quarta-feira, 20 de outubro de 2021

"O Rei Está Nu"



O País se depara com uma nova realidade político-ideológica. Após toda uma carreira abraçado às teses da Economia Liberal de Milton Freedman, quando se escutava com frequência exclamações socialmente anti-solidárias,   o Posto Ipiranga agora troca o Verde tradicional pela cor Rubra das bandeiras socialistas.

Voltando um pouco no tempo, lembramo-nos do início do projeto assistencial em 2003 de autoria do Presidente Fernando Henrique Cardoso propondo recursos e estímulo ao estudo para as as crianças das classes destituídas de renda suficiente para se educarem. Em 2004, Lula encampa o projeto e o batiza de Bolsa Família, levando o auxílio à mais de 10 milhões de estudantes. Receber para estudar e estudar para receber era a regra recíproca.

No calor do debate pré eleitoral em 2018, onde Jair Bolsonaro e Fernando Haddad (herdeiro de Lula) se defrontavam, a extinção da Bolsa Família era uma das bandeiras do Capitão em prol do abandono dos gastos sociais e o  restabelecimento da plena meritocracia conforme a bíblia néo-liberal. Esta era, então,  erguida com ferocidade pelo Dr. Paulo Guedes, arauto da modernidade econômica e da supremacia do lucro como único motor válido para o desenvolvimento.

"Fast forward" e hoje aprendemos que na política a única lógica que prevalece é a da vitória nas urnas. O que outrora não passaria de "distributivismo comunista" para o receituário do Professor Guedes (e seu chefe, Jair Bolsonaro), nestes dias o novo plano Auxílio Brasil deverá substituir o comparativamente modesto Bolsa Família. 

A súbita sensibilidade social ora esposada pelo Ministro da Economia surpreende aos que seguem seus ensinamentos. Neste momento, o irrequieto Ministro da Economia vai bem além da generosidade social que tanto criticava; propõe a criação de um Fundo de Redução da Pobreza.  

Ainda, advoga a distribuição dos dividendos cabíveis à União, oriundos das empresas onde o Estado tem preponderância acionária em benefício da população desassistida. A abrangência destes programas assistenciais  aumenta a cada dia que passa, em irresponsável avalanche fiscal,  subsidiando desde o gás de cozinha ao combustível para caminhoneiros. Constroem formulas de curta duração, hoje favoráveis, amanhã onerosas. 

Hoje, o Professor parece inverter, para fins eleitoreiros, as teses até então por si difundidas onde a riqueza da sociedade  decorre da busca pelo lucro, onde o aumento da produção de bens e serviços e da crescente produtividade da economia Tudo o mais seria decorrência. 

E para tal Paulo Guedes advoga arrombar as portas Constitucionais² que limitam a dívida Federal. 

E porque criticar medidas que aliviam as dificuldades que enfrentam os mais pobres? Porque esta reviravolta ideológica? É simples, este auxílio nada mais é do que uma arma eleitoral, revelando falta de compromisso programático do governo Bolsonaro. Seja Direita, seja Esquerda, este revela  o  oportunismo que norteia seus atos tendo o Poder por meta 

Que assim seja, não surpreende o observador astuto, nem, tampouco, o cidadão atento. O desejo pelo poder é comum ao Homem Político, seja qual for sua matiz ideológica. Contudo, inúmeros fatos e atos, alguns abaixo citados, se unem para agravar a preocupação, senão alarme, que deverá trazer o pleito eleitoral.:  

- ameaça "virar o jogo" caso prevaleça a Urna Eletrônica, 
- intimida, publicamente,  juízes e ministros do Supremo Tribunal, 
- intimida e/ou coopta a Procuradoria Geral da República.
- interfere na ação imparcial da  Polícia Federal, 
- ameaça a imprensa livre, 
- coopta o "meu Exército" através de cargos e posições no governo,
- mobiliza  a classe dos caminhoneiros (capazes de paralisar a Nação) sob seu domínio
- se alia às Policias Militares dos diversos Estados da Federação
- promove o armamento indiscriminado do cidadão louvando "se necessário for, o povo em armas",
- cria um Estado Maior familiar, sob a proteção presidencial.
- pretende atribuir ao Congresso a designação dos componentes de Conselho da Promotoria Pública.  
- propõe uma "pedalada" fiscal a guisa de "Waiver"

Quantos exemplos serão necessários para constatar-se que "o rei está nu"? 



1) "Comunista" em "bolsonarês",  é todo aquele solidário com o sofrimento dos pobres.
2) Emenda Constitucional 95. 

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