David Cameron
O noticiário internacional sobre o fiasco sofrido por David Cameron foi impiedoso. Seu candidato para a presidência da Comissão da União Européia recebeu apenas dois votos; o próprio e o da Hungria, hoje próxima do fascismo. Vinte e seis nações a ele se opuseram. Líder de uma Inglaterra que sempre temeu e desprezou o “Continente”, ou seja, a Europa continental, o político britânico espelha o latente mal estar habitual nas relações entre ambos os lados do Canal da Mancha.
De Gaule, acostumado com os infindáveis contenciosos, aconselhava: “não convidem a Inglaterra para a
União Européia”. Previa, sem dificuldade, que a “Pérfida Albion” não seria um “team
player”. Sua história, desde 1066, quando o franco-normando Guilherme Plantagenet
conquistou definitivamente a ilha, foi sempre confrontacional. Intrigou e
lutou, defendeu e atacou sempre tendo a política do “Balance of Power” como essencial para sua
sobrevivência. A União Européia tornou obsoleta esta histórica proteção,
oferecendo, como alternativa, a plena inserção no conceito Europa, ao preço
inevitável de parcial perda de soberania.
Hoje, Downing Street
manobra para reduzir todo constrangimento que Bruxelas possa trazer a sua independência.
Rebela-se contra subsídios para outrem, enquanto os reivindica para si; rejeita
a livre migração dentre os povos da UE, rejeita impostos para financiar os
prejuízos ocasionados pelos desmandos financeiros. Enfim, rejeita o que é
proposto para o bem comum, em prejuízo do interesse coletivo. A atual visão do
Partido Conservador inglês busca uma União Européia onde a soberania das nações
permaneça intocável, e os benefícios primordiais sejam os fluxos comerciais e
financeiros. Em suma, prefere uma união econômica mantendo a anterior desunião
política.
No amanhecer de sua derrota, o Premier britânico ameaçou;
previu sérios prejuízos para a União Européia. Tentou intimidar o mais notável
experimento sócio-político-comercial
jamais empreendido no concerto das nações. Alertou seus pares
continentais do próximo referendo sobre sua duvidosa permanência na União Européia. Como adolescente amuado, ameaça abandonar o
jogo, esquecendo que não é dono da bola.
A cumprir-se a ameaça, Londres perderá o acesso privilegiado ao enorme mercado
Europeu, sofrendo prejuízo muito superior à perda que sua partida causaria à
União Européia. As barreiras levantadas pela atitude britânica leva o observador a se
perguntar qual a alternativa que compensaria tais perdas?
A título de
especulação vale a lembrança da já existente aliança dos “povos de língua Inglesa” em assuntos de
segurança mútua. O desdobramento desta intima colaboração poderia ser o embrião de novo bloco político-econômico, superando tanto a União Européia
como a emergente China.
A soma dos PIB dos Estados Unidos (17.057 bilhões de
dólares) , Reino Unido (2.522 bilhões), Canadá (1.798 bilhões), Austrália
(1.532 bilhões) e Nova Zelândia (0,163 bilhões) atingiu, em 2013, o valor
aproximado de 23 trilhões de dólares, ultrapassando amplamente os da União
Européia (16.260 bilhões)e da China ( 9.200 bilhões).
Os benefícios econômicos e geopolíticos de tal amálgama poderiam
devolver à Washington e seus parceiros menores a liderança do planeta. A refletir...
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