sábado, 7 de junho de 2014

Ideal ou Traição



Edward Snowden concedeu recente e importante entrevista para a televisão brasileira. É difícil ouvir este jovem sem sentir empatia pelos seus argumentos e perguntar-se que caminho trilha esta civilização moderna.

Com trinta e dois anos já enfrenta, por inimigo, a maior nação do planeta. Na sua terra é tratado, pelas mais altas autoridades,  como traidor e espião, passível de prisão perpétua ou pena de morte.

Até o momento nenhum fato valida estas acusações. Não obstante o poderio de Washington, e de sua inesgotável capacidade de coletar informação dentro e fora de fronteiras,  nenhum fato foi arrolado comprovando ser Snowden agente de qualquer nação, aliada ou inimiga. Ainda, nenhuma vantagem obteve, a não ser o exílio. Quanto a ser traidor, cabe indagar se o rompimento de um contrato de confidencialidade celebrado com seu  governo constitui traição, quando a falta se dá para alertar a Nação e defender seus valores.

Na gênese dos fatos está o trágico “nine eleven”. As cautelas anti-terroristas tornaram-se essenciais. Direito de auto defesa inconteste. Mas, contra quem? A fronteira que separa o cordato do absurdo pode ser tênue, e, sob intenso terror, por que não dizer pânico, o segundo atropela o primeiro. As referências institucionais e constitucionais correm risco real.

Assim agem os organismos criados para a coleta de informações pertinentes, ou, como agora é conhecido, impertinentes. Adquirem vida própria, em busca de poder e sustento, ampliando sua rede. A tecnologia como instrumento de coleta evolui em ritmo geométrico, atropelando as barreiras originalmente erguidas em defesa da privacidade do cidadão inocente do crime terrorista.

Em perene ampliação de sua missão original, este Leviatã sob tênue controle,  estende seu poder sobre países amigos e inimigos, seus dirigentes, subtraindo-lhes segredos políticos,  comerciais e tecnológicos.

Estaria o jovem errado em alertar a opinião pública para o atropelo que sofre a Nação? Não foram poucas as notícias que revelaram o espanto, sincero ou hipócrita, que se abateu sobre os mais altos escalões do governo. Barack Obama, o presidente que acusa Snowden de traidor, revelou de público seu espanto e indignação com o alcance da espionagem praticada pela NSA. As mais relevante empresas privadas, como Microsoft, Google, Facebook e outras, somente após as denuncias do jovem “espião”  rebelam-se contra a intrusão indesejada da Agência intrusiva. Reconhecem o perigo institucional,  e a perda de clientes.


Resta saber se Edward Snowden fez mal a seu país, ou, inversamente, ao confrontar os cidadãos com a corrosiva realidade, deu-lhes o conhecimento  de quão ameaçados estão os valores gravados na Constituição dos Estados Unidos, valores responsáveis pela incontestável grandeza daquele país. É difícil compreender o idealismo que pode motivar um jovem.                          


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