sábado, 22 de dezembro de 2012


A arma e a cultura


Quantas são as razões para a matança em Sandy Hook? Porque  morreram 27 pessoas, dentre as quais 20 crianças? Quantos massacres similares ocorreram nos últimos 24 meses? E  quantos no futuro próximo? Estas e muitas outras perguntas nos assaltam,  ao observar como é possível a recorrência de atos tão brutais, com regularidade surpreendente, cometidos, na sua esmagadora maioria nos Estados Unidos e por cidadãos da raça branca.

É natural que a primeira reação se dirija contra a venda quase indiscriminada de armas que se observa nos Estados Unidos. Parece claro que o acesso a armas automáticas, sejam elas pistolas ou rifles aumentam exponencialmente a letalidade no seu uso. De forma bastante simplista, a mera limitação de vendas de armas ao revolver, contendo apenas 6 balas, e proibindo-se qualquer outro tipo, se adequaria à Constituição americana, reduzindo exponencialmente o numero de vitimas em massacres semelhantes. Mas este seria um debate entre políticos e a National Rifle Association, sendo que o poder econômico da última vem dominando a vontade dos primeiros.

Parece razoável concluir-se que, embutida na “gun culture” norte americana, a arma torna-se instrumento relevante na solução de problemas. Desde os filmes e jogos eletrônicos de cowboys, passando pelos policiais e terminando nos invasores militares que restabelecem o “Bem” derrotando o “Mal”,  a  Arma é elemento central. Não surpreende que mentes distorcidas e torturadas busquem nela a eliminação de seus fantasmas. 

Conquanto o trato da questão da Segunda Emenda da constituição norte americana, que permite o porte de arma, seja de enorme relevância, não será ela a solução isolada para estes casos tão cruéis.

Tão, ou mais importante do que o controle das armas, é a compreensão do que seja a Sociedade americana. Ao analisá-la, importante me parece identificar o seu segmento WASP, que, apesar de incluir o Protestantismo  e o Anglo Saxão na sigla, na realidade exerce seu predomínio por toda a raça branca, independentemente de religião ou origem nacional. Tendo os WASP dominado a cultura de seus pares brancos e aderentes posteriores, inculcou-lhes  os valores que ainda marcam os descendentes dos imigrantes europeus que, em enormes ondas chegaram às costas Americanas.

Subordinando o Humanismo em prol do Pragmatismo, o vitorioso espírito Yankee privilegiou o Material como a força motriz de sua civilização. Seu lastro proeminente  é a ética do trabalho. Esta implanta o conceito dos “winners and loosers” que determina o valor do individuo para a sociedade e pelo sucesso material que alcança. Para os “ganhadores”, tudo, para os perdedores, os “loosers”, nem mesmo o respeito da família, esta também submissa à escala de valores dominante.

Esta gradação torna-se tão mais elevada ou degradante quanto mais una for a comunidade. A pequena cidade de Newtown, onde situa a escola Sandy Hook, faz parte da confortável comunidade WASP de Connecticut.  
Torna-se provável que as tensões psicológicas que se acumulam na parte inferior da pirâmide do sucesso equivalham  ao represamento  de frustração e raiva. Daí à explosão violenta é um passo.

Conquanto as outras raças que compõem o quadro demográfico norte americano compartilham, com intensidade variável, do culto ao sucesso material, estas se distinguem do segmento WASP no relacionamento e tolerância emocional que preside a interação no seu núcleo familiar e social. Tanto a comunidade negra como a “hispânica” se beneficia dos amortecedores de tensões, como poderia ser chamada a solidariedade familiar, a facilidade de expressar seus sentimentos e o confessionário católico.

Assim, parece relevante e urgente uma profunda análise, pelo governo norte americano, do perfil social, familiar, econômico, religioso, psíquico e racial das dezenas de perpetrantes da longa e incontida série de assassinatos em massa que ocorrem naquele país. A disponibilidade incontida da arma aliada à fragilidade psíquica, seja ela congênita, seja ela causada por pressões excessivas de seu entorno desaguam nas tragédias com as quais, infelizmente, já nos acostumamos.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Armas nos USA

Em sequência ao artigo acima pareceu-me relevante reproduzir pesquisa sobre propriedade de armas, publicada no New York Times. Para melhor compreendê-la vale lembrar que, do ponto de vista demográfico, o Partido Republicano é composto, em sua significativa maioria, por cidadãos brancos. Já os Democratas são multi raciais, incluindo parcelas relevantes de jovens brancos, um conteúdo importante de mulheres, bem como negros, hispânicos e  asiáticos.

Quanto a religião, dentre os brancos  e negros prevalece a religião protestante, esta fracionada entre  protestantes tradicionais tais como Episcopalianos (Anglicanos), Prebisterianos (Caslvinistas) e Evangelicos dentre os quais os Metodístas. Já, dentre os brancos, os Católicos são pequena minoria, contrariamente ao que se observa no segmento Hispânico.No total 51% da população é Protestante e 25% é católica. As demais religiões representam 4% e os não religiosos, aproximadamente 20%.

Espero que estas informações contribuam para um melhor entendimento da cultura armamentista daquele país:

Possuem armas:
                                                                      TODOS            DEM              REP
1. Dentre todos entrevistados                          42%                   31%                56%

2. Homens                                                      48                      40                   57

3. Brancos                                                      47                       37                  55
    Hispânicos                                                  29                       28                  32
    Negros                                                       21                       17                  41
    Asiáticos                                                    15                          5                  22

4. Rural                                                          60                       57                  65
    Suburbio ( rico, nos USA )                         42                       27                  58
    Urbano                                                      30                        20                  40

5. Secundário ou menos                                 41                         33                 59
    Faculdade parcial                                       43                         30                 59      
    Diploma Universitário                                 33                         22                 48
    Post graduação                                          32                         22                 48

6. Protestantes                                               54                         44                 60
    Evangélicos                                                50                         39                 61
    Católicos                                                   39                          33                51
    Sem religião                                               32                          21                58

Constata-se, claramente, que a prevalência de armas no segmento Republicano (WASP e aderentes) supera amplamente àquela das demais raças e segmentos. Como consequência temos a predominância do culto à arma espelhado na força política da National Rifle Association. Será razoável concluir-se que somente sob um governo Democrata poderá os Estados Unidos iniciar um processo de desarmamento parcial.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


Oscar Niemeyer, outra opinião

Somos um país de imensa qualidade, onde despontam personalidades excepcionais que merecem o respeito e a admiração pública. Contudo, mais se observa a tendência de nossos conterrâneos em denegrir àqueles que atingem proeminência e conquistam a estatura de grandes homens.  Dentre as lacunas que afligem a educação de nossos jovens observa-se a falta de reverência pelos nossos expoentes. Tal descaso reduz nossa auto estima e fragiliza nossa capacidade de superarmo-nos. Verificamos, hoje, nova manifestação de auto flagelação, onde um homem excepcional é reduzido e diminuído, na praça pública que a mídia oferece.  

Oscar,  por ser comunista sofreu neste artigo, acusação digna da Inquisição de Torquemada. A condenação de sua memória subordinou-se à fé capitalista defendida pelo autor.  Niemeyer é  reverenciado internacionalmente, apesar de seus ideais. E não será o único; o escritor português, José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura também o era. Diego Rivera, notável pintor mexicano, partilhava da mesma convicção sem que ela diminuísse a admiração de seus conterrâneos. Jean Paul Sartre, comunista durante sua longa carreira de notável pensador e escritor merece e merecerá a admiração de todos aqueles que refletem sobre os labirintos da vida humana.

Foi ele acusado  de inúmeros mal feitos e comportamento nefasto, contrario aos valores que o articulista defende como impositivos. Não parece justo.  Quanto veneno destila aquele que, sob o jugo de uma crença, julga-se proprietário do certo, e algoz do errado.

Condenado, pelo autor,  por não ter repartido sua fortuna e tornado-se pobre por ser comunista, reflete uma imperfeição na argumentação. Inicialmente, foram muitas as obras de Niemeyer doadas às causas convergentes com sua crença. Quanto terá ele contribuído para a caridade e obras sociais? Provavelmente tanto quanto qualquer outro. Ainda, contrariamente ao voto de pobreza encontradiço em certas ordens religiosas, este nunca foi um requisito para os admiradores do ideal comunista.  

Acusar Oscar Niemeyer de se beneficiar da preferência dos governantes para a execução de suas magníficas obras não parece fazer sentido, pois a licitação que lhe concedeu as encomendas governamentais,  não só o preço mas a qualidade da obra foram quesitos essenciais. Como dizer que a escolha foi equivocada? Dizer que nosso grande arquiteto “encheu os bolsos com o dinheiro público“ é tão absurdo quanto negar que os operosos empreendimentos privados não solicitam  encomendas e recursos preferenciais do governo. Recusar a encomenda de traçar os inigualáveis monumentos de Brasília seria tão absurdo quanto uma grande empresa recusar vender seus serviços ao Governo. Quanto à questão de licitações, melhor será o articulista repensar bem o que escreveu.

Quanto à admiração que Niemeyer supostamente atribuía à Fidel e Stalin não posso comentar, mas parece-me o calcanhar de Aquiles moral dos comunistas da velha escola. Nada, nem o bem estar do povo,  justifica matanças, prisões e tortura. Nada justificava, também, os negócios dos capitalistas Watson, dono da IBM com a Alemanha Nazista.  Joe Kennedy, multimilionário, os Krupp e inúmeros empresários mundo afora também apoiaram Hitler. Não acredito que qualquer um deles concordasse com o  morticínio, deixando-se ludibriar, erroneamente,  pela nobreza que atribuíam à causa. Quantos homens de direita, respeitados em nosso meio, apoiaram as matanças engendrados pelas ditaduras chilena e argentina? Remeto-me à Jesus que advertiu: “atire a primeira pedra...”

Em suma, parece-me inaceitável, pela maliciosa argumentação apresentada, constatarmos a  demonização de um homem que nenhum mal fez ao país, apesar de sua ideologia, um homem que, pelo contrario enalteceu a imagem do Brasil pela persistência e talento que dedicou à sua obra.

domingo, 2 de dezembro de 2012


O desrespeito ao Cidadão

Vimos na imprensa que alguns ilustres senhores Senadores rejeitam pagar o imposto de Renda sobre seu 14º e 13º salários. Não todos, pois muitos concordaram em arcar com o ônus que é  imperativo para os cidadãos normais. Resta, contudo, a indagação  que vai mais fundo, a meu juízo. Por que cargas d’água deve um legislador receber os salário extras que não cabem ao cidadão comum. Certamente não trabalham mais do que o peão ou o bancário, o motorista ou o metalúrgico. De onde vêm a iniqüidade que permite a criação de uma casta a parte? Certamente não será da Constituição. Como pode prevalecer um sistema onde um pequeno grupo de pessoas tem o direito de outorgar-se salários, aumento destes e, ainda, outros benefícios?

Os tempos estão mudando e o clamor público,  através da mídia e das redes sociais, se fazem sentir com crescente intensidade. Não mais cabe a inércia do eleitor, do homem comum que tanto pagam e tão pouco recebem do Estado,  pois o protesto pode ser recompensado. Vale lembrar a Lei da Ficha Limpa e a recente condenação dos poderosos para acreditarmos que o País tem jeito; muito depende de nós.

As centenas de milhões de reais que se esvaem dos cofres público não encontram  justificativa  numa nação ainda subdesenvolvida, buscando educação, saúde, saneamento básico, transporte, etc... Basta, parem de aumentar impostos para compensar, dentre outros,  os excessos que vem de cima. Vamos aprender com os países poderosos, tais como a França e a Itália que recém cortaram os salários e mordomias de seus dirigentes como exemplo dignificante para uma nação que precisa crescer.

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Novamente Palestina

As alianças estão em fase de desmoralização.  No recente embate nas Nações Unídas, os Estados Unidos,   guiados pelo exclusivo interesse de Israel, só conseguiram arregimentar nove países para rejeitar a pretensão Palestina. E que países... o Canada, os Checos, as poderosas Ilhas Marshall, a nobre ilha de Palau, a exemplar Ilha Nauru, a importante Micronésia e a semi colônia do Panamá.

Já as potencias Européias  optaram pela repulsa ou pela abstenção à posição Norte Americana. Pela oposição votaram os Escandinavos, a França, a Itália, a Espanha e outros;  pela omissão e abstenção se manifestaram  países como a Alemanha, o Reino Unido e outros. Assim a Europa negou o apoio à absurda posição do “Clube do Não”.

As restantes 138 nações, levadas pelo repúdio ao permanente congelamento da esmagada Palestina, votaram pela sua inclusão nas Nações Unidas como Estado Observador. Vale notar que a rejeição à  posição americana nenhum benefício material trouxe a estes países, muito pelo contrário. Seu voto deu-se por convicção que a primazia da Lei Internacional, tão ferida no confronto Israel-Palestina,  é essencial à preservação de seus interesses permanentes.  Os cépticos dirão: e a Rússia, e a China?  De fato estes têm sua própria agenda, e na condição de super potências pouco se preocupam com a Lei Internacional.

Resumindo, a Civilização deu um passo na direção correta, por rejeitar um dos últimos vestígios de colonialismo militar. Que passará pela mente de Barack Obama, Premio Nobel da Paz? Não constata que as Nações Unidas são o fórum ideal para se chegar à Paz? Do seu lado Israel, rejeitando incomprensívelmente um momento de Paz, iniciou, sem qualquer diálogo posterior, as represálias; cortará a Palestina quase pela metade com a expansão de assentamentos e embolsará os primeiros 120 milhões de dólares devidos à Ramallah. Que outras medidas retaliatórias estarão por vir? Que reações provocará do lado Palestino?

Este não será o último capitulo de uma tragédia que se prolonga a sessenta anos.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012


REARRUMANDO O ORIENTE MÉDIO

Guerra Civil da Síria, ameaça nuclear do Iran, atentados no Iraq, protestos no Bahrein e na Jordânia e, finalmente, e novamente o conflito Palestino Israelense.

O conflito  não surpreende pois ocorre entre um país oprimido e um país opressor. Dizer-se que o conflito foi provocado pelo Hamas é tão válido como atribuí-lo à Israel. São dois contendores em estado de guerra latente.

O conflito é absolutamente assimétrico, porém, desta vez, a inclusão dos foguetes sofisticados teve mais um efeito simbólico do que militar. Sun Tzu teria admirado como o poder psicológico do fraco conteve o poderoso inimigo. Sim, porque os foguetes de Hamas mataram cinco e feriram cento e onze Israelenses enquanto mais de centena de palestinos foram mortos pelos aviões e foguetes de Netanyahu. Porém anunciaram quão vulnerável se tornaram as cidades Israelenses, onde nem muro nem força armada poderão protegê-las para sempre. Em outras palavras, o foguete teve pouco resultado tático, mas alterou o equilíbrio estratégico.

O Estado Maior Israelense sabe que a única forma de impedir a re-estocagem de mísseis em Gaza seria através de uma ocupação permanente. Esta teria um custo inaceitável, não tanto pela eficácia da resistência, mas pela inviabilidade em termos de logística e de alocação relevante de tropa. Acresce a enorme fricção de controlar-se uma população extremamente hostil de mais de um milhão de pessoas. Ainda a fronteira com o Egito, hoje bem mais próximo e tolerante do Hamas, facilitaria a rota de reabastecimento dos eventuais rebeldes.

É claro, a alternativa de punir qualquer reinicio de lançamento de foguetes provavelmente receberia como resposta novo ataque Israelense, cuja dimensão poderia significar a destruição de Gaza, com milhares de mortos.

A resposta da opinião pública mundial tenderia a ser nitidamente contrária à Israel. Matanças não são mais bem aceitas e a perenidade do contencioso torna-se um irritante geopolítico com crescentes ramificações. A transformação do povo de Israel de perseguido em perseguidor desafia a compreensão de europeus e americanos (latu senso). A estes se juntam o Egito e Turquia, os dois pólos de poder Muçulmano na região, que não mais toleram o uso da força contra os Palestinos.

Já, os aliados Norte Americanos se encontram numa encruzilhada. A perda do ditador Mubarack retira de Washington o dócil joguete, manobrado para atender os interesses de Tel Aviv. A Turquia, outro nascente pólo de poder regional, foi alijada graças à enorme truculência Israelense, ao matar participantes Turcos desarmados em sua jornada à Gaza. Ainda,  perder o peão Turco, membro da OTAN, só pode ter causado consternação tanto no Pentágono como no Departamento de Estado.

Apesar das declarações de Obama, sobre o direito de defesa de um pais que aprisiona um outro povo não serem edificantes, na prática pouca força tiveram para favorecer a continuidade dos bombardeios Israelenses, tão a gosto de Hillary Clinton (Gaza redux, 2009).  Pelo contrário, em vez de Washington, com todo seu poderio, impor a paz, pediu ao Egito que o fizesse. Fez-se o vácuo, e foi preenchido.
Parece razoável concluir-se que o xadrez alterou-se em detrimento de Israel. O bom que poderia ser extraído na direção da paz ainda não está tão perto, porém a tendência será nesta direção. Passo importante será o apoio à pretensão Palestina de reconhecimento pela  Assembléia Geral da  ONU como “estado observador”.

A ferrenha oposição de Barack Obama e Benjamin Netanyahu à pretensão de Mahmud Abbas, lastreia-se sobre argumentos que nos remetem ao “doublethink”  de Orwell em seu  notável “1984”, onde o governo criava realidade alternativa para àquela que era veraz. Alegar-se, como fazem os parceiros acima,  que o processo de paz seria prejudicado pela anêmica Palestina, rejeita a realidade da incontida penetração de Israel na Cisjordânia através da expansão dos assentamentos garantida por décadas de ocupação militar. Como pode a formiga negociar com o tamanduá senão contando sua história ao concerto das nações...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Uma nação que se transforma

A eleição de Obama, e sua recente reeleição chama nossa atenção para as mudanças demográficas que ocorrem nos Estados Unidos. Expressiva maioria de latinos e asiáticos, aliados à 91% do eleitorado negro levaram à Casa Branca a antítese do poder WASP. Ainda, os jovens  de todas as raças viram em Obama um futuro mais sensível para com a classe média e mais solidário para com os pobres..

Mais informações são oferecidas no trabalho estatístico de A. Gelman e A. Feller da Universidades de Columbia e Harvard, onde se constata que, tivesse o eleitorado renda anual superior a US$ 100.000, 54% dos votos iriam para Mitt Romney. Fosse a renda abaixo dos US$ 50.000 então 60% dos votos pertenceriam a Barack Obama. Confirma que  60% dos jovens preferiram o presidente, e 54% dos idosos acima de 65 anos votaram em Mitt Romney. Ainda, e não menos importante, a maioria das mulheres preferiram o presidente.

O resultado da eleição parece sugerir a gradual perda da preponderância do segmento  WASP no cenário eleitoral, ainda que majoritário demográficamente. A derrota é ainda mais surpreendente tendo em vista a profunda crise econômica que assola aquele país.

O perfil Republicano, aparece como  intimamente associado à raça branca e seu Cristianismo Protestante ao qual se une a recente influência do Tea Party . Este se apropria, ainda que desvirtuando, do notável movimento em prol da independência americana.  Defende uma visão do Estado Mínimo, se opondo às iniciativas de equilíbrio social. Ao defender uma política econômica favorecendo o topo da pirâmide econômica, os Republicanos alijaram parte relevante das classes média e menos favorecida.

Nos últimos anos o ganho real da classe média foi modesto, enquanto os 10% mais ricos absorvem hoje mais de 50% do acréscimo de riqueza anual gerada no país. Tal disparidade já vem se refletindo no acesso à educação superior e na conseqüente  perda de mobilidade social norte americana. Questiona-se a tese Republicana, que pretende que todos têm a oportunidade de prosperar, basta querer estudar e trabalhar. Ora o estudo inferior leva ao emprego inferior assim gerando o circulo vicioso que fragiliza a estabilidade social.

O governo Obama, reconhecendo a mudança de forças políticas que compõem o país,   promete reverter a crescente disparidade de oportunidades aos cidadãos, mas encontrará no partido opositor tenaz resistência. Enquanto o Partido Democrata defende tanto a redução de gastos quanto o aumento de receitas através de impostos para o erário combalido, por outro lado o Sr Boehner, líder dos Republicanos na Câmara dos Deputados, já avisou que  não concordará com qualquer aumento de impostos, acentuando a exigência de corte das despesas do Estado.

Neste engessamento ideológico o país se aproxima do Precipício Fiscal, assim denominado o momento em que redução draconiana de despesas, simultânea ao aumento de impostos para todas as camadas sociais, parece levar os Estados Unidos à beira da Depressão. Contudo, o ditado Inglês que reza “a visão do patíbulo aguça a mente”* aplica-se a este dilema. Tão graves serão as conseqüências que razoável será prever concessões de política fiscal, de parte a parte, que evitem o desastre fiscal.

*The sight of the gallows sharpens the mind



Pedro da Cunha

quinta-feira, 1 de novembro de 2012



O bom caminho

Estamos em dias de  festa cívica. O Brasil começa a acreditar na Justiça, aquela que, até bem pouco tempo se escondia nas entrelinhas do Código penal, se ocultava atrás dos recursos funambulescos, se    agachava atrás das prescrições. Hoje o Brasil, através de seu Supremo Tribunal, descortina o caminho a seguir para reerguer a República.

Os Ministros do Supremo, ou sua maioria, demonstraram a coragem da imparcialidade face à influência sombria do poder político. Tiveram por alicerce o Ministério Público, a Policia Federal e  aqueles políticos que houveram por bem buscar a verdade nas Comissões Parlamentares de Inquérito. Tiveram, também, o apoio de grande parte da imprensa, revelando o lamaçal moral que, por vezes, envolve a política nacional.

Não cabe a argumentação de alguns políticos e militantes  que acusam o Supremo Tribunal de viés partidário. Basta lembrar que as provas foram colimadas pela Polícia Federal,  órgão subordinado ao Ministério da Justiça, partícipe do governo PT mas não cúmplice dos inúmeros ilícitos apurados. Ainda,  torna-se relevante assinalar que os Ministros do Supremo Tribunal, se não pertencem a partidos políticos foram, na sua maioria, 7 dentre 10, designados pelo governo do PT. Constata-se claramente que buscou o STF, com admirável isenção, colocar seu dever acima de inapropriada gratidão. Buscou a  identificação e a punibilidade dos crimes praticados.

É um momento,  não apenas de regozijo cívico,  mas  também, de reflexão. Constata-se que a contribuição da Oposição foi quase inexistente, o que sugere existir uma convergência espúria de interesses que aproxima  alguns segmentos das duas alas do Congresso. Nota-se, também, o silêncio constrangido da maioria esmagadora dos parlamentares do PT, que certamente reconhecem neste episódio, o fortalecimento da República e de suas instituições, e não de perseguição política. Finalmente, e talvez o mais importante no que tange nosso quadro político, cabe a admiração dos brasileiros pela postura serena, correta e respeitosa da presidente Dilma Rousseff, renunciando à qualquer pressão indevida, assegurando a independência dos Poderes que regem a Nação.

Falta muito a fazer. Porém, cabe-nos esperar que a Lei da Ficha Limpa, em aliança virtuosa com o Supremo Tribunal, venham a filtrar, gradualmente,  o turvo caudal que ora ameaça nos submergir, trazendo ao amanhã crescente limpidez. Nossos filhos merecem.


sábado, 6 de outubro de 2012

O retorno da tortura

Gradativamente a tortura foi abandonada como forma de coação e coerção pelos Estados. Ainda que muita violência ainda ocorra nas delegacias mundias ou nos quarteis dos beligerantes, o repúdio à tortura pelos governos  foi mais um passo civilizatório, tornando inadmissiveis as provas obtidas desta forma. A recusa da confissão sob tortura se lastreia no fato de que o torturado dirá o que necessário for para cessar seu sofrimento. Dirá o que  sabe e o que ignora, inventará o que lhe parecer adequado para sustar a mão do algoz. O torturado poderá ser um frio criminoso, mas tambem poderá ser um inocente envolvido em rede de intrigas ou circunstancias alem de seu contrôle. Como saber?

Tanto as Nações Unidas como a Convenção de Genebra, a primeira tratando da imposição dos Direitos Humanos, e a segunda cuidando da relação bélica dentre adversários, repudiam a tortura, tornando-a ilegal sob a égide da Lei Internacional.

Tendo isto em mente e atendendo à sua índole claramente civilizada, o presidente Barack Obama determinou o término da prática de tortura contra os  adversários, tornando ilegal a tortura oficializada, anteriormente utilizada pelo governo de George W Bush. Determinou o atual presidente que os interrogatórios obedecessem o prescrito no Manual do Exercito Norte Americano, onde a tortura é vedada.

Já o candidato Republicano, Mitt Romney, vem a publico defender o retorno às práticas do governo  Bush.
Manifestou-se, em público, que não considera o afogamento, por vezes incompleto e por vezes real (um pequeno descuido...), como método razoavel de interrogatório. Defende, e aí cita práticas anteriores oficialmente aceitas, que atirar-se o suspeito contra a parede, pendurá-lo pelos membros (páu de arrara) de forma estressante, submete-lo a temperaturas extremas e ruidos insuportáveis não constituem tortura.

Cabe, assim, perguntar-se qual o rumo que toma nossa civilização, que tanto se beneficiou dos exemplos que os Estados Unidos trouxeram ao planeta. Até que ponto poder-se-ia alegar  que  a tortura hoje defendida pelo Sr Romney, seria necessária ou conveniente se as relações norte americanas tivessem sido equilibradas e equitativas com todas as partes que compõe o contencioso que envolve o Oriente Médio e o mundo Muçulmano. Até que ponto, sem descurar da integridade de Israel, a concessão às justas aspirações dos outros povos da região não teria desanuviado a tempestade que ha 60 anos se forma e  que sobre nós paira?

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Insólito

Ha poucos dias dois presidentes defenderam, no memo país e na mesma semana, através da midia televisada,  politicas  externas totalmente  opostas para os Estados Unidos. Como dois presidentes? Bem, um era o presidente americano, e o outro era presidente de Israel. Obama afirmando que a diplomacia é o melhor meio para tratar com o Iran, enquanto Bibi Natanyahu declarava aos anfitriões americanos, sentados em sua casa diante da televisão, que melhor mesmo é partir para a agressão.

Não creio que tenha havido precedente de presidente extrangeiro contestar o anfitrião, que não fosse no sigilo dos bastidores.

Algo está mudando...

sábado, 8 de setembro de 2012

As Convenções Norte Americanas

Recém escutamos os discursos dos dois candidatos Norte Americanos. O primeiro, de Mitt Romney, na Convenção Republicana, onde, de forma monocórdia e distante elencou a posição de seu partido, recorrendo à sequencia  da lógica Republicana, sem surpresas e sem arroubos, acentuando o fracasso de seu adversário. Já o candidato Barack Obama, buscou nas emoções do idealismo e da solidariedade cidadã o apoio que necessita para prolongar sua política econômica na esperança, ainda que fugaz, de reverter as modestas taxas de crescimento da economia.

Um branco e um negro disputam, pelas armas da retórica, a atenção e a preferência do eleitorado. O primeiro destituido de empatia e calor  porém lastreado  nos frios dados que fragilizam o governo Obama. Atinge ele a natural e egocêntrica objetividade do eleitor maduro, branco, partícipe ou aliado do modelo WASP. O segundo busca, na eloquência e na emoção, submergir os tímidos fatos que lastreiam sua política econômica, substituido-os pela esperança da redenção econômica, da sociedade mais solidária. Vê nos negros, nos latinos e nos jovens de todas as raças seus aliados na construção de uma sociedade humanizada, acentuando uma distribuição mais equitativa da imensa riqueza que a America sabe, e ja soube gerar.

Neste embate observamos, talvez, os primeiros passos de uma nação que reflete uma crescente alteração na sua  composição demográfica, revelando os desafios iniciais desta nova adolescência, preparando-se para quando as minorias tornarem-se igualitárias, e, eventualmente, majoritárias.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A  CIGARRA E A FORMIGA
Nosso finado amigo Jean de La Fontaine há de desculpar este semi-plágio, porém difícil é não atribuir à Frau Merkel  e à Monsieur Hollande a caracterização que lhes compete.
A fábula se desenrola em dois tempos, o do calor e da abundância e o outro, dos ventos gelados e da neve frígida. No primeiro, tudo era fácil, quando a todos cabia uma parcela de prosperidade. Embalados pela ilusão do recente, desenfreado e instável capitalismo anglo-saxão, os adeptos da cigarra acreditaram na bonanza permanente, distribuindo dentre seus habitantes as benesses da crescente riqueza. Não por acaso, a cigarra viceja no calor, calor que se observa na Europa meridional, tendo a França por fronteira entre as duas espécies.
Já a turma da formiga habita as terras frias da Europa septentrional, o que lhe dá a natural propensão à acumulação e à prudência nos gastos, sabendo que pouco ou nada viceja sob o alvo mar de neve. Os Germânicos  souberam  atenuar as conseqüências da exacerbação especulativa preparando-se para os tempos de penúria.
Mas para confundir o notável fabulista francês, e contrariando sua criação, ambos os protagonistas cometeram ato relevante e determinante. Tanto a cigarra  como a formiga passaram a morar na mesma casa, sob o teto dourado do Euro, sem poder alegar desconhecer as diferentes personalidades daquele incipiente condomínio.  Assim, a cigarra Hollande e a formiga Merkel constataram que, chegado o inverno o desguarnecido armário do primeiro  contrastava com a abundância da dispensa da segunda. Assim, inverte-se  a bela lição de moral de La Fontaine, onde, por habitar endereços diferentes, o imprevidente era abandonado à própria sorte e o prudente era premiado. Já o fato de ambos os simpáticos insetos compartilharem o mesmo teto, torna-se inaplicável  as conseqüências  do preceito moral que defendia o escritor seiscentista.
O observador perguntar-se-ia se tal co-habitação fora forçada, mas ao constatar que tanto a formiga como a cigarra lançaram-se ao novo e comum endereço com regozijo e entusiasmo, altera-se o foco moral, cuja pertinência era somente  válida enquanto as moradias fossem separadas. Ora, a vida em comum pressupõe, sobretudo, solidariedade, ainda que prudente e comedida, e na sua falta o compartilhar não faria sentido.
Hoje, a Sra. Merkel castiga em seus discursos a irresponsabilidade de seus co-habitantes, fazendo-se esquecida que a própria Alemanha desrespeitou a regra da nova casa, ou seja,  a obediência ao comportamento fiscal acordado no Tratado de Maastricht.  Tiveram eles, também, seus momentos de cigarra, corrigidos graças à incomparável disciplina do povo Alemão que, em tempos não tão distantes, impunha sua vontade à Europa. Pretender que o Senhor Hollande possa domar com a mesma facilidade um povo que já decapitou reis e derrubou imperadores, com nítida preferência pelas barricadas, equivale a abandonar o entendimento da dimensão do  problema que as cigarras da Europa enfrentam. Sem compreensão, diálogo e ajustes não haverá solução possível. Assim a casa cai.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012


IMUNIDADE E ASÍLO

Certamente o Equador não é um dos países que mais se aproxima dos interesses do Brasil. Nosso comércio é restrito, nossas políticas internas e externas diferem. E nem somos vizinhos. O que nos une é, sobretudo, a coincidência geográfica de estarmos no mesmo continente e, de forma menor, de termos a mesma origem Ibérica.

Porque, então, esta solidariedade face à disputa entre Quito e Londres: a resposta repousa sobre uma só palavra: Precedente. O instituto da inviolabilidade da representação diplomática tem que ser preservado, assim como o princípio do Asilo.

A história conturbada da América Latina, onde se destaca uma sucessão de episódios de violência política, levou estes países a adotarem a prática do Asilo. Assim, as perseguições políticas, por vezes de estrema ferocidade, encontravam um freio  na soleira das embaixadas, onde políticos, jornalistas, sindicalistas e ativistas encontravam proteção contra a violência de regimes brutais. O exemplo da generosidade do Brasil, ao abrir as portas de sua embaixada em Havana, antes e depois da Revolução Cubana, bem ilustra a importância que nosso país atribui à sua responsabilidade humanitária e diplomática.

Mas nem sempre a proteção das embaixadas se limitava a Latino Americanos. Inúmeras representações Européias concederam asilo à  perseguidos em outros países, ainda de que de forma menos generosa. O caso do Cardeal Mindszenty, prelado húngaro perseguido pelas autoridades comunistas de seu país, bem ilustra o exemplo, uma vez que prevaleceu o interesse político  norte americano na decisão de albergar o asilado. Ainda, o asilo concedido pela Embaixada Sueca aos perseguidos políticos, quando da revolução Chilena  é outro exemplo relevante.

Ora, constata-se  que a resposta britânica, formal e escrita, ao asilo do Sr. Julian Assange desrespeitou, com arrogância Vitoriana, a inviolabilidade da Embaixada Equatoriana, princípio internacionalmente amparado pela Convenção de Viena. Pior, o desrespeito se manifestou por clara ameaça à imunidade que a Embaixada goza em solo britânico, por ter a nota do Foreign Office enumerado, dentre outros argumentos, o direito legal Britânico de desconsiderar a extra-territorialidade da representação Equatoriana, assim justificando sua possível invasão.

Tão grave foi a posição do governo de Sua Majestade, que teve por resposta a convocação imediata da OEA para exame deste atropelo diplomático. A moção mereceu a unanimidade dos países Latino Americanos, à qual o  Brasil se incorporou ,  com os esperados votos contrários dos Estados Unidos e do Canadá. 

A  posição norte americana se explica pelo interesse que Washington tem em punir  o Senhor Assange pelas indiscrições reveladas. Os indícios de participação do seu setor de Inteligência na manipulação do affaire do idealista Australiano são difíceis de negar, onde o intuito seria, uma vez na Suécia, obter a extradição do jornalista para submetê-lo aos tribunais Norte Americanos.

A postergada transformação em estupro de dois episódios distintos de relações sexuais e consensuais,  com duas adultas Suecas, se resumem, em estranha coincidência, no uso ou não de camisinhas durante o coito. Quem terá levado estas moças à apresentar, simultaneamente,  tardia queixa à Justiça Sueca.

Assume o dossiê a semelhança, numa forma post-moderna, do hipócrita Processo Dreyfus, onde interesses poderosos uniram-se  na perpetração de uma farsa jurídica, eventualmente derrotada. Também neste caso, é razoável supor-se a ocorrência de perseguição política, assim justificando o Direito de Asilo.   

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O RISCO DA BATALHA PERDIDA

O processo do mensalão ja se arrasta por muitos  dias. O impacto positivo (para aqueles que querem ver os criminosos punidos) da apresentação do Procurador Geral, enumerando o interminável elenco de falcatruas de políticos desonestos, começa a diluir-se com a passagem do tempo, com a chicana dos advogados de defesa, e com gradual perda de atenção da opinião pública. Será razoável temer que o ímpeto inicial em ver a lei cumprida e o crime punido se esvaia face à barreira erguida pela exhaustão e pelas pressões que se opõem ao veredito imposto pelas provas. A alternativa da impunidade trará ao país profunda ferida, levando à desmoralização da classe política e ao questionamento de nossa mais alta Côrte 

Resta ao cidadão mobilizar-se e enviar sua respeitosa mensagem, seu apelo ao Supremo Tribunal Federal  (www.stf.org.br), lembrando-lhe da desesperança que ameaça nossa Pátria. 

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

NOVA MATANÇA

Difícil será alterar as consequências que as circunstâncias impõem. Valorização cultural da violência aliada à venda indiscriminada de armas desaguam em mais violência. Desta vez alia-se o que vai acima com o ódio racial e religioso, adubado pelos meios de comunicação onde, mais uma vez, o maniqueísmo sobressai, onde todo muçulmano é "bad guy". A este cocktail explosivo adiciona-se um homem branco, membro da raça dominante que se sente ameaçada pelo incontido crescimento da minorias, um ignorante por não saber que os Sikhs nada tem a ver com Allah, e veterano de guerra, mentalmente desequilibrado.

Por resultado temos 7 mortos, todos a procura do "American Dream". Morreram sem saber porque, sem que nada lhes fosse exigido, sem que nada tivessem negado, somente pelo marrom de sua pele e pelo colorido de seus turbantes.

sábado, 4 de agosto de 2012

Estamos vivendo um momento Republicano crucial. O julgamento do Mensalão coloca no banco dos réus não apenas os políticos e empresários corruptos;  estão também sub judice  tanto o Supremo Tribunal Federal como a própria Nação.
A condenação da quadrilha, que prolifera sob disfarce de partidos políticos, restabelecerá o que há de mais fundamental em nossa democracia: a confiança na Justiça. Sem ela perde-se a esperança de reconstruir a Nação dentro de um balizamento ético, onde as oportunidade legítimas se sobreporão às espertezas e fraudes  circunstanciais.
Não, a condenação da Quadrilha do Mensalão não abrirá as portas à uma nova era de moralidade, porém trará ao povo brasileiro e às elites não comprometidas a esperança de um início de caminhada na busca de uma gradual redenção da República.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A Cultura da Violencia
Contrariamente ao alto índice de criminalidade  que ocorre em nosso país, onde os crimes tem objetivo específico, seja ele latrocínio, vingança pessoal ou guerra entre bandidos e polícias, o que comentamos abaixo versa sobre o crime anônimo, aquele que tem por objetivo o impulso ao morticínio, impulso resultante de uma caldeirão de emoções e pressões psicológicas, relegando à insignificância a condição das vitimas. Em  pouco, ou nada, se diferencia do terrorismo, onde a morte de inocentes serve para sublinhar a mensagem do perpetrante.
O recém assassinato de 12 pessoas (e mais 58 feridos), executado por um desequilibrado no cinema de Aurora (ironia?), pequena cidade do Colorado, causou espanto, pena e indignação à todos. Mas não surpresa. A freqüência de múltiplos assassinatos de pessoas desconectadas com os assassinos tem se tornando hábito nos Estados Unidos. Não faz muito, matança similar ocorreu na escola de Columbine, situada a poucos quilômetros da recente tragédia.
A freqüência e extensão destas ocorrências macabras  não se encontra em outros países. Ainda, como elemento de análise futura, na esmagadora maioria dos casos o assassino é branco e de classe média, ou seja de raça e condição dominante próxima ao puritanismo. Terá significado? Que fique a resposta a cargo de psicólogos e sociólogos.
Alguns elementos parecem relevantes na formação  da psique Norte Americana.
O culto à violência é nítido, sendo explicita, visual e diuturna no cinema, na televisão e nos jogos de computador. Desde os caubóis primordiais, que sem dó nem piedade massacravam índios quando não se matavam entre si, a admiração pelo pseudo herói se fixou na mente Americana. Aos caubóis seguiu-se a era dos gangsters onde a morte se dava em quantidade, seja pelos bandidos, seja pela polícia. As guerras internacionais se seguiram, com a sempre crescente identificação dos “bons” e dos “maus” .  Se compararmos a produção de “mortes” criada pelo cinema e nos seriados televisados norte americanos  com o observado no cinema internacional, constatamos que cabe à Hollywood a inquestionável primazia.
E temos, também, os “heróis” das histórias em quadrinho, levados às grandes  telas onde o maniqueísmo atinge sua plenitude. E por macabra coincidência foi num filme de Batman que um “herói” alucinado se outorgou o direito de matar.
Mas como matar?  Através da compra irrestrita de armas mortais, armas que já se distanciaram, ha muito, do conceito de auto defesa. E porque podem comprar? Porque nos idos do Século XVIII os fundadores da pátria permitiram, através da 2ª  Emenda à sua Constituição,  o porte de armas e a formação de milícias onde cidadão poderia se proteger, seja do gatuno, seja da opressão de um poder militar. Contudo o tempo e a tecnologia distorceram a intenção da Lei. As armas da época exigiam em torno de 3 minutos de preparação antes de desferir um segundo tiro, deixando o pretenso assassino  à mercê dos cidadãos enfurecidos. Hoje as armas automáticas, de livre venda ao público, podem disparar mais de 100 tiros por minuto.
Em conclusão,  entra em cena a pusilanimidade dos líderes políticos em Washington, onde o poderoso lobby da “National Rifle Association”, leva o estamento político à inação e à conformidade com o status quo. O silêncio de Barack Obama e Mitt Romney é emblemático . A sucessão de crimes múltiplos não tem estimulado medidas corretivas dos responsáveis pela nação Americana, que hoje enfrenta também este crescente terrorismo interno.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A SEGUNDA GUERRA DO PARAGUAY
Não, não creio que teremos uma segunda guerra, ou melhor, a que teremos não será militar,  mas sim política. É bem verdade que os dois campos adversários são compostos pelos mesmos combatentes de 1864: Brasil,  Argentina e Uruguai de um lado, e o Paraguai do outro. Esta coincidência dificilmente escapará aos políticos e ao povo paraguaios.
Os primeiros tiros já foram disparados, não por fuzis,  mas pela retórica mediática que envolve este conflito diplomático. Ostensivamente, o “casus belli” é conceitual. Foi o impeachment de Ferdinando Lugo revestido do processo democrático? O consenso parece ser contrário, uma vez que o réu não pôde se defender. Sem defesa não pode haver julgamento, muito menos condenação. Ainda, a decisão do Parlamento e da Suprema Corte em cassar o presidente invalidou, em poucas horas a vontade do povo paraguaio que o elegeu. Somente uma constituição imperfeita do ponto de vista democrático permitiria  tal abuso de autoridade.
 Não faz muito tempo, o caso Hondurenho, onde o seu presidente foi preso e exilado com base noutra constituição autoritária, mereceu  repulsa da OEA. Repudiou-se a sucessão pelo então Vice Presidente,  impondo-se  a eleição de novo presidente para o restabelecimento do convívio de Honduras na organização americana.
Este precedente pró democrático da substância à exclusão temporária do país faltoso do Mercosul, dando à decisão da maioria a coerência necessária. Sendo eleito novo presidente paraguaio, cessará a punição. A antecipação do processo eleitoral e a designação de novo presidente seria recomendável para apressar o retorno à casa da nação Guarani.
Porém, o convite à Venezuela para integrar o Mercosul, na esteira da exclusão temporária do Paraguai foi, indecente. Indecente pela hipocrisia e pela incoerência. Deu à uma iniciativa calcada na moral democrática a aparência de farsa , por ignorar que o governo Bolivariano atropela os preceitos essenciais à uma democracia, ou seja a pluralidade das forças políticas apoiadas por uma mídia independente e a alternância no poder. O interminável exercício da presidência pelo Comandante Chávez transformou um justo processo de resgate e  inclusão das classes  desfavorecidas venezuelanas num assalto ao poder.
Procurou a Troika do Cone Sul os benefícios econômicos da “Realpolitik” no trato de uma questão que é,  essencialmente,  moral. A conquista do mercado venezuelano, ainda que de grande interesse para o Brasil,  deve ocorrer em base sólida de pleno consenso do Mercosul. O erro da diplomacia tripartite  foi embaralhar o que é certo com o que é errado.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

É hora de solidariedade, Frau Merkel.

Nos anos 30 do Século passado instalou-se virulenta crise econômica, prenha de desídia e cizânia. Os lideres,  em busca de proteção para suas nações levantaram barreiras comerciais que gradualmente  transformaram-se em muralhas políticas, valorizando a discórdia. desaguando no conflito armado.
Hoje vivemos tempos similares, tendo por base profunda crise econômica,  onde os interesses tomam caminho divergente, com cada chefe de Estado, confrontado com sua crise interna, procura uma solução que hoje só pode ser encontrada no âmbito de uma Europa unida.
A excepcionalidade tem seu preço. A Alemanha dos anos trinta alcançou uma pujança econômica incomparável no Velho Continente. Por causas bem conhecidas, o III Reich considerava, compreensivelmente, que nada devia a seus vizinhos, e que nenhuma solidariedade se impunha àqueles que redigiram e lhe  impuseram o ruinoso Tratado de Versalhes. O que se seguiu desafia até hoje a racionalidade. O desatino de Herr Hitler,  superou os mais pessimistas vaticínios.
Hoje, a Alemanha novamente se destaca pela sua produtividade, engenhosidade, prudência fiscal, qualidades marcantes do povo teutônico. Porém, o sucesso Alemão, contrariamente à funesta década dos 30,  teve por base a solidariedade internacional. 
Começou pelo Plano Marshall, dando inicio à reconstrução germânica. Nesta ocasião, as nações vitoriosas, Estados Unidos, Inglaterra e França, garantiram a integridade territorial e política da Alemanha face  a ameaça Soviética. Seguiu-se o projeto francês do tratado  do Carvão e Aço Franco-Germânico, gênese da União Européia que tanta prosperidade trouxe à Alemanha. Finalmente, sua unificação, e portanto sua atual grandeza, tornou-se possível graças à derrocada Soviética, fruto do corajoso escudo levantado pelos Americanos, Ingleses e Franceses,  nas fronteiras globais do comunismo.
Assim, Frau Merkel, “it’s payback time”, hora da reciprocidade, momento de solidariedade, ocasião de gratidão.  Não se esconda atrás do pretenso interesse nacional, o qual, se defendido “à outrance” levará ao débâcle do Euro e à perdas incalculáveis para a Europa e a Alemanha.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Uma nova Europa?
Um país com déficit fiscal de 10% e com divida interna igual a 100% do PIB poderia servir de modelo para a sofrida zona do Euro? Tal sugestão  levaria Frau Merkel ao paroxismo da indignação teutônica, o que, para os países do clube implicaria em sério risco. A Europa não vê com bons olhos a irritação Germânica, seja qual for sua causa.
Loucura, diriam os vetustos economistas da escola conservadora. Hayek daria cambalhotas no túmulo. Cameron, na profundeza de sua recessão, comentaria com o habitual desdém Inglês, sobre as estrepolias  do “Continent” (isto é a Europa, da qual a Grã Bretanha faz parte ocasionalmente,  dependendo de seus interesses pontuais).
Apesar dos gritos e alertas dos defensores do “Cinto Apertado”, sobretudo defendido pelas elites imunes aos sacrifícios que decorrem desta política, constata-se que a eleição de François Hollande ameaça acionar o desvio dos trilhos que, no momento, levam a Europa na direção da recessão. O Velho Continente está mergulhado na inquietação política, econômica e social. Apesar de inclinar-se, ainda que timidamente,  para o modelo Norte Americano, será o presidente Francês contrario à prudência no trato das finanças públicas? Não parece ser o caso, mas defende que fatores estimulantes  à retomada econômica sejam adotados com urgência.
Como alternativa à severa política econômica ora em curso no Continente Europeu, propõe o aumento de liquidez através do Banco Central Europeu, assim facilitando o crédito à produção e ao consumo; a emissão de Euro Bonds para o refinanciamento das dividas soberanas mediante instrumento solidário; e a redução do valor do Euro face ao dólar, aumentando a competitividade comercial  Européia.
O Élysée reconhece que a revisão e a gradação, porém  não o abandono  da política de responsabilidade fiscal,  torna-se essencial para a manutenção da estabilidade política e a retomada da prosperidade Européia.. A prevalecer a política de austeridade “à outrance” e de assimetria fiscal sem que se desenhe o sopro da esperança para a base da pirâmide social cria-se o ciclo vicioso econômico. Fácil tornar-se-á o re-surgimento  de movimentos radicais de esquerda e direita, cujos embriões já despontam, e que tanto sofrimento trouxeram no Século passado.
Eis que, tal qual o Capitão Marvel que salva a heroína no derradeiro minuto, surge Barack Obama, com todo o poderio dos Estados Unidos, em apoio à François Hollande. Washington, em franca solidariedade e auto interesse, respalda o  viés de crescimento  defendido pelo presidente Francês,e  acrescenta seu peso na  balança política Ocidental. Além do presidente Americano é de se prever a adesão de outros líderes Europeus ao desafio lançado pelo presidente Gaulês.

sábado, 12 de maio de 2012


O uso político dos Direitos Humanos

Devemos à um presidente norte americano a difusão do princípio dos Direitos Humanos na política internacional. Acompanhando a trajetória política e pessoal de Jimmy Carter, verifica-se a inquestionável sinceridade de seus propósitos, e até nossos dias é ele quem melhor representa a pureza ética na defesa deste conceito.

Porém homens da sua pureza não são feitos todos os dias, nem todas a décadas. O conceito, puro na origem, tem sido, em muitos casos, paulatinamente transformado em mais uma arma de política internacional.

Um curto passeio pela história nos revela que conceitos moralistas já foram usados por nações, para justificar suas ambições geopolíticas. O “White Man’s Burden” da época Vitoriana nada mais pretendia do que vestir seu ímpeto colonialista com o manto da Retidão Moral, onde o homem branco trazia ao mundo despreparado o beneficio da civilização. Já, nos seus primórdios, a expansão imperial norte americana encontrou sua justificativa Moral na missão de “Cristianizar”, tanto o Havaí “pagão” como as Filipinas, esta através da traição a seu líder Emilio Aguinaldo, independente e insuficientemente Cristão ao ver de seus recém aliados americanos.

Já nos dias de hoje, observa-se incoerência e assimetria na aplicação militarizada da política de Direitos Humanos pelo seu mais relevante proponente, levando seus aliados a reboque na busca de benefícios. Causa perplexidade a constatação dos resultados desastrados destas experiências tão diversas.

No Kosovo, hoje alega-se ser criminoso quem governa o país; na Líbia, a luta prossegue entre as tribos vitimando civis;  no Iraque, o parcelamento do país já ocorre na região Curda, prometendo futura guerra civil; no Afeganistão onde, dentre os mortos, se misturam os inocentes e os guerreiros.

Como negar que as  mortes dentre civis causadas pelas intervenções “moralizadoras” superam aquelas que ocorriam antes da intervenção. Como negar aos países a catarse que gera sua própria evolução. Os Estados Unidos enfrentaram sua crudelíssima guerra civil, a Inglaterra, as matanças de Cromwell, a França, o terror da Revolução. Já o apoio a facções  pelas grandes potencias através da intervenção armada sofre da cruel lógica que é preciso matar civis para salvá-los.

Ainda, estas intervenções, geopolíticas na sua essência,  desequilibram o status quo internacional, tendo por potencial a geração de novas zonas de conflito de difícil avaliação. O apoio à uma rebelião contra uma ditadura não garante a instauração de uma democracia nem a reconstrução pacífica de uma país, gerando, ainda,  instabilidade nos países limítrofes.

Por estas razões, a tentativa de impor o respeito aos Direitos Humanos só encontra justificativa através da diplomacia uma vez que o maior desrespeito a estes Direitos  se revela na guerra e no morticínio de inocentes,  seja por quem for empreendida.

O conceito de Direitos Humanos é por demais importante para ser subordinado às ambições políticas de nações, como se peça de xadrez fosse. O seu uso de forma  Pragmática em vez de Moral, levará ao descrédito um conceito em vias de universalização, cuja aplicação deve ser resguardada para o  aperfeiçoamento das relações humanas e internacionais.

sexta-feira, 11 de maio de 2012


Para reflexão sobre os relevantes motivos que levam às guerras no Oriente Médio. Abaixo observamos a atuação dos gigantes internacionais, Exxon (norte americana) e BP (britânica) na produção de petróleo Iraquiano, outrora reservada ao Estado.

Iraq is pumping at the highest rate since Saddam Hussein seized power in 1979, supported by foreign investors such as Exxon Mobil Corp. and BP Plc (BP/) that are developing new fields and reworking older deposits. The country produced 3.03 million barrels a day in April, 7.7 percent more than in March, while Iranian production declined to 3.2 million barrels a day, according to an OPEC monthly report yesterday. Iraq’s output last exceeded Iran’s in 1988, when the countries ended their eight-year war, statistics compiled by BP show.


Noticia da Bloomberg, em 11-5-2012