populista ao inverter sua posição, propondo o Renda Brasil, ainda mais generoso que o antecessor. Suas invectivas repetidas contra os "vagabundos", leia-se "pobres",  parecem esquecidas, tendo em vista o objetivo de captura maciça de eleitores.

Já na Política Externa, desfaz-se a secular construção de nossa respeitada imagem no exterior. O chanceler, Ernesto Araújo, discípulo do "filósofo" Olavo de Carvalho, teve seu nome secundado pelos filhos Bolsonaro. Dentre os diplomatas, a sua visão terra-planista mereceu o desprezo e antipatia das grandes nações Ocidentais.

O novo Itamaraty, sob novo comando, tornou-se fonte de constrangimento dentro e além fronteiras:

- Como represália às críticas francesas à política brasileira do meio ambiente, optou-se por insultar a Primeira Dama da República Francesa, cuja nação é berço da cultura Ocidental e grande investidora no Brasil.
- Perder importante contribuição financeira apoio da Noruega e da Alemanha ligada à preservação da Amazônia.
- Intervir nas eleições argentinas ao apoiar, ostensivamente, o candidato perdedor; não alertado pela derrota, acentuou sua intervenção criticando o presidente da Argentina (como coadjuvante, o ministro Paulo Guedes, ignorando o nosso importante comércio com aquele país, declarou "não precisamos da Argentina!".
- Emitir declarações ofensivas à China.
- Contrariar a clara posição da Organização das Nações Unidos, da qual o Brasil participa desde sua criação, ao defender o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel assim prejudicando as importantes  relações comerciais com os países árabes da região.
- Aceitou acumpliciar-se aos Estados Unidos no boicote à OMS, organismo crucial para as exportações brasileiras, abandonando sua participação em troca do apoio norte americano no ingresso à OECD não efetivado.
- Autorizou a importação isenta de tarifa sobre o Etanol norte-americano enquanto o governo Trump acabara de impor novas tarifas sobre a exportação de aço e alumínio brasileiro.
- Abriu mão de sua soberania ao permitir instalação de base de foguetes americana em Alcântara, aumentando sua vulnerabilidade externa.
- Designou e subordinou Oficial General brasileiro ao Comando Militar Sul do Exército norte-americano, onde o Brasil não participa das decisões.
- Apoia a decisão de Washington em vetar tradicional indicação de presidente latino-americano para  o Banco Interamericano.
- Celebra tratado militar com os Estados Unidos sem que sejam conhecidos seus termos.

A política externa deve cuidar dos interesses permanentes da Nação, evitando compromissos visando  benefícios pontuais e imediatos, porém contrários à conveniência de prazo mais longo. A aliança celebrada com o governo de Donald Trump bem exemplifica os perigos que encerram  esta opção. Atrelar o Brasil aos interesses inconstantes, temporários e voluntariosos de um mandatário externo pode representar sério risco à continuidade diplomática brasileira.

Quanto ao campo da saúde pública, tem-se a trágica anomia do governo ao enfrentar a pandemia. Não soube avaliar o perigo, nem soube coordenar os governadores em busca de comportamento uniforme.

Já, no Ministério da Saúde, a demissão sequencial de ministros, homens com preparo profissional para o cumprimento da tarefa, hoje substituídos por militar afeito à logística e não à saúde pública, fragilizou, em momento critico, a contenção do flagelo.

A intromissão pública do Presidente, alheio à ciência,  na seleção e recomendação de medicamento para enfrentar a pandemia reflete a irresponsabilidade no enfrentamento de tão dramático perigo sanitário.

A população, incentivada pelo exemplo presidencial descrevendo os efeitos do Covid19 como mera "gripizinha" (registram-se, hoje, cem mil mortes),  explicitamente desprezando as medidas preventivas de isolamento e o uso de máscara, favoreceu a aceleração na disseminação do vírus

São muitas outras áreas que merecem observação e preocupação. A desproteção ao Meio Ambiente merece repúdio nacional e internacional. A integridade da Amazônia está indissoluvelmente ligada ao futuro da nação. Nação agrícola por excelência, o favorável regime de chuvas  e a fertilidade de seu solo são essenciais ao seu bem estar econômico  .

A pasta da Educação já sofre o seu terceiro ministro sem demonstrar, até o momento, a que veio. Tentativas de ideologizar a estrutura do ensino e o currículo repete o erro, com sinal trocado, a nefasta experiência da esquerda.

A responsável pelo Ministério dos Direitos Humanos, Damares Alves, evangélica, prisioneira na estreita  e ultrapassada realidade puritana, tem por principio a intolerância à diversidade de gênero, realidade inconteste no quadro social e político. A adaptação aos padrões internacionais nesta matéria será inevitável face a inter-relação e interdependência hoje imposta pela realidade.

Apesar das insuficiências acima relatadas, restam ainda longo tempo para o governo Bolsonaro repensar seus erros e acertos, assim corrigindo o seu rumo.

A ameaça de retorno das lideranças de esquerda corrupta,  hoje encarceradas, ao pleno exercício político deve servir de alerta para a manutenção de severa postura do Judiciário face à criminalidade.
Colocar em dúvida a integridade jurídica de processos recém passados abre as portas à revisão e anulação de condenações passadas.

No campo econômico, conquanto auxílio às camadas mais pobres seja essencial face à pandemia, também importante ater-se à dosagem cuidadosa para que não se torne distributívísmo demagógico.

Quant à política externa brasileira, mais difícil será a correção de rumo, pois os fatores não são apenas endógenos, mas, sobretudo exógenos. Depende-se da percepção das demais nações sobre o Brasil, sobre o país que deverá agir segundo as convenções que regem as boas relações internacionais, negociando divergências e acentuando convergências estratégicas da Nação..

Pelo que vai acima, o Brasil enfrenta sérios problemas. Somente seus cidadãos poderão protegê-lo.