São tormentosos os ventos que insuflam o Bitcoin, levando-o aos píncaros para depois, em queda vertiginosa encontrar sua sustentação. Neste momento os ventos contrários
tornam-se cada vez mais fortes, mas serão eles permanentes ou a cripto-moeda retomará sua ascensão?
O afluxo de capitais
para a cripto-moeda parece resultar de,
entre outras, três fortes razões. A
primeira tem a ver com a enorme liquidez que assaltou o planeta após
o desastre de 2008, onde a banca
norte-americana faliu. Faliu, mas socorrida pelo Tesouro americano,
recebeu o oxigênio que lhe salvou a vida. Desde então, os programas de Quantitative Easing iniciado pelo Federal Reserve Bank e seguido por Bruxelas e Tókio, criaram uma catarata de dinheiro novo. Sufocou a
depressão e estimulou a especulação.
Esta enxurrada de meios de pagamento reduziu
à quase zero a taxa de juros, frustrando os poupadores, dificultando-lhes a condição de proteger e remunerar seu capital. Por
consequência, e de um modo geral, a tolerância por risco aumentou refletida no aumento da volatilidade nos mercados
financeiros. Hoje, a remuneração da renda fixa recebe minúscula taxa
de retorno enquanto o mercado acionário supera todos os recordes.
Neste cenário, a busca
de remuneração compensatória atravessou as barreiras da prudência,
beneficiando os produtos especulativos onde desponta o Bitcoin.
A segunda razão para
a expansão de seu mercado veio da guerra ao terrorismo! Seguindo a tese do ”follow the money”, os Estados Unidos
iniciaram o rastreamento das operações
financeiras realizadas pelos djihadistas e a resultante guerra contra
os paraísos fiscais, no que foi seguido por boa parte da comunidade
internacional. Ao reduzirem-se as opções de ocultação do dinheiro
ilegal, este, ao buscar formas alternativas encontra o anonimato da
cripto-moeda, assim aumentando sua demanda e seu preço.
Um terceiro fator,
menos óbvio mas relevante, é de cunho psico-cultural. Cresce o
culto à inovação tecnológica. O frenesi que acompanha
lançamento de cada novo iPhone bem espelha a ansiedade pelo inédito.
Automóveis elétricos, energia eólica, drônes, relógios
inteligentes e milhares de novos produtos capturam a imaginação
dos consumidores mais jovens, estes fascinados
pela inovação e refratários ao que “era de ontem”. E,
acompanhando e prosperando nesta nova preferência
observa-se a expansão das
cripto-moedas.
Mas Caveat
Emptor! Parece claro que
o Bitcoin de “moeda” nada tem. Não tem lastro, é de baixíssima
liquidez, exígua capacidade de troca por produtos e serviços, de
duvidosa documentação que lhe legitime. Sua negociação
tem se revelado vulnerável à malicia dos ubíquos hackers. Ainda, em
caso de conflito inexiste recurso à autoridade monetária superior.
Chamá-lo de commodity não
seria correto uma vez que o ouro, a prata, o minério, a soja, todos
têm uma utilidade econômica final. Nenhuma utilidade terá a prova
física de sua propriedade. O Bitcoin não passa de uma convenção
(vide o inocente “monopólio”) celebrada entre algoritmos, nerds,
e espertalhões. Que o comprador
se precavenha.
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