sábado, 15 de março de 2014

UPP, fracasso ou vitória?








Há anos, escrevi um artigo intitulado  “Ou o Rio acaba com a favela ou a favela acaba com o Rio”. Ou seja, transformar a favela, dar-lhe dignidade, cidadania. Não creio que a situação tenha melhorado muito desde aqueles tempos.

O artigo propugnava a invasão paulatina das maiores favelas. O objetivo: expulsar ou, se necessário for, eliminar a bandidagem lá inserida. Em seguida, instalar-se-ia  a tropa para garantir a liberdade dos habitantes e impedir o retorno dos criminosos. Mas grande erro seria se a intervenção  cessasse com a ocupação. Até esta primeira etapa, o Secretário Beltrame tem sido exemplar. Porém, bem mais terá que ser feito para co-optar o morador recém libertado e tornar perene a tranqüilidade da comunidade resgatada.

Torna-se essencial entender o ambiente do morador de favela conflagrada pelo banditismo. Além da opressão que sofrem, há que se compreender que são muitos os moradores que se beneficiam com o fluxo de dinheiro gerado pelo comércio da droga.  Não apenas os jovens “aviões”,  mas também os adultos prestadores de serviços e pequenos empresários, além dos “soldados” recrutados lucram. Esta realidade microeconômica tem que ser substituída por vantagens diferentes e superiores, para que a comunidade, ao perder certos benefícios  ganhem outros como a proteção da lei, a eliminação da violência que também fere os moradores, seus filhos, suas jovens mulheres. Ganham também o direito do livre ir e vir bem como o desenvolvimento econômico, facilitado por um comercio mais amplo, interativo, com o resto da cidade.

Em complemento aos benefícios acima, a construção de postos de saúde, escolas e aprimoramento da coleta de lixo são providências essenciais à fixação de cidadania no ambiente  UPP. Uma campanha de conscientização de higiene e comportamento deve  seguir-se à ação militar. Sem uma clara visão dos benefícios do novo formato de comunidade, tanto mais difícil será a adesão dos seus moradores. Vias de acesso para viaturas, desde autos até carros blindados,  deveriam ser abertas, de forma a permitir a chegada de socorro ou reforços em tempo hábil. No campo da comunicação o Disque Denuncia deve merecer a mais completa confidencialidade (colocada em dúvida na Rocinha) e confiança.

Concomitantemente,  para o sucesso das UPPs, parece relevante o aperfeiçoamento da  Polícia Militar. O tíbio comando, a falta de disciplina,  treinamento,  e a prepotência e desrespeito para com a população, por vezes observado, dificulta ou impossibilita a harmonia essencial  entre os fatores que sustentam o modelo.  

Ainda, a corrupção que contamina uma parte dos policiais, quebra o elo de confiança entre o cidadão e a autoridade militar. Aí cessa a colaboração do favelado com a policia, aumentando exponencialmente a dificuldade no cumprimento de sua missão. Esta minoria de maus soldados não só prejudica, mas traz perigo mortal para os colegas de farda no enfrentamento armado. O  policial corrupto na zona  da UPP é, em última análise, cúmplice do bandido, levando o perigo de morte a seus colegas.  

Até que a desonestidade disseminada seja extirpada da corporação, somente um sistema de intensa rotatividade da tropa poderá quebrar os “acertos” que se criam durante a liberação da favela. Este revezamento deveria incluir tropa do Exército e Fuzileiros Navais, de forma aleatória e inesperada.  Ainda, a responsabilzação administrativa  por desvios de conduta ou crimes da tropa deve pesar sobre os ombros dos oficias em comando direto. Tal atribuição seria forte estímulo para que os escalões intermediários e superiores  tomem medidas corretivas imediatas. Unidades com desempenho insuficiente devem ser retiradas do programa, atribuindo-lhes missões de “castigo” e de menor importância. Finalmente, a tropa alocada à missão UPP deverá receber “nota” de eficiência e comportamento, recebendo bônus correspondente, alem do seu soldo regulamentar.


Difícil é ignorar que o  nível de contestação às UPP vem aumentando , seja por genuína decepção, seja por mais eficaz reação do tráfico.  Hoje, o subcomandante  de uma UPP foi morto. Muitos outros soldados foram assassinados. À PM não falta coragem; a corporação precisa ser oxigenada por novas idéias e protegida por severa disciplina militar.

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