segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Carta ao futuro




Minhas queridas filhas,

Deixo-vos  esta carta para que, daqui trinta anos, constatem a justeza ou delírio destas palavras. É apenas um exercício que a todo homem fascina, o de prever o que o futuro nos promete. Em nada as intuições e previsões que seguem abaixo serão de ajuda prática, pois a inevitabilidade, seja  do acerto ou do erro, obvía qualquer iniciativa acautelatória. Mas, aqui, paradoxalmente, corro o risco de, ao bem prever, merecer o doloroso prêmio do acerto, ou de, feliz,  humilhar-me eternidade afora pelo erro cometido. Eis o que me atrevo a pensar:

“Estamos no ano 2043. A situação ecológica mundial mostra sinais claros de deterioração, onde o debate quanto a sua constatação torna-se inócuo. Hoje, é obvio. Está aqui para ficar.  O degelo das calotas polares está quase terminado; pouco resta da parte que se esvai, resistindo, tão somente, o “núcleo frio” polar. Não mais afetados pelo contínuo esfriamento das correntes polares que baixavam a temperatura dos  mares, observa-se nítido aquecimento das águas. Estas, ao tornarem-se mais quentes transformam-se em incubadoras de furacões e tufões cujo efeito sobre as comunidades costeiras tornam-se devastadores.
Igualmente grave é o aumento do nível do mar, potencializando o castigo às cidades e  infra-estrutura como portos, terminais ferroviários, e logística em geral. Sofre o comércio internacional, sofre a distribuição de bens. O planeta está em alerta.

Sob a constatação de crescente desequilíbrio ecológico agora vivem na Terra dez bilhões de seres humanos, esgotando os recursos essenciais como  grãos, minerais e petróleo.  O  multiplicado acréscimo pluviométrico castiga a agricultura pelas inundações de uma terra já encharcada e pela sua ausência  desertifica outras imensas regiões afastadas do litoral. Temperaturas abrasadoras atingem as regiões centrais dos continentes, demandando mais e mais água para atenuar a sede dos humanos, das plantas e do cultivo. Já a oferta de energia torna-se cada vez mais dispendiosa, devido à demanda que cresce exponencialmente, ultrapassando a oferta de petróleo, carvão, madeira e, ainda, das fontes alternativas já desenvolvidas. O consumismo devora a riqueza do planeta.

No campo geopolítico as nações poderosas buscam em terra alheia  aquilo que lhes falta, pois a necessidade de sobrevivência e  bem estar desmantela os limites que protegem o interesse coletivo das nações, o respeito à soberania, à obediência aos valore éticos e até morais. O campo internacional resvala, gradualmente, para a Lei do Mais Forte.

Assim vemos e compreendemos a perda de boa parte da Amazônia. Revelou-se inevitável. A contínua intromissão estrangeira nas Nações Indígenas já fragilizam, de há muito, a lealdade de seus habitantes  para com o Brasil. Ignorando a política seguida pela Funai, onde o índio deve permanecer protegido contra o avanço da civilização, onde a crença, talvez ingênua, que o selvícola não busca melhorar,  seja sua fortuna, seja seu bem estar, outros têm  seguido política inversa, oferecendo, a socapa,  benefícios que o governo Brasileiro recusa oferecer, seja por idealismo, seja por penúria, seja por imprevidência. 

Foi previsível, portanto, a recém proposta vencedora  de intervenção e proteção oferecida  por país poderoso junto ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, para garantir a independência de Nações Indígenas, autônomas e soberanas, situadas na região Amazônica, sob alegação de que são vítimas de descaso e maltrato étnico, conforme capitulado no Estatuto dos Direitos Humanos aprovado pelas Nações Unidas.”


Assim, minhas queridas, aqui ficam estes pensamentos trazidos por uma idade que por vezes confunde os benefícios da experiência com a prática do pessimismo. Vocês julgarão se tolo ou louco será este seu pai, ou se, por triste acaso tal visão tinha razão.  

Do seu pai, Pedro

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