Os verdadeiros terroristas |
Morto, Osama Bin Laden mostra quanto impeliu o Ocidente a lutar contra o terrorismo, que se reflete na inevitável redução dos direitos de seus cidadãos.
As primeiras vítimas foram
a retorno às práticas obscuras de
prisão, já abandonadas no século passado pelos países civilizados, sem ordem judicial e encarceramento sem culpa
formada e julgada. Seguiu-se o uso legalizado
da tortura, prática medieval há muito abandonada. Logo após, veio a ilimitada
espionagem eletrônica dos cidadãos, incluindo aqueles de boa fé. Foi decretada a morte da
privacidade e das proteções legais sob a argumentação que a liberdade se troca pelo preservação da Segurança Nacional. No seu
contexto geral, parece inevitável a conclusão que a “Guerra ao Terrorismo” serviu, de forma indesejada, para justificar a fragilização dos direitos do cidadão.
Ainda, a designação
de “terrorista” passou a ser desvirtuada, tornando-se arma política, segundo a conveniência política do Poder. O
valor semântico de “terrorista” não mais respeita a definição correta, aquele que traz o terror à população civil para
atingir seus objetivos políticos. Porém, na realidade, inclui, também, aquele que pacificamente
protesta, ou aquele que enfrenta forças militares estrangeiras de ocupação. Estes
não são “terroristas”. Como exemplo, a
ocupação Alemã designava a reação armada dos maquisards franceses como se terroristas fossem.
Assim, no caso do Hizbollah, o termo “terrorista” aplicado
por um governo, não o é por outro, em clara demonstração da relatividade de seu
conteúdo. Neste caso, Europeus e Norte Americanos discordam, por estar o
primeiro sob influência de Israel e o segundo por entender que a luta contra a
ocupação do sul do Líbano pelo estado Judaico não constituía ato terrorista.
No Egito ditatorial o epíteto transforma-se em instrumento político, ao designar como “terrorista” a Irmandade Muçulmana, um partido que há pouco elegeu seu presidente deposto, estando seus membros condenados à pena de morte. No Bahrein, os movimentos de oposição política, e
não armada, da minoria Xiita, também é designada, oficialmente, de “terrorista”. Na Ucrânia, Kiev designa os rebeldes que lutam contra seu exército como “terroristas” e não como separatistas. É como se Lincoln designasse os Confederados como terroristas. Desta
forma, observa-se o sequestro político do
adjetivo que, por vezes, coíbe a liberdade em vez de protegê-la.
Agora, novo surto de “auto proteção” invocada por países
líderes Ocidentais, como o Reino Unido e a França contemplam duas medidas cujo
desdobramento merece reflexão. Londres pretende impedir a entrada do cidadão, quando suspeito de retornar do jihad;
Paris deseja impedir a saída de seu território de cidadão suspeito de juntar-se ao jihad. Conquanto compreende-se
a intenção dos governos em questão, difícil será conhecer a intenção ou a participação do suspeito. As medidas visam,
de fato, a preservar a Segurança
Nacional. Não será preciso, porém, grandes
saltos de imaginação para perceber-se quantas impropriedades e injustiças, e
quantos arranhões resultarão nos direitos do cidadão inocente.
Como dizia Nietzsche, “quando combatendo monstros, cuidado para
não tornar-se um monstro”.
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