domingo, 31 de dezembro de 2017

Prestando contas...





Minha foto
 Em 11 de maio de 2012 dei início a esta coluna, ou blog para os modernos (prefiro a primeira). De lá até este 31 de dezembro de 2017 quinhentos artigos foram publicados com intuito de dar, ao leitor uma opinião, e não raro uma provocação, sobre os assuntos que dominam nossas vidas. Foram 60 mil "visitas" aqui recebidas nestes quase cinco anos. Deram elas sentido à minha "aposentadoria", deram-me uma "raison d"être" ao sentir a companhia interativa destes bons e pacientes leitores que não pouparam sinceras e bem vindas discordâncias ou generosas adesões.

O desafio continua. O ano que se avizinha representará, a meu ver, uma bifurcação histórica. O retorno ao populismo, seja de direita ou esquerda, prolongará o rumo descendente da economia esgarçando o tecido social e fragilizando as instituições democráticas. À tudo isto o mundo estará observando, prestes a  perder a confiança em nosso futuro, contendo os investimentos essenciais ao desenvolvimento brasileiro.

Assim, neste difícil cenário, torna-se necessária a união dos partidos de centro, sustentada pelo empresariado, pelas associações de classe, pelas redes sociais e pelos demais formadores de opinião visando a eleição de candidato probo e competente e o resultante reequilíbrio político e econômico.

Feliz 2018 !


quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Bitcoin, ainda.


São tormentosos os ventos que insuflam o Bitcoin, levando-o aos píncaros para depois, em queda vertiginosa encontrar sua sustentação. Neste momento os ventos contrários tornam-se cada vez mais fortes, mas serão eles permanentes ou a cripto-moeda  retomará sua ascensão?

O afluxo de capitais para a cripto-moeda parece resultar de, entre outras, três fortes razões. A primeira tem a ver com a enorme liquidez que assaltou o planeta após o desastre de 2008, onde a banca norte-americana faliu. Faliu, mas socorrida pelo Tesouro americano, recebeu o oxigênio que lhe salvou a vida. Desde então,  os programas de Quantitative Easing iniciado pelo Federal Reserve Bank e seguido por Bruxelas e Tókio, criaram uma catarata de dinheiro novo. Sufocou a depressão e estimulou a especulação.

Esta enxurrada de meios de pagamento reduziu à quase zero a taxa de juros, frustrando os poupadores, dificultando-lhes a condição de proteger e remunerar seu capital. Por consequência, e de um modo geral, a tolerância por risco aumentou refletida no aumento da volatilidade nos mercados financeiros. Hoje, a remuneração da renda fixa recebe minúscula taxa de retorno enquanto o mercado acionário supera todos os recordes. 

Neste cenário, a busca de remuneração compensatória atravessou as barreiras da prudência, beneficiando os produtos especulativos onde desponta o Bitcoin.

A segunda razão para a expansão de seu mercado veio da guerra ao terrorismo! Seguindo a tese do ”follow the money”, os Estados Unidos iniciaram o rastreamento das operações financeiras realizadas pelos djihadistas e a resultante guerra contra os paraísos fiscais, no que foi seguido por boa parte da comunidade internacional. Ao reduzirem-se as opções de ocultação do dinheiro ilegal, este, ao buscar formas alternativas encontra o anonimato da cripto-moeda, assim aumentando sua demanda e seu preço. 

Um terceiro fator, menos óbvio mas relevante, é de cunho psico-cultural. Cresce o culto à inovação tecnológica. O frenesi que acompanha lançamento de cada novo iPhone bem espelha a ansiedade pelo inédito. Automóveis elétricos, energia eólica, drônes, relógios inteligentes e milhares de novos produtos capturam a imaginação dos consumidores mais jovens, estes fascinados pela inovação e refratários ao que “era de ontem”. E, acompanhando e prosperando nesta nova preferência observa-se a expansão das cripto-moedas.

Mas Caveat Emptor! Parece claro que o Bitcoin de “moeda” nada tem. Não tem lastro, é de baixíssima liquidez, exígua capacidade de troca por produtos e serviços, de duvidosa documentação que lhe legitime. Sua negociação tem se revelado vulnerável à malicia dos ubíquos hackers. Ainda, em caso de conflito inexiste recurso à autoridade monetária superior. Chamá-lo de commodity não seria correto uma vez que o ouro, a prata, o minério, a soja, todos têm uma utilidade econômica final. Nenhuma utilidade terá a prova física de sua propriedade. O Bitcoin não passa de uma convenção (vide o inocente “monopólio”) celebrada entre algoritmos, nerds, e espertalhões. Que o comprador se precavenha.


sábado, 23 de dezembro de 2017

Embraer

Resultado de imagem para fotos embraer

A polêmica está instaurada. Deve-se, ou não, permitir a anunciada “fusão” da Embraer com a Boeing Corporation. Uma complexa associação entre o colibri e a águia. Deve o Brasil renunciar ao notável sucesso alcançado, para, timidamente, reconhecer que foi além de suas pernas?  

Não poucos consideram esgotada a trajetória vitoriosa, os sucessos alcançados coisa do passado, a capacidade empresarial insuficiente face aos novos desafios,  a tecnologia hoje limitada. Os argumentos derrotistas se repetem: "os grandes vão nos esmagar, não temos como vender nossos aviões face a incipiente concorrência da China, a Airbus já comprou a Bombardier (o que é falso)*, a Boeing vai suprir tecnologia de ponta....(pois sim!). E seguem os argumentos dos que defendem o casamento cuja disparidade na dimensão dos nubentes promete inevitável conflito de interesses.

Melhor vale lembrar que o custo do Embraer 195 (US$ 40MM) é inferior ao de seu competidor direto, o Boeing 737-600 (US$ 57MM) em preço e eficiência. Ainda, o custo do Bombardier CS 100 (US$ 60MM) é 50% superior ao concorrente brasileiro apesar da mesma capacidade de assentos. No setor civil, o avião brasileiro é competitivo, projetando constante sucesso no mercado internacional.

Resultado de imagem para Emb kc 390 vs hercules 130Já no campo militar, não se deve menosprezar o Tucano, sem paralelo no mercado internacional. Este veio preencher uma lacuna no cenário da aviação ligeira nas guerras assimétricas que hoje se travam mundo afora. O Emb KC-390, em vias de certificação,  atende premente necessidade de inúmeros países por um de transporte de tropa, veículos e abastecimento aéreo, até hoje dependentes do obsoleto Hercules 130 norte-americano. Seu mercado potencial é excepcional e seu impacto na flexibilização e otimização estratégica das forças armadas brasileiras é incontestável. Ainda, parece inconteste a necessidade de ter o Brasil integral posse e controle de sua indústria de armamentos, onde a Embraer desponta.

Uma "joint venture" da Embraer com a imensa Boeing, não poderá prosperar sem que a indiscutível preponderância desta última se faça sentir, e, no tempo, tornar-se determinante. Ainda, a "business mission" ou doutrina operacional de uma e outra diferem fundamentalmente. A empresa americana, habituada a fonte inesgotável de recursos, torna-se adiposa face à uma Embraer “lean and mean”**. Acresce que a política de vendas seguida pela Embraer não é contida por preferencias ideológicas ou políticas; o mesmo não ocorre com a Boeing, sujeita às limitações, sanções e proibições emanadas de Washington em suas desavenças. Ocorrendo a fusão, a Embraer tornar-se-ia prisioneira da política externa norte-americana.

Isto dito, nada impede que a Boeing, seguindo os passos de sua concorrente européia, a Airbus, venha ela tornar-se parceira neste ou naquele projeto de interesse mútuo, sem que a plena independência industrial e comercial da Embraer  seja tolhida.

*A Airbus associou-se com a Bombardier para desenvolver, tão somente, o seu modelo CS 100, competidor do Emb 195.
** Enxuta e feroz

domingo, 17 de dezembro de 2017

Brexit e John Bull

A primeira fase nas negociações não terminou bem para o Reino Unido. Nascido sob a égide da discordância interna e externa, o projeto que separa a ilha do Continente enfrentou uma dura realidade, ao constatar que a União Europeia pretendia jogar duro.

Contando, com a inegável excelência de sua diplomacia, Thereza May oscilava entre tranquilizar seu público, e blefar e intimidar o interlocutor. Lançou-se em inúmeras visitas às capitais europeias, promovendo extensas reuniões com os mandatários europeus, a fim de assegurar vantagens sem pagar o preço da separação. Surpreendeu-se ao constatar que “o lado de lá” via sua defecção como um sério perigo para a unidade continental. Qualquer generosidade poderia ser transformada em estímulo àqueles países propensos, ainda que de forma tênua, a abandonar a União.

Assim, gradualmente, verificou-se que o Rei estava nu, despido dos elementos suficientes para fazer valer sua vontade, pois poucas cartas tinha para superar os trunfos do estamento europeu. Para fazer face ao ultimato imposto por de Jean Claude Juncker, Presidente da União Europeia, para a finalização desta primeira fase, May,  em reunião derradeira avançando noite adentro, cedeu.

Foram três os pontos cruciais exigidos por Bruxelas, o pagamento da “conta de Divorcio, onde a Grã Bretanha deverá ressarcir a UE de seus compromissos financeiros chegando à 40 bilhões de Euros, oferecer proteção jurídica aos cidadãos europeus lá residentes, e manter a liberdade de trânsito na fronteira que separa as duas Irlandas, a republicana e a britânica.

A primeira parte das negociações pareceria, desta forma, superada. Contudo, enfraquecida pela derrota além Mancha, Thereza May encontra novo obstáculo, desta vez em seu próprio campo. Ao pretender consolidar sua posição mediante aprovação de suas tratativas, viu-se a Primeira Ministra desautorizada pelo seu próprio partido. A maioria Tory, conservadora, determinou que caberá ao Parlamento a ratificação das negociações com o Continente. Assim, o futuro politico da primeira mandatária parece comprometido, sujeito, a qualquer momento, a substituição, seja por político aliado, seja por representante da oposição.

Fica, portanto, a União Européia sem interlocutor britânico capaz de concluir as etapas de cunho comercial, imprescindíveis ao desmembramento. Por resultado instala-se uma ambiente de aguda instabilidade quanto às consequências financeiras a prevalecer no Reino Unido. Descendo a ladeira das consequências, ter-se-a, na melhor das hipóteses, a interrupção dos investimentos, e na pior, o redirecionamento daqueles já realizados, em busca de novo e estável pouso.

Vale uma meditação sobre aspectos menos concretos mas igualmente válidos. A perda do Império Britânico, vítima das duas guerras mundias, levou à busca de uma nova personalidade para a nação. A adesão à União Européia ofereceu novo formato que lhe permitisse manter uma trajetória de, não apenas crescente prosperidade mas, também, e de inegável importância para o ethos nacional, manter seu protagonismo, ainda que diluído, no palco das relações internacionais. Mas, pelo visto, não bastou.

Assim, a liderança inglesa (e não necessariamente britânica), composta em sua grande maioria por membros de uma elite habituada ao exercício centenário do poder inconteste, viu-se neutralizada e deslocada pela nova distribuição de forças e resultante redução de soberania. Desta situação resultou a improvável mas deletéria união de forças conservadoras, sofisticadas e frustradas, com àquelas populistas, esquecidas, emotivas e despreparadas. Buscam ressuscitar John Bull.(1)


1. O personagem John Bull, determinado, patriota, corajoso, foi criado no Século XVIII. Representa a Inglaterra.


terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O retorno do PSDB


Depois de longa decadência fisiológica sob o comando de Aécio Neves, o PSDB se depara com a janela da redenção face à opinião pública. Graças à disseminação do movimento anti-corrupção no país as lideranças partidárias sofrem revisão, ajustando-se à nova realidade moralizadora. Assim foi na convenção partidária, onde Geraldo Alckmin empolgou a presidência do partido, com a missão implícita de tornar-se o candidato do Centro nas próximas eleições.

Até aí, caminha-se na boa direção. Mas não basta. Ao partido é essencial ampliar sua base política, na arena popular e pela cooptação dos demais partidos refratários aos desmandos passados e às promessas populistas irrealizáveis. Não será tarefa fácil.
Mas para que isto aconteça, será necessário assumir a liderança não apenas política mas, também moral. Isto abrange não tão somente habilidade negociadora mas, sobretudo, a conquista de uma imagem diferenciada, onde, no trato politico das questões parlamentares, a prioridade deixe de ser os interesses eleitoreiros e pontuais na manobra de plenário, para instaurar, de forma visível, a primazia do interesse nacional.

Resultado de imagem para fotos psdbA votação pela reforma da Previdência é um destes momentos onde se coloca na urna os destinos da Nação. Ainda que longe da perfeição, o texto a ser votado terá o benefício de, senão estancar, de reduzir a irreversível sangria do erário. Cumpre ao PSDB fechar questão ao determinar seu apoio ao projeto. Ainda, deve o partido afastar-se do ambiente de barganha que avilta a reputação do Congresso. Deverá postar-se como intransigente e transparente defensor do interesse público; no tempo, seu ganho eleitoral será bem superior às vantagens e migalhas recebidas nos cochichos de bastidores.

Pari-passu, torna-se essencial que Geraldo Alckmin transforme seu discurso para que atinja, não apenas as classes economicamente confortáveis, mas, também, a classe trabalhadora. Traduzir benefícios de suas propostas mediante estatísticas econômicas esbarra na incompreensão da maioria composta pelos menos versados em tais matérias. Os benefícios de suas propostas devem igualmente  ser traduzidos em fatos e exemplos que demonstrem melhorar a vida diuturna daqueles que compõem a maioria do eleitorado.

Às portas da eleição presidencial, confrontado com o retorno do populismo empobrecedor, ao PSDB cabe colocar o país na direção da prosperidade e da justiça social. Sem ambos, não haverá a argamassa necessária à construção do edifício.



quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Jerusalem

Há poucas horas atrás, Donald Trump. Presidente dos Estados Unidos da America reconhece Jerusalém como a capital de Israel. Ao fazê-lo, afronta as Nações Unidas, seus aliados europeus, seus aliados árabes. Parece sepultar, definitivamente, a criação do Estado Palestino ao desqualificar-se Washington de sua condição de mediador.

Resultado de imagem para foto jerusalemInicialmente, ao apoiar a pretensão Israelense de ter Jerusalém por capital alija-se, simultaneamente, a validade da Autoridade Palestina como interlocutor. Cria-se um momentum político interno e externo favorável à absorção definitiva das terras e população palestinas por Israel. À prosseguir neste caminho, corre o Estado Judeu o risco de tornar-se-á um Estado Apartheid(1), onde aos palestinos serão dadas as opções entre a submissão ou o êxodo. Noutra dimensão, ao retirar-lhes a última chispa de esperança, não poucos buscarão na resistência armada a sua razão de ser.

No entorno geográfico e confessional, tem-se o imenso impacto desta decisão junto aos governos do Oriente Médio. Confrontados com a perda de uma de suas tres cidades santas(2) os governos Muçulmanos sofrerão de suas bases imensa pressão anti Israelense.

Tanto o Egito quanto a Jordânia, signatários de paz com Israel, terão dificuldade pela frente em conciliar a opinião nacional com a expansão israelense. A possível violenta contestação Palestina em suas fronteiras imporá revisão em suas prioridades geo-políticas.

A Turquia já se manifestou contraria à iniciativa norte-americana, ampliando o contencioso com Washington, este já prejudicado pela questão Curda. Ao esticar-se a corda diplomática entre Ancara e Washington tem-se por resultado uma aproximação crescente entre russos e turcos, a despeito de sua participação na OTAN.

Especial atenção deve ser dada à embrionária aliança anti-xiita da Arábia Saudita com Israel tendo o Irã por objetivo principal. Face à oficialização de uma Jerusalém judaica e ao intransigente Wahabismo, difícil será manter-se o lastro de interesses comuns entre Tel Aviv e Riade. O mesmo dilema enfrentarão os reinos subsidiários do Golfo Pérsico.

Tal constrangimento será do interesse da Síria, do Líbano e do Irã, beneficiários da provável onda anti Israelense. Teerã poderá tranquilizar-se caso ocorra a retirada de Israel da equação hostil montada pelo príncipe Mahommad bin Salman.

Na Europa a repulsa parece ser unanime. De seu ponto de vista um Israel em expansão será favorável à perpetuação dos conflitos no Oriente Médio e que tal condição resulta em ameaça à segurança Européia. O apoio de Washington a tal expansão, acentua, pela sua aliança européia, a animosidade das facções radicais e terroristas. Ainda, vitima de incontáveis guerras e ocupações territoriais, o europeu relembra na expansão israelense o famigerado lebensraum e uma langsam krieg.(3)

Em terras mais distantes, tanto a Rússia quanto a China já manifestaram sua oposição à decisão de Donald Trump.

Porém não só o Oriente Médio é afetado. Face a esta desastrada iniciativa, os Estados Unidos revela um preocupante falta de previsibilidade e estabilidade. Pelo que indica a mídia, a decisão de Trump parece ter sido autocrática, desprezando aconselhamento das áreas diplomáticas e militares. Assim sendo, perde-se confiança na prudência das decisões da maior potencia planetária quando confrontada em próximas crises.

(1)Aproxima-se, assim, a avaliação do ex presidente norte americano, Jimmy Carter, em seu notável livro “Palestina: paz, não apartheid”.
(2)As outras: Meca e Medina
(3)Espaço vital e o oposto da blitz krieg, a lenta guerra.

sábado, 2 de dezembro de 2017

A Águia, o Dragão e ...o carrapato


O planeta tornou-se pequeno demais para as ambições dos povos que o habita. Arregimentados em torno de Nações e alianças, os povos mais poderosos se dividem e se agridem, senão militarmente, ao menos politicamente.

E assim começa fábula da Águia que domina, do Dragão que contesta e do carrapato que irrita. A primeira, habituada a voar sem limites, a impor sua vontade em todos os quadrantes, confronta-se com um insuspeito Dragão.
Resultado de imagem para foto de dragão e águia
__ Mas como, Dragão, porque não te comportas? Não penses em sair longe de seu ninho, pois aonde fores encontrarás meu forte bico e afiadas garras. O que é meu é meu, e não tolero mudanças que reduzam meu horizonte.

__ Nobre Águia, não quero conflito. Porém, minhas asas cresceram muito nestes últimos anos, Minha cauda estendeu-se e não mais cabe no ninho. Assim, meu apetite aumentou e tenho que buscar sustento.

Os anos passam, e Águia e Dragão tornam-se, cada vez mais, inquietos e inseguros.

__Ontem a Águia voou sobre nós, disse um dragãozinho, ouvi o seu grasnar e fiqui com medo.
__Não temas, meu filho, teu pai dá um jeito.

E o Dragão foi, batendo asas e balançando a cauda, para um grande lago que banha seu ninho. Lá fez outro ninho e se instalou, avisando bem alto, “por aqui Águia não passa”

__Passo por onde bem quiser, retorquiu a Águia. Nada me detêm.

Após reflexão, o Dragão que por muito velho muito sabia, concluiu: a Águia é bem mais forte do que eu. Não é hora para confronto. Vamos ver...

Pouco tempo depois Dragão encontra Águia que lhe diz

__ V conhece o Carrapato?
__ Conheço, Águia. É peçonhento. Cuidado
__ Pois imagine V, disse a Águia num espírito de confidencialidade, mordeu-me a bunda e está me incomodando.
__ Pois é. Bicho danado, este carrapato.

Mais algum tempo, a Águia vai ao médico. Olhá aqui Doutor. É sério? Parece que sim, responde. Não mata, mas uma dolorosa cirurgia poderá ser necessária.

Resultado de imagem para picture of dragonCom esta informação à Águia decide convidar o Dragão para visitá-lo em seu ninho. Honras militares são oferecidas. Champagne dourada sorvida. Juras de eterno amor sugeridas.

__Dragão, V sabe que nós águias somos muito práticos. Sei que tivemos nossa rusgas. Mas deixemos isso para trás. V. Tem algum antídoto para carrapato?

O cauteloso Dragão, viu nos olhos da Águia um chispa de súplica, ansiedade e dor. Observou que tinha a traseira inchada.

__Deixa comigo, amigão. Não vai ser fácil. Sei que é meio maluco. Me dá um tempo e vou ver o que consigo...

E em seguida sussurra para seu assessor

--- Lin Pin, chama aquele idiota do Jong-un e diga-lhe para manter mas não exagerar.

E voltando seu melhor sorriso para o anfitrião...

__ Mas como ia dizendo, Águia queridão, e as mulheres, hein, como andam...? Por sinal, vou ter que avançar um pouco na direção das Filipinas, mas nada de grave...




terça-feira, 28 de novembro de 2017

Vista dos autos

Resultado de imagem para foto do supremo tribunal federal

Mais uma jabuticaba aflora no cenário nacional. Desta vez, no campo jurídico. Pelo menos, difere dos procedimentos internacionais. Em flagrante desrespeito ao bom senso e à exegese jurídica, o pedido de ”vista dos autos” por um juiz contestador se transforma em veto quando a votação do processo se encaminha ao arrepio de sua conveniência. Ao submeter-se o término do julgamento à decisão de um juiz, que evidencia-se minoritário, anula-se o provimento de Justiça, não só pela perda de qualidade mas, igualmente grave, pelo adiamento imponderável da Justiça, a qual, quando lenta deixa de sê-lo.

Tal fato recente ocorreu no julgamento onde se redefinia a concessão do Foro Privilegiado à classe política. Neste. já derrotada a tese de sua preferência por 7 votos a 1, o Ministro Dias Toffoli pediu vista. Foi concedida sem prazo para devolução. Assim, repete-se, dentre outros episódios, o comportamento do Ministro Gilmar Mendes que detêm em sua gaveta julgamento anterior. Confrontado com votação contrária a seus interesses (6 a 1) pediu Gilmar a vista dos autos, os quais “compulsa” há um ano!

Ora, constata-se que o prazo de 20 dias, inscrito no regulamento do Supremo Tribunal Federal, há muito, tornara-se letra morta. Terá prevalecido, como em tantas outras ocasiões, a síndrome dos benefícios da malicia reciproca onde a “vista” sem prazo solicitado por um, poderá sê-lo também por todos? E assim constrói-se uma base “de costumes” que atropela a regra escrita e violenta o que poderia ser uma sólida construção jurídica.

Mas, talvez, este infeliz episódio tenha trazido à tona quão  essencial é a existência e obediência à prazo para a devolução dos autos solicitados. Pode parecer um detalhe burocrático porém seu efeito é de relevância; a inobservância do regulamento vem causando grave dano ao andamento da Justiça. Equivale à neutralização da vontade da maioria do plenário por uma manobra  solitária. Paralisa-se, assim, as importantes decisões da mais alta Côrte do país.

Diante de tal fato de explícita degradação, pecou a Ministra Carmen Lúcia, presidente do Tribunal, por omitir-se na imposição do prazo regimental.




quarta-feira, 22 de novembro de 2017

O Mecanismo

Resultado de imagem para foto de brasilia

Com raro talento o cineasta e colunista José Padilha trouxe à tona a imagem do Mecanismo. Descrevia assim, o conjunto de engrenagens institucionais impelidas pelas mais baixas motivações humanas, onde se destaca a ganância psicótica. Psicótica por desconsiderar a profundidade do mal que inflige no corpo social. Por resultado, a sincronia diabólica dos mal feitos afetam, não apenas a moral da Nação, esta contaminada pelo mau exemplo dos exitosos e poderosos, mas, também, corrói as instituições que sustentam a república.

Afetam, ao aprofundar-se a cadeia dos efeitos, desde a prateleira vazia dos remédios em hospital falido, à água turva de dejetos dada à criança, à sala de aula despida do ensino, desamparada. A cada roubo condena-se uma parcela da sociedade, despojada dos recursos necessários à sua progressão e dignidade.

Pois o Mecanismo tem por combustível, além da cumplicidade de seus promotores, a visão estreita das elites ainda intocadas e alheias ao futuro que lhes espera. A propagação do germe que ora infecta a nação, a não ser contida e corrigida acentuará, no tempo, o esgarçamento do contrato social onde o empobrecimento do povo se contrapõe à concentração da riqueza, tornando-se politicamente insuportável.

Cabe, assim, a mobilização dos que compõem a elite não contaminada, aqueles que reconhecem o país como prioridade. Ao aproximar-se as eleições de 2018, o seu engajamento através dos meios de comunicação, seja a imprensa, sejam as redes sociais, dirigido diretamente a políticos e partidos terá efeito multiplicador. A massa de opiniões convergentes em apoio à moralização tocará a parte mais sensível do político, a cédula eleitoral.

A perdurar o Mecanismo dois cenários alternativos se abrem; o primeiro a transformação do país em cleptocracia onde os comando institucionais repousam nas mãos dos assaltantes, onde as leis serão dobradas, não para puní-los mas, sim, para perpetuá-los. A segunda alternativa poderá decorrer da perda da confiança pública nas elites influentes do país, levando o lúmpen desprotegido à rebelião, talvez eleitoral, talvez não, tendo por consequência a entronização do Estado Populista.

Mais grave ainda será o futuro que se lhes rouba às próximas gerações.



sábado, 11 de novembro de 2017

Um novo incêndio?

Resultado de imagem para mapa oriente médio


Quem não se lembra da funesta aventura empreendida por George W Bush ao invadir o Iraque? Apesar da oposição de diversos países Ocidentais liderados pela França, os Estados Unidos persistiram apesar de quão tênues serem as provas que, supostamente, a justificavam.

A partir deste momento a desestabilização do Oriente Médio gerou, como filho espúrio, o turbinado terrorismo mundial, sendo o Estado Islâmico o seu expoente. Madrid, Londres, Paris, Berlim, foram todas elas vítimas de cruéis atos de vingança empetrados por extremistas Sunitas, crias das guerras do Oriente Médio.

Com o enfraquecimento e parcial desmembramento dos países que tradicionalmente influíam nos destinos do Oriente Médio, como a Síria e o Iraque, surge uma nova constelação de nações, tendo por ambição o domínio da região.

Dentre estas, de especial atenção é o novo personagem em explícito jogo de poder, o recém empossado príncipe Mahomad bin Salman, de facto líder da Arábia Saudita. Assentado sob a mais radical das facções Sunitas, o Wahabismo, entende ampliar sua liderança sobre os países da região e, para tal, impor com a força necessária, a obediência aos governos recalcitrantes. Em recente episódio, impôs severas sanções ao Reino do Catar, trazendo consigo a obediência do Egito, Jordânia, Kuwait e os reinos Sunitas do Golfo Pérsico. Observa-se assim a criação de novo bloco geopolítico sob comando da Casa Saúd.

Como desdobramento de sua auto atribuída missão, pretende o príncipe Saudita impor sua vontade sobre as nações sob governo Xiita. Par que tal possa acontecer, considera essencial a neutralização do Irã, cuja relevância política e econômica lhe permite influir em Bagdá, Damasco e Beirute.

Assim, segue o Príncipe herdeiro uma estratégia multifacetada;

  • Inicialmente, dominar o Estado sob sua regência. Com o intuito de neutralizar qualquer oposição, seja à sua plena autoridade, seja à sua ambição geo-política, acaba de encarcerar e processar os reais e presumidos opositores internos. Príncipes e bilionários Sauditas encontram-se, neste momento, atrás das grades. Pretende, assim, garantir plena unanimidade interna à seus objetivos politico-militares.
  • Segundo, assegurar o apoio de Donald Trump. De fato, vem recebendo do presidente americano extenso financiamento para a compras bilionárias de armas sofisticadas, como, também, manifestações públicas de apoio ao que seria a o desmonte do poderio Iraniano na região. De extrema relevância foi a recente visita à Riad do genro do presidente norte-americano, Jared Kushner, poucos dias antes do “putsch” que aprisionou a potencial oposição. Estima-se ter recebido o “nil obstat” de Washington.
  • Terceiro, reforçar as sigilosas relações militares com Israel tendo em vista coincidência de objetivo de neutralizar o poder militar do Irã, da Síria e do Hezbollah libanês. Ainda, nesta direção, a visita prévia ao Premiêr Netanyahu pelo mesmo Mr Kushner, conselheiro do presidente Trump para assuntos de Israel, revela a sincronia dos acontecimentos políticos que ora se desenrolam.

Neste momento, Riad declarou um singular estado de guerra contra o Irã e o Líbano. Difícil traduzir-se com exatidão a declaração da Arábia Saudita, ainda que pareça favorecer pontuais ações militares.

Parece pertinente estimar-se qual a reação do lado oposto do tabuleiro, onde predominam os estados Xiitas, estes compostos pelo Irã, Iraque e Síria e Líbano, tendo a Rússia como garantidor de Bashar al Assad. Teerã certamente retaliará qualquer ataque, sendo que seu extenso arsenal de mísseis convencionais poderá sobrepor-se às defesas ora existentes. Ainda mais preocupante, porém, será o transbordamento do conflito por entre outras nações.

Até que ponto Vladimir Putin manter-se-á alheio? Qual a reação de Donald Trump caso ocorra o conflito? Através do presidente francês, Emanuel Macron, e em entrevista com o Príncipe Salman, a União Européia já manifestou seu desagrado ao animus bélico Saudita. A China já manifestou a importância de suas importações de petróleo do Irã.

a Turquia terá outros interesses, pouco coincidentes com os da Arabia Saudita. Pelo contrario, a vizinhança Xiita em suas fronteiras é coincidente com seus interesses em conter qualquer independência Curda.

Talvez possa se concluir que o apetite do jovem Salman talvez exceda sua capacidade de digestão. A ver...



sábado, 4 de novembro de 2017

Dúvidas sobre o Mar Azul


Resultado de imagem para quadro marinha passagem humaita

A história da Marinha Brasileira é admirável. Durante a Guerra do Paraguay chegou a ser a segunda maior marinha do planeta. Foram notáveis os feitos d'armas, tal como Riachuelo e a forçada da passagem em Humaitá, rompendo a última defesa estratégica de Solano Lopes.

De lá para cá, pouco tem sido feito. O raro troar de seus canhões tem sido, não contra inimigos. mas sim em manobras e disputas no âmbito da política interna. É bem verdade que, ao surgir ameaça externa denominada a Guerra das Lagostas, a Marinha teve imediata resposta, enviando varias belonaves para fazer face à marinha francesa nas costas do Nordeste brasileiro. A pronta iniciativa levou o General De Gaulle a recuar, e optar pela negociação. Estabeleceu-se, assim, um equitativo tratado de pesca atendendo os interesses das duas nações sem macular a soberania nacional.

Já, a ameaça existente quando da Guerra Fria parece ter findo, ainda que as manobras conjuntas com a esquadra Norte Americana são de inegável interesse, seja pelo treinamento dos ativos navais, seja pela familiarização com novas técnicas, ainda fora de nosso alcance.

Do ponto de vista estratégico, levando-se em conta a extensão do mar territorial e os interesses econômico em sua plataforma continental, torna-se evidente a necessidade de uma esquadra moderna e multifacetada, capaz de cumprir, com sucesso operações tanto de defesa quanto de ataque.

No entanto, as notícias que chegam ao público não são estimulantes. O estado deplorável do porta aviões São Paulo, ex "Foch" da marinha francesa, parece não permitir sua utilização, sequer para navegar por conta própria. Ainda, ignora-se o andamento do projeto para a construção de submarinos (projeto também francês) convencionais e nucleares. Em todos estes casos a falta de recursos financeiros é apontada.

Porém, o que mais surpreende o observador é o fato de estar a Marinha desenvolvendo um motor nuclear para suas naves há, talvez, vinte anos, sem que leve o projeto a bom termo. A sua conclusão proporcionaria um salto estratégico na formação de sua força naval e a defesa de seu imenso território marítimo.

Neste período, a minúscula (tanto em território quanto em população) e empobrecida Coreia do Norte consegue desenvolver foguetes e bombas nucleares.

A alegada falta de recursos financeiros não é convincente.*
    
Dentre deste quadro de projetos inacabados e de desconhecida maturação, chega a notícia que o Brasil estaria considerando a compra de duas fragatas britânicas, excluídas de sua frota por ter chegado à obsolescência. Até que ponto dispersão destes recursos se justifica tendo em vista os projetos anteriores à espera de conclusão?

* Desconhecida é a influência protelatória eventualmente exercida pelos Estados Unidos

sábado, 28 de outubro de 2017

O Estado Paralelo


Resultado de imagem para fotos combate ao crime no rio

O Rio está perdendo a guerra contra o crime. Traficantes e milicianos exploram seus súditos de forma impiedosa, onde a transgressão às “suas” regras é paga com a morte. A expansão do crime organizado vem se manifestando vertical e horizontalmente.

Na primeira dimensão, amplia-se, continuamente, sua atuação criminosa. Esta não se limita ao tráfego de drogas; desde o gato na Internet, o transporte intra-muros, o bujão de gaz, tudo paga o seu quinhão ao poder dominante.O rol das drogas negociadas revela constante expansão; na cocaína, na heroína, no crack, nas anfetaminas e outras que o futuro próximo trarão.

Por expansão horizontal entende-se a ampliação geográfica e política que hoje caracteriza o crime Carioca. Não apenas as favelas caem, uma a uma, sob o jugo criminoso, mas, de forma crescente, as áreas adjacentes, pouco a pouco, passam a sofrer a influência do crime. A atividade comercial, o trânsito, e o próprio direito de ir e vir deixa de ser assegurado ao cidadão, submetida que está à ação crescente de criminosos nos bairros outrora “livres”.

Ainda nesta categoria horizontal, se verifica a co-optação da maquina política pelo crime, não apenas nos distritos sob seu domínio, mas ampliando-se, pelo uso eficaz das imensas somas que controla, sua influência na composição das Assembleias municipais e estaduais. A gravidade de tal tendência já vem sendo analisada e temida pelas forças de segurança nacional.

Assim pode-concluir que a cidade do Rio de Janeiro encontra-se sob a tutela de dois poderes distintos, o primeiro, o Estado Legítimo; o segundo, o Estado Paralelo. Formam-se, assim, as condições que definem o estado de guerra.

Ao Estado Legítimo cabe a reação e o desmonte da “rebelião” comandada pelo Estado Paralelo. Dá-se pela mobilização das polícias Militar e Civil, com pontual apoio das Forças federais. Ocorre que a eficácia destes meios é endemicamente pervertida pela chamada “banda podre” das polícias, onde a cumplicidade com o tráfego se constata. Assim sendo, estando o Rio de Janeiro em estado de guerra, aqueles elementos que colaborem, direta ou indiretamente, com o Estado Paralelo devem ser formalmente considerados traidores, ficando sujeitos à julgamento e às penas de leis aplicáveis em caso de guerra pela Justiça Militar do Exercito.

Sobre as cabeças destes lacaios do Estado Ilegítimo pairam as mortes de inumeros civis e de 112 companheiros de corporação.



sábado, 21 de outubro de 2017

Eleições e decepções

   
Resultado de imagem para foto da espada de damocles

A novela que se desenrola em torno do senador Aécio Neves não mais surpreende o eleitor. Acusado de mau comportamento, o presidente do partido PSDB, arrisca dar razão à crença popular, onde todos os políticos “são a mesma coisa”.

De fato, a severidade moral exibida pelos políticos da antiga Oposição, quando o alvo era o PT e seus aliados, esvaneceu-se ao encontrar em suas própria fileiras elementos maculados pelo colapso moral que assola o país.

Ameaçado, demonstrando intimidade com o pináculo da justiça brasileira, o sobrinho de Tancredo Neves não teve dificuldade em dirigir-se a Ministro do Supremo. Nada menos do que vinte telefonemas foram disparados, o que demonstra insidiosa intimidade entre potencial réu e juiz, cuja tarefa é julgar imparcialmente. Ambos pecaram. Assim, quando mais aguda era a crise que o ameaçava, Aécio recorreu ao compadrismo azeitado pela implícita “uma mão lava a outra”. Já no Congresso, onde não mais existe Oposição mas sim Posição (que faria corar o Kamasutra), o jovem Aécio, já sob suspeita de quadrilhagem, recebeu o apoio de seus pares e se mantêm no seu meio.

Parece, por enquanto, estar livre da vara da Justiça. E, assim, pretende liderar seu partido nas eleições de 2018. É verdade que o PSDB, até o momento, não soube recrutar homens de real e visível valor, o que permite ao senador insistir na tese “kamikase” de candidatar-se à presidente desta desnorteada república. Tudo indica que, a prosseguir neste caminho, seguirá os tristes passos de François Fillon nas últimas eleições francesas, onde, tendo sido descobertas suas estrepolias, não só perdeu a presidência mas, também, levou seu partido à derrota fragorosa.

Vale o alerta de que o esgarçado nó que prende a espada de Dâmocles está se desatando. Pouco, muito pouco, a mantêm acima das cabeças de povo e elite. Por anêmico que tenha se revelado desde a justa deposição de Dilma em rito constitucional, cabe ao PSDB reorientar o país a partir de sua necessária vitória nas eleições de novembro 2018. Urge, assim, a escolha de varão probo e experiente que possa vencer a acirrada disputa eleitoral que estas eleições prometem. Deverá lembrar-se de Cesar ao exigir, não apenas honestidade, mas também a aparência de sê-lo.

A permanecer no poder a caterva que ora dirige o país, ou, ainda, a volta da cataclísmica aliança da hipócrita esquerda com a incontida corrupção, estará o Brasil diante de gravíssima crise moral e institucional. Se assim for, talvez seja a bandeira o último refugio.



segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Independência ou...

Brasão de Isabela e Fernando

Surpreendentemente, os movimentos de independência que surgiram a partir do virada do Século XVIII, dando às então colônias o status de nações, parece se reiniciar ao apagar do Século XX.

O colapso da Nação Russa, ao ruir a União Soviética, não apenas devolveu autonomia aos países subjugados do Leste Europeu, mas concedeu a independência à suas províncias que à Russia pertencia desde Catarina a Grande no Século XVIII. Assim o Cazaquistão, o Quirguistão e muitas outras nações tornaram-se independentes, sem que um tiro fosse disparado.

Já, na outrora Iugoslávia, ficção geográfica criada ao findar a primeira grande guerra, ressurgem a Sérvia, a Croácia, a Slovênia e a Bósnia. A Eslováquia separa-se da República Checa sem qualquer conflito. Parecia, assim, que tendo ultrapassado as dores do parto da redemocratização, a Europa e adjacências estabeleciam uma nova normalidade, onde a paz e a concórdia reinaria sobre os espíritos e nações.

Ledo engano. Sob a liderança do então Império remanescente, sendo Bill Clinton seu presidente, deu-se a mais estranhas da guerras (1); a criação de um novo país arrancado às entranhas da Sérvia. Assim nascia o Cosovo (2). Para tal, como instrumento, foi utilizada a OTAN, organização então sem rumo, uma vez que sua missão de enfrentar a União Soviética, já caducara por falta de oponente.

Fast Forward nos leva aos dias de hoje. A Escócia contempla separar-se da Inglaterra, os Curdos buscam serem reconhecidos, os Palestinos esmolam por sua independência, e, neste momento, a Catalunha empolga o mundo.

Neste caso, o problema começou no ano de 1469, quando Castella e Aragão se uniram para criar a Espanha de hoje, sob Isabela e Fernando, os Reis Católicos. Foi uma união consentida pelas partes, mas a capital terminou por fixar-se nas terras de Castilha e não as de Aragão. Um quarto de século depois, a guerra da Sucessão Espanhola envolve as duas partes, Madrid levando a melhor. Já em 1936, a Espanha novamente se fraciona, a esquerda republicana tornando-se cada vez mais comunista durante a Guerra Civil, e a direita monárquica cada vez mais fascista. O término do conflito revela uma Catalunha derrotada pelo caudilho Francisco Franco, e submetida, novamente, à Madrid.

Mas o tempo revelou ter ideias próprias, concedendo à província maior riqueza, criando condições, senão militares, mas econômicas, para sua autonomia, e, agora, para sua pretensa independência. Mas até que ponto sera ela desejada? Certamente não pelo governo central. E pelos catalãs?

Surge então um impasse, prejudicando a legitimidade do plebiscito desejado pela Generalitat catalã e proibido por Madrid. Constata-se que os 4 milhões de eleitores catalãs se dividiram: 2,3 milhões votaram, e os demais se abstiveram, pois ao serem pró Espanha curvam-se à determinação do governo central. Inversamente, os que votaram, por não obedecerem o governo central, apoiaram a independência em avassaladora maioria. Assim sendo, seus votos  representariam 55% do total dos eleitores, e os opositores, se votado tivessem, poderiam representar 45% do colégio eleitoral. É claro que tal conclusão aritmética está longe de ser precisa, mas serve para ter-se uma ideia das preferências. De qualquer modo, os votos não parecem suficientes para alterar a constituição Espanhola.

De seu lado, a União Europeia observa apreensiva. Induz calafrios nas espinhas políticas  de seus membros, uma vez que não faltam regiões ambiciosas incrustadas em seus países.
  1. Não poucas cabeças pensantes atribuem o conflito à desvio de atenção das estrepolias de Monica Lewinski
  2. Muitos países não reconhecem o Cosovo por ser precedente favorecendo a independência de suas províncias.

sábado, 7 de outubro de 2017

Um hospede controverso


Resultado de imagem para foto base de foguetes nasa

A imprensa noticia que está em andamento,novamente, um tratado entre o Brasil e os Estados Unidos, onde este último instalaria uma base de foguetes em território brasileiro. Mais precisamente, em Alcântara, no Maranhão.

A retomada desta pretensão norte-americana se dá após 16 anos, tendo sido interrompida pelo desastre de “nine eleven”. Naquela ocasião, parte da imprensa se manifestou sobre a séria inconveniência de vir o governo brasileiro, então Fernando Henrique Cardoso, ceder às pretensões de Washington.

Contrariando toda a doutrina de transparência para assuntos que envolvem interesses fundamentais do país, tais conversas vem sendo desenvolvidas do lado brasileiro pelo Itamaraty e pelo Ministério da Defesa em absoluto sigilo, sem que os termos de tal tratado tenha sido divulgado. Porém, em furo de reportagem, o jornal paulista, A Folha, o assunto volta ao conhecimento público. Obteve parcos comentários do Ministro Raul Jungmann e do Coronel Damasceno, Chefe de Gabinete do Ministério da Aeronáutica, cuja defesa pela aprovação do projeto deixa de ser convincente.

Relata-se, abaixo, pontos que parecem relevantes:

A base em questão teria por objetivo, segundo a proposta norte-americana, o lançamento de foguetes portadores de satélites, portanto, enfatizam, para fins pacíficos.

Tendo em vista a sensitividade da tecnologia empregada, revindica a limitação de acesso à base, ficando este restrito, de acordo com as determinações do arrendatário.

A importação dos materiais e equipamentos para a montagem e operacionalidade da base não estará sujeita à inspeção pelas autoridades brasileiras.

Para garantir a inviolabilidade da base, propõe ainda que a mesma seja protegida por pessoal estrangeiro, sob seu exclusivo comando, como se missão diplomática fosse.

Trata-se de projeto que fere os interesses e até mesmo a soberania do Brasil.

De início, a base para lançamento de mísseis, por pacíficos que se proponham, não escapam da característica militar ou para-militar. A interligação entre todas as atividades espaciais terminam por convergir na guerra moderna; comunicação, meteorologia, observação, etc... são, inescapavelmente, funções de interesse bélico.

Ainda, não será permitida às autoridades brasileiras a inspeção dos equipamentos importados. Ainda que fosse autorizada, a inspeção da importação dos equipamentos necessários à sua operacionalidade, fugiria à sua capacidade técnica. A distancia do conhecimento tecnológico que separa os Estados Unidos do Brasil, permitirá ao arrendatário, sempre que o desejar, a inclusão de equipamento com fins militares sem o conhecimento e a compreensão das autoridades locais.

Quanto à proteção do perímetro da base, esta se fará, necessariamente, por elementos visando a sua inviolabilidade, ou seja, por grupamento estrangeiro, este sob comando exclusivo norte-americano. Razoável concluir-se que este contingente, seja ele  militar ou para-militar, o fará em ambiente de extra-territorialidade, violando, assim, a soberania que cabe ao Estado brasileiro. 

A perspectiva histórica não deve ser desprezada no trato deste assunto; importante será avaliar-se o comportamento dos Estados Unidos em tais circunstâncias no exterior.

Inicialmente, justo concluir ser os Estados Unidos um estado guerreiro e agressivo quando na defesa do que considera ser seus interesses. Também, relevante será a avaliação da situação internacional, onde os novos blocos da era post-Soviética formam, por vezes, fronteiras inseguras e mutáveis, gerando conflitos convencionais ou envolvendo o terrorismo. Tais circunstâncias acentuam a necessidade do fortalecimento defensivo e ofensivo das grandes nações, e a consequente instalação de bases dentro e fora de seus territórios. Assim , são elas peças importante na projeção de seu poder, tornando-as vulneráveis à ataques e retaliações.

Seria imprudente presumir-se que, em caso de crise internacional, Washington se ateria a compromisso de atuação pacífica no uso de suas bases. O uso de bases em Guantanamo para a detenção de terroristas, e de outras, em países “amigos”, quando de operações secretas de “rendering”, posteriormente denunciadas pela imprensa norte-americana, refletem a inconveniência do abrigo de bases estrangeiras. Ainda, sob outro prisma, ingênuo seria presumir-se que os eventuais inimigos dos Estados Unidos poupariam tais bases, espalhadas pelo mundo, quando de um conflito.

Assim, a eclosão de crise militar internacional colocaria o Brasil na rota dos foguetes retaliatórios, com ou sem ogivas nucleares, arrastando o país para um conflito que não deseja nem é do seu interesse.

As parcas manifestações das autoridades não abordam os perigos estratégicos de tal projeto. Tratam-no como se mera operação comercial fosse, como nova fonte de recursos para o combalido erário. Chegam ao absurdo de mencionar como vantajoso o aluguel da base por 1,5 bilhão de reais.(1)

Parece ser razoável e prudente concluir-se que o tratado ora proposto para a cessão da base de Alcântara aos Estados Unidos deve ser rejeitado in limine por ferir os interesses permanentes do Brasil no que tange sua política de paz e convívio pacífico dentre as nações. Finalmente, vale buscar-se na sabedoria popular o dito: “não se convida quem não se pode dispensar”. Uma vez instalada, face ao imenso poderio político do arrendatário, mais fácil será sua expansão do que sua remoção.



(1) Insufuciente para pagar os salarios e benefícios do Congresso.