sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Debate ou embate?

 


O que se observou no dia 29 de setembro em Cleveland, Ohio não foi um debate mas sim um embate. Em vez de seguir as regras enunciadas pelo mediador Chris Wallace, o que permitiria aos espectadores em teor bem mais pacífico do que muitos chamariam de "the Great Bully". 

Em vez de oferecer ao espectador as ideias e propostas dos candidatos, o que se viu foi um pugilato verbal iniciado e provocado  pelo presidente Donald Trump. Ameaçado de ser descartado e anulado, Joe Biden teve que reagir, ainda  que ris Wallace, mesmo sendo comentarista do canal Fox News, pró governo, tendo por natureza simpatia pelo atual presidente, viu-se levado a responsabilizar Donald Trump pelo fiasco.    

O Presidente, em vez de pautar-se por um debate disciplinado, falando e deixando falar,  lançou-se em ataques e interrupções, impedindo que o público assistente pudesse ouvir e compreender as declarações, de Joe Biden, seu adversário. Segundo o moderador, Trump interrompeu Biden 77 vezes, assim provocando a resposta do adversário em 22 vezes.

Porém, bem mais grave, foi Donald Trump exibir, de forma explicita, sua vocação ditatorial. Em vários momentos revelou não estar preparado para comandar dentro de balizamento democráticos, atropelando-os  em compreensão desvirtuada dos limites de seu poder.

Arrastado por sua arrogância

1. revela não aceitar os resultados das urnas se estes lhe forem adversos, predeterminando serem fraudados os votos pelo correio, estes preponderantes em condições de pandêmia. 

2. não admite críticas a seu governo e sua pessoa sem que reaja colérico. Como exemplo repudia a realidade ao se auto conferir eficiente combate à pandemia. Descarta ter desprezado o uso da máscara, o isolamento social, o respeito à medicação de fontes científicas, etc... 

3. promete invalidar, por fraudulentos, os votos a serem enviados pelo correio. Ameaça formação de grupos "fiscalizadores" nos locais  eleitorais servindo, assim,  para intimidar opositores. 

4. conta com o apoio das milícias armadas da Supremacia Branca

5. não hesita recorrer à mentiras facilmente verificáveis para embasar seus argumentos   

6. apesar de defender o conceito de "Law and Order"  desrespeita regras pré estabelecidas que venham a lhe tolher seus interesses

7. rompe as regras de educação e respeito devido em debate político ao acusar de drogado o filho de Joe Biden. 

Ainda mais relevante do que suas observações políticas durante o embate, Donald Trump revelou-se psicológicamente despreparado para o cargo que ocupa. Revelou ao público impetuosidade e falta de auto-contrôle verbal e mental. Sua irrascibilidade, seu desrespeito às regras do debate democrático revela um ethos refratário ao que conteste sua vontade.  Suas reações são incontroláveis, dentro do quadro de "custe o que custar", mesmo quando sabendo ser contrário ao seu interesse posterior ao imediato.

Esta "amostra" de sua personalidade dixa claro à nação norte-americana que a eleger-se Donald Trump à presidência não só o país ver-se-á sob as incertezas de uma mente inquieta, impulsiva, e, ainda, destituído  das defesas que um arcabouço cultural propicia, dando-lhe  referências essenciais ao bem governar.

Já, fora de fronteiras, cabe ao Brasil e seus governantes , meditar sobre os perigos de uma excessiva dependência a governo de alto risco para si e para a ordem internacional.   





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