sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Milicia e democracia



O que segue abaixo servirá de alerta para para brasileiros e norte-americanos. A mistura de radicalismo político e líderes radicais encerra novos perigos, até agora impensáveis. O Brasil não estará livre da infiltração política das milícias nos níveis sensíveis da estrutura política nacional, a serviço de lideres inescrupulosos.

O impróprio e o inoportuno ocorre no gélido estado de Michigan. Em plena campanha eleitoral, onde os ânimos se acirram, onde o contraditório se torna fanatizado, onde a proverbial lenha é jogada na fogueira das opiniões incendiárias, nos chega a surpreendente notícia de uma tentativa de  golpe de estado naquele estado. 

Para o observador distraído mais pareceria roteiro de novela barata. Mas, não, a notícia procede. O atentado, evitado em cima do laço, foi desbaratado pelo FBI. Os perpetrantes se originam na  denominada "Michigan Militia".

Não será por acaso que o poder a ser deposto seja exercido por uma mulher, Gretchen Whitmer, do partido Democrata

Esta e outras milícias, armadas "até os dentes", encontram em Donald Trump seu líder ideológico, defensor  do opaco machismo, do ultra nacionalismo, da supremacia da raça branca, da liberdade ilimitada do porte de qualquer arma. 

Na realidade estes grupos dedicam-se às armas fálicas, em compensação freudiana por uma virilidade ameaçada. Tentam compensar, de forma consciente e inconsciente, a frustração derivada de sua irrelevância cívica e existencial, tendo por armas a violência e a prepotência.  

Coincidência ou imprudência? Donald Trump, em tentativa de domínio dos "swing states", essencial à sua vitória eleitoral,  envia  recente mensagem: "Liberate Michigan". Insinuando trapaça adversária, aguça a desconfiança e a confrontação, propugnando a formação de grupos de vocação violenta, denominados "fiscais eleitorais". Ainda, seus  discursos contra as minorias raciais, pelo apoio aos  movimentos em prol da supremacia branca,  o Presidente americano vem  criando um ambiente sócio-político hostil, levando seus seguidores a confundir a realidade política com fantasia fanática. 

Porém o perigo pode ser bem maior uma vez que o início de movimentos violentos adquirem vida própria, fugindo, não raro, às intenções de seus criadores. Já faz tempo, milícias fortemente armadas vem  participando de reuniões públicas; até que ponto outros grupos semelhantes, disseminados país afora, não estarão contaminadas pelo mesmo vírus radical?

Observa-se, hoje, na sociedade norte americana, uma crescente dissonância sectária. Como pano de fundo, a  lei eleitoral americana se presta à contestação, uma vez que, não raro,  o voto popular, ao  subordinar-se ao sistema de colegiado, fragiliza a higidez democrática. 

Talvez, os ânimos ora acirrados causem séria contestação face aos resultados post eleitorais, abrindo caminho para uma crise institucional. Nestes tempos, tudo é possível...


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