IMUNIDADE E ASÍLO
Certamente o Equador não é um dos países que mais se
aproxima dos interesses do Brasil. Nosso comércio é restrito, nossas políticas
internas e externas diferem. E nem somos vizinhos. O que nos une é, sobretudo,
a coincidência geográfica de estarmos no mesmo continente e, de forma menor, de
termos a mesma origem Ibérica.
Porque, então, esta solidariedade face à disputa entre Quito
e Londres: a resposta repousa sobre uma só palavra: Precedente. O instituto da
inviolabilidade da representação diplomática tem que ser preservado, assim como
o princípio do Asilo.
A história conturbada da América Latina, onde se destaca uma
sucessão de episódios de violência política, levou estes países a adotarem a
prática do Asilo. Assim, as perseguições políticas, por vezes de estrema
ferocidade, encontravam um freio na
soleira das embaixadas, onde políticos, jornalistas, sindicalistas e ativistas
encontravam proteção contra a violência de regimes brutais. O exemplo da
generosidade do Brasil, ao abrir as portas de sua embaixada em Havana, antes e
depois da Revolução Cubana, bem ilustra a importância que nosso país atribui à
sua responsabilidade humanitária e diplomática.
Mas nem sempre a proteção das embaixadas se limitava a
Latino Americanos. Inúmeras representações Européias concederam asilo à perseguidos em outros países, ainda de que de
forma menos generosa. O caso do Cardeal Mindszenty, prelado húngaro perseguido pelas
autoridades comunistas de seu país, bem ilustra o exemplo, uma vez que
prevaleceu o interesse político norte
americano na decisão de albergar o asilado. Ainda, o asilo concedido pela
Embaixada Sueca aos perseguidos políticos, quando da revolução Chilena é outro exemplo relevante.
Ora, constata-se que
a resposta britânica, formal e escrita, ao asilo do Sr. Julian Assange
desrespeitou, com arrogância Vitoriana, a inviolabilidade da Embaixada
Equatoriana, princípio internacionalmente amparado pela Convenção de Viena.
Pior, o desrespeito se manifestou por clara ameaça à imunidade que a Embaixada
goza em solo britânico, por ter a nota do Foreign Office enumerado, dentre outros
argumentos, o direito legal Britânico de desconsiderar a extra-territorialidade
da representação Equatoriana, assim justificando sua possível invasão.
Tão grave foi a posição do governo de Sua Majestade, que
teve por resposta a convocação imediata da OEA para exame deste atropelo
diplomático. A moção mereceu a unanimidade dos países Latino Americanos, à qual
o Brasil se incorporou , com os esperados votos
contrários dos Estados Unidos e do Canadá.
A posição norte
americana se explica pelo interesse que Washington tem
em punir o Senhor Assange pelas indiscrições reveladas. Os indícios
de participação do seu setor de Inteligência na manipulação do affaire do
idealista Australiano são difíceis de negar, onde o intuito seria, uma vez na Suécia, obter a extradição
do jornalista para submetê-lo aos tribunais Norte Americanos.
A postergada transformação em estupro de dois episódios
distintos de relações sexuais e consensuais, com duas adultas Suecas, se resumem, em
estranha coincidência, no uso ou não de camisinhas durante o coito. Quem terá
levado estas moças à apresentar, simultaneamente, tardia queixa à Justiça Sueca.
Assume o dossiê a semelhança, numa forma post-moderna, do hipócrita
Processo Dreyfus, onde interesses poderosos uniram-se na perpetração de uma farsa jurídica, eventualmente
derrotada. Também neste caso, é razoável supor-se a ocorrência de perseguição
política, assim justificando o Direito de Asilo.
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