domingo, 29 de junho de 2014

A nova guerra do Iraque



Mais uma vez, torna-se difícil entender o quebra-cabeça que representa o Iraque. Quem é aliado e inimigo de quem? Onde estão as lealdades?  Certamente,  o governo Iraquiano, de preponderância Xiita e liderado por Nouri al-Maliki, considera-se o único legítimo. E quanto aos demais protagonistas? 

Os Curdos, semi-independentes desde que os Estados Unidos iniciaram sua guerra a Saddam Hussein, desenvolveram toda uma estrutura autônoma e independente de Bagdá. Tem seu próprio exército que responde ao governo de Massoud Barzani. Tem seu próprio petróleo, e o negocia em proveito próprio, a revelia da lei que determina ser o petróleo pertencente à nação Iraquiana. O faz com a cumplicidade de empresas petrolíferas internacionais sem nada contribuir ao erário nacional.  Neste momento, o Curdistão Iraquiano vislumbra a singular oportunidade de tornar-se um estado independente, consolidando militar e economicamente suas fronteiras.

Os Sunitas, antigos governantes do país, se rebelam contra o domínio político Xiita, povo este subjugado pelo partido Baath, composto por Sunitas como Saddam Hussein.  Seguem a máxima que rege a região:  “inimigo de meu inimigo, amigo é”. Aliam-se aos invasores do terrorista ISIS, por sua vez  financiado pelas monarquias Árabes. O objetivo comum:  desestabilizar o inimigo Xiita. Soldados e oficiais Sunitas, membros do exército Iraquiano, abandonam suas armas, entregando aos invasores o importante território sob sua guarda.

Restam os Xiitas. População majoritária resgatada do jugo Sunita pela invasão americana. Pouco interesse têm para facilitar o acesso de seus recém inimigos ao poder.   Seu exército, pego de surpresa pela invasão dos terroristas do ISIS (onde estavam a CIA, o NSA que tudo observam, escutam?) sofreu de imediato a deserção dos Sunitas, porém hoje parece  recomposto. Face à falta de apoio militar, solicitado aos Estados Unidos, e rejeitando a condicionalidade imposta por Washington,  El-Maliki busca e obtêm apoio de tropas especiais Iranianas e aviões Russos, alem dos simbólicos  200 soldados enviados pelo Pentágono.

Já em  Washington, observa-se os meandros da política externa de Washington. Enquanto grassa o conflito. o presidente  exige do Premier Iraquiano reformulação político-partidária que dê, também,  aos Curdos e Sunitas voz ativa nos destinos da nação ora fracionada. Simultaneamente, o Vice Presidente propugna o desmembramento do Iraque em três países: Xiita, Sunita e Curdo.

A  proposta, oferecida por J.  Biden, parece pretender forçar Bagdá à adoção da exigência do presidente Obama. Esta, não parece levar em conta sua inoportunidade e impraticabilidade face à realidade político-militar. Em complemento à complexidade acima, adicione-se a circunstância onde Washington apóia rebeldes sírios que lutam contra o governo Assad que combate o ISIS que invade o Iraque.

Parece pouco provável que Bagdá siga o conselho de Washington na medida em que suas forças recuperem, pouco a pouco, o território perdido ao ISIS e seus aliados Sunitas. Mas poderá tornar-se uma vitória de Pirro. A derrota no campo de batalha não impedirá uma crescente guerrilha terrorista, onde ataques disseminados e homens e caminhões-bomba hão de dificultar a reorganização do país.


Talvez chegue, então, a hora de resgatar a equilibrada participação política das etnias e religiões, tornando possível  a consolidação da milenar Babilônia. Ou, inversamente, até onde irão os reinos do Oriente Médio em busca da restauração do domínio Sunita?

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