A derrota de Donald Trump nas recentes eleições promete importantes mudanças no cenário internacional. Tendo sido o presidente americano superado por Joe Biden, com diferente visão interna e externa, pode-se esperar relevantes mudanças em alianças e convergências entre os Estados Unidos e demais nações.
No que concerne ao Brasil de hoje, no seu segundo ano de governo Bolsonaro, a outrora tradicional colaboração internacional vê-se substituída por uma visão auto-centrada e terra-planista. A hoje propalada relação íntima Brasília-Washington, apregoada pelo governo brasileiro, tem se revelado insuficiente para atingir-se os objetivos da política externa brasileira.
A ingênua expectativa de que as relações comerciais Brasil-Estados Unidos permitiriam substanciais ganhos mútuos não se concretizou. Pelo contrário, vem ocorrendo transferência de vantagens brasileiras em benefício dos Estados Unidos no comércio de aço, alumínio, álcool, milho, trigo e outros. Ainda a venda, ou melhor, a ruinosa venda da Embraer à Boeing, o boicote imposto ao 5G chinês por ordem de Washington, a cessão da Base de Alcântara em penumbra negocial, a não exigência de reciprocidade na concessão de visto à viajante norte-americanos, todas estas iniciativas evidenciam uma subserviência brasileira em favor de outra Nação uma vez que dela não flui compensação equivalente.
Aliando-se à indiferença de seu parceiro Trump ao meio ambiente, o presidente Bolsonaro desafiou os alertas da política ambiental européia. Por resultado colheu, não só má vontade política, mas, também, perda econômica pela redução de entrada de recursos europeus necessários à relevantes programas empresariais e ambientais.
A iminente posse de Joseph Biden deverá sepultar o sonho de "relação carnal" tão almejado pelo Capitão-Presidente. O ano de 2021 exigirá do Itamaraty, não apenas uma revisão, mas, sim, uma substancial reversão da política ora em curso, com retorno ao diálogo respeitoso e construtivo.¹
Hoje, o Brasil encontra-se fragilizado em sua política externa graças à incapacidade do Ministro Ernesto Araújo, cuja atuação se pautou pelo mimetismo Trumpiano, despresando o diálogo multilateral. Ao desdenhar a necessidade de plano contingêncial para o caso de vitória de Biden, deixou o Brasil despreparado e enfraquecido.
De pronto, providências parecem necessárias, tais como: 1) abertura de canal informal de diálogo com a equipe do presidente eleito, 2) a troca do atual Chanceler por elemento sintonizado ao multilateralismo, 3) a seleção de um novo embaixador para Washington afinado à nova realidade, a ser indicado após a posse de Biden.
A prevalecer o amadorismo ideológico na política externa brasileira que hoje se observa, sérios problemas poderão resultar nas relações com a maior potência mundial.
1) Vide episódios com a Argentina e França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário