sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Feliz Ano Novo






Ao se encerrar um 2022 conturbado por eventos políticos, tendo por prêmio (para alguns) a derrota de Bolsonaro, estamos nos derradeiros acontecimentos de um ano tumultuado. Tal qual a "cereja no bolo" (para alguns) tem-se a fuga desabrida de Bolsonaro rumo ao colo confortador de Donald Trump. 

Tal iniciativa acentua o desequilíbrio constante  que aflige a mente do presidente derrotado. Fugir do país que governou sem ter a cortesia política de passar a faixa ao novo presidente, revela um homem pequeno, que abandona os seus milhões de seguidores face a adversidade. Ainda, tivesse cumprido o cerimonial tradicional, abriria as portas do diálogo e, talvez, reduzindo o alto indice de polarização ora reinante. 

O refúgio escolhido em país estrangeiro, acentua seu estado de alienação, ferindo os brios da nacionalidade.  Presidente fujão não incita admiração. O aproxima, ainda mais, a outro "anjo caído", Donald Trump, cujo futuro é incerto por estar na mira da Justiça norte-americana.

E assim se encerra um ano sofrido. Resta ao presidente eleito Lula da Silva, dar a maior importância aos milhões de brasileiros mal assistidos na educação, na saúde e na moradia. Porém, sem fragilizar o arcabouço  legal e fiscal que permita o desenvolvimento da iniciativa privada, esta responsável pelo enriquecimento do país e pelo emprego, seja no campo, seja  nas cidades. Do seu sucesso depende o sucesso do Brasil. 

Feliz Ano Novo!!!                                                                                                                                          Pedro Leitão da Cunha   



sábado, 24 de dezembro de 2022

Abuso ?



Aproveitando o apagar das luzes do atual governo, a direção de importante empresa de serviço público decide onerar os cofres da empresa da qual o Estado detêm em torno de 40% de seu capital. Segundo o jornal "Valor"de 21 de dezembro p.p., quando da recém revisão de salários da direção da empresa, caberia ao Diretor-presidente o aumento de seu salário de R$ 52 mil, para R$ 300 mil, ou seja, de aproximadamente US$ 10.000 para US$ 60.000. Já os vice-presidentes fariam jus ao aumento de R$ 49,860 à R$ 100,000 mensais, ou seja 100% de aumento. Já a remuneração fixa dos membros do conselho de administração subiria de R$ 5,44 mil para R$ 200 mil.

Deve merecer atenção o fato de que empresas exercendo o monopólio de suas atividades gozam de características e privilégios (merecendo acesso único ao mercado e preço garantido)  que as diferenciam de empresas expostas à intensa competição. Por consequência sua responsabilidade social pela natureza do serviço prestado é evidente, assim recomendando regras mais severas quanto a sua relação empresa-consumidor, especialmente no que tange o repasse de custos para  a formação das tarifas cobradas.  

A dinâmica gerencial de empresas de energia elétrica difere daquelas operando em mercado competitivo. Tem ela por desafio a constante negociação com o poder concedente, uma vez que o conteúdo político, seja a montante (agencias governamentais) seja s jusante (seus consumidores) torna-se preponderante. Tendo sua base técnica assegurada para o necessário atendimento de seus consumidores, não será ela sujeita ao nível de concorrência comum às demais empresas. 


À estas últimas cabe a contínua expansão de seu mercado, sem limites, nem geográficos, nem de produção,  em continua ampliação e adequação de seus produtos, tanto em qualidade quanto em preço.  Destarte, acentua-se o elemento risco, perene no mercado aberto e privado.  E assim se observa que os salários atribuídos à direção de uma empresa em contínua competição tão mais alto será quanto maior for o risco. Às empresas monopolistas, o inverso se aplica por ser menor o risco de suas operações. 

Visto sob uma perspectiva ampla parece não haver fato novo que justifique tão relevante alteração na política de remuneração para seus dirigentes. Tal decisão prejudica, tanto o Estado na qualidade de acionista minoritário, quanto os demais pequenos acionistas, uma vez que os montantes mencionados parecem ultrapassar, em muito, os valores pagos pelas demais empresas congêneres.

Será tal comportamento um desafio ao conceito de privatização dos serviços públicos? 

--- em tempo: os dados financeiros da empresa revelam que o lucro para o período encerrado em 30/09/2022 é inferior àquele do mesmo período no ano anterior.

 





 



quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Ignorância ou Cinismo?




O Brasil livrou-se, nesta última eleição, de um político autoritário, pouco instruído, impulsivo cuja permanência no poder levaria o país à um governo desorganizado e prepotente e, com nítida tendência ao totalitário. Ainda, tornou-se corrupto graças à dependência e aliança celebrada com as forças dominantes da máquina legislativa.

A eleição presidencial revelou com singular clareza que ambos os candidatos contaram, tanto com seus seguidores partidários quanto com um expressivo contingente  eleitoral repudiando seus respectivos adversários. A margem vitoriosa inferior a 2% concedida à Lula deveria lhe sugerir que eventual radicalismo de esquerda promovido pelo PT não contará com a maioria esperada e com a lealdade de seus aliados de ocasião, uma vez que mais próximos estarão eles do centro político.  

Após prudentes e corretas nomeações do primeiro escalão de seu ministério, temos imprudente  manifestação, onde Lula mostra sua outra face. Em declarações recentes, o futuro presidente revela nítida alienação quanto às exigências de uma economia ordenada, essencial ao seu crescimento e à paz social. Sua imprudente declaração lançada ao público "a gente não cuida do pobre se ficar olhando a politica fiscal" revela uma profunda ignorância ou um indisfarçável cinismo. 

A ignorância  se dá ao desconhecer as consequências econômicas do desrespeito fiscal, onde a inevitável alta da inflação e consequente redução de investimentos e poupança tem os pobres como primeira vítima, acentuando seu sofrimento e frustração. Ainda, recorrer à armadilha dos subsídios e artificialismos para remediar e manipular as agruras inflacionárias, seja uma demanda artificial, seja uma alocação imperfeita de recursos, terá por resultado a desmontagem da estrutura econômica.  

Quanto ao cinismo, caberia a hipótese de, auxiliado pela desorganização do binômio preços e salários, vir Lula a adotar um governo paternalista e populista visando alterar os elementos que regem a economia liberal conforme nos ensina a experiência argentina. Como prêmio, ter-se-ia um Lula como pai dos pobres, comandando reconstrução sindical aliada à um  estamento político radical 

A verificar-se as hipóteses levantadas acima, justo estimar a contestação dos setores mais conservadores, abrangendo tanto a classe empresarial quanto numerosa parcela do legislativo. Daí ao impeachment seria um pequeno passo. 

O que vai acima não tem o peso de premonição; não passa de congecturas que pela sua provocação estimula a atenção e análise de um governo que ainda não tomou posse.



domingo, 11 de dezembro de 2022

A Águia e o Dragão




"The US-China rivalry is a global affair, but the heart of the contest is in the Indo-Pacific. This is the world’s most populous, economically dynamic and strategically important region. It is where the Chinese challenge to US power, and to the international system that power underpins, is most severe. It is where outright war between Washington and Beijing is most like

Bloomberg  Nov. 5. 2022

                                                  

Este comentário em importante publicação Norte Americana, revela a que ponto os Estados Unidos pretendem manter sua hegemonia econômica, gradualmente transformando-a em "casus belli", por considerar a ascensão econômica da China como ameaça à segurança da nação norte americana. Se tal desdobramento ocorresse na Idade Média seria ele justificado, uma vez que esta era a regra do jogo internacional, onde a lei do mais forte prevalecia.

Contudo, a partir da Liga das Nações ao fim da 1a. Guerra Mundial e, posteriormente da Organização das Nações Unidas, foi criado um arcabouço legal vinculando seus membros à ordem pacífica dentre as nações, sendo a guerra admissível apenas quando em resposta à violência de outra Nação. Pela Lei Internacional vigente, a guerra é ilegal a não ser que seja defensiva.

Ora, os Estados Unidos, em suas manifestações no âmbito internacional, acentuam e priorizam o que denomina uma  "RULES BASED INTERNATIONAL ORDER" onde nenhum conflito deva ser tolerado salvo aquele decorrente de defesa contra ameaça explícita ou ação militar.  

O que se observa nas relações sino-norte americanas é uma crescente relação econômica onde ambas as partes usufruem benefícios, onde cada parceiro busca suas vantagens competitivas. Os investimentos realizados em cada país obedecem, voluntariamente,  as regras vigentes nos mercados que acessam.

A China hoje tem o seu Poder de Compra  ligeiramente acima dos Estados Unidos, sendo que o PIB, contabilizado em dólares, situa-se 3 trilhões abaixo. A projetar-se o desempenho recente para os próximos anos, é provável que a economia chinesa em poucos anos  ultrapassará a norte-americana.

É verdade que o comercio entre as duas nações hoje recebe tratamento pontuais contrários à plena e livre concorrência. Enquanto de forma crescente os Estados Unidos limitam o pleno acesso de produtos chineses, seja por tarifas seja por vedação legal e, ainda, prohibe a exportação de bens estratégicos (vide semi condutores) a China, por sua vez, estabelece regras que contêm, em seu território, a expansão de empresas estrangeiras em geral e americanas em particular. Este é o ambiente comercial que rege uma relação imperfeita, podendo se desdobrar em situações hostis. 

No entanto, a prosseguir a tendência ora observada, caminha-se para a militarização deste diferendo com crescente ameaça à paz sem que haja para tal uma justificativa válida. O contencioso ora em curso no Mar do Sul da China onde Pequim estabelece bases militares não deve ser visto com hostilidade, uma vez que sua posição estratégica se iguala àquela que rege a presença militar dos Estados Unidos no Caribe. Trata-se, em ambos os casos de posicionamento defensivo, sem capacidade ofensiva dado a sua vulnerabilidade.

Ainda, a pretendida expansão comercial e econômica chinesa na região Indico-Pacífico, tendo especial relevância o Paquistão, a India, bem como as nações-ilhas das Filipinas, Indonésia e Japão, terá por resultado o acirramento da disputa pelo Soft Power dominante. Contudo, a inevitável e crescente competição comercial não parece representar ameaça aos concorrentes a ponto de justificar um conflito entre os dois países.

Porém, como elemento irritante nas relações mútuas, a substancial colaboração militar entre os Estados Unidos e Taiwan representa um crescente desconforto para Pequim, tendo em vista a ameaça estratégica que representa. Apesar das advertências o ritmo se mantêm. 

Em caso de conflito entre estes dois colossos as consequências econômicas fariam parecer o atual desconforto causado pela guerra Russia-Ucrânia um jogo de criança. A interrupção do fluxo econômico  internacional com a China ameaçaria o mundo de consequências profundas e negativas. Por exemplo, tem-se o comércio Brasil-China, que, se interrompido, traria relevante prejuízo ao Brasil provocando, ab initio, uma crise cambial. Já, em menor escala, o mesmo ocorreria com a Europa Ocidental onde seu comercio com a China já supera aquele com os Estados Unidos.  

A pressão que ora exerce Washington sobre Pequim sugere consequências militares levando o comando chinês ao estreitamento das relações com Moscou, cujo arsenal nuclear supera o norte-americano. A prosseguir no caminho perseguido por Washington, acentuar-se a probabilidade do confronto nuclear. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Lula Sóbrio



A notícia nos chega alertando que o Ministro da Aeronáutica se recusaria passar seu cargo ao substituto  ser indicado pelo Presidente Lula. Comenta-se, ainda, que os demais ministros das forças armadas. Exército e Marinha, deixariam suas funções antes da diplomação de Lula, evitando assim a entrega de suas pastas aos substitutos indicados pelo presidente eleito.

Caso seja verdade, tratar-se-ia de insubordinação explícita, ato vedado e punível pelo código militar.

Ainda, manobras empreendidas pelo exército na região de Cabo Frio, vem sendo interpretada por alguns setores pró-golpe como início de movimento anti-Lula.

O que passaria por mero nervosismo da opinião pública face as constantes afirmações de invalidade das urnas, ganham tais notícias algo de realismo face ao silêncio do Presidente Bolsonaro ao reconhecer sua derrota. Haveria uma trama sendo urdida ou trata-se dos últimos estertores do cadaver bolsonarista?

Já, pelo lado do presidente-eleito, os nomes lembrados para o ministério a ser empossado parecem razoáveis e equilibrados, assim esvaziando a retórica "anti-comunista" da oposição derrotada. Porém, resta a Lula escolher a Pedra Angular que dê a seu projeta de governo a confiança dos brasileiros que nele votaram: um Ministro da Fazenda ortodoxo. 

Necessário seria reconhecer que nunca houve eleição presidencial tão disputada; isto porque não apenas votaram aqueles de vocação direitista ou esquerdista, mas também, e em grande numero, os que votaram movidos, tão somente, pela rejeição ao candidato adversário.

Ainda,  o frágil apoio que Lula obteve tanto na Câmara quanto no Senado lhe impõe maior prudência legislativa, desaconselhando excessos demagógicos. 

Assim, a apertada vitória no pleito e seu limitado apoio no Congresso deverá impor a Lula uma cautelosa administração. Não terá um cheque em branco para seguir a trilha da esquerda radical.  O modelo esperado é o de seu primeiro período na presidência, quando tanto o Social quanto o Fiscal mereceram adequada atenção.

 


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Moeda Privada




Neste mundo moderno, onde a constância é a primeira vítima, as mentes se abrem para o "novo", o inusitado que derrubam os muros dos antigos hábitos e crenças, assim abrindo o caminho para novas experiências. Desfazem-se as "caducas verdades". 

E não são poucas aquelas que trazem melhora para o bem viver. No campo da medicina, auxiliado pela capacidade e velocidade dos computadores, tem-se a crescente acuidade dos diagnósticos,  a geração de remédios, vacinas e próteses, transformando o que, há pouco, seria um futuro longínquo em realidade imediata, assim oferecendo à humanidade um notável avanço na expectativa de vida. 

Por outro lado. em senso contrário, tem-se no campo bélico o extraordinário desenvolvimento na letalidade das armas, submetendo  não só os militares mas, também, os civis à destruição. Não será exagero prever-se em futuro próximo, exércitos formados por robôs. Porém, e vale a reflexão, sempre será o ser humano na ultima linha de defesa.  

Contudo, é no campo das finanças que se observa a mais radical criatividade, cuja consequência é desconhecida. A robotização do dinheiro já ocorre com a moeda virtual, esta desligada dos elementos vitais que lhe deveriam dar sustentação. Dentre as moedas convencionais existe a vinculação à riqueza e a confiabilidade  do país emissor; mais procurada será a moeda quanto mais vinculada for à riqueza de seu emitente, respeitando-se sua relação quantitativa com a base que a sustenta.

Ao abandonar-se tal princípio, ao emitir-se moeda desvinculada ao elemento real de riqueza, perde-se a referência de valor, restando apenas a constante expansão de uma base monetária destituída de qualquer lastro reconhecido. Seu preço flutua conforme os humores de investidores e especuladores. Dá-se aos seus "responsáveis" o direito ilimitado de emissão, aumentando-se o denominador sob um numerador falso e inexistente. 


Tal circunstância leva o Sr. Jamie Dimon,  presidente do extraordinário banco JP Morgan-Chase, a declarar em 22 de setembro passado que as moedas sem referência, vide virtuais, nada mais são do que "Ponzi schemes", ou pirâmides financeiras.

Apesar da falta do embasamento lógico no caso da moeda virtual, decorrente da falta de referencial relativo a valor real (ouro, equilíbrio fiscal, pujança econômica e comercial, lastro em moeda "forte" etc...) a sociedade moderna amplia a sua proliferação através da gradual cooptação do sistema bancário, este promovendo transações e criando fundos de aplicação solidária, assim sugerindo legitimidade à um instrumento ilegítimo. 

E o Banco Central do Brasil, deveria permitir o livre curso daquilo se se tornou moeda, ainda que sem lastro e sem emissor confiável? E a circulação crescente destas moedas virtuais, até que ponto se tornam meios de pagamento com reflexos na expansão da moeda? E a segurança ( do instrumento, não do lucro) que deve ser assegurada aos detentores de moeda legítima? E de que forma a moeda virtual se diferencia de uma moeda falsa?  E a emissão privada de moeda encontra guarida na legislação? Quais seriam as consequências para o mercado financeiro caso houvesse uma forte e simultânea queda de tais moedas?

Certamente estas hipóteses já foram analisadas pelas autoridades competentes, porém não deveriam elas instruir o publico investidor de como se proteger em caso de colapso? Teriam elas condições de interferir neste mercado em caso de crise?

A este observador parece estar em curso a gestação de um sério problema. Parece ser oportuno uma guidance do Banco Central.  

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O texto abaixo, obtido no Google, revela quão difundido está este mercado, alimentado pela ânsia do rápido enriquecimento. 

"Segundo a agregadora de dados CoinMarketCap, atualmente existem mais de 10.800 tipos de moedas virtuais listadas. Somente no primeiro semestre de 2021, foram criadas 2.655 novas criptomoedas.24 de mai. de 2022

O volume total do mercado de criptomoedas das últimas 24 horas é de R$441.75B(¹), o que representa 16.38% de aumento do volume total do mercado de criptomoedas em 24h."

A ver...

1) Aprox. US$ 80 Bilhões. 

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Qual Lula será?



Contrariando a expectativas de alguns que esperavam ver Lula mais sóbrio e prudente, amadurecido pela experiência prisional recente,  nota-se pelas notícias publicadas que corre-se  risco de ver o Brasil novamente sob o receituário ideológico do seu partido.

Todo brasileiro de bom senso deseja ver um Brasil reduzindo o fosso que separa as classes média e alta d'aqueles que mal tem o que comer. Porém, para atingir-se este objetivo o governante deve respeitar os pontos cardeais que regem o comportamento da economia: o Livre mercado, o Equilíbrio orçamentário, a Atração dos investimentos, o limite da Dívida  Pública, etc...

Infelizmente, as notícias que nos chegam parecem desenhar um desprezo pelas bons procedimentos econômicos que a Nação exige para que possa prosperar. Porém não é este o quadro que decorre das atuais manifestações do Grupo de Transição, onde a maior preocupação parece ser a de "furar o teto", onde o Auxilio Brasil parece ser a gazua para o arrombamento da porta fiscal. 

Conquanto a relevância do programa social representado pela Bolsa Família parece inquestionável, a experiência do observador político vislumbra o risco de ser ela acompanhada de outros gastos, estes com intuito partidário e eleitoreiro. Ainda é cedo para conclusões, mas o "animus gastandi" é um virus instalado no organismo político, sem que haja vacina que o contenha; esta regra política tem inconteste capacidade regenerativa.

Acentuando o quadro de preocupação neste momento que parece indicar o futuro andamento do governo Lula, sua frase ao recomendar paciência para com a forte queda da Bolsa e o aumento do dólar parece revelar preocupante desconhecimento das regras necessárias à uma economia ascendente. 

O tempo que falta para a posse do novo presidente é a ocasião para refletir sobre um Brasil em mutação, onde as redes sociais surgiram, alterando e exacerbando a configuração eleitoral e, até mesmo, o exercício do poder. A inconstância se torna moda, bem como a intolerância e o fanatismo, como bem demonstrou esta última eleição presidencial, onde o vitorioso é eleito por margem ínfima. 

Lula deve refletir que sua vitória não se deve apenas ao Partido dos Trabalhadores, mas, também, àqueles que repudiaram Jair Bolsonaro. Não parece haver espaço para a implantação demagógico-popular, onde as regras essenciais ao crescimento econômico sejam ignoradas em favor de artimanhas de benefícios de  curto prazo onde o alto custo revela a seguir. A receita nada tem de novidade, bastará a Lula seguir o caminho exitoso, tanto no econômico quanto no social, de seu primeiro governo em 2003.

Escolher o caminho do populismo milagroso que parece surgir da divulgação de declarações levianas, poderá causar o rombo fiscal, a inflação e a desvalorização da moeda, sendo estes elementos cruéis para a sobrevivência dos mais pobres. Ainda, o consequente desaranjo da economia causará a perda de fidelidade de milhões de eleitores, estes aliados por serem contrários a Bolsonaro, assim fragilizando a base política de Lula e, em última análise, sua sustentabilidade ao longo de seu mandato.

 

            

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Ainda não acabou


Em nota, ministério comandado pelo general Paulo Sérgio Nogueira, informou que relatório será divulgado na quarta (9)

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Em experiência inédita tem-se a vitória de Lula por ínfima margem, ficando para 19 de dezembro  a data limite para sua diplomação. Em outras palavras, somente após este ato será a vitória de Lula consagrada. Porém, no dia 9 de novembro ter-se-á o relatório do Ministério da Defesa, validando ou contestando a confiabilidade das urnas e, por consequência, o resultado do pleito. Causa estranheza ter-se alongado por nove dias tal manifestação.  

Esta esdruxula etapa surge, de forma inédita na história eleitoral brasileira, graças à decisão do Ministro  Luis Roberto Barroso do STF de desarmar a polêmica então vigente sobre a validade do voto digital. Infelizmente, tal desdobrar do processo eleitoral revela fragilidade institucional ao criar-se mais uma etapa de possível contestação uma vez que a diplomação do vencedor ainda não se deu.    

Na improvável hipótese de ter-se uma avaliação negativa quanto à confiabilidade das urnas pelo Ministério da Defesa, corre-se o risco de criar-se um vácuo institucional, assim abrindo uma Caixa de Pandora onde põe-se em risco a própria Democracia.

Razoável estranhar-se o tempo levado para finalizar tal análise, já ha mais de uma semana após o término da eleição. Tal avaliação pelas FA's torna-se inócua pois recusar a validação das urnas eletrônicas redundaria em aguda instabilidade politica e social restando tão somente a opção de  validação como  exigência para a garantia da paz pública.  

domingo, 23 de outubro de 2022

O Planeta Inquieto





A inquietação domina o ápice da política internacional, este composto pelas grandes potências. Três  núcleos de poder, sejam  eles político, militar ou econômico,  parecem dividir o planeta. O mais poderoso tem os Estados Unidos por líder de uma aglomeração de nações, tanto nas Américas, quanto na Europa e na Ásia. 

Seu poder se estende pelos cinco continentes, cimentado pela comunhão de interesses de segurança e prevalência comercial. Subordinados aos interesses norte-americanos estão, também, a Australia, o Japão e a Coréia do Sul. Este bloco contém mais de um bilhão de pessoas e o seu PIB se aproxima de 52 trilhões de dólares.

O  bloco que se lhe opõe é liderado pela China e pela Rússia, esta última dominando a Belarus e vários países da Ásia Central, chegando sua influência ao Irã, este às portas do trafego de petróleo que abastece todos os "blocos". Sua população  não chega à dois bilhões de almas e sua produção anual de riqueza fica aquém de dois trilhões de dólares. Contudo, a riqueza mineral (vide petróleo) da Russia, de valor estratégico, torna-se disponível à China.  

Os dois primeiros blocos se caracterizam, também, por enorme arsenal nuclear, tendo a capacidade de atingir qualquer ponto terrestre.

Já um terceiro grupo  de países se identificam por política externa de engajamento político-internacional variável e inconstante quando não neutra. Neste aglomerado desponta a India, o Paquistão, a Indonésia, as Filipinas, o Brasil e a Argentina, a Nigéria e a Africa do Sul e os países petroleiros do Oriente Médio. Sua população supera dois bilhões de pessoas enquanto seu PIB conjunto não chega à 1,7 trilhão de dólares. Porém a influência qualitativa do petróleo da a este último grupo influência que supera sua baixa densidade econômica. É significativa posição geográfica de países como a India, bordejando a China, o Brasil dominando a América Latina, a Indonésia guardando o acesso à Australia e os Estados Petroleiros no entroncamento entre Ásia e Europa.

Tivesse este grupo ação coordenada, teria ele o poder de ser um relevante "tertius" no cenário internacional, negociando com vantagem o apoio pontual a este ou aquele bloco e dele extraindo o benefício desejado. Contudo, seu medíocre nível, tanto na adequada distribuição de riqueza quanto o de  acesso à educação lhe dificultam o luxo de ação coordenada entre seus membros visando um arcabouço estratégico de longo prazo. Assim sendo, seus membros oscilam dentre as suas limitações e preferências individuais de curto prazo, sejam elas políticas ou econômicas, tornando-se, episodicamente, importantes ou insignificantes.

Hoje, o planeta Terra enfrenta o maior risco de sua existência. Dentro de um quadro de crescente proliferação de armamento nuclear, um erro de cálculo poderá deslanchar uma guerra nuclear.  De um lado, este liderado pelos Estados Unidos, fica estabelecido que nenhuma nação poderá pretender igualar-se o superar a prevalência econômica ou militar norte-americana. Tal ocorrência significa para Washington um real perigo para sua sobrevivência, a qual depende de sua capacidade de impor políticas externas que convirjam com seus interesses. 

Estabelece-se, assim, regra não escrita no mundo da Pax Americana hoje prevalente, apesar dos inúmeros conflitos travados para garantir este conceito. A missão de America Duxit é impositiva e não negociável,  mesmo correndo-se o risco do conflito nuclear.

Vis-a-vis a China , Washington tem-se manifestado contrária ao crescimento de sua economia. Tem se ampliado as iniciativas explicitas desenhadas para conter e abafar o crescimento chinês. Preferindo o conflito restritivo à abertura econômica, sendo esta pacificadora pelos interesses comuns gerados entre as partes, as sanções impostas à Pequim nada fazem senão gerar crescente animosidade entre as partes. 

Pretender que a China abandone sua caminhada para a prosperidade econômica não parece ser realista nem se conforma com os direitos inerentes a qualquer nação de prosperar. Pretender negá-lo apenas posterga o dia do "acerto de contas".

Neste momento se desenha a armadilha que Washington prepara. Emulando o ocorrido na questão Russia-Ucrânia, onde a pressão de cooptar Kiev para a OTAN levou Putin ao erro estratégico causado pela invasão, vê-se situação similar na relação China-Taiwan. Neste caso, a crescente influência norte americana na política de Taiwan poderá provocar imprudência similar ao caso acima mencionado. Uma invasão de Taiwan traria o opróbio da "comunidade internacional" cujas sanções interromperiam o ritmo de crescimento da economia chinesa.    

As últimas declarações de Xi Jinping, se corretamente traduzidas do chinês,  sugerem  que tal processo já tenha se iniciado. “A influência internacional, o apelo e o poder da China para moldar o mundo aumentaram consideravelmente” (1), disse Xi ao dar início ao congresso do Partido Comunista, que ocorre a cada cinco anos e no qual ele recebe do Politburo um terceiro mandato, rompendo com a tradição do país. “A modernização chinesa oferece à humanidade uma nova opção para conseguir..." (1)

Tal fraseologia pode indicar um retrocesso na política internacional até então adotada por uma China  contida no seu expansionismo apesar de sua enorme expansão comercial. O texto acima citado do presidente Chinês, sugere  um messianismo que substituiria a racionalidade, onde as palavras encerram ameaça em vez de colaboração e compartilhamento.  A ver... 



1. Publicado no jornal Valor em 17.10.2022

segunda-feira, 10 de outubro de 2022




AOS AMIGOS LEITORES INFORMO QUE, POR MOTIVO DE VIAGEM,                                             

             O BLOG SERÁ  SUSPENSO TEMPORÁRIAMENTE

               

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                    RETORNAR NO MÊS DE NOVEMBRO


 

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Um novo Hitler?




Vítima de seus sucessos anteriores, Putin foi capturado pelo Hubris, transformando-se de outrora hábil enxadrezista em fanático, vítima de sua própria infalibilidade. De defensor das fronteiras russas passou a desrespeitar a fronteira alheia, perdendo assim o essencial apoio da comunidade internacional. 

A revolução tecnológica no campo de batalha aliada à determinação do exército ucraniano trouxe à tona o desmoronamento do bluff russo. Na espera que um avanço relâmpago de suas tropas levasse o inimigo humilhado à mesa das negociações o inverso acontece, trazendo à tona a desmoralização do exército russo. 

A invasão, projetada para poucas semanas já se prolonga, inesperadamente, por muitos meses face aos mísseis destruidores dos tanques que não mais davam o essencial apoio à progressão da infantaria russa. Ainda, já no âmbito naval, os ucranianos (ou teriam sido outros velados aliados?). afundaram o  cruzador Moskva com foguetes bem apontados. 

A absorção pela força de terras estrangeiras tendo, apenas por base. a origem russa de parte de sua população, trás à muitas nações da região (especialmente a Estônia) um inaceitável ambiente de latente ameaça. Em suma, a aventura de Putin lembra a ocupação dos Sudetos tchecos, habitado por população de origem germânica, pelas forças de Hitler. Agrava-se a situação ao tentar  Moscou validar a absorção de terra ucraniana pela realização de plebiscito sob a sombra de seus fuzis. À isto, diria o notável francês, Talleyrand: "c'est pire qu'un crime, c'est une faute,"   

Um erro que já está custando caríssimo à Russia, 

- perde a eficácia de sua política externa, não apenas junto aos países Ocidentais mas. o que lhe é vital, ao causar crescente desconforto ao seu único aliado de peso, à China. Conforme manifestações públicas, Pequim propugna a cessação das hostilidades.

- perde sua economia, estrangulada pelas sanções lideradas pelos Estados Unidos. 

- perde pela forte instabilidade na política interna que resultará, seja de um fracasso, seja de uma escalada militar, com sérias consequências para o bem estar da população. 

Assim, é possível, senão provável, um remanejamento na cúpula de poder. Em suma, pode-se esperar crescente oposição do povo e do estamento russo à Putin, seja ela sub-reptícia, seja ela  ostensiva.

Nada mais perigoso do que um líder de nação nuclear que se considere ungido por missão auto-imposta. Neste momento, corre o mundo momento difícil e perigoso onde os limites se diluem pela ação corrosiva da emoção. Dentre as potencias nucleares, tanto os Estados Unidos, quanto a União Europeia, de um lado, e a Rússia,  de outro, mais prudente será assegurar uma "porta de saída de aparência honrosa" nas negociações que virão. Encurralar um inimigo nuclear pode ser extremamente perigoso.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Manifest Destiny

Seria a Hipocrisia um biombo ao qual grandes potências recorrem quando suas iniciativas imperiais atropelam os limites da Lei Internacional?  Ou, ainda, seria ela mais uma arma política das nações poderosas como justificativa de suas ações dominadoras? Até que ponto este "jogo de espelhos" dá ao perpetrador a roupagem da respeitabilidade atribuindo, "urbe et orbi"o ônus do malfeito ao adversário?.

Dentro de quadro político-psicológico caminham as relações internacionais dos Impérios e grandes nações. Não raro, a eles se aplicam as fábulas de La  Fontaine e Esopo, que já ensinavam que o mais forte exerce o seu domínio através da manipulação de falsos argumentos que justifiquem sua prepotência. Quase sempre a raposa fazia de vilão, e por vezes o escorpião,  mas sempre a lebre/coelho eram a vítima de ocasião.

Relevante será a estória da raposa acusando o coelho de lhe poluir a água que do rio bebia. O coelho argumentou que a bebia a jusante do lobo, e portanto não poderia poluí-la. Mas de nada valeu-lhe o argumento. Assim às potencias cabe exercer seu poder; seja qual for o argumento; sempre terá razão em detrimento do mais fraco.   

Envolta em "righteous" manto, a Nação Americana exerce uma política de resultados práticos; mas o que a diferencia das demais potencias é a crença de cumprir ela uma "missão divina", denominada "Manifest Destiny" e de merecer proteção de "In God we Trust". O pathos nacional é o de a todos superar:

"Manifest Destiny, a phrase coined in 1845, is the idea that the United States is destined—by God, its advocates believed—to expand its dominion and spread democracy and capitalism across the entire North American continent." 

Hoje, esta política prevalece, mediante uma diplomacia com matízes impositivos tais como a aplicação de sanções quando possível, e através da guerra, quando necessário.  Assim, tem-se, como parte de seu arsenal conceitual/ideológico, um Estado que, por auto libertar-se de culpa pode cometer graves atropelos.

"Fast forward"  aos tempos atuais, tem-se o conflito político entre os Estados Unidos e a Rússia enfraquecida.  esta uma pálida imagem do que fora a União Soviética, cuja população, capacidade industrial, e forças armadas diluíram-se quando de seu desmonte.  

A partir do governo Gorbashev deu-se a desconstrução do império Soviético, verificando-se inédito apaziguamento político, seguido de desarmamento militar entre as duas potencias. Sob seu comando a União Soviética concedeu a independência à nações a ela  anexadas no tempo de seu Império, voluntariamente enfraquecendo-se política, econômica e fisicamente. Resulta, assim uma nova Russia, pálida versão dos tempos czaristas e comunistas,  perdendo perto de 20% de seu território e mais de 50% de sua população.  

Condizente com o processo de conciliação, o presidente Boris Yeltsin (1991 - 1999) ordenou  a dissolução do Pacto de Varsóvia e o retorno à Russia de seus exércitos, tomando por base promessa do alto escalão Norte Americano de ação recíproca com relação à OTAN. Tal não ocorreu; pelo contrário como se observa abaixo, foi notável a sua expansão:


Yeltsin consolidou-se na presidência, derrotando os resquícios comunistas reforçando, ainda, as relações cordiais com os Estados Unidos, nações outrora inimigas. Em clara  manifestação de entendimento pessoal entre Clinton e Yeltsin, foram celebrados tratados contendo a produção das armas nucleares e permitindo inspeção aérea mútua, assim encerrando o anterior processo de instigação mútua. Visitas recíprocas às suas capitais cimentaram as relações e abriam as portas para um mundo livre da ameaça e desconfiança dominante desde o término da Segunda Guerra Mundial.

Mas não haveria de ser. Os anos seguintes revelaram uma OTAN não abolida; pelo contrário não só manteve sua postura anti-Russia, mas, a partir de 1999 expandiu sua presença nas nações do Leste europeu libertas do comunismo. Ainda, a crescente interferência americana nos assuntos internos russos, inclusive na rebelião da Chechênia,  agastou e terminou por romper os laços de amizade construídos entre Washington e Moscou. 

Sentindo-se novamente ameaçado, Yeltsin designa Wladimir Putin como candidato para sucedê-lo; este eleito, toma posse em  maio de 2000. Excepcionalmente e demonstrando solidariedade, Putin, nos meses que se seguiram à derrubada das torres em 2001, ofereceu auxílio aos Estados Unidos permitindo o uso de suas bases militares em apoio às operações contra os terroristas da Al Qaeda.

Já, em 2008, um novo capítulo de provocação ocorre na Georgia (2008), onde a interferência norte-americana tenta torná-la hostil a Moscou. Não foi bem sucedida. Em 2014 a Secretária de Estado norte americana, Hillary Clinton designa sua subordinada, Victoria Nuland, com a missão in loco  de, em conluio com as forças de oposição, provocar a derrubada do presidente eleito ucraniano, Viktor Yanukovich, próximo à Russia. Por resultado Petro Porochenko o substitue e anula os direitos de cidadãos ucranianos de raises russa, causando uma cisão interna com o apoio de Moscou,  e inicia negociações para a inclusão da Ucrânia na OTAN.      

Hoje, tem-se um conflito que não parece possível ser revertido; extinta a União Soviética, constata-se que a Rússia  em vez de expandir territorialmente fez o oposto, reduzindo seu território. Para tal concedeu a independência à diversas e relevantes províncias anteriormente parte do império russo, sendo elas de relevante contribuição econômica, como o Cazaquistão e o Azerbaijão, ricas em petróleo, minérios e recursos humanos porém, não aceita a presença potencialmente inimiga em suas fronteiras.

Contrariando a imagem expansionista da Russia que prevalece no Ocidente, a perspectiva histórica revela um quadro de enfraquecimento voluntário russo o qual, em vez de pacificar as relações internacionais com os Estados Unidos, como pretendiam tanto Gorbachev quanto Yeltsin, demonstrou uma fraqueza que Washington avaliou como uma oportunidade.

A partir de 1999, promove-se a expansão da OTAN na Europa Central assim impedindo um entendimento duradouro com Moscou. O último capitulo deste confronto decorreu da insistência norte americana para atrair a Ucrânia, fronteiriça à Russia,  para a OTAN. A reação de Moscou foi inevitável conforme opina Kissinger, levando Putin a  cair na armadilha  e cometer o grave erro de invadi-la em vez de seduzir a Alemanha e a França (vide a dependência por energia) para a causa da paz na região.

Por resultados destes eventos mantem-se crescente pressão exercida por Washington, causando forte aumento de  tensão entre as dois polos nucleares, Estados Unidos e Europa por um lado, e Russia e China no outro. Este momento a política externa norte-americana evidencia o pathos da Manifest Destiny que perdura no âmago nacional, impondo a subordinação, tanto da Russia quanto da China, 

 

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Um novo horizonte



Graças aos atos do Presidente envolvendo os militares na validação das urnas eletrônicas, e graças à decisão de duvidosa prudência do Ministro Barroso (à época de sua liderança do TSE) ao convidar a presença militar na comissão que apura a confiabilidade das urnas eletrônicas, tem-se hoje crescente envolvimento do Exército em área exclusiva do Poder Civil que rege o processo eleitoral brasileiro.

Apesar de insistentes advertências do Tribunal Superior Eleitoral à Jair Bolsonaro sobre o perigo que a propagação de suas infundadas dúvidas sobre as urnas eletrônicas firam a confiança do eleitor no processo eleitoral, Jair Bolsonaro insiste em manter seu discurso de desconfiança. Declara rejeitá-las caso, segundo ele,  as  eleições não forem "limpas". Vale, então, a indagação: quem definirá a higidez do processo? O presidente? As Forças Armadas? ou o Tribunal eleitoral?

E qual seria o fito da dúvida semeada? A indagação pode levar um observador da política brasileira a  perguntar se um objetivo extra-constitucional  estaria por trás de tais críticas. Será que, iniciada a eleição e constatada uma eventual vantagem do candidato oposto ao governo, haveria interrupção, adiamento ou anulação das eleições?

Pelo que se observa, as portas se abrem pela primeira vez no país redemocratizado,  para a participação militar no TSE.  Esta, adquirindo ímpeto próprio, faz surgir o temor de nova interferência castrense onde o Ministro da Defesa insiste em enviar mais dez soldados para renovado "teste" da inviolabilidade das urnas. 

Simultaneamente, em iniciativa surpreendente, o Procurador Geral da República,  Augusto Aras, rejeita a necessária equidistância entre os Poderes da república, alia-se ao Presidente da República ao solicitar reunião com os comandantes das três Armas  para tratar de "eleições e instituições". Com que objetivo? Já realizada a reunião, seu tema não foi divulgado ao público, assim abrindo as portas à versões contrárias à tranquilidade que um período eleitoral exige. 

Qualquer interrupção do processo constitucional será inaceitável e, certamente, as FF AA, cientes da existência de alguns núcleos antidemocráticos agindo na periferia política, apoiarão as providências legais para contê-los, e, se necessário for, puni-los. Pressupõe-se que os demais comandos militares das forças de terra, mare e ar, alocados às diversas regiões brasileiras, estejam mobilizadas em defesa da democracia.

Neste momento o Brasil está sob a atenção internacional, que, com viés crítico, acompanha o desenrolar do momento eleitoral; seus observadores contam com que a sua democracia e seu respeito à preservação do meio ambiente seja fortalecido no processo de sucessão presidencial. 


sábado, 20 de agosto de 2022

Religião e Eleição



Oração espiritual, mãos, sol, brilhar, com, obscurecido, bonito, pôr do sol


Nada mais importante do que o comportamento responsável, solidário, generoso que as religiões ensinam a seus fiéis. Os Deuses são diferentes em muitas delas, mas a mensagem de fraternidade é comum a todas pois a religião precede às leis e normatizam a vida em sociedade, a vida comunitária. Antes da religião a lei era a do mais  forte e flexível conforme as circunstâncias e interesses daqueles que detinham o poder para ditá-las.

Todas as religiões (desde que não firam a sociedade que a abriga) são válidas, desde o monoteísmo Cristão, ao politeísmo Indiano e ao pandeismo Japonês. 

Também é verdade que religião, poder e riqueza não raro se mesclam, assim perdendo sua pureza ao privilegiar o benefício terreno. Pode ela ser  mutável em busca de adaptação, como pode ser dogmática e estática ignorando um mundo em transformação. 

Porém, o mundo moderno aprendeu a necessidade de separar a religião da política, rejeitando os tempos passados da verdade absoluta em confronto com a relatividade intrínseca à prática democrática. Deste entendimento prosperou a fórmula do Estado Laico abandonando a prevalência do Dogma. 

Hoje se observa um desvio preocupante através da tentativa, sob o comando de Jair Messias Bolsonaro, de mobilizar uma facção religiosa como arma  na busca de poder político, assim desprezando a norma constitucional da laicidade. 

Nas eleições parlamentares  que se aproximam constata-se a candidatura de 900 postulantes  de identificação religiosa, na grande maioria evangélicos. Se eleitos, transformariam o parlamento em poder pseudo-teológico a serviço do "Messias" de plantão, assim emulando a entronização de um "aiatolah" cristão. 

As declarações disseminadas na mídia nacional onde o Presidente afirma  estar sob proteção divina relega o adversário político, perante o eleitorado evangélico, à diabolização por renegar o "escolhido". Violentam não só a razão como também a Constituição, ao privilegiar uma casta e assim  negar a igualdade dentre os cidadãos. Geram o absurdo corolário que sugere ser seu adversário indigno de semelhante proteção. 

Assim desequilíbrios exógenos são criados por razões de crença e não de mérito; àqueles protegidos pela crença "oficial" recebem a preferência do Poder constituído, ampliando seu acesso às benesses concedidas e aos privilégios a outros negados. 

Já, do ponto de vista macro, a opção pelo uso eleitoral da via Evangélica tende a estimular uma contra-reação das demais religiões ou crenças, assim envenenando a nação com o germe de um conflito religioso e hostilidade mútua nunca antes vista no Brasil. 


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Comercio ou Guerra?




Para aqueles que leram o último bom livro de Ken Follet, "NUNCA", uma guerra nuclear pode resultar de uma soma de incidentes menores, de ação e reação, até um ponto de ruptura. Como bom exemplo tem-se o assassinato em 1914 do Grão Duque da Austria em Sarajevo. A partir deste fato, de menor relevância do ponto de vista internacional, uma serie de ações e reações levaram a Europa a mais sangrenta das guerras, sem que nenhuma das nações envolvidas no conflito a desejasse.¹. 

Hoje, tal ponto de ruptura poderá ter por palco a ilha de Taiwan, antes nomeada pelos ingênuos navegadores portugueses de Formosa. Perdeu seu doce nome e hoje pode tornar-se o amargo estopim de uma guerra nuclear, o Armaguedon que ameaça o planeta.

Tendo em vista a crescente hostilidade entre os Estados Unidos e a China, tem-se a recusa do primeiro em aceitar a perda da liderança econômica sobre o planeta, primeiro passo para a prevalência da China no campo geopolítico.  Recusando aceitar a atual tendência, Washington se empenha para revertê-la ativando seu arsenal regulatório, legal e político contra a expansão da economia chinesa e o decorrente aumento de sua influência política em seu entorno. 

Apesar de ter a China afirmado ser Taiwan parte de seu território, também declara  que sua reabsorção é um projeto de prazo longo deixando ao tempo a melhor oportunidade para concretizá-la. Contudo,  constata-se posição contrária tomada pelo partido Democrata, ao enviar a Senadora Nancy Pelosi e, em seguida, uma comissão de parlamentares norte americanos à ilha visando estreitar relações. Desta forma, dois objetivos de Washington são alcançados: o primeiro, o de manter pressão sobre Pequim reduzindo sua margem de manobra econômica e militar; o segundo, a iniciativa oferece ao partido Democrata dividendos neste momento eleitoral ao gerar tensão externa. Uma aliança político-militar de Washington e Taipê significaria  transpor os limites impostos por Pequim.   

Importe lembrar-se que, seguindo sua tradição de partido pró guerra bem como atendendo seus interesse eleitorais, o partido Democrata desenvolve, neste caso,  uma agenda de provocação territorial, a mais grave dentre todas. Cria-se, assim,  um quadro propício para um conflito que poderia tornar-se nuclear. Um avião abatido, uma belonave afundada pode levar à escalada de hostilidades. A ser  uma  escalada recíproca, qual será o limite?

Esta conjunção de fatos favorece a natural a aliança entre a Russia e a China, ambos sob pressão hostil norte-americana. Como consequência no lado adversário tem-se a expansão da OTAN pela inclusão da Suécia e da Finlândia, a, ainda, pelas imposição de sanções econômicas. 

Tal cenário já revela crescente inter-relação entre os dois países asiáticos²; enquanto a China importa petróleo russo, minérios, alimentos e armamento que lhe são essenciais,  a Russia poderá colocar seu arsenal nuclear, o maior do planeta, em defesa da China.

Tal aliança parece consolidada. Caso Washington persista na pressão sobre estas duas potências, mais próximo estar-se-á de um conflito nuclear. O advento da preponderância de misseis na guerra moderna, gera-se a zona cinzenta onde a ameaça que traz o míssil inimigo tanto pode ser convencional quanto nuclear. Como decidir a retaliação? No caso de guerra nuclear, o primeiro a optar por ela levará imensa vantagem. Assim, estabelecem-se as condições favoráveis  para a opção pelo desastre,  

Para o observador isento cabe a indagação: porque não permitir o desenvolvimento econômico da China? A Pequim não interessa os conflitos que adviriam de uma politica de ampliação territorial nem, tão pouco, atritos internacionais que possam reduzir seu crescimento econômico e alto ritmo de instrução e sofisticação científica que lhe trará crescente segurança tecnológica.

Tal progressão,  salvo um cataclisma bélico, será inevitável. Levando-se em conta a população da China de 1,5 bilhão de cidadãos e seu sistema de governança impositivo, ter-se-á uma crescente capacidade de ensino sofisticado. Ceteris paribus,  a tendência será que a cada cientista produzido pelos Estados Unidos três a quatro chineses estarão sendo formados.

Mais vale a China como parceira, não inimiga.   


1) A não ser a França para vingar-se da derrota que lhe impôs a Prússia em 1871

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Faz de Conta



Existe uma nítida propensão à fuga da realidade na sociedade moderna, substituindo, gradual e paulatinamente, o mundo real em benefício de incursões cada vez mais profundas ao mundo do "faz de conta". O stress da luta pelos objetivos pessoais fundamentais em contexto de veloz mudança do seu entorno acentua o desgaste psíco-emocional, gerando a busca por alívio.  Dentre elas destacam-se o advento do MetaVerso e da Moeda Virtual. 

O MetaVerso cria riqueza do nada, ou melhor a pseudo-riqueza, ao gerar o comercio e o investimento de bens tornados valiosos pela mera vontade de qualquer indivíduo em "existir" na realidade paralela. Ao movimento jantam-se empresas que "oferecem" seu produtos, devidamente identificados, para o fim exclusivo de serem transacionados no ambiente virtual. Assim, bolsas do Hermes ou sapatos Louboutin trocam de donos mediante pecunia abstrata. Os aficionados garantem que casas e terrenos podem ser comprados e vendidos por moeda real.

Não bastasse este não-universo, tem-se a moeda virtual, cujo curso é real, alimentando comércio, investimentos e, até mesmo, poupança.  Do lado ativo, uma combinação de criatividade, audácia, e faro de sangue-dinheiro leva o homem-lobo à busca incessante de novas avenidas, nova carne, novo lucro; já, do lado passivo, tem-se o homem-cordeiro, levado pelos cães do dono aos currais da satisfação vicária, trazida pela combinação da tecnologia que dá à esperteza a pátina da respeitabilidade.

Esta adesão à realidade alternativa decorre, presume-se, de uma insatisfação de crescente segmentos das classes abastadas, onde o "cafard" procura o novo descartando o conhecido. Sim, uma vez que as classes necessitadas pouco tempo terão para incursões abstratas. Encontra o homem, então, a Moeda Virtual, uma abstração sem referência que guie a compreensão de seu valor. Tanto pode valer "Mil" quanto "Um", pois em ambos os casos sua essência se iguala. Sem parâmetro, sem referência, sem lastro serve para abrir porteiras para a inconsequência, para a fortuna, para a ruina.



E chega-se ao mais grave, onde a sociedade e suas instituições basilares paulatinamente se acumpliciam a este jogo de espelhos onde tudo é, e onde tudo, a qualquer momento,  pode não ser. A adesão de bancos conhecidos e poderosos, obedecendo à busca continua de lucro a despeito de valores fundamentais como a prudência, abrem departamentos, convocam minions, para gerir e explorar um não-ativo  que está "na moda".

Este "ativo" despencou de 60.000 dólares para 20.000 dólares sem que  hesitação houvesse. Queda vertiginosa de 66% em poucos meses.  Porque caiu tanto, quando as ações e os imóveis, caíram, pelas razão da alta dos juros internacionais, digamos 5 ou 10%? Porque, ao contrario de imóveis e ações representando valores reais, o "coin" nada vale intrinsecamente, assim revelando sua fragilidade. Vesti-lo com a respeitabilidade de uma instituição financeira parece ser grave erro. 


sábado, 30 de julho de 2022

Degradação


 

As hostes governistas, valendo-se da maioria que lhe concede o Centrão, aliada à cupidez eleitoral de uma oposição desnorteada,  preparam manobra legislativa para a aprovação de mais uma das inúmeras PEC's criadas para fins político-partidário. Após o êxito deste projeto, com nítido objetivo eleitoreiro, fura-se, mais uma vez, o teto das despesas públicas, abrindo-se as portas ao retorno da outrora irresponsável política fiscal e à ressureição de inflação crônica de tempos passados.       

Em sequência à esta manobra, empreende-se mais uma tentativa de alteração constitucional. O presidente, refém de sua natureza impulsiva e atrabiliária, torna-se, hoje, sujeito à imputação por  diversos Crimes de Responsabilidade.  Em frontal desrespeito aos objetivos permanentes da Constituição e através de manobras imediatistas e personalistas, as forças políticas que compõem o governo iniciam uma manobra que visa levar o Presidente, caso derrotado nas próximas eleições, ao cargo vitalício de Senador.

Tal manobra encerra sérios perigos para o país. Sendo um Senador, no caso "vitalício", inimputável na vigência de seu mandato, obteria ele imunidade face aos atos porventura criminosos enquanto presidente. Em tal circunstância receberia o presidente em exercício, "salvo conduto" para a ilegalidade, durante e após o período de seu governo. Ainda, a partir do pedestal senatorial, preservaria ele forte influência sobre o segmento radical de direita, aprofundando a clivagem que ora fere a Nação.

Ainda, conforme o conceito de isonomia, torna-se provável que tanto os presidentes anteriores quanto os futuros, mereçam o  acesso vitalício ao Senado, assim tolhendo a necessária renovação da casa. Por razões respeitáveis tal procedimento não ocorre nos países relevantes que compõem o mapa político do planeta.  Já, a Itália, país conhecido por sua instabilidade política, é o único exemplo relevante da existência de tal privilégio, ainda que os senadores vitalícios lá não gozem nem do direito de voto. nem se beneficiem da anistia que o cargo no Brasil lhes confere. 

Degrada-se, assim, o país ao criar mais uma caixa de surpresas, uma "jabuticaba" bem brasileira,  com nítido vies irresponsável. 

   

sexta-feira, 22 de julho de 2022

O Golpe Revisto





Há muito o Brasil não conquistava tanto espaço na mídia internacional. Convocados os embaixadores acreditados ao governo Bolsonaro, dele ouviram a afirmação que as urnas eleitorais não são confiáveis. Por objetivo, o presidente pretendia ferir a confiabilidade do pleito que ora se avizinha. Assim, segundo alguns observadores, preparando o terreno político para a reversão de sua provável derrota nas urnas. 

O possível, senão provável, desdobramento da tentativa de alteração do processo eleitoral vigente poderia  ser a exigência  de participação militar, com direito a veto, na Comissão de fiscalização eleitoral e, caso impasse ocorresse, o adiamento das eleições. Contudo, estas são meras hipóteses. 

Porém, voltando aos fatos, o espetáculo, urdido por Jair Bolsonaro, foi inédito. Na História Universal da Política jamais houve semelhante episódio, onde um chefe de governo convoca o quadro de embaixadores estrangeiros com o fito de criticar as urnas que o elegeram enquanto advertindo, urbe et orbi, as iminentes fraudes na próxima eleição. 

Teria por objetivo potencializar as dúvidas e assim obter, senão o apoio, pelo menos a compreensão das nações amigas, pretenderia o projeto político do presidente neutralizar oposição internacional às medidas eventualmente extra constitucionais julgadas necessárias para assegurar o rumo eleitoral desejado, 

O que houve, contudo, foi o oposto ao esperado. Em reação surpreendente, a comunidade internacional se manifestou confiante no processo eleitoral brasileiro. Ainda, no âmbito nacional, as manifestações de confiança nas urnas foram contundentes, abrangendo não só opositores politicos mas, também, aliados do governo. 

A pedra de cal sobre o túmulo da eventual tentativa golpista lá foi posta pelo Procurador Geral da República e pelos presidentes da Câmara e do Senado, não raro, aliados do Presidente, ao manifestar confiança nas urnas. Assim, cai por terra qualquer veleidade em busca de solução ilegal. Se plano para um Golpe existia, não mais poderá vingar. Em momento inesperado e em ímpeto solidário os brasileiros se uniram para rechaçar um pretenso Caudilho.


sexta-feira, 15 de julho de 2022

O Esperto



Muito tem-se escrito sobre o Golpe de Estado que o presidente poderia tentar às vésperas, ou durante as eleições. A tese sustentada por relevante parte do eleitorado seria que, confrontado com uma inevitável derrota nas urnas que tanto despreza, recorreria ele à esta medida extrema. Já, outra relevante parte da opinião pública rejeita a validade desta tese. 

Porém, enquanto se acirra o debate sobre a probabilidade de um atropelo constitucional, constata-se que o Golpe já foi dado. Com maestria de deputado experiente em espertezas e sem maiores compromissos com a ética e escrúpulos, (palavras complicadas de pouco uso), eis que o presidente da Câmara, Arthur Lira, deflagra e implanta, irregularmente, o Estado de Emergência, versão possivelmente precursora do Estado de Sítio.

E porque irregularmente? Quando levado à votação ao plenário da Câmara pelo político acima referido, verificou-se não haver quorum necessário para a validação da lei. Portanto, a aprovação e implementação da PEC não seria factível pois contrariava o regimento parlamentar. Nem por isso intimidou-se o operoso Deputado Lira; valendo-se do telefone e dos e-mails procurou e encontrou um número de deputados faltantes e, com total desrespeito às regras da Casa, arrebanhou os votos  das ovelhas desgarradas. Assim, num passo de mágica, abriu-se perigoso precedente na politica brasileira, deputados em trânsito podem votar. Não se lhes impõe o inconveniente de ida ao Parlamento.

Ora, nada mais importante para um país do que sua Constituição. Porém não basta ser ela promulgada  para que todo cidadão dela tenha conhecimento; não, ela deve ser obedecida e não tratada como se fosse mero obstáculo a ser contornado.

Com a habilidade de um prestidigitador o Esperto muda o rumo da República. Hoje, a Constituição está diminuída abrindo o caminho para um Estado de Exceção. Torna-se, assim, urgente a intervenção do Supremo Tribunal Federal, o garante da Carta Magna, para assegurar o respeito à lei.   

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Impérios


Imerso em quadro recessivo em decorrência da pandemia as nações líderes buscaram nas injeções maciças  de liquidez recuperar a pujança econômica que o virus conteve. Por resultado, constata-se hoje, a supervalorização de ativos que prenuncia  um ajuste de preços para níveis mais realistas. Anda, a queda de produtividade dos anos pandêmicos afetou tanto a produção quanto o transporte, assim, fragilizando a cadeia de valores.

Como exemplo, constata-se que nos Estados Unidos os Meios de Pagamento triplicaram entre os anos de 2019 a 2021, redundando na forte pressão inflacionária que ora se observa. Como elemento complementar na pressão dos preços, tem-se a guerra ora em curso nas fronteiras russas e ucranianas e seus efeitos negativos no campo da energia e da alimentação.

Outro fator de desequilíbrio é a questão migratória. Já existente antes da pandemia, tornou-se mais aguda ao reduzir a oferta de emprego e acentuar a competição entre nativos e imigrantes pelas vagas disponíveis. Hoje atravessa-se profunda instabilidade e ansiedade onde o Ocidente, gradualmente perdendo sua vantagem econômica, entra em conflito com o Oriente., assim validando as previsões do magistral "1984" de George Orwell. A emergência da China ameaça, pela primeira vez, a tradicional  supremacia Ocidental. Tal quebra da "regra do jogo, exige adaptação, durante a qual tem-se a crescente radicalização.

Enquanto a prosperidade age como vaso dilatador no intercâmbio econômico internacional, a crise econômica torna-se vaso constritor, erguendo barreiras políticas e econômicas. No âmbito interno a crise gera o reflexo político, onde os candidatos encurtam os horizontes face a premência na sua solução enquanto, pari-passu, exploram a insatisfação popular.

Já, o cenário externo, como fator complementar ao reajuste econômico, tem-se a rejeição à crescente imigração.  Na Europa, a onda migratória dos refugiados foi inevitável. Estes, vítimas das aventuras militares da OTAN e de George W. Bush no Oriente Médio e da pobreza estrema das ex colônias africanas engrossaram o êxodo para a Europa. Já nos Estados Unidos observa-se forte inquietação devida à continua redução dos brancos na composição demográfica do país. esta devida a maior fertilidade dos não brancos e à perene onda de imigração advinda dos bolsões de pobreza no Mexico e na América Central.

Esta invasão de culturas e raças "estranhas" causa ao país receptor crescente insatisfação que, por sua vez, é explorada e mobilizada por políticos de pendor autoritário. O apoio eleitoral a Trump e à Marie le Pen retrata os temores dos cidadão à maré migratória.

A tais desequilíbrios soma-se a inédita emergência da China e da Russia², potências orientais, que contestam a primazia econômica  e política imposta por Washington. A hegemonia romana durou cerca de 500 anos, e após longo intervalo, sucedeu-lhe o domínio Britânico, que, por sua vez, durou 450 anos, seguido pela liderança do império norte americano que cumpre 250 anos. Terá chegado a vez da Ásia?

A emergência da China representa relevante contestação à hegemonia norte americana. Se aliada à Russia, a população do bloco atingiria mais de 1,7 bilhões de habitantes.  Sua área geográfica seria de  26 milhões de km². Ainda, neste território existem (sobretudo na Russia Siberiana), as matérias primas necessárias ao desenvolvimento do bloco. Seu PIB conjunto seria de aproximadamente US$ 20 bilhões,  Ainda, tal aliança teria o maior arsenal nuclear do planeta. Porém, seu "calcanhar de Aquiles" seria a insuficiência da produção alimentar, cuja solução dependeria das vias marítimas de abastecimento. 

Estas observações não pretendem descortinar o futuro, mas, sim, apresentar hipóteses onde as nações, levadas pela incompreensão dos desígnios de seus rivais, caminham para a confrontação. No entanto o conflito não é inevitável, desde que a ascensão econômica chinesa seja aceita como busca de crescente prosperidade e não como desafio..

Já, ao Brasil interessa o multilateralismo, tanto político quanto econômico. Se, por um lado, as boas relações com os Estados Unidos são essenciais, tanto na área financeira quanto na comercial, por outro.  as relações comerciais com a China em muito supera o comercio com os demais países, tornando-se instrumento essencial para  o desenvolvimento do Brasil. 

1) Termo usado nos Estados Unidos para designar a pessoa branca.

2) Apesar de ser Moscou na Europa, a Russia tem 2/3 de seu território na Ásia













domingo, 3 de julho de 2022

Reflexões e Temores



O Brasil acorda com os jornais declarando o fim da integridade constitucional. Tal se constata ao ver o Senado da República, em conluio com a Câmara dos Deputados, derrubar, mais uma vez, o limite de gastos públicos determinado pela Constituição brasileira. A votação seria unânime não fosse o único voto contrário do Senador José Serra do PSDB, portanto merecedor de admiração.

Assim, constata-se a perda da integridade constitucional do Brasil e do controle monetário e orçamentário da Nação. O subsequente desmonte da confiança do capital privado no trato da economia bem como na crença nos gestores das contas públicas, traduz-se  pela alta das taxas de juros nominais e pela queda do valor da moeda.

Os detentores de ações e títulos de renda deverão buscar no mercado uma nova equação que lhes dê proteção em quadro tendente a afastar capitais do ciclo produtivo, estimulando a especulação. Em suma, trata-se de uma desorganização nos ambientes, não só financeiro mas, também político.

Ao observador, torna-se ´patente a ocorrência de fraude eleitoral. O atual presidente comprometeu-se, quando de sua eleição, respeitar as premissas conservadoras no ambito orçamentário; contudo, hoje, premido pela ambição de poder, revela ele nítida preferência pelo populismo de esquerda. Para fins eleitoreiros gera recursos inflacionários a revelia dos procedimento ditados pela Economia Liberal, a serem distribuidos aos segmentos eleitorais de sua preferência. 

Ainda, tais medidas de inegável desrepeito orçamentário e constitucional se refletem no custo do crédito que o Brasil e suas empresas venham a merecer, assim afetando os setores privados e públicos, permeando, a seguir, toda a sociedade.  

Porém, o que mais supreende o observador será a união de todos os partidos representados no Senado, onde os senadores (doravante merecedores de letra minúscula), ávidos pelos benefícios políticos dos recursos liberados, demonstram quão distante estão dos interesses do Brasil. A adesão pelo PT e demais partidos de oposição, atemorizados de se verem contrários à distribuição de benesses proposta pelo governo e seu aliado o Centrão, apoiaram o projeto, assim revelando quão imediatistas são ambos os extremos do atual quadro político. Assim, escancara-se a irresponsabilidade política, onde a ambição de poucos terminam por legar aos brasileiros o alto custo de sua voracidade política. 

Esta conjunção de episódios negativos instala forte dúvida sobre o futuro regrado da Nação. O perigo que decorre do aumento da disparidade de renda que ora se observa, relegando as classes desassistidas a um futuro sem esperança, terá consequência política, provávelmente em direção de uma esquerda radical. Assim o Brasil torna-se vulnerável aos apelos populistas e autoritários. Deve ficar claro aos senhores que governam a Nação  que a desmoralização do parlamento brasileiro abre as portas à "solução" ditatorial. 

Como antídoto cabe às elites brasileiras reconhecer os graves desequilíbrios que se maifestam e se acentuam na sociedade brasileira bem como exercer sua influência e poder econômico na direção de governos responsáveis, onde a distância entre os que teem e os que nada teem se reduza, assim tornando-os solidários em seus objetivos para a Nação.

domingo, 26 de junho de 2022

Ucrânia, Rússia e o Planeta

                                      




A atual guerra, onde a pequena Ucrânia é invadida pela imensa Rússia, tem por efeito colateral a santificação da primeira  e a diabolização da segunda. Ambas as reações se distanciam da realidade.  

Em acesso de generosidade, a União Europeia sob dominio ja entronizado da dupla Franco-Germânica, é acometida de generosidade até então desconhecida. Seus membros, antes arredios na avaliação de novos membros se atropelam na  busca de iniciativas para  a inclusão de Kiev no comunidade europeia,  clube hoje liderado por Paris e Berlim (Londres já era...).

Convém, no entanto, aprofundar a pesquiza quanto à identidade de valores europeus de ideologia de costumes. Mas o que se sabe sobre a Ucrânia? Sabe-se que lá ocorre intensa corrupção permeada por  forte tendência radical, onde milícias extremadas prevalecem e merecem destaque.

Seu histórico não parece edificante, Quando da Segunda Guerra Mundial a Ucrânia teria cometido  notáveis perversidades contra os Judeus, em conlúio com as SS de Hitler. Ainda, a Wehrmacht nazista recebeu a adesão de divisões ucranianas na invasão da Unão Soviética. Ainda hoje, o Batalhão Azov composto por milhares de voluntários, e hoje incorporados ao Exército ucraniano, ostenta versão estilizada da Cruz Gamada de triste memória. 

Já, do lado positivo, a Ucrânia é um grande celeiro, cuja produção  complementa àquela da Europa. Em suma, é um país controverso, cuja incorporação pela União Europeia deva merecer análise e garantias de correção de rumo, assim evitando ingenuidade política.

Quanto à guerra que castiga aquele país, há fortes indícios que o conflito esteja próximo ao fim, provávelmente ao preço de relevantes concessões territóriais na região do Donbas e ao longo da costa do Mar Negro. 

Do lado russo, sua economia enfrenta forte redução nos campos comercial e industrial além da quase paralização de seu comércio e fluxo financeiro por conta das barreiras levantadas pelo Ocidente. A surprendente resiliência do exercito ucraniano também contribue para os desgaste militar-econômico russo. Para Moscou, o encerramento da guerra lhe é importante

Interessante notar que o atual conflito gera uma nova modelagem econômica, onde a China, empurrada aos braços da Rússia pela guerra comercial-política que lhe dedica os Estados Unidos, absorve relevante produçãode petroleo e outras matérias-primas, dando à Moscou o folego financeiro que lhe é vital.     

Finda a guerra, o maior obstáculo à reconciliação entre as potencias ocidentais e a Rússia poderá ser, em boa parte, a continuidade de Vladimir Putin na presidência russa. De grande estrategista tornou-se , pelo erro em invadir a Ucrânia, instrumento da degradação internacional de sua pátria.  Talvez a paz dependa de sua substituição no Kremlin.   

Tendo o armistício sucesso, justo esperar-se o fim do conflito e o retorno à mesa de negociações, inaugurando uma nova rodada de distensão política, financeira e comercial. A paz restabelecida, como será o desmonte das medidas hostís de parte a parte? Provavelmente a "volta ao normal" será de longa duração.  

 

 



                                   


 

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Teste de Rorschach¹

 




Nos dias de hoje, não mais é lícito duvidar-se da importância e eficácia da psico-análise. O teste psicológico denominado Rorschach tem por objetivo identificar preferências e tendências emocionais e cognitivas enraizadas nas mentes sob análise. O teste consiste em colher as reações do paciente face a um mancha aleatória estampada sob sua vista. No caso em questão a mancha será denominada "petrobras" e o teste será aplicado a diversos pacientes em busca das diversas interpretações quando a ela submetida. 

Para  Jair Bolsonaro a "mancha" sinifica votos a garantir sua re-eleição. Votos dos caminhoneiros, dos taxistas e outros profissionais que dela dependam. 

Para  Arthur Lira, fortalecido no seu partido e dominando o Centrão senão a Câmara dos Deputados. a mancha Petrobras nada mais é do que uma moeda de troca para alavancar seu poder.

Para Guedes a mancha representa a angústia de objetivos conflitantes, onde de um lado sabe que deve deixar a equação Petrobras seguir seu curso liberal e, por outro, seu psiquê torna-se escravo do Poder trazendo-lhe uma esquizofrenia crescente.  

Para o espectador popular, representa imensa confusão organizada por uma quadrilha em busca de perpetuação. 

E vítima deste quadro psicológico, a direção da Petrobras tenta manter a empresa no rumo certo sabendo que o precipício político se avizinha.

Na dança das cadeiras, a empresa parece estar perdendo a guerra por sua próspera sobrevivência. Ameaças de  impostos adicionais, contrôle de preço, imposto sobre a exportação intimidam tanto os acionistas quanto os credores, estes provedores nacionais e internacionais de capital e crédito. Por resultado eleva-se o custo operacional e de capital. 

Brasilia, pressionada pela eminência eleitoral, travestida em Olimpo dos deuses gregos, descarrega os dejetos de suas entranhas fazendo crer que busca o bem estar do povo, esquecendo a realidade onde os lucros de hoje, ameaçados pela  mãnha política, se tornam prejuízos de amanhã, como já ocorreu no passado recente.

O recem recrutado Ministro Shaschida, já evergando a camiseta pró Mito e aderindo às manobras do novo chefe compara a situação interna da Petrobras com a retirada voluntária das grandes petroleiras da Rússia. Confunde imposições geo-políticas, causadas pela a guerra que se trava, com política empresarial. As petroleiras a que se refere o infante mnistro mantêm, em seus mercados interno e internacional, uma política de preços livre de qualquer interferência estatal.  

Em conclusão, observa-se o crescente custo deste segundo ciclo eleitoral, àquele que Jair Bolsonaro prometera abolir se eleito.



1) O Teste de Rorschach é um dos mais famosos testes psicológicos projetivos no mundo. Os psicólogos usam o Teste de Rorschach para examinar as características da personalidade e o funcionamento emocional do paciente. Esse teste é frequentemente empregado para detectar padrões de pensamento subjacentes e diferenciar as disposições psicóticas e não psicóticas no pensamento de uma pessoa. 

(vide Google)