segunda-feira, 31 de março de 2014

Curtas

Uma nova Maré?

Vamos ver se desta vez vai. A ocupação da fevela da Maré se processou sem tiro. É bom por não haver mortes, mas é ruim por revelar que a bandidagem conseguiu, mais um vez, escapar. Merece elogio este ímpeto inicial de limpar a favela, abrir as ruas antes impedidas pelo tráfico. Resta saber se o movimento de dar à Maré uma estrutura de apoio social realmente vai acontecer, ou se é o habitual fogo de palha.




Pílulas Internacionais


Na França o governo leva surra, perdendo o Partido Socialista a prefeitura de milhares de cidades. O perigo reside na tentativa de resgatar a opinião pública mediante medidas populistas que agravarão ainda mais a situação econômica do país. Mais tarde terá que pagar o preço.


Na Turquia, contrariando a expectativa de parte da imprensa Ocidental, o Governo Erdogan saiu-se muito bem nas eleições recentes. Mesmo assim corre o perigo de uma oposição frustrada e violenta.


Em Israel, um ex Premiê é condenado por corrupção. Enfraquece o lado das “pombas” no conflito com os Palestinos, reforçando o “falcão” Naftali Bennet.
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Na Rússia, Vladimir Putin emerge como líder inconteste e admirado de seu povo. Momento perigoso, pois o sucesso pode subir-lhe à cabeça.


Nos Estados Unidos, Barack Obama demonstra maturidade, aceitando o diálogo e desarmando o recente contencioso. Recomenda-se a desistência de “OTANisar” a Ucrânia. Resta agora a hercúlea tarfea de reerguer a economia daquele país.


Na China, Xi Jinping demonstra quão inescrutável pode ser um chinês. Durante toda a confusão entre Moscou e Washington, nem uma só palavra... E assim segue o jogo internacional.


sexta-feira, 28 de março de 2014

Lucros e perdas

Após a refrega que colocou em campos opostos, os Estados Unidos e os principais países europeus de um lado e a Rússia de outro, pode-se chegar a uma avaliação das perdas e ganhos decorrentes.

Os aliados Ocidentais  passam a influir politica e economicamente sobre a Ucrânia, dependendo, é claro, do viez dos futuros governantes de Kiev. A Rússia vizinha, fornecedora de quase toda a energia da Ucrânia, terá, sem dúvida, perene influência política. Os peões perdidos por Moscou foram a exclusão da Rússia do G8, e a proibição de uma dúzia de Russos viajarem para o Ocidente. Já a Rússia vetou o acesso de meia dúzia de Ocidentais visitarem seu país. Em contrapartida ganhou a Criméia. 

O episódio nos alerta para a profunda transformação geo-politica que ora afeta as grandes nações ou blocos. Do ponto de vista da globalização econômica, constata-se a inescapável interdependência dentre os grandes países, tornando o conflito armado opção de   altíssimo custo. Este foi fator preponderante na busca de saida moderada para o embroglio Ucraniano.

A neutralização do poderio nuclear como elemento de imposição política já vem de longe, levando à preponderância das forças armadas convencionais como fator de extensão da política. Neste setor, difícil será contestar a vantagm estratégica que Moscou goza no quadro operacional em torno de suas fronteiras. Os Estados Unidos, situados a enorme distancia do cerne político, economico e militar do potencial adversário, teria que contar com a OTAN como braço armado no teatro operacional, opção absolutamente insuficiente.

Este episódio permitiu observar a alteração da política externa Norte Americana, habitualmente apoiada em treis pilares, o econômico, o militar e o político. Fora uma opção de guerra total, onde os Estados Unidos são insuperáveis, já o insucesso nas guerras contidas e localizadas, desde o Vietnam ao Afeganistão,   tem sido o hábito.

patdollard.com


Quanto ao pilar econômico, hoje de eficácia limitada, no caso da Rússia, pela extensa interligação de interesses financeiros e comerciais existentes com os países europeus aliados, assim manietando Washington, impedindo qualquer gesto mais contudente. 

No campo político, a colaboração de Moscou para o fluxo de suprimentos dirigido ao Afeganistão, a colaboraçao prestada junto à Siria, o apoio dado à contenção nuclear Iranian são elementos de peso. Acresce a acentuada vulneraabilidade fiscal enfrentada pela America do Norte, onde despesas para respostas militares mais robustas difícilmete teriam o apoio interno desejado.

Todos estes fatores foram introduzidos no xadrez jogado por Vladimir Putin e Barack Obama. Mas a partida não tem fim.



domingo, 23 de março de 2014

Eleições Francesas

Hoje, Domingo, é dia do primeiro turno das eleições em 36.000  comunidades na França e em seus departamentos além mar. Dia importante, tendo em vista o desalento dos eleitores visto o aumento esperado de abstenção.  Tanto o partido  Socialista de Hollande como o UMP de Sarkozy enfrentam descrédito.

O primeiro por adotar política econômica ainda incapaz de impulsionar o PIB francês. O robusto déficit fiscal  ainda não foi controlada. Anda longe do prometido 3% para fins de 2015. Seu endividamento público se expande, prometendo ultrapassar  95% do PIB no próximo ano. A perda de quadros empreendedores, que buscam melhores condições no exterior aguça o mal estar reinante. Enquanto isso, todos pagam mais impostos, diretos ou indiretos. O que seria a luz no final do túnel, para os mais otimistas, é a minúscula taxa de crescimento do PIB recentemente  constatada.

Já do lado do UMP, partido cada vez menos centro, cada vez mais direita, enfrenta dois sérios problemas. O primeiro é a cisão interna, ainda não oficializada, onde o moderado François Fillon trava guerra surda com Jean Françõis Copé, presidente do partido e aliado de Nicholas Sarkozy. Ainda o eleitor francês se depara com uma série de questões onde a ética, segundo a imprensa local, parece ser vítima. Por outro lado, o UMP tem o beneficio de estar, neste momento difícil, na oposição.

Assim, talvez, dentro de sua relatividade,  o mais favorecido será o partido de extrema radical, o Front National da senhora Le Pen. Já os partidos menores porém relevantes, onde se destaca o Modem de François Bayrou, dificilmente apoiarão o enfraquecido governo.

Completo o segundo turno, poder-se-á estimar quais os ventos partidários que favorecerão as próximas eleições parlamentar e presidencial, e para onde caminhará o segundo país mais rico da Europa.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Opiniões valiosas

As observações abaixo transcritas, anteriores à anexação da Criméia por Moscou,  são de importância para melhor entender o contencioso USA/EU e Rússia e os perigos que encerra  A importância e conhecimento de Brzezinski e Kissinger sobre assuntos internacionais refletem quão imprudentes foram as ações explicitas de cooptação da Ucrânia para a órbita Ocidental.

Zbigniew Brzezinski was national security adviser from 1977 to 1981.

... In addition, such efforts to avert miscalculations that could lead to a war should be matched by a reaffirmation of the West’s desire for a peaceful accommodation with Russia regarding a joint effort to help Ukraine recover economically and stabilize politically. The West should reassure Russia that it is not seeking to draw Ukraine into NATO or to turn it against Russia. Ukrainians themselves can define the depth of their closeness to Europe and the scope of their economic cooperation with Russia, to the benefit of peace and stability in Europe. And after their May elections, they can revise some of the arrangements for a special status for Crimea, but they should not do so under duress or attack from a neighbor driven by imperial or personal ambitions.

Henry A. Kissinger was secretary of state from 1973 to 1977.

...The West must understand that, to Russia, Ukraine can never be just a foreign country. Russian history began in what was called Kievan-Rus. The Russian religion spread from there. Ukraine has been part of Russia for centuries, and their histories were intertwined before then. Some of the most important battles for Russian freedom, starting with the Battle of Poltava in 1709 , were fought on Ukrainian soil. The Black Sea Fleet — Russia’s means of projecting power in the Mediterranean — is based by long-term lease in Sevastopol, in Crimea. Even such famed dissidents as Aleksandr Solzhenitsyn and Joseph Brodsky insisted that Ukraine was an integral part of Russian history and, indeed, of Russia.
Leaders of all sides should return to examining outcomes, not compete in posturing. Here is my notion of an outcome compatible with the values and security interests of all sides:
1. Ukraine should have the right to choose freely its economic and political associations, including with Europe.
2. Ukraine should not join NATO, a position I took seven years ago, when it last came up.
3. Ukraine should be free to create any government compatible with the expressed will of its people. Wise Ukrainian leaders would then opt for a policy of reconciliation between the various parts of their country. Internationally, they should pursue a posture comparable to that of Finland. That nation leaves no doubt about its fierce independence and cooperates with the West in most fields but carefully avoids institutional hostility toward Russia.
4. It is incompatible with the rules of the existing world order for Russia to annex Crimea. But it should be possible to put Crimea’s relationship to Ukraine on a less fraught basis. To that end, Russia would recognize Ukraine’s sovereignty over Crimea. Ukraine should reinforce Crimea’s autonomy in elections held in the presence of international observers. The process would include removing any ambiguities about the status of the Black Sea Fleet at Sevastopol.


quarta-feira, 19 de março de 2014

Uma notável lição

Amigos,  
Transcrevo a seguir um artigo de autoria do excelente publicitário Nizan Guanaes. Espero não ser processado, pois não soube como pedir-lhe autorização, mas vale o risco pela qualidade do que diz, do que ensina.
Boa leitura!
por Nizan Guanaes
O que os americanos e ingleses mais sofisticados têm em comum? Cultura.
Livros e dinheiro são uma mistura perfeita para elegância, savoir faire e bom gosto.
Infelizmente o Brasil, que copia tanta coisa destes dois grandes países, não aprendeu a copiar essa ainda. A pobreza do rapaz rico dos camarotes, estampada na capa da Vejinha, mostra uma classe alta inculta que beira as raias do constrangimento num país cheio de desigualdades.
Ninguém que tenha aberto um livro será capaz de, num mundo desigual como o nosso, abrir champanhes magnum a rufar de tambores e piscar de luzes.
Dinheiro sem livro faz garotos ruidosos e meninas caladas. Gente mal vestida com as melhores grifes. E que não sabe se comportar no mundo.
Gente caipira.
A começar, não sabem falar inglês, inaceitável num mundo global. O mais lamentável ainda é que falam mal português também.
A vida social em Nova York e Londres se passa dentro de universidades e museus, misturando caridade, diversão e cultura. Quando você conversa com pessoas como Tina Brown e Arianna Huffington, elas não são apenas locomotivas sociais, elas são enciclopédias vivas. Sem cultura e sem refinamento intelectual, seremos sempre sinhozinhos e sinhazinhas capiras  mesmo que a gente compre todas as roupas, relógios, fivelas, todos os aviões e carros do mundo.
Este país, apesar de todos os desafios que tem, já é um gigante global. E além de uma nova classe média, ele precisa de uma nova classe alta.
Harvard, Yale, Stanford, Oxford, Cambridge… são centros sociais desse mundo moderno. É lá nessas escolas que se formam o establishment social que vai influir no mundo. No Brasil, nós ainda achamos que esse establishment se forma em Nammos, em Mikonos, ou no Club 55, em St.-Tropez.
Nasci no Pelourinho. Fui a uma universidade bem mais ou menos. Mas em vez de dar uma Ferrari pro meu filho, coloquei ele na melhor escola que São Paulo tem: a Graded. E ele, por conta própria, escolheu fazer o colegial em uma das melhores prep schools dos Estados Unidos. A escola Exeter foi fundada em 1781. Lá estudou Mark Zuckerberg. A biblioteca tem 250 mil livros. E Antonio está estudando latim, fazendo remo e sofrendo pra burro pra entrar na disciplina da escola. Mas isso sim é uma herança.
Meu filho leu mais do que eu, sabe mais do que eu. Está se tornando um homem melhor por dentro e por fora.
Eu acredito que desse jeito construo não só um futuro pra ele, mas construo um futuro melhor pro país. Eu me dedico pessoalmente à educação de minhas crianças. Cada uma tem seu caminho e seu estilo. Passei, por exemplo, uma semana mostrando a Antonio o que era Istambul. E três horas jantando com Zeca, eu e ele, num restaurante três estrelas Michelin em Osaka.
Os brasileiros melhores que nós formamos são a maior contribuição que podemos dar ao futuro desse país. Claro que o caminho não é fácil. Antonio, por exemplo, acostumado à boa vida de um menino em sua idade em São Paulo, luta para se enquadrar à vida espartana e focada em Exeter. Ao acompanhar meu filho e sua luta na tradicional escola, vejo de posição privilegiada como os Estados Unidos e a Inglaterra fabricam grandes mentes a ferro e fogo. Estudantes de história que viram fotógrafos ou vão fazer moda, ou simplesmente serão grandes anfitriões.
Mas em tudo que forem fazer terão a marca indelével da boa educação. E é isso, educação, que nós, a elite, desejamos e cobramos tanto para os pobres que eu cobro para os ricos. Porque é elite estudada, culta e sensível um dos maiores luxos que este país mais precisa.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Curtas


Criméia e adjacências

Conforme previsto nesta coluna, a Rússia não aceitou a jogada Ocidental de absorver a Ucrânia. Jogada segue jogada neste perigoso xadres, que, até agora, parece estar progredindo a favor do Kremlin. A vitoriosa cartada da incorporação da Criméia, sustentada juridicamente pela similar separação do Kosovo, recebe tênue resposta de Washington,  impondo sanções pessoais (!). Não o bastante para intimidar Vladimir Putin...

 

50 anos do Golpe

Este é o título de mau gosto empregado com certo cinismo por jornal que deve seu sucesso ao  apoio recebido dos militares de 64, como prêmio à sua adesão.  Um pouco complicado, né? Pois é. A matéria publicada, em forma de seriado, relata os desmandos reais ou supostos do Regime Militar, alguns deploráveis, mas não todos. Em contrapartida, a título de jornalismo isento, ignora os assassinatos perpetrados contra civis e militares pelos opositores do regime. 

 

Sanções Individuais

Sempre prontos para inovar, os Estados Unidos agora recorrem a sanções individuais, contra aqueles que consideram adversários a seus interesses. O seqüestro de bens pessoais, inclusive contas bancárias e investimentos, parece atropelar o Estado de Direito que deve  persistir em todo país civilizado. O confisco de patrimônio de uma pessoa sem que seja submetido a  procedimento legal apropriado é uma violência só encontrada em regiões mais primitivas. A política externa civilizada deve processar-se entre nações, e não entre nações e indivíduos.



sábado, 15 de março de 2014

UPP, fracasso ou vitória?








Há anos, escrevi um artigo intitulado  “Ou o Rio acaba com a favela ou a favela acaba com o Rio”. Ou seja, transformar a favela, dar-lhe dignidade, cidadania. Não creio que a situação tenha melhorado muito desde aqueles tempos.

O artigo propugnava a invasão paulatina das maiores favelas. O objetivo: expulsar ou, se necessário for, eliminar a bandidagem lá inserida. Em seguida, instalar-se-ia  a tropa para garantir a liberdade dos habitantes e impedir o retorno dos criminosos. Mas grande erro seria se a intervenção  cessasse com a ocupação. Até esta primeira etapa, o Secretário Beltrame tem sido exemplar. Porém, bem mais terá que ser feito para co-optar o morador recém libertado e tornar perene a tranqüilidade da comunidade resgatada.

Torna-se essencial entender o ambiente do morador de favela conflagrada pelo banditismo. Além da opressão que sofrem, há que se compreender que são muitos os moradores que se beneficiam com o fluxo de dinheiro gerado pelo comércio da droga.  Não apenas os jovens “aviões”,  mas também os adultos prestadores de serviços e pequenos empresários, além dos “soldados” recrutados lucram. Esta realidade microeconômica tem que ser substituída por vantagens diferentes e superiores, para que a comunidade, ao perder certos benefícios  ganhem outros como a proteção da lei, a eliminação da violência que também fere os moradores, seus filhos, suas jovens mulheres. Ganham também o direito do livre ir e vir bem como o desenvolvimento econômico, facilitado por um comercio mais amplo, interativo, com o resto da cidade.

Em complemento aos benefícios acima, a construção de postos de saúde, escolas e aprimoramento da coleta de lixo são providências essenciais à fixação de cidadania no ambiente  UPP. Uma campanha de conscientização de higiene e comportamento deve  seguir-se à ação militar. Sem uma clara visão dos benefícios do novo formato de comunidade, tanto mais difícil será a adesão dos seus moradores. Vias de acesso para viaturas, desde autos até carros blindados,  deveriam ser abertas, de forma a permitir a chegada de socorro ou reforços em tempo hábil. No campo da comunicação o Disque Denuncia deve merecer a mais completa confidencialidade (colocada em dúvida na Rocinha) e confiança.

Concomitantemente,  para o sucesso das UPPs, parece relevante o aperfeiçoamento da  Polícia Militar. O tíbio comando, a falta de disciplina,  treinamento,  e a prepotência e desrespeito para com a população, por vezes observado, dificulta ou impossibilita a harmonia essencial  entre os fatores que sustentam o modelo.  

Ainda, a corrupção que contamina uma parte dos policiais, quebra o elo de confiança entre o cidadão e a autoridade militar. Aí cessa a colaboração do favelado com a policia, aumentando exponencialmente a dificuldade no cumprimento de sua missão. Esta minoria de maus soldados não só prejudica, mas traz perigo mortal para os colegas de farda no enfrentamento armado. O  policial corrupto na zona  da UPP é, em última análise, cúmplice do bandido, levando o perigo de morte a seus colegas.  

Até que a desonestidade disseminada seja extirpada da corporação, somente um sistema de intensa rotatividade da tropa poderá quebrar os “acertos” que se criam durante a liberação da favela. Este revezamento deveria incluir tropa do Exército e Fuzileiros Navais, de forma aleatória e inesperada.  Ainda, a responsabilzação administrativa  por desvios de conduta ou crimes da tropa deve pesar sobre os ombros dos oficias em comando direto. Tal atribuição seria forte estímulo para que os escalões intermediários e superiores  tomem medidas corretivas imediatas. Unidades com desempenho insuficiente devem ser retiradas do programa, atribuindo-lhes missões de “castigo” e de menor importância. Finalmente, a tropa alocada à missão UPP deverá receber “nota” de eficiência e comportamento, recebendo bônus correspondente, alem do seu soldo regulamentar.


Difícil é ignorar que o  nível de contestação às UPP vem aumentando , seja por genuína decepção, seja por mais eficaz reação do tráfico.  Hoje, o subcomandante  de uma UPP foi morto. Muitos outros soldados foram assassinados. À PM não falta coragem; a corporação precisa ser oxigenada por novas idéias e protegida por severa disciplina militar.

quinta-feira, 13 de março de 2014

A rebelião


Dep Eduardo Cunha
A cizânia na Câmara de Deputados tornou-se evidente.  São muitos os parlamentares do PMDB e de  partidos menores, até então aliados do governo, que protestam contra a inflexibilidade da  Presidente Dilma. Nada menos do que o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha, comanda a contestação, apoiado por boa parte de sua bancada. Tentativas do Planalto, para trazê-los de volta às disciplinadas fileiras tem sido infrutíferas.

Pouco tem a ver, este protesto, com diferenças doutrinárias ou divergências quanto a forma de governar. Mais tem a ver com não ter recebido o PMDB o espólio político a que julga ter direito. Os vários partidos anões, que se uniram ao protesto, comungam da mesma visão, a de que estão sendo descartados de sua justa  (?) compensação.

Porém, alem das razões imediatistas e materialistas que move o movimento rebelde, vale perguntar-se: porque agora? A ambição de seus integrantes existe desde que para o Congresso foram conduzidos. Como se explica a paciência que só agora se esgota?

Talvez,  tenha-se chegado às últimas gotas que transbordam o copo. Além das frustrações já divulgadas, que outras se escondem? O mal estar que ronda a nação parece indiscutível.  O insucesso do projeto PT torna-se cada vez mais visível, tornando sombrias as projeções para o ano eleitoral. Sombrias, também, são as estimativas para os anos subseqüentes.

Tal quadro pouco estimula a continua cumplicidade do PMDB com o PT. A crescente inflação, a crise energética, o aumento do endividamento interno e externo, a perda de competitividade das exportações industriais, a morosidade em fechar-se o hiato na infra-estrutura e outras insuficiências não deixarão incólume o maior partido nacional. Torná-lo-ão partícipe do fracasso que se anuncia.

Ao abrir-se esta rachadura na até então inviolável muralha construída por ideólogos e cleptólogos, cabe o grito dos combatentes de antão: À brecha! À brecha! Será que o matreiro Aécio Neves e o agressivo Eduardo Campos saberão aproveitar-se?  


Deve a oposição buscar a multiplicação do fato político que hoje caracteriza as eleições do Estado do Rio. Sérgio Cabral, inconformado com o avanço Petista em seu território, busca alianças de seu PMDB com outras forças opositoras ao Planalto. A extensão desta querela a outros estados poderá criar as condições que levem ao segundo turno o pleito presidencial. No segundo turno Dilma pode perder.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Requiescat in pace


O perfil era forte. Dominado por nariz levemente adunco, o magro rosto transmitia força e tênue beleza, que nem a morte lhe roubara. A janela, por atrás, dava-lhe  luminosidade e contraste.

Dona Isadora morrera ha dois dias. Vivera boa e longa vida, sem ver filho morrer. Só o marido lhe antecipara. Mas o esticar dos anos tornou-a solitária, filhos e netos dispersos por interesses diversos. Não mais se apegava à pálida rotina da sobrevivência.

Era temente a Deus, pois antecedia de muito a era da contestação. Nascera Católica por convenção, mas abraçou o seu Deus por convicção. Acreditava Nêle. É verdade que também temia as labaredas do inferno, a peçonhenta face de Satanás, as sombras dos condenados. Porém, nem mesmo o turbilhão da adolescência a fez duvidar, desdenhar. Sim, foram muitas as tentações, pois fora moça bonita. Cedeu, sim, cedeu a algumas, pecou com parcimônia, mas sem que perdesse o respeito próprio. Compreendia que ser humano é ser fraco, é pecar, mas sem dobrar-se à fraqueza, sem nela buscar o pretexto. Encontrou na compreensão, no entender o outro, o caminho da bondade e da concórdia.

Reclinada em belo ataúde, sobre macia almofada e estreito leito, recebia as despedidas de tantos queridos. Após a benção do Padre, fez-se o silêncio. Se olhos tivesse, sua alma não entenderia o que lá fazia. Como não estar perto dos amores que antes se foram? Estenderia a mão em busca fútil?

Tal qual surdo zumbido de besouro, a maquina alerta para sua presença e implacável determinação. Em vez de mãos, o féretro é levado por mecânica esteira. Põe-se em lento movimento. É curto caminho. Leva, devagarzinho, Dona Isadora para as labaredas.


sábado, 8 de março de 2014

CURTAS



Quanto pior, melhor?

A oposição ao governo Dilma torna-se cada vez mais intensa. Formadores de opinião, cada vez mais numerosos e qualificados, se declaram a favor da desmontagem da máquina do PT.

A recente votação do Supremo Tribunal Federal, invertendo sua severidade inicial,  causou, à boa parte da população, o sentimento de que as instituições basilares da República estariam se enfraquecendo, abrindo, assim , o caminho para o avanço incontido do populismo.

Ainda, os exemplos preocupantes  que chegam da Venezuela e da Argentina, onde seus governos optam por métodos populistas para encobrir as reais causas da abrupta queda de suas economias, servem para acentuar as válidas preocupações  da classe média brasileira.

Surgem, então, teses do quanto pior melhor, como forma de levar à derrota o atual governo.  Há quem torça pela perda da seleção, pela redução das chuvas e consequente apagão,  ou por uma  inflação maior; enfim torcem pelo pior. Talvez esqueçam que ao governo cabe o eficaz antídoto , através de sua extensa rede de comunicação, de atribuir à “insensibilidade capitalista” a culpa pelos fracassos. Cuidado com este caminho.



Perda de influência?

Seria impensável.  Até poucos anos atrás, os Estados Unidos dominavam a OEA (Organização dos Estados Americanos). Washington tinha pouco trabalho para impor sua vontade às resoluções daquele organismo multilateral.

Há poucos dias, a proposta apoiada pelo colosso do Norte foi derrotada de forma surpreendente. Sómente dois países, O Canadá e o Panamá  apoiaram sua proposta de envio de observadores do organismo à Venezuela, vista a desordem que lá impera.

A alternativa preferida pelo bloco Latino foi atribuir à UNASUL, corpo composto por países da America do Sul, a tarefa de facilitar o diálogo entre as facções opostas, em busca de solução democrática.  Tanto a Colômbia como o Chile, países próximos à America do Norte, preferiram seguir “los hermanos”.

Barack Obama talvez entenda que suas as relações com a América do Sul devem obedecer a um programa permanente de aproximação, e não apenas intervir nos momentos de crise contrária a sua conveniência.  A “síndrome do quintal”, tão a gosto de Foggy Bottom*  parece estar sendo aposentada.  

*O Itamarati norte americano.

Xi Jinping
O silêncio da China

Manter-se quieto em momento tão grave quanto a questão Ucraniana provoca atenção redobrada. A China, segunda potência econômica, e terceira potência militar mundial (atrás da Rússia) conseguiu (tarefa difícil) nada dizer até o momento!

Sob um aspecto, deve apoiar a Rússia, pois o cerco que ora sofre poderá reproduzir-se em torno do Império do Meio. Bases Norte Americanas já existem, como em Okinawa e Guam. Reproduzindo a situação européia, os Estados Unidos contam, nesta tarefa, com seus aliados o Japão, Taiwan e Filipinas, assim formando um arco ao sul da China.

Por outro lado a possível secessão da Criméia, a exemplo do Kosovo,  muito preocupa Pequim. Estes movimentos em busca de autonomia, lastreados na preponderância étnica, podem servir de precedente para o eventual reconhecimento da rebelião dos Uighurs no Xinjiang, província ao norte do país, de etnia diversa e muçulmana.


Uma coisa é certa; sua opinião sobre o atual conflito, se oferecida, terá forte relevância, tanto nas Chancelarias mundiais quanto nas Nações Unidas, onde tem por arma seu poder de veto. Aguarda-se a manifestação do presidente Yin Jinping.