quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Bitcoin, ainda.


São tormentosos os ventos que insuflam o Bitcoin, levando-o aos píncaros para depois, em queda vertiginosa encontrar sua sustentação. Neste momento os ventos contrários tornam-se cada vez mais fortes, mas serão eles permanentes ou a cripto-moeda  retomará sua ascensão?

O afluxo de capitais para a cripto-moeda parece resultar de, entre outras, três fortes razões. A primeira tem a ver com a enorme liquidez que assaltou o planeta após o desastre de 2008, onde a banca norte-americana faliu. Faliu, mas socorrida pelo Tesouro americano, recebeu o oxigênio que lhe salvou a vida. Desde então,  os programas de Quantitative Easing iniciado pelo Federal Reserve Bank e seguido por Bruxelas e Tókio, criaram uma catarata de dinheiro novo. Sufocou a depressão e estimulou a especulação.

Esta enxurrada de meios de pagamento reduziu à quase zero a taxa de juros, frustrando os poupadores, dificultando-lhes a condição de proteger e remunerar seu capital. Por consequência, e de um modo geral, a tolerância por risco aumentou refletida no aumento da volatilidade nos mercados financeiros. Hoje, a remuneração da renda fixa recebe minúscula taxa de retorno enquanto o mercado acionário supera todos os recordes. 

Neste cenário, a busca de remuneração compensatória atravessou as barreiras da prudência, beneficiando os produtos especulativos onde desponta o Bitcoin.

A segunda razão para a expansão de seu mercado veio da guerra ao terrorismo! Seguindo a tese do ”follow the money”, os Estados Unidos iniciaram o rastreamento das operações financeiras realizadas pelos djihadistas e a resultante guerra contra os paraísos fiscais, no que foi seguido por boa parte da comunidade internacional. Ao reduzirem-se as opções de ocultação do dinheiro ilegal, este, ao buscar formas alternativas encontra o anonimato da cripto-moeda, assim aumentando sua demanda e seu preço. 

Um terceiro fator, menos óbvio mas relevante, é de cunho psico-cultural. Cresce o culto à inovação tecnológica. O frenesi que acompanha lançamento de cada novo iPhone bem espelha a ansiedade pelo inédito. Automóveis elétricos, energia eólica, drônes, relógios inteligentes e milhares de novos produtos capturam a imaginação dos consumidores mais jovens, estes fascinados pela inovação e refratários ao que “era de ontem”. E, acompanhando e prosperando nesta nova preferência observa-se a expansão das cripto-moedas.

Mas Caveat Emptor! Parece claro que o Bitcoin de “moeda” nada tem. Não tem lastro, é de baixíssima liquidez, exígua capacidade de troca por produtos e serviços, de duvidosa documentação que lhe legitime. Sua negociação tem se revelado vulnerável à malicia dos ubíquos hackers. Ainda, em caso de conflito inexiste recurso à autoridade monetária superior. Chamá-lo de commodity não seria correto uma vez que o ouro, a prata, o minério, a soja, todos têm uma utilidade econômica final. Nenhuma utilidade terá a prova física de sua propriedade. O Bitcoin não passa de uma convenção (vide o inocente “monopólio”) celebrada entre algoritmos, nerds, e espertalhões. Que o comprador se precavenha.


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