sábado, 21 de novembro de 2020

E agora?



A derrota de Donald Trump nas recentes eleições promete importantes mudanças no cenário internacional. Tendo sido o presidente americano superado por Joe Biden, com diferente visão interna e externa, pode-se esperar relevantes mudanças em alianças e convergências entre os Estados Unidos e demais nações.

No que concerne ao Brasil de  hoje, no seu segundo ano de governo Bolsonaro, a outrora tradicional colaboração internacional vê-se  substituída por uma visão auto-centrada e terra-planista. A hoje propalada relação íntima Brasília-Washington, apregoada pelo governo brasileiro, tem se revelado insuficiente para atingir-se os objetivos da política externa brasileira.   

A ingênua expectativa de que as relações comerciais Brasil-Estados Unidos permitiriam substanciais ganhos mútuos não se concretizou. Pelo contrário, vem ocorrendo transferência de vantagens brasileiras em benefício dos Estados Unidos no comércio de aço, alumínio, álcool, milho, trigo e outros. Ainda a venda, ou melhor, a ruinosa venda da Embraer à Boeing, o boicote imposto ao 5G chinês por ordem de Washington, a cessão da Base de Alcântara em penumbra negocial, a não exigência de reciprocidade na concessão de visto à viajante norte-americanos, todas estas iniciativas evidenciam  uma subserviência brasileira em favor de outra Nação uma vez que dela não flui compensação equivalente.

Aliando-se à indiferença de seu parceiro Trump ao meio ambiente, o presidente Bolsonaro desafiou os alertas da política ambiental européia. Por resultado colheu, não só má vontade política, mas, também, perda econômica pela redução de entrada de recursos europeus necessários à relevantes programas empresariais e ambientais.

A iminente posse de Joseph Biden deverá sepultar o sonho de "relação carnal" tão almejado pelo  Capitão-Presidente. O ano de  2021 exigirá do Itamaraty, não apenas uma revisão, mas, sim, uma substancial reversão da política ora em curso, com retorno ao diálogo respeitoso e construtivo.¹ 

Hoje, o Brasil encontra-se fragilizado em sua política externa graças à incapacidade do Ministro  Ernesto Araújo, cuja atuação se pautou pelo mimetismo Trumpiano,  despresando o diálogo multilateral. Ao desdenhar a necessidade de plano contingêncial para o  caso de vitória de Biden, deixou o Brasil despreparado e enfraquecido.     

De pronto, providências parecem necessárias, tais como:  1) abertura de canal informal de diálogo com a equipe do presidente eleito,  2) a troca do atual  Chanceler por elemento sintonizado ao multilateralismo,   3) a seleção de um novo embaixador para Washington afinado à nova realidade, a ser indicado após a posse de Biden.  

A prevalecer o amadorismo ideológico na política externa brasileira que hoje se observa,  sérios problemas poderão resultar nas relações com a maior potência mundial.

1) Vide episódios com a Argentina e França.
  

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