O noticiário revela, ininterruptamente, as tragédias que
acompanham as ondas de emigrantes. O Mediterrâneo se transforma em esperança ou
cemitério de milhares de seres na busca de refugio e melhores condições de
vida. São eles impelidos pelas privações econômicas e pelas perseguições
político/ideológicas. O mesmo acontece em outras partes do globo, onde, usando
o mar como estrada para a redenção, os fugitivos arriscam futuro incerto.
Atraídos pela globalização da informação, pelas riquezas utópicas
reveladas pelo cinema, pela internet e suas redes sociais, pela estabilidade
política traduzida em paz e tranquilidade, estes homens, mulheres e crianças,
num misto de imensa coragem e profundo sofrimento arriscam suas vidas pela
chance de refazê-la. É gente que, contrariando a interpretação de muitos em
países ricos, prova por sua atitude destemida não temer dificuldades nem
desprezar o trabalho.
No cenário Ocidental, duas fontes de refugiados sobressaem: a primeira o Oriente
Próximo, seguida pela África Negra.
No caso da emigração majoritariamente Árabe, preponderam os refugiados
provenientes da Líbia, tornada um caos pela derrubada do ditador Khaddafi; pelos
Sírios, fugindo da carnificina provocada pelos fanáticos do Estado Islâmico, dos
terroristas da Al Qaeda e pela ajuda dos Estados Unidos, em dinheiro e armamento, à outras facções que,
em ilógica aliança, levam a guerra ao governo de Haffez Al Assad; pelos Iraquianos, abandonando suas casas e pertences
após o desmonte do seu Estado pela invasão Bushiana. A estes se somam
paquistaneses, afegãos, e outros.
Já, os africanos, vitimas de desesperança, fustigados por
profunda pobreza e perseguidos por impiedosos governos, vítimas de abissal iniquidade econômica, quase
todos manipulados por potencias ocidentais, chegam ao fundo seco e árido de
suas almas, e pouco abandonam quando partem para aquilo que pior não mais pode
ser.
As nações anteriormente acolhedoras, necessitando mão de
obra, não mais o são. Pressionadas pelo
rescaldo da Grande Recessão, a queda da atividade econômica e o alto desemprego
reduziram a generosidade das nações desenvolvidas, substituída por crescente
xenofobia. Os efeitos já se fazem sentir; o crescimento do Front National de
Marine Le Pen, a vitória de David Cameron na Grã Bretanha, a reação das mais
diversas nações europeias exacerbam o discurso político e aguça a hostilidade
racial, fragilizando os alicerces morais
da União Européia, o mais importante projeto para a paz mundial já visto.
Ao observador lhe ocorrerá que a solução do problema migratório
deverá surgir de iniciativas simultâneas
junto às duas faces da moeda; os países ricos receptadores, e aqueles pobres,
ofertantes de mão de obra.
Berlim, Londres e Paris assim como Washington devem
constatar que suas ambições e ações geopolíticas geram consequências que não se
esgotam com a aparente resolução dos conflitos. Efeitos decorrerão das causas
de domínio político, através de manobras que impedem a construção de
instituições sólidas, democráticas ou não, que permitam o fortalecimento das nações
emergentes, e não tão somente àquela formulação política que, no momento, mais convenha à potência
manipuladora.
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