quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Sem Justiça, sem Brasil


     

                                                                    Aqui jaz Dna. Esperança


Uma sombra envolve o Brasil. A esperança, alento essencial à vida das pessoas e das nações, se esvai na penumbra de um futuro cada vez mais incerto.

Desde os primórdios de sua existência, o homem, o grupo, a tribo, a sociedade, a nação tiveram por elemento essencial a elaboração de regras de convívio e a proteção.  Para assegurar seu cumprimento, as foram as religiosas as primeiras leis, norteando e contendo o comportamento humano. Cada canto do planeta tinha a sua. 

Através dos milênios tais regras tiveram por objetivo a ordenação das prioridades comportamentais, seja em beneficio do indivíduo, da coletividade, ou, até, em prol da autoridade. Para dar-lhe sustentabilidade, era necessário que os benefícios que delas decorriam fossem aplicados de forma a priorizar o Poder, porém, concedendo aos súditos o necessário para manter a coesão da unidade politica. 

Ao aumentar a inter-relação dos núcleos humanos disseminados mundo afora, a comunicação oral foi aperfeiçoada pela escrita e, hoje, turbinada pela revolução virtual. A universalização de novos conceitos  alterou as prioridades políticas moldando, acentuando e atenuando as regras a serviço da sociedade como um todo. Fluindo dos filósofos  do Século XVII, tornou-se mais íntima a  inter-relação entre Povo e Poder, não mais concorrentes, mas sim partes integrantes do mesmo Ser Politico.  .  

Assim, estas regras primordiais transformaram-se nas  leis que hoje regem os países civilizados, e sua aplicação se faz através do sistema judiciário. A Justiça, como conceito,  torna-se o elemento primordial para a viabilidade e prosperidade e a perenidade de toda Nação. Não basta existirem regras, essencial é cumpri-las.

Hoje, assistimos a inoperância do judiciário no Brasil, este sabotado pela falência moral que atinge o ápice da República. Esta, manietada, insultada, desprezada, desacreditada tanto pelo seu povo quanto pelo Executivo e pelo Legislativo, cuja  composição se alimenta da crescente decomposição cultural do eleitorado   

Seu alcance é parcial, sua severidade é preferencial, sua compreensão é dúbia, sua execução  é excruciante na sua lentidão. Sua aplicação é contaminada pelo jogo de influências aliado ao colapso da ética que hoje domina o país.

O desmonte da Lava Jato, a diluição da Lei da Improbidade, a gradual contaminação do Supremo, a  interferência na desejável independência na ação da Polícia Federal, a paralisia acusatória da Procuradoria Geral da República, estes e outros atos fragilizam o edifício legal indispensável ao bom rumo da Nação 

Países não acabam, apenas se autocondenam à mediocridade, à feroz disputa entre micro poderes, como se disputassem os restos de uma festa malograda. Na medida em que a sociedade desvaloriza as regras que a regula tem-se, por consequência, a lei do mais forte, receita infalível para a frustração e comoção social. Os beneficiários da anomia monetizam as aspirações fracassadas. 

Boa receita para a emergência de governos radicais.

Ao passar pelo jornaleiro, chamou-me a atenção o obituário no jornal:

   .                          "Missa pela alma de Dona Esperança. R.I.P."