Hoje os jornais divulgam a chegada ao Brasil do Bitcoin da moeda virtual já utilizada nos Estados Unidos (e sua área de influência) e criada no Japão. Mais ou menos como o dinheiro do conhecido “Monopólio”, que a algum momento todos já jogaram. Seguindo a desejável, porém perigosa, corrente da Inovação, um empresário Brasileiro acaba de inaugurar a primeira “corretora” desta “moeda” no Brasil, onde compra e venda são executadas.
O Bitcoin é moeda de mentirinha que se transforma em moeda
verdadeira na medida que adultos com duvidosa maturidade resolvem legitimá-la.
Uma crescente rede comercial, em boa parte do mundo, vem aceitando esta moeda
como forma de pagamento. Como exemplo imperfeito, o preço do ouro também se
lastreia num mercado onde a referência está no seu custo de produção, e, mais
importante, no receio à inflação e instabilidade política. No entanto, o ouro
não pode deixar de ter valor, enquanto o Bitcoin pode, subitamente, baixar a zero por não ter uma referência intrinseca.
Aí reside o perigo. A flutuação desta “moeda” revela-se
estrema. Lançada a preço abaixo de dois dígitos, e já tendo superado, no
passado recente, US$ 1.400,00 por unidade, situa-se, hoje, nas redondezas de
US$ 600,00. Mas, longe de tornar inconveniente tal oscilação, os proponentes
desta novidade monetária reconhecem a contribuição dos especuladores para
garantir sua liquidez, ainda que enormes prejuízos àqueles que mantêm saldos sejam
prováveis.
Para auxiliar no
entendimento desta singular manobra de marketing financeiro, entidades que
operam no setor não estão infensas ao desastre, como ficou comprovado com o insucesso de importante
operadora de Bitcoin no Japão, onde sua falência e enormes prejuízos não
encontraram explicação convincente. Fraude, incúria…não se sabe.
Este é o ponto que motiva esta coluna a questionar a
razoabilidade de instituir-se, no âmbito das atividades financeiras nacionais,
instrumento de questionável estabilidade e transparência. Se, por uma lado, as
moedas nacionais não mais dependem do lastro ouro (ou qualquer outro), têm o
tesouro nacional como garante. Ao Bitcoin falta lastro, falta-lhe gravitas,
essencial à relação de troca anônima e disseminada.
Fica, assim, incompreensível a atitude do Banco Central com
respeito a esta “moeda”. Que se infiltra sob a capa lustrosa de “Inovação”. Alega
a instituição que, sendo seu volume
insignificante, seu insucesso não resultaria em risco sistêmico. Contudo, não
deveria a circulação de instrumento que depende do lastro da confiança, que
circula livremente entre as partes assim emulando a moeda nacional, merecer das Autoridades
cautelar supervisão? Afinal, a extensão
de seu uso, se no momento é pequena, poderá, sem controles, tornar-se
importante, causando prejuízos àqueles que pensam estar protegidos.
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