domingo, 27 de julho de 2014

O Capital e a Política




A evolução tecnológica da mídia aliada à evolução do marketing no processo eleitoral tem colocado o dinheiro como elemento imprescindivel para o sucesso nas urnas. Supera, em muito, o teor das plataformas e até mesmo das dúbias promessas que poluem o processo democrático. Se a mensagem engendrada para chegar a vitória não atingir os mais recônditos espaços da geografia eleitoral, corre-se o risco da derrota.

Para a obtenção deste capital, caminho essencial para o poder, atropela-se o bom senso e a ética, bens abstratos necessários à sociedade e à nação, mas, por vezes,  supérfluos para aqueles que a querem dominar. Estimula-se, ainda, o crescente apelo à corrupção, seja para buscar, seja para repor o capital investido nas campanhas.

Os exemplos são internacionais. Começando por nossa própria casa, temos o episódio do Mensalão onde a imperiosa busca pelo financiamento das campanhas milionárias encontra a mais solerte das justificativas, onde o mal presente será compensado pelo  bem futuro, isto é, pelo exercício do poder por este ou aquele partido. Artifícios, legais ou criminosos, são mobilizados para conspurcar a necessária pureza do voto individual. Apesar da criação do instituto da “Ficha Limpa”, este torna-se inócuo face a infindável chicana que  decorre do Código Processual. A exigência de “transitado em julgado” faz com que o objetivo saneador adquira o tom de fantasia.

Nos Estados Unidos vê-se, também, preocupante contaminação do processo democrático.  Por decisão da sua mais alta Côrte, a empresa adquire personalidade de pessoa física para fins de financiamento de campanha. Desta forma, a contribuição financeira para fins eleitorais, antes limitada à pessoa física foi deturpada por considerar  a pessoa jurídica como se individuo fosse. Ainda, a propaganda eleitoral, antes limitada, hoje tem, na prática, suas fronteiras abolidas por artifícios aprovados, ainda, pela Supreme Court.  Desta forma, gradativamente, transfere-se o poder político às empresas, onde  a base da manifestação eleitoral, o interesse cívico do eleitor, é atropelado e desviado pelo interesse comercial que, por necessidade,  rege o estamento empresarial.

Já na França,  Nicholas Sarkozy  vê-se envolvido com duvidosos fundos de campanha. Acusado pela promotoria pública por influenciar ilegalmente a milionária senil, Mme. Bettencourt, dona da L’Oreal, extraindo, assim, contribuição para sua campanha, o presidente Francês se vê em apuros.  Como se não bastasse, o partido UMP, comandado por seu pupilo Jean François Coppé, embaralhou as contas, embrenhando-se em contabilidade paralela e  suspeita, o que lhe valeu a defenestração do cargo. Interventores foram nomeados. Compra de submarinos já emergiu, trazendo consigo acusações de kick-backs, ainda, para fins de campanha.

Os sinais, internacionais e evidentes, da deterioração da democracia universal que se vê substituída pela democracia seletiva, onde o lema  “um homem um voto” é substituído por “Muitas moedas,  muitos votos”, promete alterar seu perfil qualitativo. Esta gradual, porém incontida  alteração de valores, não só políticos, mas também sociais e morais, haverá de deturpar o princípio fundamental  do Bem Comum, que cimenta o contrato sócio-político das nações.

Esta circunstância decorre e converge com a crescente concentração de renda, transferindo, excessivamente,  o poder efetivo para o topo da pirâmide social, assim provocando o esgarçamento da solidariedade cívica, fator essencial à estabilidade dos valores e das Instituições. Causa, também, movimentos opostos, de rebeldia contra a excessiva transferência de poder, cujas conseqüências poderão ser mais graves do que as imperfeições que ora se manifestam.

O modernismo democrático-monetário que aflora, distancia-se da emergência dos Iluministas, da Revolução Francesa e da notável Constituição Norte Americana., e parece trazer consigo o germe da auto-destruição.


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