domingo, 6 de julho de 2014

As dores da Inglaterra





                    David Cameron

O noticiário internacional  sobre o fiasco sofrido por David Cameron foi impiedoso. Seu candidato para a presidência da Comissão da União Européia recebeu apenas dois votos; o próprio  e o da Hungria, hoje próxima do fascismo. Vinte e seis nações a ele se opuseram.  Líder de uma Inglaterra que sempre temeu e desprezou o “Continente”, ou seja, a Europa continental, o político britânico espelha o latente mal estar habitual nas relações entre ambos os lados do Canal da Mancha.

De Gaule, acostumado com os infindáveis contenciosos,  aconselhava: “não convidem a Inglaterra para a União Européia”. Previa, sem dificuldade, que a “Pérfida Albion” não seria um “team player”. Sua história, desde 1066,  quando o franco-normando Guilherme Plantagenet conquistou definitivamente a ilha, foi sempre confrontacional. Intrigou e lutou, defendeu e atacou sempre tendo a política do  “Balance of Power” como essencial para sua sobrevivência. A União Européia tornou obsoleta esta histórica proteção, oferecendo, como alternativa,  a plena  inserção no conceito Europa, ao preço inevitável de parcial perda de soberania.

Hoje,  Downing Street manobra para reduzir todo constrangimento que Bruxelas possa trazer a sua independência. Rebela-se contra subsídios para outrem, enquanto os reivindica para si; rejeita a livre migração dentre os povos da UE, rejeita impostos para financiar os prejuízos ocasionados pelos desmandos financeiros. Enfim, rejeita o que é proposto para o bem comum, em prejuízo do interesse coletivo. A atual visão do Partido Conservador inglês busca uma União Européia onde a soberania das nações permaneça intocável, e os benefícios primordiais sejam os fluxos comerciais e financeiros. Em suma, prefere uma união econômica mantendo a anterior desunião política.

No amanhecer de sua derrota, o Premier britânico ameaçou; previu sérios prejuízos para a União Européia. Tentou intimidar o mais notável experimento sócio-político-comercial  jamais empreendido no concerto das nações. Alertou seus pares continentais do próximo referendo sobre sua duvidosa permanência na União Européia.  Como adolescente amuado, ameaça abandonar o jogo, esquecendo que não é dono da bola.

A cumprir-se a ameaça, Londres perderá o acesso privilegiado ao enorme mercado Europeu, sofrendo prejuízo muito superior à perda que sua partida causaria à União Européia. As barreiras levantadas pela atitude britânica leva o observador a se perguntar qual a alternativa que compensaria tais perdas? 

A título de especulação vale a lembrança da já existente aliança  dos “povos de língua Inglesa” em assuntos de segurança mútua. O desdobramento desta intima colaboração poderia ser o embrião de novo bloco político-econômico, superando tanto a União Européia como a emergente  China.

A soma dos PIB dos Estados Unidos (17.057 bilhões de dólares) , Reino Unido (2.522 bilhões), Canadá (1.798 bilhões), Austrália (1.532 bilhões) e Nova Zelândia (0,163 bilhões) atingiu, em 2013, o valor aproximado de 23 trilhões de dólares, ultrapassando amplamente os da União Européia (16.260 bilhões)e da China ( 9.200 bilhões).

Os benefícios econômicos e geopolíticos de tal amálgama poderiam devolver à Washington e seus parceiros menores a liderança do planeta.  A refletir...

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