A política externa brasileira deve ter por base a expansão de sua influência política junto aos países cuja relevância afetam e favorecem os objetivos nacionais. Outro pilar será a promoção e ampliação dos mercados externos. Agregar valor à nossa pauta comercial, buscar expansão, continuidade e segurança resultam em crescente credibilidade e poder negocial. Ainda, a economia, fortalecida por crescente cobertura cambial acentua a blindagem e credibilidade face aos parceiros internos e externos.
No entanto, em surpreendente contradição, o governo Bolsonaro, vem escolhendo rumos contrários à estes objetivos. Tanto o Presidente quanto o Chanceler, contrariando a opinião dos melhores quadros da diplomacia, levam o Brasil a diálogo dissonante com seus melhores clientes.
Relações estressadas existem, hoje, com a China, nosso maior parceiro comercial, com o novo governo norte americano, o maior parceiro político do Brasil, com a União Europeia, nossa maior fonte de investimentos, e com a Argentina, peça chave no Mercosul, porta de entrada ao mercado Latino Americano.
Em outras palavra, contrariando nossa história diplomática, põe-se em risco simultâneo as relações com as entidades líderes do planeta, graças à uma visão inexplicável emanada de teorias exóticas e confusas de Olavo de Carvalho e seus seguidores, onde, não raro, despontam a família Bolsonaro e seus aderentes.
À esta visão global estreita, soma-se uma íntima, ainda que terminal, parceria com o presidente Trump, onde a Nação se apequena ao viver uma relação que mais lembra o subordinado oferecendo-se ao chefe em troca de promessas vazias.
Nada ganhou o Brasil pelos inúmeros benefícios que ofereceu nestes últimos dois anos ao colosso norte americano. Contrariou-se a tradicional política externa brasileira, onde prevalecía a norma de reciprocidade no trato comercial e político, em quadro de respeito mútuo.
Foram muitas as concessões ao governo americano; a exclusão de visto para cidadãos americanos, a cessão da base em Alcântara, a importação de alimentos isenta de impostos, o afastamento da Organização Mundial do Comércio (em troca não cumprida de apoio junto à OCDE), a autorização da venda da Embraer, jóia tecnológica brasileira, à empresa Boeing (de triste resultado), encabeçam extensa lista de onde nenhuma compensação fluiu do governo Trump.
Nem mesmo obteve Bolsonaro a embaixada de Washington para seu filho Eduardo, segundo certas fontes, negada sotto voce pela chancelaria americana!
Agravando o quadro, Brasília deixa-se atrair para uma disputa entre os Estados Unidos e a China, que não é de seu interêsse. Privilegiar os interesses de Washington se justifica plenamente quando tais interesses sejam compatíveis com àqueles do Brasil, mas não quando os contrária.
Por pressão de Washington, o Brasil mostra-se propenso a não contratar o sistema 5G, assim abrindo mão de salto tecnológico crucial para sua infraestrutura de comunicação sem que obtenha qualquer compensação. A alegação norte americana de haver perigo de espionagem parece infantil, pois as técnicas de espionagem hoje existentes nas grandes potências, Estados Unidos e China incluidos, perfuram a seu bel prazer as barreiras que o Brasil possa levantar. Se ceder às pressões de Washington, o Brasil perderá um momento crucial de vantagem competitiva.
Acresce que no campo financeiro, os investimentos chineses nestes últimos anos superam aqueles provenientes da América do Norte. Ainda que incipiente, não deve ser desprezada a participação no Banco de Desenvolvimento dos Brics, fonte adicional de recursos para o Brasil.
Ainda, o Itamaraty não ignora que, a persistir ou se agravar as relações com a China, o que ora se observa, medidas retaliatórias poderão emergir. Vale observar as hostilidades comerciais ora em curso entre Pequim e Canberra.
E last but not least tem-se o anedótico episódio onde o embaixador brasileiro em Washington, Nestor Foster, ao prever a vitória eleitoral de Donald Trump (os votos contrários seriam fraudulentos e inválidos) recomendou ao Ministro Araújo e ao Presidente Bolsonaro sustar qualquer cumprimento e reconhecimento ao vitorioso Joe Biden!
Somando-se a explícita intimidade com o presidente derrotado à manifesta antipatia que o presidente Bolsonaro dedica ao presidente-eleito norte americano, o Brasil se encontra no nadir de suas relações históricas com as três mais importantes nações do planeta, os Estados Unidos da América, a União Europeia e a China.
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