Sem dúvida, o enorme sucesso dos Trapalhões foi merecido. Semanalmente o telespectador acompanhava as peripécias que Didi, Mussum, Dedé e Zacarias enfrentavam. Navegavam os absurdos que lhes surgiam, com humor, esperteza e, por vezes, inocência. Porém, nunca esquecendo que se tratava de caricatura da vida real onde o despautério pode se tornar a regra do jogo.
Voltando ao presente, o brasileiro se depara com a versão política daquelas trapalhadas. Só que a sério. A foto acima traz ao público novos Trapalhões, mas estes sem qualquer humor coletivo apesar do seu rictus gargalhante. Traz ela uma imagem desrespeitosa, rastaquera, galhofenta divorciada da persona que todo Homem Público tem por dever respeitar. Mormente quando se trata do Presidente da República e de um futuro Juiz da Suprema Corte.
Governar o Brasil não é uma festa: é uma imensa responsabilidade. É enfrentar os desafios a pandemia, a pobreza, a recessão e a corrupção que hoje ferem o povo sob sua guarda. Este fatos não fazem rir. São parte de uma existência que traz crescente angustia e insegurança ao cidadão.
Nada há contra a alegria. Pelo contrário; para o bem da saúde do cidadão brasileiro é preciso preservar o bom humor, a alegria de viver, a satisfação de realizar. Porém, esta tolerância não se estende a manifestação pública de um regozijo que não encontra sustentação no exercício de sua missão.
O Presidente é responsável pelo Bem e pelo Mal que decorre de suas ações políticas, esta tendo por base o respeito estrito à Ética e à boa governança..
Porém, atentos à fotografia, é fácil constatar que se desenrola um projeto de debilitação do Estado Laico predeterminado pela Constituição. Esta determina que um Ministro do Supremo seja pessoa de ilibada reputação e notável saber jurídico, cujas decisões sejam pautada pelas leis dos Homens e não das Divindades.
Pari passu à aprovação do Senado à candidatura de André Mendonça ao Supremo, a imprensa divulga entrevista concedida por Robson Rodorvalho, líder Evangélico e íntimo do círculo presidencial. Nela desnuda-se um conteúdo político-religioso onde aflora a ambição de poder, tanto pessoal quanto sectário.
Argumenta o Pastor entrevistado que, representando o conjunto evangélico 30% (sic) dos brasileiros, merece ele idêntica representação no Congresso e nos Tribunais, tanto nas instâncias subalternas quanto no Supremo Tribunal Federal. Argumenta o Pastor: "Porque o espaço (atual) não condiz com a nossa representação (sic) de 30% da sociedade brasileira." (!!!)
Ora, tal afirmação tem por indesejável efeito tornar uma confissão religiosa como se partido político fosse, sendo sua abrangência, não resultante das urnas, mas, sim, decorrente de uma incidência demográfica. Por consequência ter-se-ia a subordinação da Lógica pela Crença.
Trazer a Religião para a Política é um retrocesso civilizatório só encontrado em Nações ainda manietadas pelo atraso. Vale lembrar os povos reféns da religião predominante, dentre estes, diversos países Muçulmanos.
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