Minhas queridas filhas,
Deixo-vos esta carta
para que, daqui trinta anos, constatem a justeza ou delírio destas palavras. É
apenas um exercício que a todo homem fascina, o de prever o que o futuro nos
promete. Em nada as intuições e previsões que seguem abaixo serão de ajuda
prática, pois a inevitabilidade, seja do
acerto ou do erro, obvía qualquer iniciativa acautelatória. Mas, aqui,
paradoxalmente, corro o risco de, ao bem prever, merecer o doloroso prêmio do
acerto, ou de, feliz, humilhar-me
eternidade afora pelo erro cometido. Eis o que me atrevo a pensar:
“Estamos no ano 2043. A situação ecológica mundial mostra
sinais claros de deterioração, onde o debate quanto a sua constatação torna-se
inócuo. Hoje, é obvio. Está aqui para ficar.
O degelo das calotas polares está quase terminado; pouco resta da parte
que se esvai, resistindo, tão somente, o “núcleo frio” polar. Não mais afetados
pelo contínuo esfriamento das correntes polares que baixavam a temperatura
dos mares, observa-se nítido aquecimento
das águas. Estas, ao tornarem-se mais quentes transformam-se em incubadoras de
furacões e tufões cujo efeito sobre as comunidades costeiras tornam-se
devastadores.
Igualmente grave é o aumento do nível do mar,
potencializando o castigo às cidades e
infra-estrutura como portos, terminais ferroviários, e logística em geral. Sofre o
comércio internacional, sofre a distribuição de bens. O planeta está em alerta.
Sob a constatação de crescente desequilíbrio ecológico agora
vivem na Terra dez bilhões de seres humanos, esgotando os recursos essenciais
como grãos, minerais e petróleo. O
multiplicado acréscimo pluviométrico castiga a agricultura pelas
inundações de uma terra já encharcada e pela sua ausência desertifica outras imensas regiões afastadas
do litoral. Temperaturas abrasadoras atingem as regiões centrais dos
continentes, demandando mais e mais água para atenuar a sede dos humanos, das
plantas e do cultivo. Já a oferta de energia torna-se cada vez mais
dispendiosa, devido à demanda que cresce exponencialmente, ultrapassando a
oferta de petróleo, carvão, madeira e, ainda, das fontes alternativas já
desenvolvidas. O consumismo devora a riqueza do planeta.
No campo geopolítico as nações poderosas buscam em terra
alheia aquilo que lhes falta, pois a
necessidade de sobrevivência e bem estar
desmantela os limites que protegem o interesse coletivo das nações, o respeito
à soberania, à obediência aos valore éticos e até morais. O campo internacional
resvala, gradualmente, para a Lei do Mais Forte.
Assim vemos e compreendemos a perda de boa parte da
Amazônia. Revelou-se inevitável. A contínua intromissão estrangeira nas Nações
Indígenas já fragilizam, de há muito, a lealdade de seus habitantes para com o Brasil. Ignorando a política
seguida pela Funai, onde o índio deve permanecer protegido contra o avanço da
civilização, onde a crença, talvez ingênua, que o selvícola não busca melhorar, seja sua fortuna, seja seu bem estar, outros
têm seguido política inversa,
oferecendo, a socapa, benefícios que o
governo Brasileiro recusa oferecer, seja por idealismo, seja por penúria, seja
por imprevidência.
Foi previsível, portanto, a recém proposta vencedora de intervenção e proteção oferecida por país poderoso junto ao Conselho de
Segurança das Nações Unidas, para garantir a independência de Nações Indígenas,
autônomas e soberanas, situadas na região Amazônica, sob alegação de que são vítimas
de descaso e maltrato étnico, conforme capitulado no Estatuto dos Direitos
Humanos aprovado pelas Nações Unidas.”
Assim, minhas queridas, aqui ficam estes pensamentos
trazidos por uma idade que por vezes confunde os benefícios da experiência com
a prática do pessimismo. Vocês julgarão se tolo ou louco será este seu pai, ou
se, por triste acaso tal visão tinha razão.
Do seu pai, Pedro
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