quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Pesadelo




20 de outubro, 2022.

Os jornais de hoje mergulham no embate político, com pouco espaço dedicado às demais matérias.   

Tudo indica que o Segundo Turno que se avizinha terá intensidade inigualável. Em alguns dias a Nação terá que decidir pelo voto quem, entre candidatos tão díspares, será o ungido. Os demais candidatos já caíram  na vala da insignificância face à intensidade ideológica que domina o debate político.

Neste décimo mes de 2022, o quadro emocional é extremado, traz em seu bojo a simplificação das ideias, divididas pelo maniqueísmo; "comunista" de um lado  e "nazista" por outro. O esgarçamento atinge  tanto a elite quanto o lumpen, levando à simplificação do complexo, à descoloração dos matizes,  à redução do pensamento ao mínimo denominador comum. 

No início era discordância, hoje, transforma-se em raiva, violência.  Não mais política, mas pessoal. Ódio nos olhos, na expressão e nas palavras. Nos pensamentos. 

É o Brasil dividido, no povo e nas instituições. A Câmara dominada pelo Centrão tenta salvar os anéis sem perder os dedos. Em pragmatismo rasteiro, compra e vende nacos de poder, ora para um lado do tabuleiro, ora para o outro.  O  Senado, intimidado, oscila entre a disciplina partidária e a opção pelo vencedor. O Supremo, fracionado e desequilibrado pelas novas nomeações, escorrega sem rumo entre exegeses, pareceres e considerações; sob o manto do partidarismo não mais há Justiça.  

Nas ruas, as passeatas se multiplicam, nem sempre pacíficas. Confrontos, agressões, xingamentos dominam o ambiente eleitoral, fazendo prever a contínua escalada da violência. 

As pesquisas eleitorais, hoje publicadas, indicam forte vantagem para a coligação oposicionista. Difícil será a inversão do quadro eleitoral. Os melhores analistas preveem a eleição do  opositor.

24 de outubro, 2022

Conclamados pelas redes sociais, pelas rádios e televisões, o que se inicia como um filete transforma-se, em poucas horas, em caudal humano. Cores de contestação e de apoio salpicam as aglomerações que, pouco a pouco, face às provocações de lado a lodo, tornam-se turbas violentas.

Aos impropérios seguem-se as pedras; no encontro das maltas, agressões físicas.  Caminhões sonoros atiçam cá e lá. Soa o hino nacional, enrolam-se nas bandeiras. O certo e o errado, o errado  e o certo, dicotomia azeda, cega, peremptória.

Soa o primeiro tiro. A vítima se perde na multidão e, súbito,  ressurge nos ombros  de seus companheiros. Faca, porrete, murro e mais tiros. Os slogans reverberam sobre a onda estridente da revolta. 

25 de outubro, 2022

Às 16:00 , as cadeias de rádio e televisão divulgam um pronunciamento:  

"Brasileiros, cidadãos, a insegurança assalta as ruas, ameaça as famílias. As instituições democráticas estão sob perigo. A perseverar o atual estado de anomia, a Lei e a Ordem não mais poderão ser mantidas e garantidas. Assim sendo determinei, com o assentimento das instituições garantidoras da Ordem e Segurança do país, o adiamento temporário do processo eleitoral do país.

Deus acima de todos, viva o Brasil."

26 de outubro, 2022

O Brasil acorda sob profundo silêncio...

   

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Brinkmanship¹




A tradição norte-americana ensina que seus presidentes Democratas tem sido os que mais envolveram o seu país em  guerras.   

Depois da derrota no Vietnam, não mais conquistou vitórias conclusivas; no Iraque, ganhou mais não levou. Hoje, Bagdad não mais obedece à Washington, seguindo seu próprio rumo, em cautelosa  sintonia com o Irã. 

Fracassou quando de sua intervenção na Síria, onde Washington se aliava à várias facções (a Al Qaeda dentre elas!). Neste embate o governo Assad, aliado à Rússia, prevaleceu. E, como último capítulo, deu-se a derrota no Afeganistão, onde inimigos medievais prevaleceram sobre o mais sofisticado exército do planeta.  

Apesar deste histórico, Biden persiste no diálogo ameaçador. Não busca a concórdia negociada entre parceiros,  mas sim um rol de exigências à inimigos, estes bem mais perigosos; no elenco vai-se à China, passando pela Rússia e chegando ao Irã. 

Contudo, Joe Biden hoje enfrenta um Mundo diferente daquele encontrado por seus antecessores mais distantes. O poder dos Estados Unidos, paradoxalmente,  diluiu-se a partir do colapso Soviético, centro de um império expansionista, abrindo espaço preenchido por novos players.

Hoje, tem-se um planeta dividido em quatro grandes blocos géo-politicos: no Ocidente, a America do Norte e a União Europeia; no Oriente, a Rússia² e a China.

O monopólio do Poder, não apenas Poder mas sim o Poder cataclísmico,  não mais pertence à apenas uma Nação. A plena compreensão desta constatação não mais permite o exercício do Poder Hegemônico, ao qual os Estados Unidos se acreditam ungidos. 

Nos dias de hoje, falar-se  em guerra torna-se cada vez mais arriscado. Washington, ao impor sanções e proferir ameaças, aumenta,  gradualmente, a temperatura bélica com estados providos de sofisticado e múltiplo arsenal nuclear.  

Estrategicamente  desequilibrados pelo crescimento econômico da China, por um lado, e pela da recusa da Rússia em submeter-se à expansão da OTAN no limite de suas fronteiras, os Estados Unidos caminham na direção de um contencioso que, se não bem dosado, poderá resultar em conflagração armada.           

A China, país com de um bilhão e meio de habitantes, não tem por opção senão a do desenvolvimento: empobrecer não é opção. Ou o standard de vida de seus habitantes dá um salto quantitativo ou se auto condena à um frágil e espoliada passado e no qual os Estados Unidos está presente. Não será realista supor-se a continuidade da submissão de outrora.

Ao Sul, sua integridade geográfica protegida pela imensidão dos oceanos, lhe permite a segurança contra incursões militares, contendo o risco à dimensão de escaramuças.  Quanto às suas fronteiras ao Norte, graças às boas relações com Moscou, estas não oferecem perigo.  

Porém, uma "linha vermelha", inegociável para Pequim, será  a permanência de Taiwan como "parte da China continental" ainda que sob um governo política e ideologicamente  diferente.   

Já, a  Rússia post Soviética, não mais tendo o antigo poder de conquista além fronteiras face ao duplo handicap que a limita, uma diminuta população (150 milhões) e uma imensidão geográfica a preservar (17,000.000 km²), segue ela a política que poderia chamar-se de Defesa Ativa. Antecipação e audácia são dois fatores prioritários na contenção dos Estados Unidos e da OTAN.

A retomada da Crimeia por Wladimir Putin após a interferência americana na Ucrânia, depondo o presidente pró Russia,  desfez a desastrada doação de Krushchev, cedendo a Crimeia à Ucrânia. Ainda, sua base militar na Síria que controla a aproximação ao Estreito dos Dardanelos, ilustra notável visão estratégica.    

Para o Kremlin, sua maior vulnerabilidade geográfica está nos dois Estados Tampão que hoje protegem, com tempo e espaço, sua fronteira ocidental; a Ucrânia e a  Bielo Rússia.  Assim, Moscou estabelece uma "linha vermelha", cruzá-la levará Moscou à resposta militar.

O elo mais fraco neste mosaico prece ser a União Europeia, que se confronta com uma progressiva perda de unicidade. A deserção da Grã Bretanha pelo Brexit revela um esgarçamento político com o "Continent", passando a compartilhar das prioridades dos "English Speaking People" comandados pelos Estados Unidos. 

Do outro lado do Canal da Mancha, não por acaso, as Chancelarias Alemã e Francesa já planejam a criação do exército Europeu, prenunciando uma alternativa à OTAN no seu atual formato. Um passo inicial na direção da plena autonomia quanto à política externa da UE.

Noutra dimensão, observa-se o gradual e crescente  distanciamento entre o Ocidente Europeu, onde Alemanha e França se destacam, e a Europa Oriental. tendo por protagonistas a Polônia e a Hungria. Diferenças se consolidam tanto no formato político quanto nas prioridades estratégicas. 

Por resultado tem-se uma União Europeia fragilizada na sua coesão política e fustigada pelo crescente conflito de interesse que o maniqueísmo USA-Rússia impõe. Sua estreita vinculação histórica aos Estados Unidos vem, paulatinamente, cedendo aos interesses econômicos que advém da China, onde está seu maior parceiro comercial, e da Rússia, de onde provêm sua maior fonte externa de energia.

Sem manter-se uma plena aliança com a União Europeia, os Estados Unidos terão sua liberdade de ação contida. A  possível neutralização do Velho Continente deixaria desprotegido o flanco norte-americano.

Tempos complicados; basta de Brinkmanship.


                                                            ----------------------------



1) Política feita à beira do precipício.

2) Cultura defensiva extremada por ser vulnerável do ponto de vista territorial (invasões sofridas: Mongol, Lituânia-Polônia, Tártaros,  Austríaca, Sueca, Francesa-Napoleônica, Anglo-Francesa, Alemã) 

1) Aos Democratas coube:  Woodrow Wilson, 1917 (Guerra Mundial I) --  Franklin Roosevelt, em 1941 (Guerra Mundial II). Esta foi a última guerra vitoriosa.

A partir desta data, e excetuando o curto conflito --  Harry Truman em 1950 (Coreia) --  John Kennedy em 1959 (Vietnam do Sul) -- Lyndon Johnson, 1965 (Vietnam do Norte).

Como exceção à regra, ao Republicano George W. Bush coube as guerras gêmeas do Iraque e do Afeganistão.  (1)

A operação punitiva ao Iraque em 1990 (George H. Bush), durou apenas 40 dias. O presidente iraquiano Saddam Hussein permaneceu no poder após o armistício.

domingo, 5 de dezembro de 2021

Os Trapalhões



Sem dúvida, o enorme sucesso dos Trapalhões foi merecido. Semanalmente o telespectador acompanhava as peripécias que Didi, Mussum, Dedé e Zacarias enfrentavam. Navegavam os absurdos que lhes surgiam, com humor, esperteza e, por vezes, inocência. Porém, nunca esquecendo que se  tratava de caricatura da vida real onde o despautério pode se tornar a regra do jogo.

Voltando ao presente, o brasileiro se depara com a versão política daquelas trapalhadas. Só que a sério.  A foto acima traz ao público novos Trapalhões, mas estes sem qualquer humor coletivo apesar do seu rictus gargalhante. Traz ela uma imagem desrespeitosa, rastaquera, galhofenta divorciada da persona que todo Homem Público tem por dever respeitar. Mormente quando se trata do Presidente da República e de um futuro Juiz da Suprema Corte.

Governar  o Brasil não é uma festa: é uma imensa responsabilidade. É enfrentar os desafios a pandemia, a pobreza, a recessão e a corrupção que hoje ferem o povo sob sua guarda. Este fatos não fazem rir.  São parte de uma existência que traz crescente angustia e insegurança ao cidadão. 

Nada há contra a alegria. Pelo contrário; para o bem da saúde do cidadão brasileiro é preciso preservar o bom humor, a alegria de viver, a satisfação de realizar. Porém, esta tolerância não se estende a manifestação pública de um regozijo que não encontra sustentação no exercício de sua missão. 

O Presidente é responsável pelo Bem e pelo Mal que decorre de suas ações políticas, esta tendo por base o respeito estrito à Ética e à boa governança.. 

Porém, atentos à fotografia, é fácil constatar que se desenrola um projeto de debilitação do Estado Laico predeterminado pela Constituição. Esta determina que um Ministro do Supremo seja pessoa de ilibada reputação e notável saber jurídico, cujas decisões sejam pautada pelas leis dos Homens e não das Divindades.

Pari passu à aprovação do Senado à candidatura de André Mendonça ao Supremo, a imprensa divulga  entrevista concedida por Robson Rodorvalho, líder Evangélico e íntimo do círculo presidencial. Nela desnuda-se um conteúdo político-religioso onde aflora a ambição de poder, tanto pessoal quanto sectário.

Argumenta o Pastor entrevistado que, representando o conjunto evangélico 30% (sic) dos brasileiros, merece ele idêntica representação no Congresso e nos Tribunais, tanto nas instâncias subalternas quanto no Supremo Tribunal Federal.  Argumenta o  Pastor:  "Porque o espaço (atual) não condiz com a nossa representação (sic) de 30% da sociedade brasileira." (!!!)

Ora, tal afirmação tem por indesejável efeito tornar uma confissão religiosa como se partido político  fosse, sendo sua abrangência, não resultante das urnas, mas, sim, decorrente de uma incidência demográfica.  Por consequência ter-se-ia a subordinação da Lógica pela Crença. 

Trazer a Religião para a Política é um retrocesso civilizatório só encontrado em Nações ainda manietadas pelo atraso. Vale lembrar os povos reféns da religião predominante, dentre estes, diversos países Muçulmanos. 



domingo, 28 de novembro de 2021

Reflexões Semitas


Submetida a proposta de criação do Estado de Israel em Assembleia Geral das Nações Unidas presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, recebeu ela aprovação majoritária. Reconhecia, também, o direito aos Palestinos de criarem sua Nação. A moção recebeu contundente maioria, validando a proposta que atenderia as duas facções Semitas. 

Relevante, contudo, foi a abstenção da Grã Bretanha que recebera, ao derrotar o Império Otomano na guerra 1914/1918, o mandato para governar a então denominada  Palestina, incluindo tanto o Israel moderno quanto a hoje denominada  Cisjordânia. 

Profundo conhecedor da geopolítica da região, Whitehall previa com clareza as ondas centrifugas que se formariam a partir de um projeto que, pela artificial e impositiva repartição de terras já possuídas, estar-se-ia redistribuindo e confiscando direitos centenários já estabelecidos. Cumpria, então, buscar-se o reequilíbrio das até então irreconciliáveis  forças econômicas, políticas, religiosas, culturais e raciais.

E quem habitava, ao término do Século XIX, a região que hoje engloba Israel e Palestina?  A melhor fonte para conhecer-se a evolução demográfica da região então denominada Palestina, provém dos registros oficiais do "British Mandate", cuja administração lhe fora designada após a derrota da Turquia em 1918. 

Importante observar a distribuição Árabe-Judaica (ambos Semitas) na região, tendo por origem a Diaspora dos Judeus em 70 DC, imposta pelos Romanos.                          

            Árabes         Cristãos      Judeus          % (Judeus/Palestinos)

1800      246.000      22.000          7.000        2,8

1890      432.000      57.000        43.000        9,9                (início do movimento Sionista)

1931     760.000      89.000      175.000        23,0  

1947    1.181.000   143.000      630.000       53,3               (véspera da criação de Israel em 1948) 

2006    1.330.000                   5.670 000       326,3             (inversão: maioria Judaica)

2020    1.890.000                   6.884.053       264,2

Estes registros oficiais revelam que desde a Segunda Diaspora, que se seguiu à expulsão do povo Judeu das terras de Israel pelos Romanos, foi ele condenado à busca, mundo afora,  de novo lar. Esta dispersão  deu-se, sobretudo,  no Oriente Médio, no Norte da África e na peninsula Ibérica. 

Os recém chegados encontraram guarida e inserção, mediante imposto específico, nas regiões e sociedades dominadas pelos Árabes, onde, apesar da diferença de crença, obedeciam ao princípio monoteísta por fazer parte do "Povo do Livro" que Maomé venerava.  

Já, no continente Europeu, ao tempo da  Reconquista Cristã (a expulsão dos Árabes  da Península Ibérica) instalou-se o pleno domínio da Inquisição e a resultante perseguição de Judeus e Muçulmanos. 

Ainda, de relevância histórica, tem-se o início do Movimento Sionista ao longo do Século XIX, promovendo a imigratório em direção às Terras Bíblicas. Terminada a Segunda Guerra Mundial (1939-45), palco do bárbaro genocídio Judaico, tem-se, em maio de 1948, a criação do Estado de Israel. 

Acentua-se, assim, o processo de absorção e aquisição das terras Bíblicas dando início à reconfiguração geográfica e demográfica da então Palestina, resultando na queda proporcional de árabes na composição demográfica em Israel (vide acima). 

Por outro lado, as terras alocadas pelas Nações Unidas à população Palestina não merecem proteção.  Ultrapassando as décadas que medeiam a criação de Israel e os dias de hoje, constata-se o ininterrupto sequestro de terras árabes na Palestina, sem amparo na Lei Internacional que regula a integridade da Cisjordânia Palestina. (ver mapas abaixo).


Exercendo o Direito do Conquistador, as regras sobre toda a região Palestina  (em verde, no mapa acima) são estabelecidas e impostas, direta ou indiretamente, pelo governo Israelense. Ainda hoje, o Estado de Israel promove continua instalação de novas "colônias" judaicas em terras de propriedade Palestina, assim desmontando sua continuidade e conexão geográfica, cultural, econômica e política. 

Em Israel, a densidade demográfica se acentua, oscilando hoje em torno de 400 habitantes por Km² - (113 para a França), revelando forte concentração. Por outro lado, a densidade na Palestina ultrapassa 800 habitantes por Km². Torna-se evidente que, a prosseguir o atual ritmo  de transferência populacional de uma para outra área, sérios prejuízos sociais, culturais, religiosos, sanitários e políticos, servirão de estopim para crescente violência.   

Com base nos dados acima, o acréscimo da população no território palestino, seja ele endógeno (taxa liquida  de crescimento populacional), seja exógeno (imigração-colonização israelense), resulta na  inviabilidade da atual tendência, dado ao esgarçamento sócio-econômico que o acompanha. 

Naquela diminuta região, tem-se 2.600.000  Palestinos e 420.000 mil "colonos" Israelenses, estes em contínuo crescimento. A prosseguir a imigração Judaica em direção às terras Palestinas, conforme formalmente anunciado pelo atual governo de Naftali Bennett,  parece razoável prever-se para breve um ponto de ruptura humanitária.


Mapa da densidade demográfica na PALESTINA (ex Gaza)
 Áreas habitadas  por Palestinos (base amarela/vermelho), a Azul sob controle Israelense. Revela a descontinuidade das comunidades palestinas causando grave dano humano e administrativo. 


Nota da Redação; A faixa de Gaza é propositalmente ignorada neste artigo face às condições sócio-políticas radicalmente diferentes daquelas existentes na Cisjordânia.                                           
 


  

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Roupa suja



Há um centenário ditado que diz: Roupa suja se lava em casa. As invectivas lançadas a partir do exterior pelos dois candidatos à presidência do Brasil em nada enalteceu a Nação brasileira. Porém, a viagem empreendida por estes dois políticos revelou como os dirigentes das grandes nações percebem o Brasil de hoje e seus representantes. 

Por bom motivo, pois, como diz um outro ditado, este em inglês: familiarity breeds contempt. A divulgação das nódoas e manchas íntimas  reduz o respeito alheio. E Respeito é um bem inestimável, gera capital moral que indica credibilidade, sugere confiança, fatores básico à todo projeto político.  Abrem portas ao dialogo e parcerias e fecham as janelas contra a intrusão da malícia. Preserva a unidade íntima e coletiva, seja ela familiar, seja política, potencializando a probabilidade de sucesso.

O Brasil não ganhou com esta disputa vociferante além fronteiras. Fossem mais patriotas, os querelantes teriam sido mais contidos.

Porém algo se apreendeu neste episódio. Constatou-se que o atual Presidente abandonou a audiência Europeia, que representa a nata cultural, financeira e comercial do planeta, intimidado pela reação negativa com que lá poderia confrontar-se¹. 

Preferiu visitar os Sheiks das Arábias para "vender", ou pedir, não se sabe bem o que. Resguardados por implacáveis regimes feudais, onde o assassinato de inimigos é soterrado sob opaca censura, Jair demonstrou simpatia e empatia. O que de lá trouxe de volta não se sabe; acordo comercial, investimentos relevantes para nosso país? Ou boas memorias de um belo passeio de motocicleta?

Enquanto Jair se esforçava, Lula, em hábito austero, expressão cordial porém contida, visitava os salões do poder europeu. Escudado na Esquerda do Continente e valorizado pelo respeito à Democracia,  assegurou recepção cordial. Recebido pelo futuro Primeiro Ministro Olav Scholz e pelo presidente francês, Emanuel Macron, Lula transmite ser uma persona madura, equilibrada, respeitada nos corredores do Primeiro Mundo, alheios às falhas do seu grave comportamento ético. 

Nada podia oferecer, nada prometer, mas sua presença relembrou a simpatia ao Brasil que sempre inspirou a Europa². A ovação recebida no Parlamento Europeu seria um mélange de apreço à um e desapreço à outro.

E a viagem terminou, ambos estão de volta. O que terá Jair Bolsonaro obtido para o país?  O que ganhou? O que perdeu? Fechou bons negócios, algum tratado, alguma promessa, algum acordo? Ou terá sido mero engodo para não submeter-se às criticas e antipatias europeias?


1) Interessante seria conhecer-se os memorandos do Itamaraty, preparatórios para a visita do Primeiro Mandatário às capitais Europeias.

2) O Brasil foi o único pais Latino Americano que enviou tropas para combater o Nazismo.


   

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

O Golpe já aconteceu

                                                                    


                                                               

Muito se ouve sobre a ameaça de Golpe de Estado que ronda a República. Bolsonaro, em inúmeras ocasiões, acena com ameaças à integridade democrática. Frases como "o meu exército", "não haverá eleição", "assim não dá" e outras exibem o animo totalitário do capitão que já tentou, no passado,  lançar bombas.

E, enquanto a atenção da sociedade é distraída pelas veladas ameaças, o Golpe já vem sendo desferido em ambiente aveludado, atrás das cortinas espessas da baixa-politica.. Em vez de recorrer aos Panzer e canhões de grosso calibre, a nova tática determina o "comer-se pelas beiradas". Os  Partidos esfomeados  por benesses encontram alimento na troca de votos, banqueteando-se na meia luz de emendas secretas.

Michel Temer, até então ator menor na cena política, revelou-se eficaz na correção do rumo estapafúrdio deixado por Dilma. No rescaldo das Pedaladas e do consequente Impedimento buscou em audaciosa PEC conter o insaciável apetite orçamentário dos governantes e resguardar o erário das aventuras inflacionárias.

Mas o Tenente, travestido em Capitão, cavalgando o lombo indócil da competição eleitoral, abocanhou o Poder mediante promessas não cumpridas. Da acenada Economia Liberal nada mais resta; Guedes, transformado em Sancho Panza de um Quixote aloprado, joga fora a chave do cofre após desmontar a fechadura.   

Para abrir mais espaços eleitorais, promove o calote "precatorial" sobre aqueles que tem, legitimamente a receber do governo. Abre, assim, o espaço pelo qual infiltra mais cem reais para o povão, àquele que desprezava quando vilipendiava o outrora Bolsa Família. Tudo pela reeleição. 

E surge nova figura, que toda a malícia anterior, tão presente no Brasil, não tinha, ainda, vislumbrado. Cria-sa, em aliança urdida pela dupla Lira-Bolsonaro, o Orçamento Secreto, onde emendas feitas à socapa, fazem a festa de poucos às expensas da República. Quem recebe? Não se sabe. Para que? Não se sabe. Quanto? Não se sabe.

Já já a balança da Justiça sentirá o peso de sua mão, ao substituir os Ministros do Supremo que se aposentam em futuro breve por seus "minions". Seguirão eles os passos firmes do Ministro Cassio com K.? Como atuará a Justiça com sua Venda e Espada nas mãos de Jair Bolsonaro?  Beware of Cassius, he is a lean and hungry man..."¹

E o golpe de misericórdia é desferido ao ingressar nas fileiras de um partido decadente, antes respeitado, que chafurda na iniquidade moral, arrastado pelo enlameado Waldemar.

Será um retrato ou um Meme que será pendurado nas paredes institucionais da Nação, quando em 2023 será entronizado Jair Mito? Dono das esperanças, não apenas daqueles mais primários que lhe dedicam devoção cega, mas daquela parte da elite que, para proteger seus anéis, perderão os dedos, e, talvez, o pescoço. 

¹) William Shakespeare - Julius César   


quarta-feira, 20 de outubro de 2021

"O Rei Está Nu"



O País se depara com uma nova realidade político-ideológica. Após toda uma carreira abraçado às teses da Economia Liberal de Milton Freedman, quando se escutava com frequência exclamações socialmente anti-solidárias,   o Posto Ipiranga agora troca o Verde tradicional pela cor Rubra das bandeiras socialistas.

Voltando um pouco no tempo, lembramo-nos do início do projeto assistencial em 2003 de autoria do Presidente Fernando Henrique Cardoso propondo recursos e estímulo ao estudo para as as crianças das classes destituídas de renda suficiente para se educarem. Em 2004, Lula encampa o projeto e o batiza de Bolsa Família, levando o auxílio à mais de 10 milhões de estudantes. Receber para estudar e estudar para receber era a regra recíproca.

No calor do debate pré eleitoral em 2018, onde Jair Bolsonaro e Fernando Haddad (herdeiro de Lula) se defrontavam, a extinção da Bolsa Família era uma das bandeiras do Capitão em prol do abandono dos gastos sociais e o  restabelecimento da plena meritocracia conforme a bíblia néo-liberal. Esta era, então,  erguida com ferocidade pelo Dr. Paulo Guedes, arauto da modernidade econômica e da supremacia do lucro como único motor válido para o desenvolvimento.

"Fast forward" e hoje aprendemos que na política a única lógica que prevalece é a da vitória nas urnas. O que outrora não passaria de "distributivismo comunista" para o receituário do Professor Guedes (e seu chefe, Jair Bolsonaro), nestes dias o novo plano Auxílio Brasil deverá substituir o comparativamente modesto Bolsa Família. 

A súbita sensibilidade social ora esposada pelo Ministro da Economia surpreende aos que seguem seus ensinamentos. Neste momento, o irrequieto Ministro da Economia vai bem além da generosidade social que tanto criticava; propõe a criação de um Fundo de Redução da Pobreza.  

Ainda, advoga a distribuição dos dividendos cabíveis à União, oriundos das empresas onde o Estado tem preponderância acionária em benefício da população desassistida. A abrangência destes programas assistenciais  aumenta a cada dia que passa, em irresponsável avalanche fiscal,  subsidiando desde o gás de cozinha ao combustível para caminhoneiros. Constroem formulas de curta duração, hoje favoráveis, amanhã onerosas. 

Hoje, o Professor parece inverter, para fins eleitoreiros, as teses até então por si difundidas onde a riqueza da sociedade  decorre da busca pelo lucro, onde o aumento da produção de bens e serviços e da crescente produtividade da economia Tudo o mais seria decorrência. 

E para tal Paulo Guedes advoga arrombar as portas Constitucionais² que limitam a dívida Federal. 

E porque criticar medidas que aliviam as dificuldades que enfrentam os mais pobres? Porque esta reviravolta ideológica? É simples, este auxílio nada mais é do que uma arma eleitoral, revelando falta de compromisso programático do governo Bolsonaro. Seja Direita, seja Esquerda, este revela  o  oportunismo que norteia seus atos tendo o Poder por meta 

Que assim seja, não surpreende o observador astuto, nem, tampouco, o cidadão atento. O desejo pelo poder é comum ao Homem Político, seja qual for sua matiz ideológica. Contudo, inúmeros fatos e atos, alguns abaixo citados, se unem para agravar a preocupação, senão alarme, que deverá trazer o pleito eleitoral.:  

- ameaça "virar o jogo" caso prevaleça a Urna Eletrônica, 
- intimida, publicamente,  juízes e ministros do Supremo Tribunal, 
- intimida e/ou coopta a Procuradoria Geral da República.
- interfere na ação imparcial da  Polícia Federal, 
- ameaça a imprensa livre, 
- coopta o "meu Exército" através de cargos e posições no governo,
- mobiliza  a classe dos caminhoneiros (capazes de paralisar a Nação) sob seu domínio
- se alia às Policias Militares dos diversos Estados da Federação
- promove o armamento indiscriminado do cidadão louvando "se necessário for, o povo em armas",
- cria um Estado Maior familiar, sob a proteção presidencial.
- pretende atribuir ao Congresso a designação dos componentes de Conselho da Promotoria Pública.  
- propõe uma "pedalada" fiscal a guisa de "Waiver"

Quantos exemplos serão necessários para constatar-se que "o rei está nu"? 



1) "Comunista" em "bolsonarês",  é todo aquele solidário com o sofrimento dos pobres.
2) Emenda Constitucional 95. 

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

O despertar...

  



     POSTAGEM RECEBIDA DE AMIGO NO FACEBOOK. AUTOR DESCONHECIDO. 



O CIDADÃO VOTOU NO BOLSONARO E, NA VOLTA PRA CASA, NESSE MESMO DIA DA ELEIÇÃO, SOFREU UM ACIDENTE. QUASE 2 ANOS E MEIO DEPOIS ELE ACORDA DO COMA E TEM O SEGUINTE DIÁLOGO COM A SUA ESPOSA:*
- Adamastor, meu querido. É um milagre! Você está bem, graça s a Deus!
- Madalena, o que aconteceu?
- Você não se lembra de nada, Adamastor?
- A última coisa de que me lembro foi ter votado no segundo turno da eleição.
- Isso. Nós sofremos um acidente na volta pra casa, Adamastor. Você estava em coma há dois anos e meio.
- Não é possível.
- Sim, meu amor. Mas eu sabia que você iria acordar, mais cedo ou mais tarde.
- Madalena, quanta coisa eu devo ter perdido. Me conta tudo. Onde está o Júnior?
- Tá em casa. Ele vem aqui depois. Você ainda não pode se emocionar demais.
- E meus pais? E a empresa?
- Enfermeira, será que não tá na hora de dar um calmante pra ele?
- Não quero calmante nenhum. Me fala, pelo amor de Deus!
- Tá tudo certo. Com seus pais, a empresa, com tudo. Juro.
- Ah, que bom.
- Agora descansa, tá?
- Madalena, só me responde uma coisa. O mito ganhou a eleição, não ganhou?
- ...
- Que olhar é esse, Madalena? Não me diga que foi o Haddad.
- Não é isso, é que...
- Ah, não é possível. O país deve estar um caos. Quanto está o dólar?
- Quase seis reais, mas...
- Eu sabia. Eu avisei. São ladrões e incompetentes. Sempre foram.
- Adamastor, na verdade o...
- Aposto que o Centrão controla o governo, né?
- Sim, acontece que...
- Tá vendo? Bolsonaro ia acabar com tudo isso. Com certeza a eleição foi fraudada. Eu avisei sobre as urnas eletrônicas.
- Você precisa se acalmar...
- Acalmar? Como? Quero saber de tudo. Como ficou o último PIB?
- Recessão de 4%, mas você tem que entend...
- Pior que a Dilma? Estamos no fundo do fundo do poço.
- Enfermeira, o calmante, por favor.
- Conheço a corja. A tendência é piorar.
- É o que parece, infelizmente. Mas voc...
- E os empresários? Como estão as pequenas e médias empresas? Aqueles desgraçados do PT devem ter arruinado todo mundo...
- Olha, meu bem...milhares já decretaram falência e até a Ford foi embora, só que...
- Minha nossa!!!! Então o desemprego e os preços...
- Sim, dispararam como nunca visto no país...um botijão de gás a cem reais, a carne a 40 reais o quilo, a gasolina por 6 reais, um pacote de arroz está 20 reais, mas fique calmo! Vc precisa saber que...
- Meu Deus do céu!!! Pelo menos não veio nenhuma calamidade sobre nós, porque sem governo com esses infitetos petistas no poder, imagine o que poderia acontecer de pior, né...por que vc tá com essa cara??? Ai, Jesus...fala, mulher! O que foi??? Vc está pálida?
- Bem...estamos vivendo uma pandemia mundial de um vírus letal e altamente contagioso. Só no Brasil já morreram mais de 400 mil pessoas, fora as subnotificações. O presidente brincou e menosprezou a doença. Até hoje continua rindo do drama das famílias. Até imitar uma pessoa morrendo ele já fez...Mas o presidente é na verdade...
- Um maldito comunista!!! Foi o que eu sempre falei! Essa gente come criancinhas no almoço!!!
- Meu amor! Se acalme! Vc está começando a passar mal!
- Esse miserável desse Haddad! Não foi por falta de avisos!!! Pra ver tudo isso eu preferia nunca ter acordado!!!
- Não chora, amor...calma!
- Não mente pra mim, Madalena. A essa altura o Lula tá livre e o moro virou bandido, não é?
- Como você sabe?
- Jesus! Agora é que essa gente não sai do poder nunca mais. A corrupção venc...
- Adamastor, se acalme...
- E o Bolsonaro nisso tudo, Madalena? Ele está liderando a oposição, não está? Me diga que ele está lutando por nós.
- Enfermeira!!!!!!! Traz um sedativo, urgente!!!
Autor desconhecido

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Sem Justiça, sem Brasil


     

                                                                    Aqui jaz Dna. Esperança


Uma sombra envolve o Brasil. A esperança, alento essencial à vida das pessoas e das nações, se esvai na penumbra de um futuro cada vez mais incerto.

Desde os primórdios de sua existência, o homem, o grupo, a tribo, a sociedade, a nação tiveram por elemento essencial a elaboração de regras de convívio e a proteção.  Para assegurar seu cumprimento, as foram as religiosas as primeiras leis, norteando e contendo o comportamento humano. Cada canto do planeta tinha a sua. 

Através dos milênios tais regras tiveram por objetivo a ordenação das prioridades comportamentais, seja em beneficio do indivíduo, da coletividade, ou, até, em prol da autoridade. Para dar-lhe sustentabilidade, era necessário que os benefícios que delas decorriam fossem aplicados de forma a priorizar o Poder, porém, concedendo aos súditos o necessário para manter a coesão da unidade politica. 

Ao aumentar a inter-relação dos núcleos humanos disseminados mundo afora, a comunicação oral foi aperfeiçoada pela escrita e, hoje, turbinada pela revolução virtual. A universalização de novos conceitos  alterou as prioridades políticas moldando, acentuando e atenuando as regras a serviço da sociedade como um todo. Fluindo dos filósofos  do Século XVII, tornou-se mais íntima a  inter-relação entre Povo e Poder, não mais concorrentes, mas sim partes integrantes do mesmo Ser Politico.  .  

Assim, estas regras primordiais transformaram-se nas  leis que hoje regem os países civilizados, e sua aplicação se faz através do sistema judiciário. A Justiça, como conceito,  torna-se o elemento primordial para a viabilidade e prosperidade e a perenidade de toda Nação. Não basta existirem regras, essencial é cumpri-las.

Hoje, assistimos a inoperância do judiciário no Brasil, este sabotado pela falência moral que atinge o ápice da República. Esta, manietada, insultada, desprezada, desacreditada tanto pelo seu povo quanto pelo Executivo e pelo Legislativo, cuja  composição se alimenta da crescente decomposição cultural do eleitorado   

Seu alcance é parcial, sua severidade é preferencial, sua compreensão é dúbia, sua execução  é excruciante na sua lentidão. Sua aplicação é contaminada pelo jogo de influências aliado ao colapso da ética que hoje domina o país.

O desmonte da Lava Jato, a diluição da Lei da Improbidade, a gradual contaminação do Supremo, a  interferência na desejável independência na ação da Polícia Federal, a paralisia acusatória da Procuradoria Geral da República, estes e outros atos fragilizam o edifício legal indispensável ao bom rumo da Nação 

Países não acabam, apenas se autocondenam à mediocridade, à feroz disputa entre micro poderes, como se disputassem os restos de uma festa malograda. Na medida em que a sociedade desvaloriza as regras que a regula tem-se, por consequência, a lei do mais forte, receita infalível para a frustração e comoção social. Os beneficiários da anomia monetizam as aspirações fracassadas. 

Boa receita para a emergência de governos radicais.

Ao passar pelo jornaleiro, chamou-me a atenção o obituário no jornal:

   .                          "Missa pela alma de Dona Esperança. R.I.P."

 

terça-feira, 5 de outubro de 2021

A lâmpada de Aladim


Somente um dinossauro nostálgico se posicionará contra os avanços da tecnologia, seja no campo financeiro, seja nos demais ambientes. O atual avanço tecnológico oferece condições de ampliar, acelerar, coletar,  absorver, analisar as informações relevantes de qualquer problema mensurável.

Porém, a tecnologia também lembra a "lâmpada de Aladim", cujo mal uso leva à caminhos insuspeitos e nem sempre desejados. De acentuada complexidade para o público leigo, tais inovações anunciam e propagam suas vantagens, ainda que também possam tornarem-se armadilhas.

Dentre outras, de inegável relevância é o surgimento da Moeda Virtual. Hoje, intermediários financeiros, incluindo até então respeitáveis bancos,   oferecem aos investidores (poupadores, sonegadores e especuladores) fundos de investimento lastreados nestas "ativos". Na realidade, não se trata de uma ativo real, na habitual concepção da palavra, mas, sim, de um "ativo abstrato", pois se embasa em formula matemática alheia a qualquer referência à valor bem como despido de qualquer lastro.

Leia-se, trata-se de "moeda" fictícia (vide Monopólio¹) sem qualquer valor intrínseco e destinada à perda total de valor, real ou putativo, terminado o jogo. E quando será o final do jogo que hoje rege estas "moedas"? A permissão, pelas autoridades financeiras, de que se promova publicamente a busca e captação de poupança popular para investimento em ativo abstrato que caracteriza a moeda virtual, aproxima-se da irresponsabilidade criminal.

Ora, dir-se-á que após a abolição do lastro-ouro que outrora sustentava o "dollar" norte-americano, o valor, ou cotação, das moedas perderiam seu parâmetro específico, entregues às oscilações da subjetividade. Não muito diferente dos Ethereum ou Bit Coin... 

Contudo, o valor fungível das moedas nacionais estará intimamente ligado ao desempenho econômico, financeiro e político, sendo sua emissão compatível com a atividade financeira da país emissor. Nação  estável nestes quesitos resulta em moeda estável. O inverso também ocorre. Transformar ou equiparar  a moeda virtual a ativo fungível redundaria em desorganização monetária e descontrole no seu estoque.  

Ainda, do ponto de vista sócio-econômico, a moeda virtual é uma ficção, pois nada cria e em nada contribui para a sociedade. Enquanto a moeda tradicional  é um instrumento de viabilização de comercio e investimento, ou seja, criação de riqueza, já a cripto-moeda é um fim em si mesmo, sem consequência produtiva. Sua "personalidade" como instrumento financeiro é estéril. Em nada contribui para o beneficio da sociedade.

Ao aumentar sua disseminação como instrumento pseudo financeiro, crescente número de "investidores" e de recursos fragilizam a estabilidade da economia como um todo   uma vez que, no momento em que se constate "estar o rei nu", as perdas econômicas podem transformar-se em catalizadores depressivos de impacto multiplicador. Se assim for, justo indagar-se onde estavam as autoridades monetárias ao autorizar tamanha especulação?

Se por uma lado a moeda nacional é essencial ao desempenho eficiente de uma economia, tanto dentro quanto fora de fronteiras, um "bit coin" em nada contribui para a riqueza nacional pois ampara, no anonimato, uma riqueza subterrânea, protegida da sociedade e do fisco. Uma riqueza que não contribue para com a responsabilidade que todo o cidadão deve à sociedade.

Escondida atrás do"glamour" tecnológico e inovador e, até hoje, merecendo guarida irresponsavel das autoridades monetárias mundiais, que lhe dedicam "vista grossa", dá-se livre e crescente curso à um instrumento que, longe de beneficiar a sociedade, promete causar-lhe grave dano no futuro.   

A inevitável adoção de regras limitadoras e constrangedoras às moedas digitais  pelos Bancos Centrais e agências tributárias  mundo afora, estas respeitando suas obrigações para com a isonomia financeira e fiscal essencial à qualquer ente político-social,  prenuncia  crescentes prejuízos para tais especuladores e para a sociedade em geral. 

Quanto mais tardar a correção de rumo maior será a dimensão do dano.


 1) Jogo sobre especulação imobiliária,  muito popular em meados do Século XX, onde imóveis eram negociados pagando-se em moeda fictícia.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Justiça ou Coação?






Mais uma nova formulação jurídica é inaugurada no âmbito da política-externa Norte Americana. A Sra. Meng Wanzhou, Vice Presidente financeira da Huawey, destacada empresa chinesa na área eletrônica, está encarcerada em Vancouver pelas autoridades Canadenses desde 2018 a pedido de Washington.

Enfrenta a Huawey processo na Côrte americana, acusada de roubar patentes americanas e negociar "ilegalmente" com o Irã, este submetido à embargo pelos Estados Unidos. Pela lei americana, trata-se de crime, submetendo todo e qualquer "infrator" (seja qual for sua nacionalidade ou residência) que comercialize com a nação Persa à ira judicial norte-americana. 

Tal procedimento adotado por Washington contraria frontalmente a lei internacional, uma vez que o crime de negociar com a nação persa não encontram guarida nos estatutos e procedimentos das Nações Unidas, não tendo aquele organismo  aprovado tal embargo. 

Perdida sua liberdade e submetida à humilhação pública a Sra. Meng Wanzhou enfrenta nova etapa do processo contra ela dirigido. Acusada de obstruir a justiça, roubar segredos comerciais, e violar o embargo contra o Irã, o Ministério da Justiça norte-americano concedeu à Sra. Meng o "beneficio" de soltura mediante adiamento do processo e, assim, para que possa  retornar à China. Porém, tal concessão  tem por preço a confissão da Ré, reconhecendo ter cometido o crime que lhe é imputado!

Tal desdobramento evidencia surpreendente farsa jurídica, onde a liberdade sonegada é restituído pela condição de assunção de Culpa pelo pretenso Criminoso! Ora, tal procedimento evidencia a prática de  Crime de Coação pelas autoridade norte americanas. Por sua vez, a Ré, ilegalmente detida e despida de sua liberdade não terá alternativa senão reconquistá-la, mesmo ao preço de "confessar" crime não cometido!

Este episódio revela à que ponto a atual confrontação com o "império do Meio" vem toldando o bom senso e a imagem dos Estados Unidos. O "Soft Power", outrora um dos grandes trunfos da política internacional norte americana, se torna, progressivamente, em "Unreliable Power". Ele se volta não tão somente contra os seus inimigos, mas, conforme visto há pouco¹, também contra seu aliados.

Além da supremacia econômica e militar, os Estados Unidos manteve no passado uma imagem bondosa e justa ao dominar as comunicações e notícias internacionais através de pervasivas redes internacionais, suas aliadas, . Hoje, tal domínio se enfraquece e se esgarça, tanto pelo crescimento de outros polos de poder (chinês e russo) quanto pela multiplicidade e ubiquidade das redes sociais não subordinadas à Washington, assim provendo ao público maior diversidade de informação e opinião.

Washington, neste episódio, lembra o mal que traz a prepotência e o hubris. Estes, obnubilam o essencial equilíbrio que impeça a gestação de um mal maior. 

1) Vide o affair Aukus.

 

domingo, 19 de setembro de 2021

Retorno à Guerra Fria

                                                                    





Tirando um inesperado coelho da cartola, Biden revela ao mundo uma nova formula estratégica para os Estados Unidos, o auto-proclamado garantidor da segurança internacional apesar das inúmeras guerras de sua autoria. Neste novo quadro a prioridade  norte-americana passa da Europa para o Pacífico. O título de "maior hostis" passa da Rússia para China; o Urso russo é substituído pelo Dragão Chinês.

Com um simples "léger de main", um submarino nuclear, tal qual peça do xadrez antecipando movimentos futuros, altera o tabuleiro geopolítico, impondo aos jogadores urgente revisão de suas prioridades.

A implementação desta nova estratégia, embora tomada anteriormente, só agora foi divulgada aos parceiros. Assim, lícito dizer-se que houve um elemento não só de desrespeito protocolar aos aliados europeus como, também, gerou-se substancial e inesperada mudança na extensão das responsabilidades político-militares comuns até hoje existentes. Tal alteração impõe a estes aliados profunda revisão estratégica.  

A defasada divulgação da formação da Aukus revela uma nova aliança militar que se sobrepõe à aliança já existente e turva a relação entre os membros da OTAN e suas obrigações neste novo contexto. Confrontados os europeus com o novo e substancial desafio assumido pelos Estados Unidos, altera-se, de forma relevante, o equilíbrio na alocação de prioridades politico-militares, recursos monetários e bélicos aos demais componentes da OTAN, sobretudo no que toca aos Estados Unidos.

Hoje, os parceiros da OTAN se propõem, conforme seus termos, a socorrer militarmente qualquer de seus membros quando atacados. Estariam as nações europeias dispostas a participar de conflito militar com a China iniciado ou provocado por ações da Aukus? 

Confrontados com este novo tratado, os membros da OTAN  assumem indiretamente e sem sua anuência prévia,  um risco potencializado além dos limites politicos e militares do continente. Não mais se trata de participar em missões na Bosnia, no Iraque, no Afeganistão; mas, sim, correr o risco de confrontação com a China, hoje a segunda potência mundial. e seus eventuais aliados, vide  Rússia.

Hoje, a OTAN, após o retorno à  insularidade da Grã Bretanha,  tem na França e na Alemanha, seus  principais representantes europeus continentais. Face à atual indefinição política  Alemã devido às eleições iminentes, coube à Emanuel Macron demonstrar a preocupação da França e da Europa quanto à forma e a substância da decisão norte-americana.  A retirada de embaixadores indica o alto grau de repúdio, o qual não deveria ser desprezado pelas partes envolvidas.

Ainda mais relevante, à sombra destes recém celebrado tratado, se desenha um crescente perigo para a humanidade face à uma aliança militar que coloca o Ocidente contra a China. Os Estados Unidos, tanto no longínquo passado quanto no presente, já evidenciaram em diversas oportunidades quão pouco sabem prever as reações de adversários asiáticos. 

Nos idos do Século passado, Washington não soube estimar a reação do Japão após o bloquear seu acesso ao petróleo, desdenhando a reação nipônica. Ainda, subestimaram a reação da China quando da guerra da Coréia. Novamente, foram surpreendidos pela reação do Vietnam do Norte que lhes levou à derrota. Faz um mês concederam a vitória aos Talibãs após uma guerra de vinte anos.

E até onde irá a expansão desta recém criada aliança? Apesar de engendrada dentro dos limites dos "English speaking people", mais provável será que aliados potenciais como a India, o Japão e a Coréia do Sul sejam, no tempo, cooptados, assim ampliando a ameaça sobre a China bem como o risco de  reação armada. 

O "casus belli" ora sendo arquitetado pelos Estados Unidos carece de credibilidade. Esta hostilidade vinda de Washington não tem por base ameaças vindo de Pequim contra a integridade de outras nações, mas, sim, pela recusa, que se revela obsessiva, de aceitarem os Estados Unidos a expansão econômica de um estado soberano até hoje respeitador das "regras internacionais". 

A  prevalecer o que licitamente se pode definir como "histeria competitiva americana", o clima "beligerandi" progredirá gradativamente, acentuando a probabilidade de conflito armado de escala nunca vista.  

Prudente lembrar-se que esta nova aliança nasce sob o signo de um Submarino Nuclear.

P.S.  Vale lembrar o conflito infindável entre o Ocidente e a Ásia descrito no livro de George Orwell, 1984.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Um novo Bolsonaro?




Seguindo um roteiro adrede planejado, Jair Bolsonaro testou a temperatura política e a encontrando propícia face as grandes manifestações de apoio no dia 7 do mês, lançou seu apelo: enquadrar o STF à sua vontade. Ou por bem, ou por mal. Como bom pupilo de seu mentor, Donald Trump, procurou desestabilizar o ordenado processo republicano. Atacou o cerne da Nação: a Justiça.   

E porque tal oposição ao magno tribunal? Porque será ele o único obstáculo intransponível em sua caminhada para o governo autoritário que o Capitão almeja. Contando com a cumplicidade do Centrão no Congresso, Jair pretende governar através de Medidas Provisórias engendradas nos gabinetes no Planalto. Parte do projeto, obtendo anuência de ambas as Casas, a custa de concessões do agrado de seus apoiadores, tanto na Câmara quanto no Senado, alcançaria o Presidente um regime de Fato totalitário, senão de Direito.  

Face a este pano de fundo, reforçado ainda, pelas grandes manifestações populares onde o conspurcado Verde e Amarelo revelava uma intensidade ideológica, lançou-se El Supremo, em fiel exemplo  encontradiço nas repúblicas bananeiras da América Central, nas águas turvas da imposição política. Expeliu um rosário de ameaças enquanto se declarava vítima. Ao final do dia sentia-se seguro, quase vitorioso; missão cumprida, Daí em diante o caminho se abria...     

Na sua diatribe não deu-se conta, Jair Bolsonaro, do obstáculo dentre os demais Poderes da República que se lhe antepunha. Tanto o Legislativo quanto o Judiciário reagiram à agressão. Tanto a Câmara sob  Lira,  seguindo a máxima que rege o Centrão, "bom malandro não chia.", quanto  o mais sóbrio Senado, sob Pacheco, exigiram respeito à Democracia e repúdio à violência tanto verbal quanto  implícita do Planalto. Já o Judiciário, alvo da agressão, mostrou suas garras. O Ministro Luiz Fux respondeu com vigor, fazendo antever o perigo de persistir o Presidente na direção até hoje delineada.

Ficam as Forças Armadas (leia-se Exército) em situação de extrema delicadeza, Seja qual direção tome, encontrará forte oposição, oque recomendará ao Alto Comando, um low profile. Porém, pode-se dar por certo que nas intimidades do poder militar agrava-se o debate político ideológico, quanto aos próximos passos. Ou melhor, qual o tom a tomar perante o público. 

Reeditando a história, onde um Cabo do exército mobilizou os apoiadores vestidos  de Suástica pretendendo tomar o poder na Alemanha, o Capitão Jair tentou imitá-lo.  A  expectativa do Capitão, aparentemente bem urdida, contando com o apoio de suas hostes fantasiadas de "Brasil", dos caminhoneiros e dos policiais infiltradas e disfarçadas, não tiveram por consequência o fator catalizador que seria o da violência. Assim esvaziou-se o conflito planejado, o pretexto necessário  para a tomada do poder... Faltou o detonador para a explosão planejada.

Já, hoje, o país tranquilizado pela neutralização do radicalismo, da paz política,  e confrontado com o fracasso de sua tentativa de ruptura constitucional, Bolsonaro "enfia a viola no saco" a espera de nova oportunidade. Promete que, doravante, será "bonzinho". 

Contudo, o custo ao Brasil deste 7 de setembro foi alto. Internamente reduziu-se a confiança do setor econômico de forma relevante no governo Bolsonaro. Os mercados internos, financeiro, bursátil e cambial, expressaram seu grande incômodo. No exterior, tanto no político quanto no econômico constata-se relevante desconforto. Até que ponto promessas de bom comportamento trarão a necessária confiança?

Torna-se essencial que se tenha razões para desconsiderar o que parece ser o perfil psicológico do líder da Nação. Para tal, tanto Bolsonaro quanto sua equipe e, ainda, os diversos "0"s que o cercam, terão que pautar seu comportamento dentro das "quatro linhas" do amplo interesse nacional e do diálogo civilizado.. Qual a probabilidade para que assim seja?  À ver...

terça-feira, 31 de agosto de 2021

A derrota impensável

                                                                           Adeus 

                                                          

Hoje, 31 de agosto de 2021, o presidente  dos Estados Unidos vem a público se vangloriar pela eficiência demonstrada ao administrar a sua retirada de uma guerra  de 20 anos! Quase uma fuga, deixando aliados afegãos e incontável equipamento no campo de batalha.  "On aura tout vu!".

Mas são dois os derrotados; o colosso norte americano e a sociedade afegã que,pela segunda vez em sua longa existência adotou o estilo de vida Ocidental. Os Estados Unidos terão dias melhores pela frente, já os entregues aos vencedores teem diante de si um futuro negro onde riqueza e vida estão em jogo. 

É trágico ver-se a preocupação da imprensa sobre a sorte das mulheres afegãs condenadas ao retorno ao obscurantismo e semi escravidão da  Sharia¹. No entanto, já em 1979, faz uns 40 anos, a mulher afegã já tinha conquistado esta liberdade. 

A instalação em 1978 de um novo governo em Cabul, sob a égide da Rússia, teve por resultado a extinção das leis islâmicas, tornando o governo laico e dando o primeiro passo na emancipação feminina. Não mais seria ela sujeita à ditadura masculina, recebia o direito ao estudo, à profissão, à vestimenta que bem lhe aprouvesse. Tinha ganho sua liberdade pois nem as leis distributivistas comunistas foram adotadas. O programa de auxílio vindo de Moscou financiava tanto estradas quanto escolas, e o novo exército Afegão.

Porém, após 14 anos de sua implantação, este projeto de inegável modernização desmoronou graças aos imperativos da Guerra Fria, onde as populações nada mais eram do que peças descartáveis no Grand Game face às prioridades geo-politicas.

Assim, formou-se a aliança dos Estados Unidos da América, cooptando os "mujahedin"² que reuniam os guerreiros engendrados pelas crenças medievais e na treva ideológica. Por um lado estes davam suas vidas quando necessário enquanto eram financiados e municiados pelos cofres da CIA. 

Vitorioso, o governo Talibã seguiu seu rumo sem que os mestres de política externa em Washington, conhecidos pela sua miopia, previsse a intrínseca incompatibilidade que condenava a perenidade de tal aliança. E assim foi. Os Talibãs, aliados a Bin Laden, este executor  da tragédia das Torres, o óbvio revelou-se (oxymoron?). Washington e Cabul eram inimigos, não aliados. 

Vinte anos depois, esta triste história, que não parece ter fim, encerra um importante capítulo. Relata a derrota do moderno pelo medieval, do impulsivo pela resiliência, do racional pelo ideológico, da riqueza pela vontade. Qual o rescaldo político dentre aliados e inimigos potenciais?  Qual a confiabilidade dentre os atuais e futuros protagonistas?

A meditar... 


1. Lei islâmica

2.Guerreiros islâmicos


      

Ò tempora, o´mores

Ó tempora, ó mores!

"Até quando seremos forçados a viver tempos deploráveis?" perguntava-se Cícero, pergunta-se  o cidadão João  Silva.


Colapso da Justiça - Lava Jato desmontada, Lei da Improbidade. Não mais prisão na 2a. Instância.

Colapso da Educação - Nos níveis primários e a corrupção intelectual das redes sociais

Colapso da Política - O assalto do Centrão ao poder em aliança com o Executivo

Colapso da Diplomacia - A perda de respeito que o Brasil sofre perante a comunidade internacional.

Colapso da equidade social - A brutal concentração de renda, relegando as camadas pobres à                                                                 subsistência precária

Colapso da segurança pública - A contaminação política na Polícia Militar.

Colapso da segurança do Estado - A politização do Exército

Colapso do auto respeito e do orgulho nacional.  

                                     ------------

Por resultado tem-se a entronização do cinismo e do auto proveito. 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

O debacle Afegão


O General Eisenhower já dizia: "Os Estados Unidos não devem se envolver em guerras terrestres na Ásia". O tempo tem dado razão ao velho General/Presidente. Voltando ao passado. os diversos conflitos no Oriente  não resultaram em vitória desde a guerra contra o Japão. Em todos os casos custaram, em vidas e dinheiro, muito além do esperado.

No conflito com os Japoneses, em três anos  41 mil militares americanos morreram e 145.000 foram feridos. Não fosse o uso de duas bombas atômicas, a perda de soldados  americanos teria ido muito além. A campanha na  Coréia resultou em empate após a entrada do Exército Chinês no conflito. No Viet Nam foi uma  derrota americana, com mais de 50.000 GI's mortos e 200.000 feridos. No Iraque, o que parecia ser um "passeio" custou a vida de 4000 soldados e dezenas de milhares feridos, tanto física quanto mentalmente,

Já a guerra no Afeganistão, perto de  3500 americanos morreram e 20.000 resultaram feridos. Já, seus aliados afegãos tiveram  mais de 60.000 mortos. Estima-se 50.000 Talibãs mortos. Além destas baixas humanas, custou aos Estados Unidos  mais de dois trilhões de dólares. 

Tivesse Washington, em 2001, usado uma modesta parcela deste enorme capital lastreando um  esforço diplomático junto às lideranças Talibãs, visando a expulsão, ou até mesmo a prisão de Bin Laden, qual teria sido o resultado?  Por outro lado, ao preferir o recurso ao ultimato, na presunção da eficácia de uma cirúrgica operação militar, deixou o Talibã sem opção política. Por consequência iniciou-se uma guerra que durou vinte anos com um país não longe da Idade da Pedra (excluindo-se os Kalashnikov). 

Por outro lado, não se pode desprezar o fato que o fanatismo esposado pelos Talibãs e a justa indignação dos Estados Unidos tornava difícil, senão impossível, chegar-se a um acordo racional.

E qual terá sido o resultado da mais longa  guerra empreendida pelos Estados Unidos? Se visto pelos olhos norte-americanos, estarão seus interesses naquela região mais protegidos hoje do que em 2001? A resposta parece ser negativa.  Uma análise post conflito sugere forte redução da influência de Washington na região, esta de considerável importância geopolítica. 

A perda de suas bases militares no Afeganistão reduz significativamente sua eficácia militar ao norte do Oceano Índico, abrindo as portas para uma aliança mais eficaz entre a China e o Paquistão, assim impondo à India, que oscila entre a neutralidade e o engajamento como Estados |Unidos, mais um fator de contenção. 

Ainda, se desfaz o obstáculo militar americano à um movimento político-militar da Rússia na direção Sul, influente que é na região dos "Stãos".¹ Aproxima, também, Moscou à Teerã e à Islambade, ambos seus antigos clientes na corrida armamentista e no sentimento antiamericano.

O Irã, além da perda de prestigio americano, ve-se livre da vizinhança de tropas americanas em sua fronteira Leste. Quanto aos perigos que a vitória Talibã lhe traria, este não parece ser excessivo, um vez qua sua população Xiita pouca empatia tem com os Talibã Sunitas. 

O Paquistão se vê livre da ingerência norte-americana  para aprofundar sua influência junto aos Talibãs, lhes permitindo melhor contrariar pretensões da India, sua inimiga, junto ao  governo de Cabul. Inversamente, à India a derrota norte-americana anula um aliado na região, reduzindo as vantagens antes vislumbradas.

A China vê-se entre dois dilemas. A proximidade de sua província do Xinjiang, de população muçulmana, corre o risco de contaminação do radicalismo religioso.. Porém, excluídos os americanos do Afeganistão, suas ações ativas ou passivas de contenção ou ação ganham mais liberdade. Maior cooperação econômica compensará boicotes esperados do campo Ocidental. 

A Rússia exulta com a saída norte-americana, pois livra seu "underbelly"¹ de uma presença incômoda, onde bases americana teriam grande importância estratégica. Por outro lado tal benefício de curto prazo não elimina o  perigo de ter um Islã fundamentalista infiltrando-se nas nações "tampão"¹ que lhe protege ao sul de suas fronteiras.  Porém, na soma algébrica de seus interesses, o saldo parece positivo. 

Mas como ficam os aliados da OTAN, muitos dos quais juntaram-se à empreitada norte-americana. Grã Bretanha, França, Alemanha e outros europeus? Qual o balanço humano, militar, político? Como agirão face à uma ocorrência militar futura  em que suas tropas sejam cooptadas sob o comando norte-americano?   

Resta a pergunta: as brasas que ainda ardem nas relações dos dois beligerantes poderão reacender-se? Até que ponto a instauração de um regime brutal não insuflará a indignação Ocidental? Afinal, o poder aéreo americano pode obliterar o inimigo, inviabilizar a  nação Pashtun. 

O "animus beligerandi" não  parece ter sido extirpado da atitude de Washington, ao vedar a transferências dos 10 bilhões de dólares em  reservas cambiais depositadas em seus bancos a pedido de Cabul? Resta, também, a repatriação dos "hospedes" de Guantanamo, etc...etc...  E como agirão no futuro aqueles estados periféricos que se aliam à grande potência ao risco de serem abandonados à própria sorte?

E assim continua o Xadrez internacional. Uma nova partida está para começar, onde os Estados Unidos perde importante peça uma vez que o Afeganistão também é uma das portas de acesso ao âmago da Euro-Ásia, a maior massa terrestre do planeta Terra. Abre o caminho à China, que através de sua Belt and Road, inicia a conquista do rico corredor que conecta a Europa, a Rússia (um continente per se) o Oriente Médio e a Ásia.

Este corredor terrestre inaugura uma alternativa para a outrora essencial rota marítima, onde as potências Ocidentais (vide Estados Unidos e Grã Bretanha) exerciam o seu domínio e estabelecia o pedágio econômico e militar para o acesso ao Oriente. Não mais, O jogo está mudando.  

(1) Uzbequistão, Quirguistão, Casaquistão, Turquemenistão, Tajiquistão. 










domingo, 15 de agosto de 2021

Reset na Política Externa


                                                                            O Itamaraty na sua origem

A correção de rumo da politica externa brasileira vai demorar. O retorno ao respeito conquistado pelo Itamaraty ao longo dos lustres passados, que abrangem os tempos do Império, tardará.

Hoje, o Brasil esta diplomaticamente isolado dos relevantes blocos de poder.

Por resultado da política externa abraçada pelo Governo Bolsonaro, o Brasil se encontra sem aliados politicos, conta, apenas, com parceiros comerciais. Tendo colocado todas suas fichas no tabuleiro de seu alter-ego, Donald Trump, o Tenente/Capitão teve por efeito destruir o já feito e descurar do à fazer.

A junção de duas condições, a ignorância e a ideologia, move montanhas. Na direção errada. O "guru" Olavo de Carvalho, contaminando a prole Bolsonaro bem como seu patriarca, infiltrando-se no Itamaraty, teve por resultado a desconstrução da diplomacia brasileira visando uma "tabula rasa" denominada "terra-planismo". Tiveram sucesso, às custas da nação.

Ao dividir-se o planeta em zonas relevantes  pode-se observar que as relações brasileiras estão prejudicadas nos principais polos de poder; os Estados Unidos, a União Europeia, a China. 

A incúria ambiental do governo Bolsonaro tem prejudicado suas relações internacionais tendo em vista a importância da Amazônia no âmbito global, tornando o Brasil o principal vilão. Com se não bastasse, do ponto de vista bilateral, as relações com o governo Biden estão arreganhadas pelo apoio subserviente ao seu antecessor, Donald Trump, e pelo tardio reconhecimento de sua vitória eleitoral pelo presidente brasileiro.

Quanto à aceitação da União Europeia ao tratado proposto pelo Mercosul, este encontra forte resistência liderada pela França, a maior competidora regional no setor agrícola europeu.

Já, as relações com a China, de insuperável importância para a economia brasileira, são elas continuamente fustigadas pela liderança brasileira, seja por pronunciamentos inamistosos, seja pela recusa de dar andamento ao projeto 5G de inegável interesse brasileiro. 

Contudo, a bem vinda luz ao fim do túnel surgiu com a "demise" de Ernesto Araújo, hoje substituído por um Chanceler "normal"; porém, muito falta para otimizar os tradicionais canais político-comerciais. Onde buscar a complementariedade internacional?  Nas relações do Brasil com os demais países, quais os objetivos mútuos, quais as alianças que o favorece, quais os países concorrentes cujo poder e ação podem ajudar ou  tolher as metas nacionais?   ...e por aí vai...

Estas indagações formam o pano de fundo sobre o qual deverá o Brasil buscar recompor, tanto a intensidade quanto a qualidade necessárias ao "reset" de suas relações com os Estados Unidos de Joe Biden. O Presidente Bolsonaro terá que reinventar-se, abandonando suas preferências ideológicas e  subordinando-as à realidade, dentro de um quadro de respeito mútuo.

A recente visita ao presidente brasileiro por Mr. Jake Sullivan, funcionário do Conselho de Segurança norte-americano revela forte assimetria no campo protocolar. Foi um mal sinal que sugere a atual fragilidade nas relações entre os dois países.

A mensagem trazida por este emissário, como se bonus fosse, de eventualmente incluir o Brasil ao tratado da OTAN em troca de retomar o governo brasileiro a imprescindível proteção ambiental levanta sérias dúvidas, uma vez que não fica claro qual o benefício oferecido. Pelo contrário, pareceria trazer previsível  ônus.

A conveniência ou inconveniência de vir o Brasil participar em aliança bélica, que visa interesses  distantes e alheios ao Brasil, acende uma luz de Alerta. Vale lembrar que a política militar de Washington vem sendo fonte de incontáveis dissabores e arrependimentos, arrastando consigo uma plêiade de aliados frustrados. 

É chagada a hora de vir Jair Bolsonaro, com a devida assessoria, cortar o Nó Górdio causado por  ilusória política externa, embasada em ficção e que, por resultado, colheu  a animosidade internacional. 

Não é possível  refazer os laços com esta comunidade senão derrubando muralhas e construindo pontes.



terça-feira, 3 de agosto de 2021

FUNDO ELEITORAL




O debate sobre o Fundo Eleitoral chama a atenção da opinião pública: como justificar o gasto de recursos públicos, estes já exauridos, para auxiliar a eleição de deputados e senadores? Qual o raciocínio que justifica tal gasto como sendo do interesse do processo eleitoral e da democracia? 

Porque o Governo leva a Nação à despesa equivalente à  5,6 bilhões de reais (1 bilhão de dólares!) neste Fundo quando prioridades sociais, tais como saúde, ensino, transporte clamam por recursos para suprir endêmicas insuficiências em áreas prioritárias ao cidadão? Para ilustrar o despropósito, faz poucos dias o Ministro de Economia sustou a verba de 2 bilhões de reais necessários ao IBGE para compilação dos dados que sustentam as políticas públicas do país.

Não há como justificar tamanha generosidade ao estamento político, a não ser que o poder concedente, liderado pelo Presidente da República, dele espere reciprocidade, senão subserviência,  para seus projetos políticos. Ainda, até que ponto está imensidão de dinheiro será destinado ao interesse comum ou terá uma função distributiva dentre os políticos.   

Ilustrando a falta de responsabilidade e bom senso, a pesquisa pelo Instituto de Matemática Aplicada (IMPA)  revela ser o governo brasileiro  "medalha de ouro" no valor da alocação orçamentária em campanha eleitoral. Ocupa liderança inconteste, superando o Mexico e a Coreia do Sul em mais de 100% e os Estados Unidos e outros países europeus  em mais de 50 vezes. 

O conceito de buscar-se nos  recursos orçamentários, estes oriundos dos milhões de contribuintes dentre os quais a esmagadora maioria é financeiramente modesta, gera uma deturpação política. A aplicação destes  recursos durante a campanha eleitoral dificilmente encontrará compatibilidade entre os interesses do modesto doador coagido e o beneficiário final das eleições.   

Ainda, o sistema vigente, ao privilegiar a alocação dos recursos de acordo com o tamanho dos partidos conforme constatado na eleição anterior, parece beneficiar o "status quo" no compartilhamento do poder político. Em vez de facilitar a atualização de novas visões sociais e políticas tendo por base o surgimento de novos fatores que emergem no passar do tempo, engessa-se a evolução.  

De fato, o Cidadão delega ao Estado o direito de manipular seu voto. O passado tem revelado quão inapropriadas são as "jaboticabas" engendradas pelo setor público brasileiro. Este episódio, tanto nos objetivos quanto nos valores envolvidos,  não revela paralelo nos países desenvolvidos. 

Ao ver desta coluna, não deve ser concedido o financiamento das eleições  pelo Estado. Deveria tal  apoio financeiro limitar-se às contribuições do setor privado, pessoas, empresas e sindicatos,  obedecendo limites quantitativos e sujeitas à plena transparência conforme ocorre em outros países respeitáveis. Aos políticos, que busquem o reconhecimento público na aprovação de seu comportamento pessoal e político.



terça-feira, 27 de julho de 2021

PEC 21 - 2021




A questão aflige a Nação há tempos. Os mais variados, e respeitáveis autores já vêm alertando a opinião pública para os perigos  que decorrem de ter-se Militares da Ativa em governo civil.

É oportuna, portanto, a proposta apresentada pelos partidos verdadeiramente democratas regulando a participação de militares da Ativa no governo. Reservando sua participação à orgãos especificamente ligados às Forças Armadas, a PEC 21, ora em elaboração para apresentação ao plenário do Congresso, as preserva da inconstância, balbúrdia e contradições (e até mesmo atentados à ética) que caracterizam o jogo político na esfera civil.

O General Braga Netto parece ter assumido a missão de mandar recados aos poderes políticos e civis. Segundo o Estadão, teria ele advertido, por meio de interlocutor, que sem voto impresso não haveria eleições. Ainda, chega a esta coluna informação que entidades patronais estariam sendo instadas a promover homenagem ao Exército no dia do soldado. No atual ambiente político, tal "sugestão", caso verdadeira,  parece se revestir de objetivo político. 

Tais fatos de cunho político, se emanados de oficial superior, sugerem um clima de crescente polarização, contrária à estabilidade democrática. Tais iniciativas revelam quão nociva vêm sendo a relevante e crescente contratação de militares ainda a serviço da sua Arma, por desfazer a fronteira que separa Estado de Governo. 

Nestes dias que correm, críticas formuladas pelo cidadão e pela imprensa estão sendo, por alguns, erroneamente  entendidas como manifestações desrespeitosas à imagem do Exército.

Ao identificar-se um funcionário faltoso ou incompetente, se fundamentado, não se visa a "instituição Exército". Caso seja um militar, melhor seria para a imagem da corporação se fosse ele nitidamente desvinculado de suas funções castrenses.  Importante reconhecer que a critica é instrumento necessário para o aperfeiçoamento administrativo, seja na empresa, seja no governo. Criticar não é desrespeitar.

Ora, é inevitável que em amostragem de indivíduos, seja de origem civil, seja militar, uma percentagem de mau desempenho, doloso ou não, é inevitável. Enquanto criticar-se o mau desempenho de funcionário de origem civil é apropriado, também o será no caso de funcionário de origem  militar. Não se trata de denegrir a corporação militar.

O Exército brasileiro ao longo da história brasileira, salvo raros períodos de rompimento constitucional, tem merecido o mais alto respeito da nação, conforme constatado em inúmeras e recentes  pesquisas de opinião pública. Em grande parte, tal visão decorre do fato de serem as Forças Armadas instituições de Estado, desvinculadas do Executivo, este um ente político-partidário.

Portanto, vale o alerta sobre a atual direção que toma o governo Bolsonaro, onde a crescente intimidade com a caserna, com objetivo claramente político, se faz sentir. Confiando na qualidade do Alto Comando, saberá o Exército preservar o respeito que merece junto aos brasileiros?


terça-feira, 20 de julho de 2021

Ventos e tempestades



A extrema concentração de renda e a pauperização de multidões, a proliferação dos oligopólios, o febril aumento nos custos e queda na qualidade  da saúde e da educação, a opacidade do Big Business facilitada pelo declínio das Agências Reguladoras, a crescente cumplicidade do estamento político como elemento predador, a fragilização das estruturas públicas, todas veem contaminando a qualidade dos governos, sobretudo o federal. Não parece  existir o  "level playing field" essencial à coesão social.. 

Constata-se nos Estados  Unidos, o melhor laboratório experimental de teses econômicas, que o sonho do Trickle Down Economy pouco se materializa. Pelo contrario, tanto lá quanto aqui, não só a concentração de renda atinge níveis inéditos, e, acentuando o desvio. A estagnação da renda nos níveis inferiores se mantém quando não deteriora.

E assim, gera-se crescente insatisfação neste ampliado Lumpen. Recorrerá ela à busca de proteção política  na sua crescente marginalização?  Proteção contra os magos  da Economia Liberal, onde o Estado reduzido deve  subordinar-se às forças do Mercado dito livre. Hoje, constata-se que a "receita de Chicago" tem muito à ajustar face às exigências da realidade econômica vigente. 

A extraordinária amplitude do "digital" no mundo econômico e social alarga a brecha que impede  o acesso da grande massa dos despreparados à este novo mundo e acentua a angustia de um futuro cada vez mais duvidoso. Ao exigir crescente e para muitos inatingível qualificação prática e teórica, potencializa-se a insegurança sócio-política  na base da sociedade. Assim forma-se uma relevante e inquietante massa de eleitores desiludidos. 

Até quando os menos favorecidos aceitarão a regra do jogo vigente ou ter-se-á uma crescente corrente no sentido oposto?  Tornar-se-ão suscetíveis às enganosas promessas populistas de um futuro melhor? 

Ampliado pela pandemia, absorvendo parte da  outrora dócil classe média, estimula-se o distanciamento e descompromisso com a democracia. Alimenta-se o conflito entre os que usufruem os benefícios da modernidade e àqueles que ainda estagnam no passado. Em ambiente de insuficiente acesso à educação, é crescente  o fosso que separa os dois estremos sociais. Ao acentuar-se as exigências  profissionais no mercado de trabalho, reduz-se  a solidariedade econômica e cívica.

E, assim, alimenta-se o desejo da volta ao autoritarismo, ao estado todo poderoso. Não faltarão pretendentes para liderar o processo, seja da Direita, para consolidar o atual e imperfeito domínio do topo da pirâmide econômica, seja pela Esquerda, para impor as perigosas e enganosas formulas distributivas.  

Assim, imperativo será o diálogo e o consenso sócio político só possível numa democracia. numa formulação equitativa que atenda uma espécie de "Acid Test", ou seja,  como equilibrar o Patrimônio Econômico da Nação e sua Dívida Social. Ter-se-á, assim, perenidade quanto à estabilidade político-social que induza e  permita o crescimento contínuo, livre de crises.   

É essencial conter-se a confrontação social, hoje potencializada pelo simplismo venenoso das redes sociais, veículos que favorecem a dissenção desprovida  de meditação, análise e tolerância.  

Já Hobbes, nos idos do Século XVII,  propunha que uma Força Suprema, ou o Leviatã, fosse essencial ao ordenamento de uma sociedade face á multitude de forças contraditórias e competitivas que a compõem. O ordenamento pela Força. Sem ela a sociedade perderia seu rumo, sua eficácia e, em última análise, fracassaria na sua missão de prover a estabilidade ao Poder constituído. 

Contudo,  nos Séculos seguintes,  o pensamento político de John Locke e os Iluministas franceses evoluíram do Direito Divino e Absoluto dos reis de então e desenvolveram a lógica democrática, desaguando nos três Poderes constitucionais de Montesquieu. Assim, o Leviatã saiu de moda nos países civilizados. 

Contudo, parece haver um retorno à  tendência totalitária neste mundo tornado ansioso e inseguro pelas incertezas que se acumulam face à revolução cibernética. A luta que hoje nos bastidores políticos se trava não mais é, apenas, entre Direita e Esquerda mas, também, entre a ditadura e a democracia. Já, aos despossuídos pouco importa a ideologia, mas sim o acesso ao bem estar. A manter-se a elite pensante da Nação alheia ao sombrio fosso que se cava entre as classes sociais, situação agravada pelos efeitos devastadores da Pandemia,  a maioria  terminará por impor sua vontade, seja pelo voto seja pela contestação.