Uma nação que se transforma
A eleição de Obama, e sua recente reeleição chama nossa
atenção para as mudanças demográficas que ocorrem nos Estados Unidos.
Expressiva maioria de latinos e asiáticos, aliados à 91% do eleitorado negro
levaram à Casa Branca a antítese do poder WASP. Ainda, os jovens de todas as raças viram em Obama um futuro
mais sensível para com a classe média e mais solidário para com os pobres..
Mais informações são oferecidas no trabalho estatístico de
A. Gelman e A. Feller da Universidades de Columbia e Harvard, onde se constata
que, tivesse o eleitorado renda anual superior a US$ 100.000, 54% dos votos
iriam para Mitt Romney. Fosse a renda abaixo dos US$ 50.000 então 60% dos votos
pertenceriam a Barack Obama. Confirma que
60% dos jovens preferiram o presidente, e 54% dos idosos acima de 65
anos votaram em
Mitt Romney. Ainda, e não menos importante, a maioria das
mulheres preferiram o presidente.
O resultado da eleição parece sugerir a gradual perda da
preponderância do segmento WASP no
cenário eleitoral, ainda que majoritário demográficamente. A derrota é ainda
mais surpreendente tendo em vista a profunda crise econômica que assola aquele
país.
O perfil Republicano, aparece como intimamente associado à raça branca e seu
Cristianismo Protestante ao qual se une a recente influência do Tea Party .
Este se apropria, ainda que desvirtuando, do notável movimento em prol da
independência americana. Defende uma
visão do Estado Mínimo, se opondo às iniciativas de equilíbrio social. Ao
defender uma política econômica favorecendo o topo da pirâmide econômica, os
Republicanos alijaram parte relevante das classes média e menos favorecida.
Nos últimos anos o ganho real da classe média foi modesto, enquanto
os 10% mais ricos absorvem hoje mais de 50% do acréscimo de riqueza anual gerada
no país. Tal disparidade já vem se refletindo no acesso à educação superior e na
conseqüente perda de mobilidade social
norte americana. Questiona-se a tese Republicana, que pretende que todos têm a
oportunidade de prosperar, basta querer estudar e trabalhar. Ora o estudo
inferior leva ao emprego inferior assim gerando o circulo vicioso que fragiliza
a estabilidade social.
O governo Obama, reconhecendo a mudança de forças políticas
que compõem o país, promete reverter a crescente disparidade de
oportunidades aos cidadãos, mas encontrará no partido opositor tenaz
resistência. Enquanto o Partido Democrata defende tanto a redução de gastos
quanto o aumento de receitas através de impostos para o erário combalido, por
outro lado o Sr Boehner, líder dos Republicanos na Câmara dos Deputados, já avisou
que não concordará com qualquer aumento
de impostos, acentuando a exigência de corte das despesas do Estado.
Neste engessamento ideológico o país se aproxima do
Precipício Fiscal, assim denominado o momento em que redução draconiana de despesas,
simultânea ao aumento de impostos para todas as camadas sociais, parece levar
os Estados Unidos à beira da Depressão. Contudo, o ditado Inglês que reza “a
visão do patíbulo aguça a mente”* aplica-se a este dilema. Tão graves serão as
conseqüências que razoável será prever concessões de política fiscal, de parte
a parte, que evitem o desastre fiscal.
*The sight of the gallows sharpens the mind
Pedro da
Cunha
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