A bomba geopolítica, que estava por estourar, cumpriu sua
ameaça. Foram diversos os fatores que
tornavam previsível a desagregação violenta desta nação. Regido por governos
fortes, leia-se ditatoriais, desde sua concepção, o Iraque, com fronteiras concebidas pela
habilidade e malicia Britânica, abriga populações heterogêneas, hostis entre si
(além de tesouro incalculável). Os majoritários Xiitas (65% da população), os Sunitas e os Curdos.
Os dois primeiros disputam a primazia teológica, na busca do verdadeiro
herdeiro de Maomé, já o terceiro se diferencia pela etnia, sendo Sunita sua
inclinação religiosa. O tênue equilíbrio que perdurava até o governo Saddam
Hussein lastreava-se na força cruel, essencial, naquelas paragens, para a coesão de Estado tão fracionado.
Ao substituir o adesivo político militar, a invasão norte americana do Iraque retirou-lhe o elemento coesivo (ainda que cruel).
Assim, é iminente a
desagregação do Iraque. A latente hostilidade da minoria Sunita recebe agora o
apoio de forças da mesma denominação religiosa, o Exército Islamita da Síria e
do Iraque (EISI), criado no caldeirão da guerra civil Síria e financiado pela Arabia Saudita e os Emirados Árabes.
No entanto, não deveria ser difícil para as superdotadas
agências internacionais de inteligência, certamente sintonizadas em tudo que
ocorre naquela região, prever o desdobramento que ora se observa.
Alguns elementos
chave deveriam saltar-lhes aos olhos:
A progressiva e crescente violência empregada por elemento Sunitas contra a
população Xiita ao longo dos últimos anos demonstram, claramente, a relutância
dos Sunitas em aceitar o comando do Primeiro Ministro Al Maliki, líder Xiita. Embora eleito
democraticamente, não teve habilidade ou vontade política para promover a coesão necessária.
O distanciamento político e a gradual independência da população Curda face a Bagdá torna-se elemento desestabilizador. Inicialmente protegidos
pelas forças norte-americanas e, agora, por interesses petrolíferos, Massoud
Barzani, principal líder Curdo tem optado por manter sua
distância.
A fragilidade militar do exército Iraquiano, destituído de
armamento pesado e de força aérea, resultado da desconfiança norte americana
face ao governo Xiita,
torna El Maliki incapaz de fazer frente às forças invasoras, agressivas e dispersas.
Finalmente, o transbordamento do conflito Sírio sobre as
margens Iraquianas era, senão
inevitável, muito provável. O apoio de Washington às forças hostis a Bashar
al Asad, repete os erros que decorreram da derrubada de Saddam Hussein. Os radicais rebeldes
Islâmicos, os mais aguerridos,
livres da contenção de Washington, dão livre curso à audácia de seus líderes.
O que fazer? São diversos os cenários que se oferecem:
1.
Apelar para a mobilização dos Pesh Merga, força
armada dos compatriotas Curdos, estrategicamente bem colocados a Leste de
Mosul, o corredor de entrada do EISI.
Será de seu interesse afastar os rebeldes, que eventualmente se
infiltrarão em terras Curdas colocando em risco suas incipientes independência e
produção de petróleo? Ou optarão por aproveitar-se do caos, e buscar vantagens territoriais?
2.
Bagdá apela ao Irã, irmão na fé Xiita e com quem
mantêm as melhores relações, auxilio militar, este capaz de prover aviação e
blindados, e um exército bem treinado. Será que Teerã desejará se envolver em tão pegajoso
conflito, onde a entrada fácil promete uma retirada difícil?
3.
Pedir apoio à Turquia parece improvável face à rejeição dos
Curdos, inimigos centenários.
4.
Help! Os Estados Unidos possuem poderosa força
aérea em seus dois porta-aviões no Golfo Pérsico. Em questões de minutos seus
“drones” identificarão as posições dos
invasores, seguindo-se ataques de mísseis “Cruise”, aviões e helicópteros. Não seria necessário tropas terrestres para
rechaçar o inimigo. Parece o caminho mais fácil do ponto de vista militar.
Politicamente, contudo pelo menos três obstáculos se apresentam
a)
Renovado envolvimento norte americano naquele
teatro de operações trará crescentes custos financeiros em momento de frágil
recuperação econômica,
b)
Toda guerra traz armadilhas políticas,
especialmente no cenário de sucessão presidencial.
c) Ainda, a destruição do EISI favorecerá o governo Assad, o que, por consequência, prejudicará seu aliado rebelde na guerra civil Síria, o Conselho Nacional Sírio.
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