segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Uma nação que se transforma

A eleição de Obama, e sua recente reeleição chama nossa atenção para as mudanças demográficas que ocorrem nos Estados Unidos. Expressiva maioria de latinos e asiáticos, aliados à 91% do eleitorado negro levaram à Casa Branca a antítese do poder WASP. Ainda, os jovens  de todas as raças viram em Obama um futuro mais sensível para com a classe média e mais solidário para com os pobres..

Mais informações são oferecidas no trabalho estatístico de A. Gelman e A. Feller da Universidades de Columbia e Harvard, onde se constata que, tivesse o eleitorado renda anual superior a US$ 100.000, 54% dos votos iriam para Mitt Romney. Fosse a renda abaixo dos US$ 50.000 então 60% dos votos pertenceriam a Barack Obama. Confirma que  60% dos jovens preferiram o presidente, e 54% dos idosos acima de 65 anos votaram em Mitt Romney. Ainda, e não menos importante, a maioria das mulheres preferiram o presidente.

O resultado da eleição parece sugerir a gradual perda da preponderância do segmento  WASP no cenário eleitoral, ainda que majoritário demográficamente. A derrota é ainda mais surpreendente tendo em vista a profunda crise econômica que assola aquele país.

O perfil Republicano, aparece como  intimamente associado à raça branca e seu Cristianismo Protestante ao qual se une a recente influência do Tea Party . Este se apropria, ainda que desvirtuando, do notável movimento em prol da independência americana.  Defende uma visão do Estado Mínimo, se opondo às iniciativas de equilíbrio social. Ao defender uma política econômica favorecendo o topo da pirâmide econômica, os Republicanos alijaram parte relevante das classes média e menos favorecida.

Nos últimos anos o ganho real da classe média foi modesto, enquanto os 10% mais ricos absorvem hoje mais de 50% do acréscimo de riqueza anual gerada no país. Tal disparidade já vem se refletindo no acesso à educação superior e na conseqüente  perda de mobilidade social norte americana. Questiona-se a tese Republicana, que pretende que todos têm a oportunidade de prosperar, basta querer estudar e trabalhar. Ora o estudo inferior leva ao emprego inferior assim gerando o circulo vicioso que fragiliza a estabilidade social.

O governo Obama, reconhecendo a mudança de forças políticas que compõem o país,   promete reverter a crescente disparidade de oportunidades aos cidadãos, mas encontrará no partido opositor tenaz resistência. Enquanto o Partido Democrata defende tanto a redução de gastos quanto o aumento de receitas através de impostos para o erário combalido, por outro lado o Sr Boehner, líder dos Republicanos na Câmara dos Deputados, já avisou que  não concordará com qualquer aumento de impostos, acentuando a exigência de corte das despesas do Estado.

Neste engessamento ideológico o país se aproxima do Precipício Fiscal, assim denominado o momento em que redução draconiana de despesas, simultânea ao aumento de impostos para todas as camadas sociais, parece levar os Estados Unidos à beira da Depressão. Contudo, o ditado Inglês que reza “a visão do patíbulo aguça a mente”* aplica-se a este dilema. Tão graves serão as conseqüências que razoável será prever concessões de política fiscal, de parte a parte, que evitem o desastre fiscal.

*The sight of the gallows sharpens the mind



Pedro da Cunha

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