Mais uma vez, torna-se difícil entender o quebra-cabeça que
representa o Iraque. Quem é aliado e inimigo de quem? Onde estão as lealdades? Certamente, o governo Iraquiano, de preponderância Xiita e
liderado por Nouri al-Maliki, considera-se o único legítimo. E quanto aos
demais protagonistas?
Os Curdos, semi-independentes desde que os Estados Unidos
iniciaram sua guerra a Saddam Hussein, desenvolveram toda uma estrutura autônoma
e independente de Bagdá. Tem seu próprio exército que responde ao governo de Massoud
Barzani. Tem seu próprio petróleo, e o negocia em proveito próprio, a revelia da
lei que determina ser o petróleo pertencente à nação Iraquiana. O faz com a
cumplicidade de empresas petrolíferas internacionais sem nada contribuir ao
erário nacional. Neste momento, o
Curdistão Iraquiano vislumbra a singular oportunidade de tornar-se um estado
independente, consolidando militar e economicamente suas fronteiras.
Os Sunitas, antigos governantes do país, se rebelam contra o
domínio político Xiita, povo este subjugado pelo partido Baath, composto por Sunitas
como Saddam Hussein. Seguem a máxima que
rege a região: “inimigo de meu inimigo,
amigo é”. Aliam-se aos invasores do terrorista ISIS, por sua vez financiado pelas monarquias Árabes. O objetivo
comum: desestabilizar o inimigo Xiita. Soldados
e oficiais Sunitas, membros do exército Iraquiano, abandonam suas armas, entregando
aos invasores o importante território sob sua guarda.
Restam os Xiitas. População majoritária resgatada do jugo
Sunita pela invasão americana. Pouco interesse têm para facilitar o acesso de
seus recém inimigos ao poder. Seu exército, pego de surpresa pela invasão
dos terroristas do ISIS (onde estavam a CIA, o NSA que tudo observam, escutam?)
sofreu de imediato a deserção dos Sunitas, porém hoje parece recomposto. Face à falta de apoio militar,
solicitado aos Estados Unidos, e rejeitando a condicionalidade imposta por
Washington, El-Maliki busca e obtêm
apoio de tropas especiais Iranianas e aviões Russos, alem dos simbólicos 200 soldados enviados pelo Pentágono.
Já em Washington, observa-se
os meandros da política externa de Washington. Enquanto grassa o conflito. o presidente
exige do Premier Iraquiano reformulação político-partidária que dê,
também, aos Curdos e Sunitas voz ativa
nos destinos da nação ora fracionada. Simultaneamente, o Vice Presidente
propugna o desmembramento do Iraque em três países: Xiita, Sunita e Curdo.
A proposta, oferecida
por J. Biden, parece pretender forçar Bagdá à adoção da exigência do presidente Obama. Esta, não parece levar em
conta sua inoportunidade e impraticabilidade face à realidade político-militar.
Em complemento à complexidade acima, adicione-se a circunstância onde Washington
apóia rebeldes sírios que lutam contra o governo Assad que combate o ISIS que
invade o Iraque.
Parece pouco provável que Bagdá siga o conselho de
Washington na medida em que suas forças recuperem, pouco a pouco, o território
perdido ao ISIS e seus aliados Sunitas. Mas poderá tornar-se uma
vitória de Pirro. A derrota no campo de batalha não impedirá uma crescente
guerrilha terrorista, onde ataques disseminados e homens e caminhões-bomba hão
de dificultar a reorganização do país.
Talvez chegue, então, a hora de resgatar a equilibrada participação
política das etnias e religiões, tornando possível a consolidação da milenar Babilônia. Ou, inversamente,
até onde irão os reinos do Oriente Médio em busca da restauração do domínio
Sunita?
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