domingo, 15 de fevereiro de 2015

Esboço de um quadro recessivo


Segue abaixo excelente artigo de autoria do Professor Dr. Julian Alfonso de Magalhães Chacel, cuja publicação valoriza este Blog.




Esboço de um Quadro Recessivo

O ano de 2015 será um tempo de purgação para corrigir os erros que nos últimos anos marcaram a má condução da política econômica. .A purificação  de nossa Economia  requer, em face dos “déficits gêmeos”, o fiscal e o externo, rígido controle do gasto público e livre flutuação do câmbio. E mais, um realinhamento de preços relativos, em especial tarifas, que significa impor ao país um período de “inflação corretiva”. Na busca de confiabilidade através do cumprimento da palavra empenhada, esqueça-se a meta de inflação de 4,5% e aumente-se a  ampla margem de tolerância no seu limite superior.

A meta fiscal de um superávit primário fixado prudentemente em 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) contém, apesar disso, um conteúdo de indeterminação. Qual será ao final do ano o valor do denominador? No dia de hoje há fortes indícios de contração comparativamente ao resultado estimado para o ano anterior, 2014, que aponta para uma taxa próxima de zero refletindo a estagnação, ou melhor, a ausência de crescimento econômico.

Além do efeito de contração resultante da tentativa de corrigir o desequilíbrio das contas públicas como pré-condição para domar a inflação rampante, há do lado real da economia restrições ao aumento do PIB sintetizadas na expressão “condições físicas da oferta”. As crises hídrica e elétrica são, no curto prazo, fatores limitativos da expansão dos níveis atuais de produção. A escassez de água compromete a produção agropecuária e na indústria de transformação alimentos e bebidas, siderurgia, papel e celulose e química, em escala decrescente consomem, no todo, cerca de 70% da energia utilizada pelo setor.

As vicissitudes que assolam a Petrobras, resultantes de erros de gestão associados ao uso político da empresa pela via da corrupção, também apontam na direção de um declínio da atividade econômica. A tudo isso se acrescenta a provável redução do seu programa de investimento, de vez que a viabilidade econômica de certos campos fica comprometida diante da queda  de preço do barril de cru. Pela sua dimensão e natureza do negócio, a contração da empresa no futuro imediato e a inevitável revisão dos contratos firmados com as grandes empreiteiras da construção civil geram um efeito em cascata sobre uma miríade de fornecedores. A matriz das interações industriais será profundamente afetada.


Esses são os principais argumentos que permitem prever um clima de recessão, com todo seu cortejo de consequências, para este ano de 2015. Dai falar-se na abertura deste escrito em “tempo de purgação”. Condição essencial para forjar um novo ciclo de crescimento.

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