sábado, 13 de setembro de 2014

Herança maldita



Os verdadeiros terroristas


Morto, Osama Bin Laden mostra quanto impeliu o Ocidente a lutar contra o terrorismo, que se reflete na inevitável redução dos direitos de seus cidadãos.

As primeiras vítimas foram  a retorno às práticas obscuras  de prisão, já abandonadas no século passado pelos países civilizados, sem  ordem judicial e encarceramento sem culpa formada e julgada. Seguiu-se o uso legalizado da tortura, prática medieval há muito abandonada. Logo após, veio a ilimitada espionagem eletrônica dos cidadãos, incluindo aqueles  de boa fé. Foi decretada a morte da privacidade e das proteções legais sob a argumentação que a liberdade se troca pelo preservação da Segurança Nacional. No seu contexto geral, parece inevitável a conclusão que a “Guerra ao Terrorismo” serviu, de forma indesejada, para justificar a fragilização dos direitos do cidadão.

Ainda, a  designação de “terrorista” passou a ser desvirtuada, tornando-se arma política, segundo a conveniência política do Poder. O valor semântico de  “terrorista” não mais respeita a definição correta, aquele que traz o terror à população civil para atingir seus objetivos políticos. Porém, na realidade, inclui, também, aquele que pacificamente protesta, ou aquele que enfrenta forças militares estrangeiras de ocupação. Estes não são “terroristas”. Como exemplo,  a ocupação Alemã designava a reação armada dos maquisards   franceses como se terroristas fossem.

Assim, no caso do Hizbollah, o termo “terrorista” aplicado por um governo, não o é por outro, em clara demonstração da relatividade de seu conteúdo. Neste caso, Europeus e Norte Americanos discordam, por estar o primeiro sob influência de Israel e o segundo por entender que a luta contra a ocupação do sul do Líbano pelo estado Judaico não constituía ato terrorista. 

No Egito ditatorial o epíteto transforma-se em instrumento político, ao designar como “terrorista” a Irmandade Muçulmana, um partido que há pouco elegeu seu presidente deposto, estando seus membros condenados à pena de morte. No Bahrein, os movimentos de oposição política, e não armada, da minoria Xiita, também é designada, oficialmente, de “terrorista”.  Na Ucrânia, Kiev designa os rebeldes que lutam contra seu exército como “terroristas”  e não como separatistas. É como se Lincoln designasse os  Confederados como terroristas. Desta forma,  observa-se o sequestro político do adjetivo que, por vezes,  coíbe a liberdade em vez de protegê-la.

Agora, novo surto de “auto proteção” invocada por países líderes Ocidentais, como o Reino Unido e a França contemplam duas medidas cujo desdobramento merece reflexão. Londres pretende impedir a entrada do cidadão, quando suspeito de retornar do jihad; Paris deseja impedir a saída de seu território de cidadão suspeito de juntar-se ao jihad. Conquanto compreende-se a intenção dos governos em questão, difícil será conhecer a intenção  ou a participação do suspeito. As medidas visam, de fato, a preservar a Segurança Nacional. Não será preciso, porém,  grandes saltos de imaginação para perceber-se quantas impropriedades e injustiças, e quantos arranhões resultarão nos direitos do cidadão inocente.

Como dizia Nietzsche, “quando combatendo monstros, cuidado para não tornar-se um monstro”.

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