Bloomberg Nov. 5. 2022
Este comentário em importante publicação Norte Americana, revela a que ponto os Estados Unidos pretendem manter sua hegemonia econômica, gradualmente transformando-a em "casus belli", por considerar a ascensão econômica da China como ameaça à segurança da nação norte americana. Se tal desdobramento ocorresse na Idade Média seria ele justificado, uma vez que esta era a regra do jogo internacional, onde a lei do mais forte prevalecia.
Contudo, a partir da Liga das Nações ao fim da 1a. Guerra Mundial e, posteriormente da Organização das Nações Unidas, foi criado um arcabouço legal vinculando seus membros à ordem pacífica dentre as nações, sendo a guerra admissível apenas quando em resposta à violência de outra Nação. Pela Lei Internacional vigente, a guerra é ilegal a não ser que seja defensiva.
Ora, os Estados Unidos, em suas manifestações no âmbito internacional, acentuam e priorizam o que denomina uma "RULES BASED INTERNATIONAL ORDER" onde nenhum conflito deva ser tolerado salvo aquele decorrente de defesa contra ameaça explícita ou ação militar.
O que se observa nas relações sino-norte americanas é uma crescente relação econômica onde ambas as partes usufruem benefícios, onde cada parceiro busca suas vantagens competitivas. Os investimentos realizados em cada país obedecem, voluntariamente, as regras vigentes nos mercados que acessam.
A China hoje tem o seu Poder de Compra ligeiramente acima dos Estados Unidos, sendo que o PIB, contabilizado em dólares, situa-se 3 trilhões abaixo. A projetar-se o desempenho recente para os próximos anos, é provável que a economia chinesa em poucos anos ultrapassará a norte-americana.
É verdade que o comercio entre as duas nações hoje recebe tratamento pontuais contrários à plena e livre concorrência. Enquanto de forma crescente os Estados Unidos limitam o pleno acesso de produtos chineses, seja por tarifas seja por vedação legal e, ainda, prohibe a exportação de bens estratégicos (vide semi condutores) a China, por sua vez, estabelece regras que contêm, em seu território, a expansão de empresas estrangeiras em geral e americanas em particular. Este é o ambiente comercial que rege uma relação imperfeita, podendo se desdobrar em situações hostis.
No entanto, a prosseguir a tendência ora observada, caminha-se para a militarização deste diferendo com crescente ameaça à paz sem que haja para tal uma justificativa válida. O contencioso ora em curso no Mar do Sul da China onde Pequim estabelece bases militares não deve ser visto com hostilidade, uma vez que sua posição estratégica se iguala àquela que rege a presença militar dos Estados Unidos no Caribe. Trata-se, em ambos os casos de posicionamento defensivo, sem capacidade ofensiva dado a sua vulnerabilidade.
Ainda, a pretendida expansão comercial e econômica chinesa na região Indico-Pacífico, tendo especial relevância o Paquistão, a India, bem como as nações-ilhas das Filipinas, Indonésia e Japão, terá por resultado o acirramento da disputa pelo Soft Power dominante. Contudo, a inevitável e crescente competição comercial não parece representar ameaça aos concorrentes a ponto de justificar um conflito entre os dois países.
Porém, como elemento irritante nas relações mútuas, a substancial colaboração militar entre os Estados Unidos e Taiwan representa um crescente desconforto para Pequim, tendo em vista a ameaça estratégica que representa. Apesar das advertências o ritmo se mantêm.
Em caso de conflito entre estes dois colossos as consequências econômicas fariam parecer o atual desconforto causado pela guerra Russia-Ucrânia um jogo de criança. A interrupção do fluxo econômico internacional com a China ameaçaria o mundo de consequências profundas e negativas. Por exemplo, tem-se o comércio Brasil-China, que, se interrompido, traria relevante prejuízo ao Brasil provocando, ab initio, uma crise cambial. Já, em menor escala, o mesmo ocorreria com a Europa Ocidental onde seu comercio com a China já supera aquele com os Estados Unidos.
A pressão que ora exerce Washington sobre Pequim sugere consequências militares levando o comando chinês ao estreitamento das relações com Moscou, cujo arsenal nuclear supera o norte-americano. A prosseguir no caminho perseguido por Washington, acentuar-se a probabilidade do confronto nuclear.
2 comentários:
Pedro, que boa aula de estratégia internacional! Difícil, entender todos os meandros das relações e, sobretudo, da luta pelo domínio econômico mundial, mas o que você analisa eh o cerne da questão. Muito bom!
Obrigado pelo comentário, caro Anônimo.
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