quarta-feira, 11 de julho de 2012

A SEGUNDA GUERRA DO PARAGUAY
Não, não creio que teremos uma segunda guerra, ou melhor, a que teremos não será militar,  mas sim política. É bem verdade que os dois campos adversários são compostos pelos mesmos combatentes de 1864: Brasil,  Argentina e Uruguai de um lado, e o Paraguai do outro. Esta coincidência dificilmente escapará aos políticos e ao povo paraguaios.
Os primeiros tiros já foram disparados, não por fuzis,  mas pela retórica mediática que envolve este conflito diplomático. Ostensivamente, o “casus belli” é conceitual. Foi o impeachment de Ferdinando Lugo revestido do processo democrático? O consenso parece ser contrário, uma vez que o réu não pôde se defender. Sem defesa não pode haver julgamento, muito menos condenação. Ainda, a decisão do Parlamento e da Suprema Corte em cassar o presidente invalidou, em poucas horas a vontade do povo paraguaio que o elegeu. Somente uma constituição imperfeita do ponto de vista democrático permitiria  tal abuso de autoridade.
 Não faz muito tempo, o caso Hondurenho, onde o seu presidente foi preso e exilado com base noutra constituição autoritária, mereceu  repulsa da OEA. Repudiou-se a sucessão pelo então Vice Presidente,  impondo-se  a eleição de novo presidente para o restabelecimento do convívio de Honduras na organização americana.
Este precedente pró democrático da substância à exclusão temporária do país faltoso do Mercosul, dando à decisão da maioria a coerência necessária. Sendo eleito novo presidente paraguaio, cessará a punição. A antecipação do processo eleitoral e a designação de novo presidente seria recomendável para apressar o retorno à casa da nação Guarani.
Porém, o convite à Venezuela para integrar o Mercosul, na esteira da exclusão temporária do Paraguai foi, indecente. Indecente pela hipocrisia e pela incoerência. Deu à uma iniciativa calcada na moral democrática a aparência de farsa , por ignorar que o governo Bolivariano atropela os preceitos essenciais à uma democracia, ou seja a pluralidade das forças políticas apoiadas por uma mídia independente e a alternância no poder. O interminável exercício da presidência pelo Comandante Chávez transformou um justo processo de resgate e  inclusão das classes  desfavorecidas venezuelanas num assalto ao poder.
Procurou a Troika do Cone Sul os benefícios econômicos da “Realpolitik” no trato de uma questão que é,  essencialmente,  moral. A conquista do mercado venezuelano, ainda que de grande interesse para o Brasil,  deve ocorrer em base sólida de pleno consenso do Mercosul. O erro da diplomacia tripartite  foi embaralhar o que é certo com o que é errado.

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