No rescaldo da Copa do Mundo emerge a visão de uma nova
formulação internacional. Não uma nova potência nascendo, porém mais uma alternativa surge para o Brasil. Sem
abandonar os laços políticos e econômicos com os Estados Unidos e Europa, a
reunião dos BRICS começa a ter contornos práticos, começa a conquistar
credibilidade.
A presença de Xi Jinping, não apenas em Fortaleza mas, também,
dirigindo-se ao Congresso brasileiro, oferece a medida de seu engajamento neste
projeto. Não é desprezível a franca visibilidade do presidente da nação que na
próxima década tornar-se-á primo inter
pares no xadrês internacional. No entanto, vantagens podem ser esperadas no eixo
Brasilia-Pequim, sendo menos nítidos os benefícios para o Brasil nas relações com os demais países do grupo.
Validando a formação
deste novo bloco, a China não ignora a tensão que seu singular crescimento
econômico causa nas relações com Estados Unidos. Estes, considerando-se
potência Asiática, vêem na expansão Chinesa uma nítida ameaça a sua liderança
no Pacífico e seus mares litorâneos. Preocupam-nos a latente ameaça a seus aliados, o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan e as Filipinas. Na
medida em que a economia Chinesa, impulsionando seu comércio internacional
adquire preponderância planetária, Pequim não poderá confiar no abastecimento
vindo de regiões sob domínio econômico e político de Washington, caso ocorram disputas diplomáticas e potenciais sanções econômicas. Assim, necessário se torna diversificar e
ampliar.
Do ponto de vista militar, como proteção às extensas rotas marítimas, onde flui seu
comercio exterior, pode-se prever a ampliação de sua marinha de guerra,
tornando-a, se não igual à Norte
Americana, suficientemente importante para acentuar tensões políticas. Assim, terá nos países dos BRICS (com a
possível abstenção da Índia) fontes confiáveis e diversificadas e no mínimo
neutras, que garantam seu abastecimento.
Neste quadro, o Brasil, pela sua extensão geográfica e
demográfica exerce uma natural influência sobre os rumos da America do Sul,
assim abrindo portas políticas e comerciais para os demais países da região.
Ainda, sua riqueza mineral e sua relevante produção agrícola propicia à China
fonte confiável de insumos relativamente isenta de constrangimentos políticos. A evolução de seu mercado
consumidor é, também, elemento positivo na equação que se constrói. Finalmente,
a natural propensão brasileira para um caminho neutro e eqüidistante em sua política
externa, deverá tranqüilizar a China quanto à confiabilidade e continuidade do
fluxo comercial.
A criação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS parece ser uma viga a mais na construção de uma “zona do Yuan”. É evidente, para Pequim, o domínio Norte Americano sobre o fluxo financeiro
internacional e suas conseqüências comerciais e políticas. A par de tratados já
existentes de uso recíproco de moedas asiáticas, lideradas pelo Yuan, é
provável que o mesmo venha ocorrer, ainda que paulatinamente, dentre os
participantes dos BRICS. No entanto, nenhum projeto parece, no momento, apto a retirar do dólar o status de moeda
de reserva internacional.
Seria ingênuo ignorar, contudo, que o comando do nascente bloco estará em
Pequim. Da China pode-se esperar
flexibilidade no campo político, mas dificilmente transigirá no campo comercial.
Seu projeto de crescimento econômico, imposto pela avassaladora realidade
demográfica, onde ainda 500 milhões de Chineses precisam chegar ao mercado
consumidor, dificilmente permitirá artificialismos e benesses a seus parceiros
do BRICS. Do lado positivo, porém, poderá o Brasil atrair grandes investimentos
estruturais e empresariais, sobre tudo naqueles que convirjam para maior
eficiência e eficácia do processo exportador.
Outro caveat
esconde-se nos biombos da diplomacia. Uma associação de países, uma vez institucionalizada,
dificilmente evitará armadilhas que um episódico consenso poderá trazer. As declarações recém divulgadas, em prol do
cessar-fogo em Gaza e Ucrânia, inatacáveis na sua essência, possivelmente causarão
desconforto quanto a sua oportunidade.
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