A evolução tecnológica da mídia aliada à evolução do
marketing no processo eleitoral tem colocado o dinheiro como elemento imprescindivel
para o sucesso nas urnas. Supera, em muito, o teor das plataformas e até mesmo
das dúbias promessas que poluem o processo democrático. Se a mensagem
engendrada para chegar a vitória não atingir os mais recônditos espaços da
geografia eleitoral, corre-se o risco da derrota.
Para a obtenção deste capital, caminho essencial para o
poder, atropela-se o bom senso e a ética, bens abstratos necessários à sociedade
e à nação, mas, por vezes, supérfluos
para aqueles que a querem dominar. Estimula-se, ainda, o crescente apelo à corrupção, seja para buscar, seja para repor o capital investido nas campanhas.
Os exemplos são internacionais. Começando por nossa própria
casa, temos o episódio do Mensalão onde a imperiosa busca pelo financiamento
das campanhas milionárias encontra a mais solerte das justificativas, onde o
mal presente será compensado pelo bem
futuro, isto é, pelo exercício do poder por este ou aquele partido. Artifícios,
legais ou criminosos, são mobilizados para conspurcar a necessária pureza do
voto individual. Apesar da criação do instituto da “Ficha Limpa”, este torna-se inócuo face a
infindável chicana que decorre do Código Processual. A exigência de “transitado
em julgado” faz com que o objetivo saneador adquira o tom de fantasia.
Nos Estados Unidos vê-se, também, preocupante contaminação do
processo democrático. Por decisão da sua
mais alta Côrte, a empresa adquire personalidade de pessoa física para fins de
financiamento de campanha. Desta forma, a contribuição financeira para fins eleitorais, antes limitada à pessoa física foi deturpada por considerar a pessoa jurídica como se individuo fosse. Ainda,
a propaganda eleitoral, antes limitada, hoje tem, na prática, suas fronteiras abolidas
por artifícios aprovados, ainda, pela Supreme
Court. Desta forma, gradativamente,
transfere-se o poder político às empresas, onde a base da manifestação eleitoral, o interesse cívico do
eleitor, é atropelado e desviado pelo interesse comercial que, por
necessidade, rege o estamento
empresarial.
Já na França, Nicholas
Sarkozy vê-se envolvido com duvidosos
fundos de campanha. Acusado pela promotoria pública por influenciar ilegalmente
a milionária senil, Mme. Bettencourt, dona da L’Oreal, extraindo, assim,
contribuição para sua campanha, o presidente Francês se vê em apuros. Como se
não bastasse, o partido UMP, comandado por seu pupilo Jean François Coppé,
embaralhou as contas, embrenhando-se em contabilidade paralela e suspeita, o que lhe valeu a defenestração do
cargo. Interventores foram nomeados. Compra de submarinos já emergiu, trazendo consigo acusações de kick-backs, ainda, para fins de campanha.
Os sinais, internacionais e evidentes, da deterioração da
democracia universal que se vê substituída pela democracia seletiva, onde o
lema “um homem um voto” é substituído
por “Muitas moedas, muitos votos”,
promete alterar seu perfil qualitativo. Esta gradual, porém incontida alteração de valores, não só políticos, mas
também sociais e morais, haverá de deturpar o princípio fundamental do Bem Comum, que cimenta o contrato sócio-político
das nações.
Esta circunstância decorre e converge com a crescente
concentração de renda, transferindo, excessivamente, o poder efetivo para o topo da pirâmide
social, assim provocando o esgarçamento da solidariedade cívica, fator
essencial à estabilidade dos valores e das Instituições. Causa, também,
movimentos opostos, de rebeldia contra a excessiva transferência de poder,
cujas conseqüências poderão ser mais graves do que as imperfeições que ora se
manifestam.
O modernismo
democrático-monetário que aflora, distancia-se da emergência dos Iluministas, da
Revolução Francesa e da notável Constituição Norte Americana., e parece trazer
consigo o germe da auto-destruição.
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