segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O embaixador dissonante



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Dayan e
Comentário da Secretária de Estado Americana


Não se pode acusar o governo Dilma de coerência diplomática, quando se observa os desmandos venezuelanos agredindo a Cláusula Democrática que rege o Mercosul, sem que vigorosa resposta lhes seja dada.

Contudo, acerta o Itamaraty em não conceder o “agreement” ao Sr. Dani Dayan como embaixador de Israel junto ao governo brasileiro. Por razões de coerência.

Tendo o Brasil reconhecido a existência do Estado Palestino, o qual abrange o território da Cisjordânia e Gaza conforme estabelecido pelas Nações Unidas, tendo por base as fronteiras de 1967, torna-se ele impedido de acolher o embaixador proposto por Tel Aviv.

Este impedimento decorre de ser o Sr Dayan feroz proponente, não apenas da contínua construção de assentamentos israelenses em território palestino, sendo estes ilegais conforme a lei Internacional, mas defende, ainda, a continuidade da ocupação daqueles territórios, opondo-se à criação do Estado Palestino. Defende manter-se  aprisionados 4 e meio milhões de seres “ad eternam”.

Ora, porque teria o governo Netanyahu proposto nome tão controverso para representá-lo no Brasil. Será que a chancelaria israelense não teria previsto séria dificuldade em obter a  concordância brasileira? Confiando na superior inteligência que regem os atos do estado Judaico, válido é concluir-se haver objetivos outros que não apenas a indicação de um capacitado representante diplomático.

Oportuno lembrar que a prática secular do “agreement” diplomático serve para que os países envolvidos possam vetar aqueles embaixadores que lhes causem mal estar no campo político. Raramente ocorre uma recusa formal, preferindo a diplomacia internacional o adiamento “sine die” da concordância, assim sugerindo a substituição do nome proposto.

A truculência de Israel no campo diplomático já é conhecida, tendo o Brasil recebido o epíteto de “país anão”. Acresce a insistência maliciosa de Tel Aviv face à recusa implícita do nome proposto,  ferindo os princípios diplomáticos já consagrados. O contencioso já poderia ter sido dirimido, uma vez que Israel possui quadros melhor ajustados às relações, por vezes tempestuosas, entre os dois países.

Ao ceder à insistência pela indicação de Sr. Dani Dayan, publicamente contrario à pacificação da região, mal agiria o Brasil por fazer o jogo de Israel. Este, interessado em expor o Itamaraty a evidente  contradição, esvaziaria o conteúdo de nossa política externa para a região, em defesa do principio consagrado de dois Estados independentes.



quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Desastre por vir



Resultado de imagem para foto exercito israelNo início, foi a ocupação  militar.  Na Guerra de Seis Dias, iniciada por Israel face às constantes ameaças de países árabes, as tropas israelenses ocuparam a Cisjordânia palestina, o Sinai egípcio  e as colinas sírias de Golan.

Seguiu-se a ocupação política, subjugando o povo palestino dentro dos confins daquilo que Israel vê como Terra Santa. Este domínio se intensificou, sob o Primeiro Ministro  Menachen Begin, terrorista na era pré formação do estado de Israel,  com a instalação dos primeiros assentamentos judeus em território ocupado. Era a semente da perpetuação do ocupante, apesar de violada a Lei Internacional.

Chega-se agora ao domínio econômico, onde diversas empresas israelenses se instalam em território Palestino, produzindo diversos produtos dirigidos ao mercado judaico e internacional. Chega-se ao cumulo de declarar "abandonada pelo antigo proprietário" vinícola ocupada e explorada por recém criada empresa israelense. Novamente, esta atividade em território ocupado é vedada pela Lei Internacional.  Tel Aviv oferece o  tênue argumento de que cria-se assim benefícios de  emprego e salário, porém torna-se evidente que nada suplanta a perda da liberdade e da nacionalidade do povo ocupado.

Falta agora, apenas, o passo teocrático. Para, sequer, contemplar a tratativa de Paz, o governo Netanyahu exige, por parte dos Palestinos o reconhecimento de Israel como Estado Judeu, à guisa de alguns paises islâmicos. Já, a Autoridade Palestina contesta a exigência por achar que não lhe cabe tal reconhecimento, por ser ele matéria de exclusivo interesse de Israel. Difere, ainda, da exigência, por considerar a medida injusta que transforma em cidadãos de segunda classe os 25% de árabes, cristãos e muçulmanos que compõem Israel.

Resultado de imagem para foto exercito israelFecha-se assim o cerco.  A criação de fatos consumados pelos sucessivos governos Israelenses, a militar, demográfica, econômica e agora teocrática,  torna inviável o retrocesso da dinâmica instalada. À cada adição de fato constrangedor, o povo Palestino afunda cada vez mais no lodaçal da submissão imposta e irreversível.  Uma tragédia em construção.

Já, os Estados Unidos, auto proclamado líder do Mundo Livre, tolhido pelo emaranhado de interesses conflitantes, atrapalhado pela incongruência de seu discurso onde o ideal propalado subordina-se à premência de seus objetivos comerciais e géo-estratégicos, perdem credibilidade como poder pacificador.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A fuga em avanço*


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Hoje, 12 de dezembro de 2015 o Brasil dá um passo gigante na direção que aflige sua  economia. Como se não bastasse a demissão de Joaquim Levy, tímido garante da ortodoxia econômica, única capaz neste ministério de recolocar o país nos trilhos da recuperação, o governo indica para substituí-lo Nelson Barbosa e não um ministro respeitado por preceitos mais conservadores.   Justamente um dia após o rebaixamento do crédito brasileiro nos mercados internacionais.

Este novo ministro,  crente nos milagres do já desmoralizado "desenvolvimentismo", já demonstrou seu desprezo por medidas saneadoras necessárias ao reequilíbrio orçamentário. Fará, ao que tudo indica, renascer o moribundo credo da incontinência fiscal. Acredita na continuidade da interferência estatal como promotora do desenvolvimento, ignorando as infelizes consequências de experimentos anteriores.

Agravando o quadro já preocupante, Jaques Wagner, que nega a prudência e astúcia de sua formação, proclama o retorno de Dilma Roussef ao comando da economia, como se felizes e prósperos tivessem sido os resultados de suas iniciativas.

Assim, inaugura-se hoje uma nova fase que arrisca ser de agudo populismo, onde a teoria econômica se subordina ao desiderato social. É dado início à "fuite en avant"*, onde, para escapar do desastre, maior empenho é empregado na multiplicação dos erros, em busca do apoio da massa facilmente iludida por promessas fáceis, ignorando a incapacidade do estado em realizá-las. 


Justo será prever-se sérias consequências no cenário sócio político. Não faltarão os movimentos em busca das soluções salvadoras que se aproximarão das manipulações Chavianas. Protestos, passeatas contra a inflação, a alta taxa de juros,  o crescente  desemprego servirão de combustível para o fortalecimento das pressões em consonância com os  interesses de um PT ávido por recuperar a força de antanho.  Provável será a atribuição ao sistema capitalista boa parte da responsabilidade pelas dificuldades que ora atingem o povo, assim contaminando e enfraquecendo o arcabouço institucional brasileiro, construído a duras penas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Reflexões sobre o impeachment



Escrever sobre o impeachment parece ser prematuro. A arguição jurídica ainda não chegou ao fim, o que impede o avanço dos fatos políticos.

Parece razoável dizer-se  que o Brasil, nesta em matéria,  encontra-se  dividido. Se no Congresso o animus parece favorecer o afastamento de Dilma Roussef de suas funções presidenciais, o mesmo, talvez,  não ocorra junto ao eleitorado, dividido entre o Brasil pobre e o Brasil comparativamente rico.

As pesquisas avaliando a popularidade da Presidente mostra desencanto majoritário com o  governo PT e, mais especificamente, a presidente da República; contudo, imprudente será menosprezar a capacidade de mobilização da esquerda em apoio à sua permanência no poder.  Os mesmos fatos que justificam os que dela querem se ver livres, podem ser reinterpretados com eficácia pelos opositores quando dirigidos às massas menos esclarecidas.

Sendo a política um exercício mais sujeito à paixão do que à razão, mais vale a versão do que o fato. 
O desemprego, causado pelos erros do PT poderá ser debitado à insensibilidade empresarial, a disparada dos juros pode ser vista, não como instrumento para deter a inflação, mas, sim, solerte forma para melhor enriquecer os banqueiros. A inflação pode ser jogada ao colo de comerciantes ávidos. E por aí vai... Em outras palavras, a rua será, também, um campo de batalha.

Uma boa parte da resposta à esta duvida dependerá  da liberdade de ação concedida  ao maior eleitor brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, cuja capacidade mobilizadora  poderá frustrar o ímpeto da oposição. Caso contido Lula por complicações judiciais,  bem provável tornar-se-á retirada de Dilma, desaguando na posse de Michel Temer.

Contudo, como elemento preliminar, pairando acima das manobras e estratégias políticas estará o Supremo Tribunal Federal, exercendo o poder de ajustar o rito na direção dos interesses deste ou daquele lado. Dependendo do viés adotado, tanto poderá prosseguir  o processo de impeachment como paralisá-lo.

Sob a ótica dos reais interesses do Brasil, a retirada do atual governo é essencial para que as medidas saneadoras, boicotadas por um Executivo incapaz e um Congresso imerso em autofágicas  lutas de poder, comecem o quanto antes.

No horizonte próximo desenha-se a perda de “investment grade” do Brasil, trazendo consigo crescente pobreza ao povo e instabilidade empresarial. Para a solução de seus problemas não bastará o impeachment; faltará, ainda, passar a limpo a classe política para que possa cumprir sua missão renovadora.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Bons ventos


Map of South America


Uma brisa benfazeja parece soprar sobre a America do Sul nestes dias de dezembro. Destaque merece a Argentina, onde a mortalha Peronista parece ter-se esgarçado, sugerindo prenuncio de salvação.  A eleição de Mauricio Macri promete reverter a corrida ao precipício que acomete, há anos,  governos da região. Abraçando políticas mais ortodoxas poderá libertar a Argentina do jugo populista e da mediocridade econômica que a sufoca. Procura estimular a economia através de redução de impostos, especialmente  de exportação, assim redimindo o outrora exemplar campo Argentino.

De especial interesse para o Brasil é a promessa do primeiro mandatário de restabelecer a racionalidade nos negócios do Mercosul. Medidas administrativas e fiscais prometem ser adotadas, por um lado, e abolidas por outro,  liberando o livre curso dos bens negociados entre seus parceiros, sobretudo o Brasil.

Outro sopro alentador chega à Venezuela. Apesar dos artifícios e artimanhas do governo Maduro, os resultados das urnas sugerem estar o presidente mais próximo da dissolução. A vitória oposicionista foi de ordem a oferecer plena maioria aos sofridos inimigos de um regime implacável.

Ainda longe de vislumbrar vitória, pois muitos serão os obstáculos Bolivarianos, a  retomada do processo democrático parece  tornar-se probabilidade. Não pode haver esmorecimento. Os passos seguintes de consolidação muito dependem dos parceiros sul-americanos. A estes caberão vigilância e pressão que evite o aborto deste embrião democrático.

Chega-se, assim, ao Brasil. Tendo por lastro, improvável que seja, um pequeno tribunal na cidade de Curitiba, toma forma, cada vez mais consistente, uma onda de indignação contra os crimes descortinados. Juiz, polícia, e até mesmo vetustos Ministros do Supremo Tribunal tem assegurado apoio para a progressão de movimento redentor, destinado a reverter um cenário político moralmente apodrecido. 

Revelações, provas, divulgação, sentenças, prisões iniciam processo de depuração de costumes, não apenas imorais e ilegais, mas, sobretudo, atentatórios  ao destino de grandeza e de prosperidade que o Brasil e seu sofrido povo merecem.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Vive la France

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É o momento de celebrar o eleitorado francês, que exibiu excepcional maturidade. Talvez movidos por profundo temor, resultado da tenebrosa vitória do Front Nacional no primeiro turno das eleições regionais, os franceses manifestaram seu incisivo repúdio ao radicalismo xenófobo e racista.


De uma vitória ampla, tanto na verticalidade do voto quanto na horizontalidade geográfica, Marine le Pen viu sua supremacia esvair-se uma semana depois. De vitoriosa em seis das doze regiões que divide a França própria deixando seus adversários atônitos, tornou-se  derrotada de forma conclusiva.

Lícito supor-se que a vitória do bom senso deveu-se a decisão do povo francês de, abandonando a letargia invernal, acorrer às urnas, assim reduzindo a abstinência verificada no primeiro embate de 50% para 40% no seguinte. Assim, mobilizou-se  um contingente adicional de eleitores, capaz de assegurar a derrota da candidata radical.  

Estas eleições também surpreenderam pelo equilíbrio de forças entre direita e esquerda. Ao campo de Nicholas Sarkozy coube modesta maioria de duas regiões, apenas, sobre àquelas conquistadas por François Hollande e seus correligionários. Os resultados para o Partido Socialista superaram as expectativas devido, possivelmente, ao ganho de popularidade do presidente na condução da nação após os atentados.

Ainda, não apenas a França, mas também a União Européia beneficiaram-se da derrota do Front Nacional, enfraquecendo lideranças e movimentos  anti-europeus na Inglaterra, Hungria e outros.



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Radicalismo francês


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Marine Le Pen

O avanço da direita radical surpreendeu  pela intensidade de sua vitória no primeiro turno das eleições regionais da França. O partido de Marine Le Pen defende o abandono da União Europeia,  o  retorno às fronteiras nacionais e restabelecimento integral da soberania francesa. Ainda, defende medidas populistas de apoio social e colaboração estreita (tutela?) do empresariado com o governo.

Três fatores parecem  justificar o sucesso alcançado:

A crise econômica iniciada em 2008 ainda se arrasta pela Europa, gerando enorme desemprego, especialmente dentre os jovens. Estes, em busca de saída , veem na mensagem do Front Nacional um misto de populismo e autoritarismo capazes de reverter as decepcionantes forças do mercado.

Também impulsionando o FN seria sua oposição às fronteiras abertas da União Europeia, fruto do acordo de Schengen, estimulando  o que é visto como uma invasão de mão de obra concorrente oriunda do leste europeu.  A estes juntam-se as hordas de refugiados do Oriente  Médio e norte da África, etiquetados pelo FN como desleal concorrência de imigrantes econômicos (assim aguçando a rejeição) e não como refugiados.

Ainda, surge a revolta e o medo decorrente do atentado em Paris.  O racismo, parte relevante da plataforma do Front Nacional, desvalorizando muçulmanos e judeus, encontrou na recente matança promovida pelo Estado Islâmico a justificativa de sua mensagem  xenófoba ora abraçada por parte relevante do eleitorado .

Levando-se em conta  as 13 regiões da França metropolitana e da Córsega  o Front Nacional foi vencedor em 6 delas. Beneficiado por importante abstenção de 50% do eleitorado , o FN tornou-se a mais poderosa agremiação política do país. Conquistou 27,9% da totalidade dos votos, superando os partidos tradicionais.


Analistas  estimam que e o FN perderá   duas ou três regiões quando do segundo turno, uma vez que o voto socialista, como mal menor,  deverá apoiar os Les Republicains de Sarkozy. Ainda assim, notável será a vitória de Marine Le Pen, lançando à França e à Europa o desafio da direita radical.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Alerta aos de boa fé

Ao tomar conhecimento deste depoimento,  achei por bem compartilhá-lo.  Tem o valor de refletir o pensamento de um homem de esquerda, um homem honesto, que não se vê preso à uma lealdade traída por uma liderança cujo ideal foi vendido a preço de dinheiro e poder. É um alerta a todos aqueles que defendem a justa responsabilidade social dos governantes, porém ainda presos às amarras formais de agremiações e dirigentes que, há muito, conspurcaram sua missão.  



Carta à Coordenação Nacional da Consulta Popular
Rio de Janeiro, 26 de abril de 2006
Prezados companheiros:
Comecei a reconhecer-me como militante de esquerda em 1967. São quase quarenta anos. Quase todo o meu tempo de vida. Nos últimos meses, pela primeira vez, como alguns de vocês já sabem, tenho avaliado a possibilidade de me afastar, mesmo temporariamente. Tenho sentido a necessidade de buscar pontos de vista mais amplos.
A causa é a grave inflexão por que passou a esquerda brasileira. Em sua história, ela já correu muitos riscos. Em alguns momentos foi quase eliminada fisicamente. Porém, mesmo em minoria, mesmo fora de governos, mesmo perseguida, mesmo errando, aqui e em outros países, sempre concebeu para si um papel de vanguarda intelectual e moral. Isso foi decisivo para a sua autoestima e sua sobrevivência, geração após geração.
A situação, agora, é inversa: sem saber como enfrentar um processo inédito – a dissolução de dentro para fora –, a esquerda corre o risco sair da história, mesmo que continue a existir fisicamente. Pois só mantêm-se, como forças vivas, movimentos que têm idéias e esperanças.
Foi esse o patrimônio que perdemos. Vocês são testemunhas de que paguei alto preço para tentar preservá-lo.
***
“Se Deus não existe”, dizia Dostoiévski, “tudo é possível”. Nos últimos anos, gradativamente, tudo foi se tornando possível, com a cumplicidade de muitos, até que chegamos ao fundo do poço.
Hoje, bancos e empreiteiras fazem repasses milionários, regularmente, para o maior partido da esquerda brasileira, que passou a depender desses recursos para sobreviver. Importantes dirigentes atuam abertamente como lobistas de grandes empresas. Outros recorrem à Justiça para obter garantia do direito a mentir. O mais poderoso ministro do governo de esquerda, no exercício do cargo, prostituía meninas. A militância é vista como uma forma de ascensão social.
Há trinta anos, isso seria impensável. Há vinte anos, estaríamos diante de escândalos. Há dez anos, seriam motivos de inquietação e debate. Hoje são apenas fatos da vida. A traição perdeu a modéstia, e a esquerda passou para a retaguarda intelectual e moral da sociedade, uma grave inflexão.
Eu não sou desse tempo. E tenho memória. Por isso, retirei-me há mais de dez anos do PT e estou reavaliando caminhos.
***
O estatuto de um povo, diante da história, não se resume ao que ele é em um dado momento. Define-se mais pelo que ele quer ser. Por seu horizonte de expectativas. Pois isso é que o coloca em movimento. É aí – e não na política econômica – que está o x da questão, quando avaliamos Lula e o PT.
Lula rebaixa sistematicamente o horizonte político e cultural do povo brasileiro, e precisa desse rebaixamento para se manter no poder. Pois só um povo mediocrizado aceita entregar sua consciência pelo medo de perder uma bolsa-família de, em média, R$ 60,00. Um povo culto e organizado, ou em processo de aprendizado e organização, conhecedor de seu próprio potencial humano, exigiria muito mais.
Por deseducar o povo, por desprepará-lo para construir o futuro – e não, basicamente, pelo nível da taxa de juros –, é que Lula e o PT causam danos. Quando forem derrotados – neste ano ou mais à frente, não importa –, se a esquerda tiver continuado a ser cúmplice deles, não ficará pedra sobre pedra. É o grave risco que corremos e que vocês subestimam. Passada essa aventura, perdidos cargos e verbas – neste ano ou mais à frente, repito –, não teremos nem um povo mais consciente, nem quadros mais preparados para prosseguir a luta, nem uma juventude mais mobilizada, nem instituições republicanas mais avançadas.
***
Sem idéias a serem multiplicadas, sem exemplos a serem seguidos, sem coerência a ser cultivada, sem passado a ser lembrado, o lulismo já agoniza em praça pública. Não falo de Ibope, falo de História. Mas ele tem na reeleição – ou seja, no manejo de cargos e verbas por mais quatro anos – a possibilidade de prolongar sua agonia. A dúvida se resume à forma e ao ritmo da derrocada, bem como ao tamanho do estrago, já enorme, que deixará. Seja como for, não há mais futuro nele.
Dizia Marx, na Ideologia alemã, que a fórmula da ideologia havia sido dada por Cristo na cruz: “Eles não sabem o que fazem.” A milenar fórmula envelheceu. Pois eles sabem o que fazem e, assim mesmo, fazem.
Se Lula obtiver mais um mandato presidencial, tudo poderá acontecer. Quem ignora que ele já se tornou um político autônomo em relação aos movimentos sociais e ao próprio PT? Quem conhece seus compromissos? Que podres ainda não vieram à luz? Quem poderá dizer, sem hipocrisia, que foi surpreendido e traído por qualquer decisão que venha a ser adotada?
É preciso, pois, que a Consulta Popular diga claramente, desde já: não em nosso nome. Não com a nossa omissão. Mas a Consulta Popular hesita, talvez para deixar abertos os espaços aos que ainda desejam flertar com o lulismo. [...]
Transformados em cúmplices da traição, não teremos autoridade moral para reagir à derrota que virá depois. A médio prazo, será um golpe fatal para os movimentos sociais e a Consulta Popular.
Sinceramente,

Cesar Benjamin"

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Trump, o fenômeno


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Violentando todas as expectativas regidas pelo bom senso Donald Trump continua liderando, cada vez com maior folga, a corrida para a indicação do próximo candidato conservador à presidência dos Estados Unidos.  Contrariando previsões anteriores, sua liderança  não retrocedeu, nem o tempo trouxe juízo.. Pelo contrário, agora alcança mais de 30% das preferências, sendo seu mais próximo contendor limitado a dez pontos abaixo. 

A interpretação que parece ser  mais apropriada para a indicação de pessoa tão controvertida  e, muitos o dizem, despreparada para o cargo que disputa, deve-se à profunda desilusão dos eleitores Republicanos com os tradicionais políticos do seu partido. Outra interpretação para tão esdrúxula preferência seria o mal estar que domina o eleitorado Republicano, primordialmente branco,  face ao avanço das minorias no cenário eleitoral, estas próximas ao partido Democrata. Neste quesito, Trump se revela o mais radical dos candidatos contrários à imigração, posição esta reforçada pela fragilidade econômica, e o grande desemprego no segmento menos preparado.

Contudo, válido será dizer, que o teste das urnas primárias ainda está longe, tendo seu início em fevereiro de 2016, prolongando-se até junho.  A prevalecer o bom senso,  Trump perderá sua vantagem, até porque, quando confrontado com o candidato Democrata  as pesquisas, invariavelmente, apontam para sua derrota.

Já, no campo Democrata, a prevalecer as atuais circunstâncias, fácil será a vitória de Hillary Clinton apoiada, não tão somente pela preferência por seu nome, apesar de enfrentar relevante rejeição no próprio partido, mas também por se contrapor ao bizarro candidato Republicano. Mas nem  trudo são rosas; o vertiginoso enriquecimento dos Clintons gera dúvidas, a morte do embaixador na Líbia, quando cumpria Hillary a função de Secretária de Estado e, ainda, o inepto manuseio de e-mails secretos transferidos para seu endereço pessoal ferem a imagem ética da candidata. 

Ainda é cedo para sugerir vencedor. A situação poderá reverter-se caso o candidato Republicano, vitorioso nas urnas primárias, seja outro que não Donald Trump. Parece ser o mais provável.


domingo, 29 de novembro de 2015

Reavaliação Bolivariana

Parece estar havendo uma reversão na tendência, até pouco  ascendente, do movimento Bolivariano na América do Sul. Talvez, por indireto que o evento  pareça, a reaproximação de Havana à Washington, tirando o vento que enchia as velas do radicalismo nas Américas, marcou um primeiro passo no esvaziamento da mensagem Bolivariana.

Esta, embasada numa extremada e errônea tese de resgate das classes oprimidas, e, ainda, tendo por “leitmotif” as teorias  conspiratórias envolvendo os Estados Unidos , viu-se, quase da noite para o dia, perante à perda de  sustentabilidade ao deparar-se  com  Raúl Castro dando as mãos à Barack Obama.  Impossível  manter-se incólume a ladainha que do Norte chegam todas as maldades e não da inépcia dos maus governos

Segue-se, agora, a vitória de Mauricio  Mácri na Argentina. Descartando o viés masoquista que tanto acompanha os governos de esquerda incompetentes  (competentes os há, alhures), onde se destacava àquele de Cristina  Kirchner,  o novo mandatário  argentino busca como passo prioritário em sua política externa  o abandono da custosa aliança com o Chavismo.  Reconhecendo o óbvio, vê na desmontagem  das influências anti mercado o caminho para a redenção do Mercosul.

Já no Brasil, alguns fatos veem sugerindo  alteração de rumo  no Brasil.  Incidentes como aquele que resultou no retorno atabalhoado da “missão Aécio Neves”, certamente causou antipatia popular para com a truculenta Venezuela, ainda que desprezada  pelo governo Dilma. Seguiu-se a recusa de Caracas em receber  o ex ministro Nelson Jobim  com a missão de assegurar a lisura das iminente eleições.  Desta vez, a indignação ocorreu no mais alto nível jurídico do país, o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral .

E, para surpresa de muitos, senão de todos,  e face à nova realidade imposta pelo descalabro econômico que assola o Brasil, tornando-o  ávido por recursos internacionais (prioritariamente norte-americanos), o governo Dilma  acaba de manifestar sua primeira crítica ostensiva ao governo Maduro,

O  acúmulo de gaffes produzidas pelos desorientados Chavistas, envolvendo prisões , e até mesmo assassinato, de líderes oposicionistas, parece ter rompido as barreiras que até então  protegiam o irmão ideológico. Em nota oficial, que imensa alegria deve ter causado ao corpo  diplomático brasileiro, o Itamaraty condenou o assassinato do líder opositor  Luiz Dias, denotando clara reavaliação  da política até então defendida pela nefasta  éminense grise, o Sr.  Marco Aurélio Garcia.


Como decorrência da inescapável constatação  onde o Brasil se aproxima de grave situação   político-econômica, talvez os próximos acontecimentos levem o governo PTista a concluir que é chagada a hora  de redirecionar sua política vis-vis o hemisfério Americano,   no vetor que melhor atenda  seus interesses permanentes, dentre os quais a retomada de um  Mercosul tão danificado pelas políticas nefastas dos Bolivarianos e seus seguidores da esquerda inconsciente.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Prefeitura e candidatos


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Como se não bastasse o colapso ético-administrativo na política no âmbito federal, observa-se com preocupação um surpreendente desvio de comportamento no comando político do estado, e da prefeitura do Rio de Janeiro.

Em febril antecipação do pleito que se aproxima, as forças sob o comando do PMDB buscam o sucessor do, é justo que se diga, excelente prefeito Eduardo Paes. A escolha recaiu sobre o candidato Pedro Paulo, que não parece reunir as condições ideais para conquistar a prefeitura Carioca.

Dir-se-á que o candidato proposto reúne boas qualidades administrativas, o que parece correto. Contudo, conforme informação colhida na imprensa, Pedro Paulo, em dois incidentes distintos, teria revelado violência incontida e repetida contra sua ex-esposa, Alexandra. Ainda, segundo a mídia, socos e pontapés teriam sido desferidos contra Alexandra, sugerindo a ferocidade por um lado, e a incontinência agressiva do candidato, por outro.

Teria o jovem e promissor político alegado “que estas coisas acontecem” , o que é, infelizmente, verdade, porém, a disseminação de exemplos comportamentais semelhante não invalida a necessidade de reconsiderar-se a candidatura. A ser o ato reprovável praticado por cidadão anônimo, pouca ou nenhuma repercussão teria junto à sociedade. No entanto, tal ato praticado por homem público, na iminência de pleitear aos milhões de Cariocas o comando de sua prefeitura, fará com que sofra crivo implacável de seus opositores e fragilizará o apoio esperado dos eleitores até então fiéis, porém decepcionados.

Parece razoável que, com a urgência imposta pelo calendário eleitoral, nomes alternativos sejam contemplados, assim evitando-se o início de um processo de desgaste do próprio PMDB local. Ainda, se tolhido Pedro Paulo nesta etapa, a capitalização, no tempo, de crescente maturidade abrirá, no futuro, portas que hoje se encontrariam fechadas.

Quanto ao PSDB, revela-se o partido de duvidosa sabedoria, buscando em Romário, excelente futebolista e bom senador, porém jejuno nas artes da administração, condição impeditiva para dirigir os destinos da cidade. Mais uma vez, merece sérias dúvidas o tino político e a a noção de estadista do presidente daquele partido. 


domingo, 22 de novembro de 2015

Reflexões post atentado



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Na medida que a perspectiva se instala, pois só o tempo a oferece às reflexões, pouco a pouco estas se liberam do excesso emocional em benefício da razão.

A retaliação é a natural reação à carnificina que assolou Paris, e outras terras pequenas demais para serem lembradas. Contudo, uma cuidadosa avaliação se impõe quanto à sua forma e intensidade. Um robusto grau de violência parece ser necessário, não sob o ímpeto da vingança que tolda a eficiência da ação, mas sim através cuidadosa seleção dos objetivos e prioridades que deverão reduzir o poder do Estado Islâmico e conduzir à sua eliminação no  menor prazo possível.

Por exemplo, a destruição de Raqqua pelos aviões Franceses, recém elevada a capital-sede do EI, em detrimento de outros objetivos de maior substância estratégica merece questionamento. Habitada tanto por partidários como por inimigos do terrorismo, a mortandade resultante permite, não apenas a eliminação de militantes mas, também, em contraponto, a formação de novos adversários, ultrajados pela morte de civis inocentes e familiares.

Sem dúvida, a eliminação das forças combatentes do Terror torna-se essencial, porém a experiência de guerras passadas ilustram quão relativa é a eficacia da guerra aérea. Sem o apoio de importantes forças terrestres dificilmente obter-se-á uma vitória definitiva sobre os Soldados da Escuridão.

Assim, somente a interação das forças de terra e ar, incluindo norte-Americanos, Russos, Sírios e demais aliados, irmanados pela urgência do desafio, permitirá a eficaz eliminação dos seguidores da bandeira Negra como força combatente estruturada.

Porém, talvez ainda mais importante e premente, será a triagem entre a imensa maioria dos Muçulmanos habitando a Europa e os seguidores das facções niilistas. Ainda, sem prejuízo de severa atuação preventiva dos serviços de inteligência, e financiado com parte das verbas que de outra forma iriam para o combate armado de elevadíssimo custo, cabe aos governos europeus a urgente implementação de projetos de equalização de oportunidades. Qualidade de moradia, educação, transporte e trabalho para a juventude Árabe/Turca deveriam ser instituídos, assim lhes dando uma luz de esperança igualitária, dentre Franceses, Ingleses, Alemães e Belgas. Baixo seria seu custo se comparado com a virulência do combate prometido.

Ainda, a negativa de cidadania aos filhos de imigrantes nascidos em solo de alguns países europeus acentua o fosso que separa as novas gerações da comunidade nacional, frustrando acentuadamente a expectativa de igualdade essencial à um futuro promissor.

Em contrapartida ao reconhecimento de maiores privilégios a serem, eventualmente, concedidos às comunidades Euro-Islâmica, uma revisão da legislação imigratória de origem externa à União Européia tornar-se-ia recomendável para evitar que novas levas inviabilizassem a equação financeira necessária à implementação do projeto visando a equalização dos que lá já estão.

A conquista de “Hearts and Minds” do cidadão Euro-Muçulmano parece ser essencial para que a guerra ideológica que hoje tão tragicamente se manifesta não perdure e se intensifique através das décadas vindouras. Nada mais perigoso do que a tendência de apartheid que se desenha no futuro imediato.



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A grande aliança


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A tragédia que assolou Paris teve por efeito uma profunda reavaliação pelo governo Hollande quanto aos próximos passos a tomar no Oriente Médio. Até então acompanhando os tímidos passos até agora seguidos por Barack Obama, optando por uma estratégia dupla de combater, tanto o Estado Islâmico quanto o governo Assad (apoiando o minusculo Exercito Livre da Síria), o presidente francês, instado pela real ameaça à segurança da França, reconhece a conveniência de juntar-se à lógica de Vladimir Putin.

Seguindo as prioridades enumeradas pelo Kremlin, Paris inverte sua posição e agora concorda que a deposição de Bashar al Assad deve ser postergada, tornando-se o combate contra o EI o objetivo prioritário. A deposição daquele governo apenas aumentaria o caos reinante, fortalecendo os terroristas.

Neste quadro, Washington já terá constatado a baixa contribuição que seu aliado Saudita tem oferecido no combate ao EI. Contrariamente aos interesses norte-americanos, observa-se que os estados Sunitas do Golfo Pérsico concedem prioridade, não contra as forças de Al Baghdadi, mas sim ao combate aos Xiitas, estes desvinculados do terrorismo, por considerá-los a maior ameaça a sua segurança.Validando esta visão, a prometida ofensiva aérea da Arábia Saudita e seus aliados contra os terroristas não se materializou, sendo ela alocada ao combate à rebelião Xiita no Iêmen.

Assim, os Estados Unidos se vêem manietados por um tenaz conflito de interesses. Terá que escolher, nos próximos dias, entre manter seu alinhamento histórico com a Arábia Saudita, na tentativa de derrubar o ditador Sírio com ataques de baixa intensidade ao EI, ou uma aliança com a Rússia e França, esta reforçada pela infantaria Xiita disponível na Síria, Líbano, Iraque e Irã, pronta para atacar e derrotar o Estado Islâmico com o apoio aéreo ocidental.

Por um lado o atentado à Paris, por outro o poder do  petróleo determinarão esta decisão.