segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Independência ou...

Brasão de Isabela e Fernando

Surpreendentemente, os movimentos de independência que surgiram a partir do virada do Século XVIII, dando às então colônias o status de nações, parece se reiniciar ao apagar do Século XX.

O colapso da Nação Russa, ao ruir a União Soviética, não apenas devolveu autonomia aos países subjugados do Leste Europeu, mas concedeu a independência à suas províncias que à Russia pertencia desde Catarina a Grande no Século XVIII. Assim o Cazaquistão, o Quirguistão e muitas outras nações tornaram-se independentes, sem que um tiro fosse disparado.

Já, na outrora Iugoslávia, ficção geográfica criada ao findar a primeira grande guerra, ressurgem a Sérvia, a Croácia, a Slovênia e a Bósnia. A Eslováquia separa-se da República Checa sem qualquer conflito. Parecia, assim, que tendo ultrapassado as dores do parto da redemocratização, a Europa e adjacências estabeleciam uma nova normalidade, onde a paz e a concórdia reinaria sobre os espíritos e nações.

Ledo engano. Sob a liderança do então Império remanescente, sendo Bill Clinton seu presidente, deu-se a mais estranhas da guerras (1); a criação de um novo país arrancado às entranhas da Sérvia. Assim nascia o Cosovo (2). Para tal, como instrumento, foi utilizada a OTAN, organização então sem rumo, uma vez que sua missão de enfrentar a União Soviética, já caducara por falta de oponente.

Fast Forward nos leva aos dias de hoje. A Escócia contempla separar-se da Inglaterra, os Curdos buscam serem reconhecidos, os Palestinos esmolam por sua independência, e, neste momento, a Catalunha empolga o mundo.

Neste caso, o problema começou no ano de 1469, quando Castella e Aragão se uniram para criar a Espanha de hoje, sob Isabela e Fernando, os Reis Católicos. Foi uma união consentida pelas partes, mas a capital terminou por fixar-se nas terras de Castilha e não as de Aragão. Um quarto de século depois, a guerra da Sucessão Espanhola envolve as duas partes, Madrid levando a melhor. Já em 1936, a Espanha novamente se fraciona, a esquerda republicana tornando-se cada vez mais comunista durante a Guerra Civil, e a direita monárquica cada vez mais fascista. O término do conflito revela uma Catalunha derrotada pelo caudilho Francisco Franco, e submetida, novamente, à Madrid.

Mas o tempo revelou ter ideias próprias, concedendo à província maior riqueza, criando condições, senão militares, mas econômicas, para sua autonomia, e, agora, para sua pretensa independência. Mas até que ponto sera ela desejada? Certamente não pelo governo central. E pelos catalãs?

Surge então um impasse, prejudicando a legitimidade do plebiscito desejado pela Generalitat catalã e proibido por Madrid. Constata-se que os 4 milhões de eleitores catalãs se dividiram: 2,3 milhões votaram, e os demais se abstiveram, pois ao serem pró Espanha curvam-se à determinação do governo central. Inversamente, os que votaram, por não obedecerem o governo central, apoiaram a independência em avassaladora maioria. Assim sendo, seus votos  representariam 55% do total dos eleitores, e os opositores, se votado tivessem, poderiam representar 45% do colégio eleitoral. É claro que tal conclusão aritmética está longe de ser precisa, mas serve para ter-se uma ideia das preferências. De qualquer modo, os votos não parecem suficientes para alterar a constituição Espanhola.

De seu lado, a União Europeia observa apreensiva. Induz calafrios nas espinhas políticas  de seus membros, uma vez que não faltam regiões ambiciosas incrustadas em seus países.
  1. Não poucas cabeças pensantes atribuem o conflito à desvio de atenção das estrepolias de Monica Lewinski
  2. Muitos países não reconhecem o Cosovo por ser precedente favorecendo a independência de suas províncias.

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