A sigla mais usada para medir-se o crescimento de um país é o "PIB" (Produto Interno Bruto). Passou ela a ser a métrica que determina o sucesso ou o fracasso de governantes. Transformou-se na medida de acerto ou de erro. Ela é constantemente usada pelos mais renomados economistas ao descrever a trajetória qualitativa de nações. No entanto, a mensagem solitária que o Produto Interno Bruto envia ao leitor tanto é verdade quanto mentira.
É como se a beleza de uma mulher fosse determinada apenas pela harmonia de seu rosto. O resto é escondido ao grande público, seja por decência, seja por recato, seja por vergonha.
O PIB revela quanta riqueza um país produziu em um período, porém, um país nada é que não seja o seu povo. Falha ao não mostrar qual o grau do bem-estar a quais os segmentos da população que se beneficiaram do aumento desta riqueza? Poder-se-ia indagar se 10% da população representa a Nação? Ou serão 20, 50 ou 100%? Afinal, o que é riqueza e para quem ela se manifesta?
Pelas dados disponíveis pela Fundação Getúlio Vargas, sabe-se que, no Brasil de hoje, 10% da população recebe 80% da riqueza gerada no ano. Assim sendo, se o valor do PIB em determinado ano atingisse R$ 7 trilhões, e se naquele ano mostrasse um crescimento de 4%, ou seja, equivalente à 280 bilhões de cruzeiros, qual seria seu impacto sobre o brasileiro?
Destes 280 bilhões de aumento de PIB, 10% da populaçao, ou 20 milhões de brasileiros, teriam recebido 224 bilhões (80%), e o restante 180 milhões de cidadãos receberiam tão somente 56 bilhões. O "per capita" do primeiro grupo seria de R$ 11.200,00 enquanto o restante da população teria um "per capita" de R$ 311,00.
Assim, razoável concluir-se que o acompanhamento da evolução de uma nação não deve se ater, apenas, à evolução ou involução do PIB. Se ao governo é demandada a informação sobre a condição econômica do país, torna-se essencial, também, a divulgação tanto do Índice de Desenvolvimento Humano (¹), onde é avaliada a estrutura de serviços básicos, como saúde, educação, saneamento, à população, como, também, a evolução do Índice de Gini (²), onde se reflete a distribuição de renda aos habitantes.
Observa-se, que, ao examinar-se mais detalhadamente tais índices, o conceito de "Trickle down economy"(³), tão reverenciado pelos economistas liberais, vem demonstrando, empíricamente, sua fragilidade. A economia tem beneficiado, sem dúvida o topo da pirâmide, mas revela, também, a estagnação das camadas inferiores e majoritárias. Nos Estados Unidos, desde o governo Reagan (1981 a 1989) até os dias de hoje, o ganho real da classe média tem se revelado estagnado, em contrário à excepcional expansão das classe de maior conteúdo econômico.
Não apenas o governo, mas também a sociedade, deve acompanhar a eficácia da administração pública através de informações pertinentes. Neste caso é importante o questionamento da imprensa e dos que acompanham a economia do país. Desta visão mais ampla se determinará o bom rumo, ou não, instruindo a escolha dos futuros governantes. Serão eles mais ou menos inclinados à prevalência do sistema capitalismo liberal, da democracia social ou da esquerda radical?
Sem dúvida, a pandemia tem imposto sérios obstáculos ao desenvolvimento do país. À luz da evolução destes índices qualitativos, porém, caberá à elite política, cultural e econômica, reconhecer que, no Século da expansão explosiva da comunicação em massa, a insatisfação decorrente de agudas disparidades não mais deve ser ignorada, senão ao preço de adubar a insatisfação extremada.
Cabe a geração atual corrigir os rumos para que as gerações futuras não se encontrem em beco sem saída.
OOOOOO
(1). No final do próximo ano será publicado o estudo do ano de 2019. O IDH do Brasil foi de 0,761 em 2018 ante 0,760 em 2017, quando o país ficou em 78º lugar, de acordo com uma revisão dos dados do ano passado.
(2). Considerando o rendimento médio mensal real domiciliar per capita, o Índice de Gini para o Brasil caiu de 0,545 em 2018, recorde da série histórica da pesquisa iniciada em 2012, para 0,543 em 2019. O valor "0" indica distribuição igualitária dentre a população.
(3). Publicado no Bloomberg em 2 de setembro 2019
"One of the big things we've seen this year is that putting cash into the hands of middle and lower-income households is an incredibly effective policy that has all kinds of positive overall benefits.Trickle-up economics works. So there's a lot of talk about tax and trade policies that we might implement on a permanent basis to shift buying power to people who are more inclined to spend that money, as opposed to rich households, who will just save it and bid up the price of financial assets."
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