domingo, 1 de novembro de 2020

Charada eleitoral




Fossem as eleições em qualquer outro país que não os Estados Unidos, o seu sistema eleitoral levaria o observador à incredulidade. Como, no Seculo XXI, a escolha de um presidente possa ser outra que não decoresse do voto popular majoritário? Como um candidato perde a eleição e o acesso à Presidência do país tendo superado o adversário por diversos milhões de voto? Como o candidato perdedor do voto popular é levado à Presidência? Poder-se-ia clasificar tal país como "democrático"? (¹)

A resposta é NÃO. A adoção de tal procedimento seria rechaçada "urbi et orbi"; sendo os tribunais internacionais mobilizados para invalidar tal prática. Pressões econômicas, e, talvez, até militares seriam usadas para fazer com que tal país voltasse ao bom rumo.

Mas tal é a realidade. Aflito, o planeta observa e aguarda as imperfeitas eleições norte-americanas, cujo resultado determinará seu novo rumo. 

Tem-se, neste momento, a clara evidência da inter-relação global, onde nenhum país escapa da atração gravitacional que emana de Washington. A favor ou contra, nada se decide sem levá-la em conta.

No campo interno haverá o acirramento das noções opostas, acentuando os preceitos da economia liberal a níveis extremos por um lado, e, do outro, o retorno à visão sócio-capitalista 

A disputa que, também, se trava no palco internacional, oferece duas opções básicas:

_ A primeira escolha, sob Donald Trump,  refletirá o retorno ao passado onde, sob influência Mercantilista (¹), a nação Americana, auto centrada, verá o mundo, ou como concorrente a ser vencido, ou como parceiro menor, a ser subjugado, tanto comercial quanto políticamente. Rejeita o conceito de David Ricardo que privilegia a noção das vantagens relativas dos países no jogo de benefício mútuo.  

Por defender objetivos de soberânia extrema, Trump buscará o desmantelamento progressivo das instituições internacionais como as Nações Unidas que buscam a coordenação política e econômica tendo em conta o interesse global. Ameaça  a rede de proteção às nações, tanto poderosas como vulneráveis, criada no imediato pós-guerra.

Prevalecerá o atual descaso, senão abandono, das medidas de proteção ambiental, causando danos à esta e às futuras gerações.

No exterior, Trump manterá o apoio à expansão da influência israelense, alterando o equilíbrio de forças com o perigo de gerar desestabilização e conflito. Já na Europa provavelmente manterá seu descaso.

Pontualmente, pode prever-se o prosseguimento da Questão Chinesa, onde o acirramento da desavença comercial se transforma em ameaça de conflito internacional. Disseminando o germe da discórdia, Washington  imporá aos países em sua órbita o distanciamento comercial com Pequim (²), podendo causar-lhes perdas significativas. Hoje,  nenhum país pode prescindir do intercâmbio comercial e político com a China sem que pague alto preço.

Quanto ao Brasil, manter-se-á o mesmo desequilíbrio, onde o Brasil, como se rico fora, faz concessões comerciais e políticas aos Estados Unidos, recebendo em troca valiosas promessas...

Donald Trump vê no multilateralismo o esvaziamento de seu poder negocial. Para maximizar seu poder, buscará nas negociações  bilaterais a imposição de seu inigualável peso, ofuscando as pretensões de seu  interlocutor.

_ Já, na segunda opção,  a vitória de Joseph Biden deverá alterar e reverter as prioridades, tanto internas quanto externas. 

No campo doméstico, o governo eleito terá no Congresso o apoio da Câmara dos Deputados, o Senado passando para a oposição. No Supremo Tribunal os Democratas serão minoritários, mas os Juízes julgarão, ao que se supõe, de acordo com a lei, evitando interpretações politizadas.

Internamente estima-se uma visão mais voltado ao Social, tanto na saúde, no racial, no imigratório, no fiscal e no ambiental. Talvez dê maior atenção aos problemas causados pela crescente concentração de renda e no desamparo hospitalar.

Espera-se uma reabertura do diálogo multilateral, privilegiando as instituições internacionais. O retorno ao Acordo de Paris, talvez o tratado de não proliferação nuclear com o Irã, a retomada dos acordos comerciais com a União Europeia e a Ásia, provavelmente voltem à agenda.

No campo externo haverá a reaproximação com as demais nações, abandonando-se America First por, talvez, America Together. Atenuar a hostilidade nas relações com a China, retomar relações cordiais com a Europa (UE e Reino Unido) e refazer a receita Brasil-Estados Unidos com especial ênfase no ambiental.

Estas são alguns temas em torno deste crucial momento para americanos e para os demais cidadãos do planeta. A interrogação prevalece. Qual será o comportamento das facções mais intolerantes durante o processo eleitoral, até onde irá a inconformidade de Donald Trump caso perca, e até que ponto o processo judicial poderá interferir nos resultados da vontade popular? 


(1) America First

(2) Caso do 5G chinês 

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