domingo, 19 de setembro de 2021

Retorno à Guerra Fria

                                                                    





Tirando um inesperado coelho da cartola, Biden revela ao mundo uma nova formula estratégica para os Estados Unidos, o auto-proclamado garantidor da segurança internacional apesar das inúmeras guerras de sua autoria. Neste novo quadro a prioridade  norte-americana passa da Europa para o Pacífico. O título de "maior hostis" passa da Rússia para China; o Urso russo é substituído pelo Dragão Chinês.

Com um simples "léger de main", um submarino nuclear, tal qual peça do xadrez antecipando movimentos futuros, altera o tabuleiro geopolítico, impondo aos jogadores urgente revisão de suas prioridades.

A implementação desta nova estratégia, embora tomada anteriormente, só agora foi divulgada aos parceiros. Assim, lícito dizer-se que houve um elemento não só de desrespeito protocolar aos aliados europeus como, também, gerou-se substancial e inesperada mudança na extensão das responsabilidades político-militares comuns até hoje existentes. Tal alteração impõe a estes aliados profunda revisão estratégica.  

A defasada divulgação da formação da Aukus revela uma nova aliança militar que se sobrepõe à aliança já existente e turva a relação entre os membros da OTAN e suas obrigações neste novo contexto. Confrontados os europeus com o novo e substancial desafio assumido pelos Estados Unidos, altera-se, de forma relevante, o equilíbrio na alocação de prioridades politico-militares, recursos monetários e bélicos aos demais componentes da OTAN, sobretudo no que toca aos Estados Unidos.

Hoje, os parceiros da OTAN se propõem, conforme seus termos, a socorrer militarmente qualquer de seus membros quando atacados. Estariam as nações europeias dispostas a participar de conflito militar com a China iniciado ou provocado por ações da Aukus? 

Confrontados com este novo tratado, os membros da OTAN  assumem indiretamente e sem sua anuência prévia,  um risco potencializado além dos limites politicos e militares do continente. Não mais se trata de participar em missões na Bosnia, no Iraque, no Afeganistão; mas, sim, correr o risco de confrontação com a China, hoje a segunda potência mundial. e seus eventuais aliados, vide  Rússia.

Hoje, a OTAN, após o retorno à  insularidade da Grã Bretanha,  tem na França e na Alemanha, seus  principais representantes europeus continentais. Face à atual indefinição política  Alemã devido às eleições iminentes, coube à Emanuel Macron demonstrar a preocupação da França e da Europa quanto à forma e a substância da decisão norte-americana.  A retirada de embaixadores indica o alto grau de repúdio, o qual não deveria ser desprezado pelas partes envolvidas.

Ainda mais relevante, à sombra destes recém celebrado tratado, se desenha um crescente perigo para a humanidade face à uma aliança militar que coloca o Ocidente contra a China. Os Estados Unidos, tanto no longínquo passado quanto no presente, já evidenciaram em diversas oportunidades quão pouco sabem prever as reações de adversários asiáticos. 

Nos idos do Século passado, Washington não soube estimar a reação do Japão após o bloquear seu acesso ao petróleo, desdenhando a reação nipônica. Ainda, subestimaram a reação da China quando da guerra da Coréia. Novamente, foram surpreendidos pela reação do Vietnam do Norte que lhes levou à derrota. Faz um mês concederam a vitória aos Talibãs após uma guerra de vinte anos.

E até onde irá a expansão desta recém criada aliança? Apesar de engendrada dentro dos limites dos "English speaking people", mais provável será que aliados potenciais como a India, o Japão e a Coréia do Sul sejam, no tempo, cooptados, assim ampliando a ameaça sobre a China bem como o risco de  reação armada. 

O "casus belli" ora sendo arquitetado pelos Estados Unidos carece de credibilidade. Esta hostilidade vinda de Washington não tem por base ameaças vindo de Pequim contra a integridade de outras nações, mas, sim, pela recusa, que se revela obsessiva, de aceitarem os Estados Unidos a expansão econômica de um estado soberano até hoje respeitador das "regras internacionais". 

A  prevalecer o que licitamente se pode definir como "histeria competitiva americana", o clima "beligerandi" progredirá gradativamente, acentuando a probabilidade de conflito armado de escala nunca vista.  

Prudente lembrar-se que esta nova aliança nasce sob o signo de um Submarino Nuclear.

P.S.  Vale lembrar o conflito infindável entre o Ocidente e a Ásia descrito no livro de George Orwell, 1984.

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