quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Jerusalem

Há poucas horas atrás, Donald Trump. Presidente dos Estados Unidos da America reconhece Jerusalém como a capital de Israel. Ao fazê-lo, afronta as Nações Unidas, seus aliados europeus, seus aliados árabes. Parece sepultar, definitivamente, a criação do Estado Palestino ao desqualificar-se Washington de sua condição de mediador.

Resultado de imagem para foto jerusalemInicialmente, ao apoiar a pretensão Israelense de ter Jerusalém por capital alija-se, simultaneamente, a validade da Autoridade Palestina como interlocutor. Cria-se um momentum político interno e externo favorável à absorção definitiva das terras e população palestinas por Israel. À prosseguir neste caminho, corre o Estado Judeu o risco de tornar-se-á um Estado Apartheid(1), onde aos palestinos serão dadas as opções entre a submissão ou o êxodo. Noutra dimensão, ao retirar-lhes a última chispa de esperança, não poucos buscarão na resistência armada a sua razão de ser.

No entorno geográfico e confessional, tem-se o imenso impacto desta decisão junto aos governos do Oriente Médio. Confrontados com a perda de uma de suas tres cidades santas(2) os governos Muçulmanos sofrerão de suas bases imensa pressão anti Israelense.

Tanto o Egito quanto a Jordânia, signatários de paz com Israel, terão dificuldade pela frente em conciliar a opinião nacional com a expansão israelense. A possível violenta contestação Palestina em suas fronteiras imporá revisão em suas prioridades geo-políticas.

A Turquia já se manifestou contraria à iniciativa norte-americana, ampliando o contencioso com Washington, este já prejudicado pela questão Curda. Ao esticar-se a corda diplomática entre Ancara e Washington tem-se por resultado uma aproximação crescente entre russos e turcos, a despeito de sua participação na OTAN.

Especial atenção deve ser dada à embrionária aliança anti-xiita da Arábia Saudita com Israel tendo o Irã por objetivo principal. Face à oficialização de uma Jerusalém judaica e ao intransigente Wahabismo, difícil será manter-se o lastro de interesses comuns entre Tel Aviv e Riade. O mesmo dilema enfrentarão os reinos subsidiários do Golfo Pérsico.

Tal constrangimento será do interesse da Síria, do Líbano e do Irã, beneficiários da provável onda anti Israelense. Teerã poderá tranquilizar-se caso ocorra a retirada de Israel da equação hostil montada pelo príncipe Mahommad bin Salman.

Na Europa a repulsa parece ser unanime. De seu ponto de vista um Israel em expansão será favorável à perpetuação dos conflitos no Oriente Médio e que tal condição resulta em ameaça à segurança Européia. O apoio de Washington a tal expansão, acentua, pela sua aliança européia, a animosidade das facções radicais e terroristas. Ainda, vitima de incontáveis guerras e ocupações territoriais, o europeu relembra na expansão israelense o famigerado lebensraum e uma langsam krieg.(3)

Em terras mais distantes, tanto a Rússia quanto a China já manifestaram sua oposição à decisão de Donald Trump.

Porém não só o Oriente Médio é afetado. Face a esta desastrada iniciativa, os Estados Unidos revela um preocupante falta de previsibilidade e estabilidade. Pelo que indica a mídia, a decisão de Trump parece ter sido autocrática, desprezando aconselhamento das áreas diplomáticas e militares. Assim sendo, perde-se confiança na prudência das decisões da maior potencia planetária quando confrontada em próximas crises.

(1)Aproxima-se, assim, a avaliação do ex presidente norte americano, Jimmy Carter, em seu notável livro “Palestina: paz, não apartheid”.
(2)As outras: Meca e Medina
(3)Espaço vital e o oposto da blitz krieg, a lenta guerra.

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