A polêmica está
instaurada. Deve-se, ou não, permitir a anunciada “fusão” da
Embraer com a Boeing Corporation. Uma complexa associação entre o colibri e a águia. Deve o Brasil renunciar ao notável
sucesso alcançado, para, timidamente, reconhecer que foi além de
suas pernas?
Não poucos consideram esgotada a trajetória vitoriosa, os sucessos alcançados coisa do passado, a
capacidade empresarial insuficiente face aos novos desafios, a tecnologia hoje limitada. Os argumentos derrotistas se repetem: "os
grandes vão nos esmagar, não temos como vender nossos aviões face
a incipiente concorrência da China, a Airbus já comprou a
Bombardier (o que é falso)*, a Boeing vai suprir tecnologia de ponta....(pois sim!). E seguem os
argumentos dos que defendem o casamento cuja disparidade na dimensão dos nubentes promete inevitável conflito de interesses.
Melhor vale lembrar que
o custo do Embraer 195 (US$ 40MM) é inferior ao de seu competidor
direto, o Boeing 737-600 (US$ 57MM) em preço e eficiência. Ainda,
o custo do Bombardier CS 100 (US$ 60MM) é 50% superior ao
concorrente brasileiro apesar da mesma capacidade de assentos. No setor civil, o avião brasileiro é competitivo, projetando constante sucesso no mercado internacional.
Já no campo militar,
não se deve menosprezar o Tucano, sem paralelo no mercado
internacional. Este veio preencher uma lacuna no cenário da aviação
ligeira nas guerras assimétricas que hoje se travam mundo afora. O Emb KC-390, em vias de certificação, atende premente necessidade de inúmeros países por um de transporte de tropa, veículos e abastecimento aéreo, até hoje
dependentes do obsoleto Hercules 130 norte-americano. Seu mercado
potencial é excepcional e seu impacto na flexibilização e
otimização estratégica das forças armadas brasileiras é
incontestável. Ainda, parece inconteste a necessidade de ter o Brasil integral posse e controle de sua indústria de armamentos, onde a Embraer desponta.
Uma "joint venture" da Embraer com
a imensa Boeing, não poderá prosperar sem que a indiscutível preponderância desta
última se faça sentir, e, no tempo, tornar-se determinante. Ainda, a "business mission" ou doutrina operacional de uma e outra diferem
fundamentalmente. A empresa americana, habituada a fonte inesgotável
de recursos, torna-se adiposa face à uma Embraer “lean and
mean”**. Acresce que a política de vendas seguida pela Embraer
não é contida por preferencias ideológicas ou políticas; o mesmo
não ocorre com a Boeing, sujeita às limitações, sanções e
proibições emanadas de Washington em suas desavenças. Ocorrendo a
fusão, a Embraer tornar-se-ia prisioneira da política externa
norte-americana.
Isto dito, nada impede
que a Boeing, seguindo os passos de sua concorrente européia, a
Airbus, venha ela tornar-se parceira neste ou naquele projeto de
interesse mútuo, sem que a plena independência industrial e
comercial da Embraer seja tolhida.
*A Airbus associou-se
com a Bombardier para desenvolver, tão somente, o seu modelo CS 100,
competidor do Emb 195.
** Enxuta e feroz
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