quinta-feira, 12 de junho de 2014

Turbilhão no Oriente Médio (novamente)






A bomba geopolítica, que estava por estourar, cumpriu sua ameaça.  Foram diversos os fatores que tornavam previsível a desagregação violenta desta nação. Regido por governos fortes, leia-se ditatoriais, desde sua concepção,  o Iraque, com fronteiras concebidas pela habilidade e malicia Britânica, abriga populações heterogêneas, hostis entre si (além de tesouro incalculável). Os majoritários Xiitas  (65% da população), os Sunitas e os Curdos. Os dois primeiros disputam a primazia teológica, na busca do verdadeiro herdeiro de Maomé, já o terceiro se diferencia pela etnia, sendo Sunita sua inclinação religiosa. O tênue equilíbrio que perdurava até o governo Saddam Hussein lastreava-se na força cruel, essencial, naquelas paragens,  para a coesão de Estado tão fracionado.

Ao substituir o adesivo político militar, a invasão norte americana do Iraque retirou-lhe o elemento coesivo (ainda que cruel).

Assim, é  iminente a desagregação do Iraque. A latente hostilidade da minoria Sunita recebe agora o apoio de forças da mesma denominação religiosa, o Exército Islamita da Síria e do Iraque (EISI), criado no caldeirão da guerra civil Síria e financiado pela Arabia Saudita e os Emirados Árabes.

No entanto, não deveria ser difícil para as superdotadas agências internacionais de inteligência, certamente sintonizadas em tudo que ocorre naquela região, prever o desdobramento que  ora se observa. 

Alguns elementos chave deveriam saltar-lhes aos olhos:

A progressiva e crescente violência  empregada por elemento Sunitas contra a população Xiita ao longo dos últimos anos demonstram, claramente, a relutância dos Sunitas em aceitar o comando do Primeiro Ministro Al Maliki, líder Xiita. Embora eleito democraticamente, não teve habilidade ou vontade política para promover a coesão necessária.

O distanciamento político e a gradual independência  da população Curda face a Bagdá torna-se elemento desestabilizador. Inicialmente protegidos pelas forças norte-americanas e, agora,  por interesses petrolíferos, Massoud Barzani, principal líder Curdo tem optado por manter sua distância.

A fragilidade militar do exército Iraquiano, destituído de armamento pesado e de força aérea, resultado da desconfiança norte americana face ao governo Xiita, torna El  Maliki incapaz de fazer frente às forças invasoras, agressivas e dispersas.

Finalmente, o transbordamento do conflito Sírio sobre as margens Iraquianas era, senão  inevitável, muito provável. O apoio de Washington às forças hostis a Bashar al Asad, repete os erros que decorreram da derrubada de Saddam Hussein. Os radicais rebeldes  Islâmicos, os mais aguerridos, livres da contenção  de Washington, dão livre curso à audácia de seus líderes.

O que fazer? São diversos os cenários que se oferecem:
1. 
       Apelar para a mobilização dos Pesh Merga, força armada dos compatriotas Curdos, estrategicamente bem colocados a Leste de Mosul, o corredor de entrada do EISI.  Será de seu interesse afastar os rebeldes, que eventualmente se infiltrarão em terras Curdas colocando em risco suas incipientes independência e produção de petróleo? Ou optarão por aproveitar-se do caos, e buscar vantagens territoriais?
2.       Bagdá apela ao Irã, irmão na fé Xiita e com quem mantêm as melhores relações, auxilio militar, este capaz de prover aviação e blindados, e um exército bem treinado. Será que Teerã  desejará se envolver em tão pegajoso conflito, onde a entrada fácil promete uma retirada difícil?
3.       Pedir apoio à Turquia parece improvável face à rejeição dos Curdos, inimigos centenários.
4.       Help! Os Estados Unidos possuem poderosa força aérea em seus dois porta-aviões no Golfo Pérsico. Em questões de minutos seus “drones”  identificarão as posições dos invasores, seguindo-se ataques de mísseis “Cruise”, aviões e helicópteros.  Não seria necessário tropas terrestres para rechaçar o inimigo. Parece o caminho mais fácil do ponto de vista militar. Politicamente, contudo pelo menos três obstáculos se apresentam
a)      Renovado envolvimento norte americano naquele teatro de operações trará crescentes custos financeiros em momento de frágil recuperação econômica,
b)      Toda guerra traz armadilhas políticas, especialmente no cenário de sucessão presidencial.
c)      Ainda, a destruição do EISI favorecerá o governo Assad, o que, por consequência, prejudicará seu aliado rebelde na guerra civil Síria, o  Conselho Nacional Sírio.

Não é por acaso que o Oriente Médio se revela  tão complexo tabuleiro geopolítico. Sua formação geográfica desimpedida permite o livre deslocamento  de forças antagônicas e culturas e religiões diversas,  acrescida da incalculável riqueza mineral que aguça a cobiça dos países poderosos. Não é jogo para amadores (Sorry, Washington).

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