Fossem as eleições em qualquer outro país que não os Estados Unidos, o seu sistema eleitoral levaria o observador à incredulidade. Como, no Seculo XXI, a escolha de um presidente possa ser outra que não decoresse do voto popular majoritário? Como um candidato perde a eleição e o acesso à Presidência do país tendo superado o adversário por diversos milhões de voto? Como o candidato perdedor do voto popular é levado à Presidência? Poder-se-ia clasificar tal país como "democrático"? (¹)
A resposta é NÃO. A adoção de tal procedimento seria rechaçada "urbi et orbi"; sendo os tribunais internacionais mobilizados para invalidar tal prática. Pressões econômicas, e, talvez, até militares seriam usadas para fazer com que tal país voltasse ao bom rumo.
Mas tal é a realidade. Aflito, o planeta observa e aguarda as imperfeitas eleições norte-americanas, cujo resultado determinará seu novo rumo.
Tem-se, neste momento, a clara evidência da inter-relação global, onde nenhum país escapa da atração gravitacional que emana de Washington. A favor ou contra, nada se decide sem levá-la em conta.
No campo interno haverá o acirramento das noções opostas, acentuando os preceitos da economia liberal a níveis extremos por um lado, e, do outro, o retorno à visão sócio-capitalista
A disputa que, também, se trava no palco internacional, oferece duas opções básicas:
_ A primeira escolha, sob Donald Trump, refletirá o retorno ao passado onde, sob influência Mercantilista (¹), a nação Americana, auto centrada, verá o mundo, ou como concorrente a ser vencido, ou como parceiro menor, a ser subjugado, tanto comercial quanto políticamente. Rejeita o conceito de David Ricardo que privilegia a noção das vantagens relativas dos países no jogo de benefício mútuo.
Por defender objetivos de soberânia extrema, Trump buscará o desmantelamento progressivo das instituições internacionais como as Nações Unidas que buscam a coordenação política e econômica tendo em conta o interesse global. Ameaça a rede de proteção às nações, tanto poderosas como vulneráveis, criada no imediato pós-guerra.
Prevalecerá o atual descaso, senão abandono, das medidas de proteção ambiental, causando danos à esta e às futuras gerações.
No exterior, Trump manterá o apoio à expansão da influência israelense, alterando o equilíbrio de forças com o perigo de gerar desestabilização e conflito. Já na Europa provavelmente manterá seu descaso.
Pontualmente, pode prever-se o prosseguimento da Questão Chinesa, onde o acirramento da desavença comercial se transforma em ameaça de conflito internacional. Disseminando o germe da discórdia, Washington imporá aos países em sua órbita o distanciamento comercial com Pequim (²), podendo causar-lhes perdas significativas. Hoje, nenhum país pode prescindir do intercâmbio comercial e político com a China sem que pague alto preço.
Quanto ao Brasil, manter-se-á o mesmo desequilíbrio, onde o Brasil, como se rico fora, faz concessões comerciais e políticas aos Estados Unidos, recebendo em troca valiosas promessas...
Donald Trump vê no multilateralismo o esvaziamento de seu poder negocial. Para maximizar seu poder, buscará nas negociações bilaterais a imposição de seu inigualável peso, ofuscando as pretensões de seu interlocutor.
_ Já, na segunda opção, a vitória de Joseph Biden deverá alterar e reverter as prioridades, tanto internas quanto externas.
No campo doméstico, o governo eleito terá no Congresso o apoio da Câmara dos Deputados, o Senado passando para a oposição. No Supremo Tribunal os Democratas serão minoritários, mas os Juízes julgarão, ao que se supõe, de acordo com a lei, evitando interpretações politizadas.
Internamente estima-se uma visão mais voltado ao Social, tanto na saúde, no racial, no imigratório, no fiscal e no ambiental. Talvez dê maior atenção aos problemas causados pela crescente concentração de renda e no desamparo hospitalar.
Espera-se uma reabertura do diálogo multilateral, privilegiando as instituições internacionais. O retorno ao Acordo de Paris, talvez o tratado de não proliferação nuclear com o Irã, a retomada dos acordos comerciais com a União Europeia e a Ásia, provavelmente voltem à agenda.
No campo externo haverá a reaproximação com as demais nações, abandonando-se America First por, talvez, America Together. Atenuar a hostilidade nas relações com a China, retomar relações cordiais com a Europa (UE e Reino Unido) e refazer a receita Brasil-Estados Unidos com especial ênfase no ambiental.
Estas são alguns temas em torno deste crucial momento para americanos e para os demais cidadãos do planeta. A interrogação prevalece. Qual será o comportamento das facções mais intolerantes durante o processo eleitoral, até onde irá a inconformidade de Donald Trump caso perca, e até que ponto o processo judicial poderá interferir nos resultados da vontade popular?
(1) America First
(2) Caso do 5G chinês
Nenhum comentário:
Postar um comentário