domingo, 23 de outubro de 2022

O Planeta Inquieto





A inquietação domina o ápice da política internacional, este composto pelas grandes potências. Três  núcleos de poder, sejam  eles político, militar ou econômico,  parecem dividir o planeta. O mais poderoso tem os Estados Unidos por líder de uma aglomeração de nações, tanto nas Américas, quanto na Europa e na Ásia. 

Seu poder se estende pelos cinco continentes, cimentado pela comunhão de interesses de segurança e prevalência comercial. Subordinados aos interesses norte-americanos estão, também, a Australia, o Japão e a Coréia do Sul. Este bloco contém mais de um bilhão de pessoas e o seu PIB se aproxima de 52 trilhões de dólares.

O  bloco que se lhe opõe é liderado pela China e pela Rússia, esta última dominando a Belarus e vários países da Ásia Central, chegando sua influência ao Irã, este às portas do trafego de petróleo que abastece todos os "blocos". Sua população  não chega à dois bilhões de almas e sua produção anual de riqueza fica aquém de dois trilhões de dólares. Contudo, a riqueza mineral (vide petróleo) da Russia, de valor estratégico, torna-se disponível à China.  

Os dois primeiros blocos se caracterizam, também, por enorme arsenal nuclear, tendo a capacidade de atingir qualquer ponto terrestre.

Já um terceiro grupo  de países se identificam por política externa de engajamento político-internacional variável e inconstante quando não neutra. Neste aglomerado desponta a India, o Paquistão, a Indonésia, as Filipinas, o Brasil e a Argentina, a Nigéria e a Africa do Sul e os países petroleiros do Oriente Médio. Sua população supera dois bilhões de pessoas enquanto seu PIB conjunto não chega à 1,7 trilhão de dólares. Porém a influência qualitativa do petróleo da a este último grupo influência que supera sua baixa densidade econômica. É significativa posição geográfica de países como a India, bordejando a China, o Brasil dominando a América Latina, a Indonésia guardando o acesso à Australia e os Estados Petroleiros no entroncamento entre Ásia e Europa.

Tivesse este grupo ação coordenada, teria ele o poder de ser um relevante "tertius" no cenário internacional, negociando com vantagem o apoio pontual a este ou aquele bloco e dele extraindo o benefício desejado. Contudo, seu medíocre nível, tanto na adequada distribuição de riqueza quanto o de  acesso à educação lhe dificultam o luxo de ação coordenada entre seus membros visando um arcabouço estratégico de longo prazo. Assim sendo, seus membros oscilam dentre as suas limitações e preferências individuais de curto prazo, sejam elas políticas ou econômicas, tornando-se, episodicamente, importantes ou insignificantes.

Hoje, o planeta Terra enfrenta o maior risco de sua existência. Dentro de um quadro de crescente proliferação de armamento nuclear, um erro de cálculo poderá deslanchar uma guerra nuclear.  De um lado, este liderado pelos Estados Unidos, fica estabelecido que nenhuma nação poderá pretender igualar-se o superar a prevalência econômica ou militar norte-americana. Tal ocorrência significa para Washington um real perigo para sua sobrevivência, a qual depende de sua capacidade de impor políticas externas que convirjam com seus interesses. 

Estabelece-se, assim, regra não escrita no mundo da Pax Americana hoje prevalente, apesar dos inúmeros conflitos travados para garantir este conceito. A missão de America Duxit é impositiva e não negociável,  mesmo correndo-se o risco do conflito nuclear.

Vis-a-vis a China , Washington tem-se manifestado contrária ao crescimento de sua economia. Tem se ampliado as iniciativas explicitas desenhadas para conter e abafar o crescimento chinês. Preferindo o conflito restritivo à abertura econômica, sendo esta pacificadora pelos interesses comuns gerados entre as partes, as sanções impostas à Pequim nada fazem senão gerar crescente animosidade entre as partes. 

Pretender que a China abandone sua caminhada para a prosperidade econômica não parece ser realista nem se conforma com os direitos inerentes a qualquer nação de prosperar. Pretender negá-lo apenas posterga o dia do "acerto de contas".

Neste momento se desenha a armadilha que Washington prepara. Emulando o ocorrido na questão Russia-Ucrânia, onde a pressão de cooptar Kiev para a OTAN levou Putin ao erro estratégico causado pela invasão, vê-se situação similar na relação China-Taiwan. Neste caso, a crescente influência norte americana na política de Taiwan poderá provocar imprudência similar ao caso acima mencionado. Uma invasão de Taiwan traria o opróbio da "comunidade internacional" cujas sanções interromperiam o ritmo de crescimento da economia chinesa.    

As últimas declarações de Xi Jinping, se corretamente traduzidas do chinês,  sugerem  que tal processo já tenha se iniciado. “A influência internacional, o apelo e o poder da China para moldar o mundo aumentaram consideravelmente” (1), disse Xi ao dar início ao congresso do Partido Comunista, que ocorre a cada cinco anos e no qual ele recebe do Politburo um terceiro mandato, rompendo com a tradição do país. “A modernização chinesa oferece à humanidade uma nova opção para conseguir..." (1)

Tal fraseologia pode indicar um retrocesso na política internacional até então adotada por uma China  contida no seu expansionismo apesar de sua enorme expansão comercial. O texto acima citado do presidente Chinês, sugere  um messianismo que substituiria a racionalidade, onde as palavras encerram ameaça em vez de colaboração e compartilhamento.  A ver... 



1. Publicado no jornal Valor em 17.10.2022

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