Há pouco esta coluna comentou a
existência de um Estado autônomo no Brasil. Pois, no Rio, são
diversos. Rocinha, Maré, Alemão, e por aí vai. Hoje, os criminosos
que dominam as favela, pairam sobre o Rio de Janeiro como se um manto
funesto envolvesse a cidade. São oitenta mil habitantes aqui,
cinquenta mil ali, quinze mil acolá (ou serão ainda mais?). Eles
não elegeram seus dirigentes, foram-lhes impostos pelas armas. Podem
ir e vir, porém, ao adentrar seus portais ler-se-á, em soturna
paráfrase, ”Voi che entrate lasciate la libertá”.(¹)
Do alto do morro o “chefe” manda
seus soldados. A “favela desceu!”, como se temia. E pouco fez-se
para impedi-lo. A sua expansão, uma combinação da pobreza com a
explosão demográfica, da incúria dos governantes para dar solução
aos que clamavam por moradia. Deveu-se também à apatia
administrativa dos prefeitos que, ao permitir os primeiros casebres,
asseguravam seu incontido crescimento. Senão um retrato, uma
caricatura da politicagem urbana que, em última análise, termina
por retirar ao cidadão seu direito a viver em paz.
Mas a sociedade, aterrorizada pelas
imagens televisadas, reproduzidas na imprensa e redes sociais clamou
pela correção de rumo. A violência em todos os quadrantes da
cidade Maravilhosa não mais poderia ser varrida sob o tapete.
Criticar-se a Busca e Apreensão
Coletiva é ignorar as condições em que os moradores de bem são
invadidos, a qualquer hora, por bandidos em busca de esconderijo para
si ou para suas armas. O direito à inviolabilidade de suas casas já
lhes foi retirado há muito pelos criminosos. Obstar-se tal ação de
busca só protegerá a bandidagem. Certamente o habitante da Rocinha
gostará de ver as forças de segurança expulsando os malfeitores de
sua “cidade”.
Como reclamações do cidadão contra
comportamento de policiais lotados em sua vizinhança poderão gerar
retaliação, um sistema de denuncia deveria utilizar a Polícia Federal para registro, análise, acompanhamento, sendo a
informação, já anônima, transmitida à unidade policial
envolvida.
Contudo, o término da favela caótica e, por conseguinte, criminal, não poderá restringir-se à ação militar. Os recursos a serem alocados a este projeto devem atender, não apenas ao combate, mas, também, à redenção social. A liberação dos recursos necessários deve ser imediata após “libertada” a comunidade.
Necessário será a imediata construção de
creches, postos de saúde, modernização de escolas, as quais constituirão o
complemento essencial à fixação da cidadania na região. Já, em segunda etapa será crucial a urbanização da favela, alteração de gabarito para absorver os deslocamentos intra-favela, compatibilização jurídica de propriedade e posse, e outras medidas necessários
à implementação do projeto.
O sucesso desta renovação urbana será o sucesso
do Rio de Janeiro. A eventual derrota será a derrota do Rio de Janeiro como um todo. Será
a derrota dos filhos e netos dos que hoje contemplam a falência do
seu entorno.
(¹) Parafraseando o dístico
sobre a porta do Inferno, de Dante Allighieri
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