O planeta está de mau humor. Se, por
um lado, alguns analistas respeitáveis projetam crescimento
econômico global, por outro parecem esquecer que a economia não
ignora a política.
Começando pelo mais importante e
seguindo a descendente escala de relevância, é justo focar-se nos
Estados Unidos da América onde um Donald Trump empolgou o poder.
Trump tem se revelado impulsivo, colérico, mentiroso e xenófobo.
Adicione-se, racista. À bem da verdade, sua eleição reflete o
apoio de uma importante parcela do eleitorado que, se, por vezes,
não as partilhe
plenamente, não rejeita suas
preferências. Ora, se estas características pessoais são exercidas
pela presidência da nação, difícil sera evitar-se o virus que há
de contaminar as decisões que emanem da Casa Branca. E o resultado
já se faz observar no cenário internacional.
Os efeitos negativos do isolacionismo
que defende se alastra no comércio. Sua visão de negociação, o
que chama de “deal making”, lastreia-se na sua preferência pelo
“hard power”, o poder impositivo, não o persuasivo. Ao assumir a
presidência abortou três tratados comerciais, abandonando uma
política que buscava uma crescente rede de interesses comuns.
Hoje, nas Américas, a renegociação
do NAFTA. Na Ásia e na Europa, abortaram-se os tratados de livre
comércio, o ASEAN, e o de Livre Comércio Transatlântico, o TTIP.
Desta forma o governo Trump amputou boa parte de seu “Soft
Power”.Seus efeitos fazem-se sentir nos campos político, comercial e
militar.
Porém, vê-se, também, na União
Européia o crescente germe da discórdia. Tendo a Inglaterra por
catalizador, espalha-se o efeito centrífugo. Na sua periferia,
naquela parte que menos comunga com o cerne civilizatório da Europa
Ocidental formado pela França e a Alemanha, surgem movimentos
autoritários na Polônia e na Hungria. Até, mesmo, o Reich do
Leste, a Austria, abraça o nacionalismo autoritário reminiscentes
de tempos de ditadura.
Ainda, mesmo nas chancelarias das
potencias europeias, surge o novo desafio: até onde existe
convergência geopolítica entre o velho mundo e Washington. A
crescente constatação por líderes europeus que a União Européia
deve desenvolver sua própria defesa armada, assim livrando-se de
tutela instável de um Trump imprevisível, revela o esgarçamento
que poderá verificar-se na própria OTAN, incondicional aliança que
até hoje une os dois continentes.
Do ponto de vista geo-político, a
hostilidade que ora se agrava ente os Estados Unidos e a Rússia
parece contrária aos interesses Europeus.
À União Europeia, hoje potência
econômica e militar, interessa a multi-polarização global, com a
abertura dos canais político-comerciais e redução das zonas de
influência exclusiva. Neste quadro insere-se a pacificação de
suas relações com a Rússia tendo a via comercial por objetivo.
Bens de capital e de consumo da Europa, recebendo, no sentido
inverso, o fluxo de commodities, onde se destaca o petróleo e o o
gaz, com evidentes vantagens mútuas.
A alternativa militar seria impensável.
Não existe benefício geopolítico que compense o risco de conflito
com a Rússia. A agravar-se o contencioso Washington-Moscou, o
espectro da guerra, possivelmente nuclear, colocaria as capitais
europeias na mira imediata dos foguetes russos.
Porém, o maior benefício de uma
reaproximação da Rússia com o Ocidente seria político. Retiraria
à China a aliança com Moscou, o mais
temível dos pactos caso o cenário bélico torne-se realidade.
Do outro lado do Globo, continua a
expansão acelerada da China, tanto no campo comercial como político.
Tal expansão é frontalmente contrária aos interesses geopolíticos
norte-americanos que têm a Asia sob sua influência desde a derrota
da Espanha e a conquista das Filipinas. A vitória sobre o Japão, e
sua cooptação como aliado tornou inconteste sua preponderância na
região.
Hoje, tem-se a China como segunda
potência mundial, em vias de tornar-se a primeira a perdurar o ritmo
de seu crescimento econômico. Por resultado ter-se-á uma gradual
mudança na esfera de influência na região. Já se observa
movimento de aproximação com a China tanto pelas Filipinas quanto
pela Indonésia.
O acordo de cooperação econômica já
celebrado entre a China e países do Sudeste asiático, ASEAN, do
qual os Estados Unidos estão excluídos (vide acima), é relevante.
Assim, pari passu com sua superioridade militar na região,
amplia Pequim o seu Soft Power.
Mas nem tudo serão rosas; No campo
político a Coréia do Norte pode servir de estopim para um conflito
de crescente proporções. Ainda, um Japão, sentindo-se ameaçado,
pode transformar-se de nação pacífica em potência militar, o que
parece já estar nas cartas. Ainda, as fronteiras que separa a Índia
da China está prenha de disputas menores que podem escalar.
Já no campo comercial, a expansão
das exportações chinesas, não raro favorecidas por subsídios
excessivos vis a vis os tratados internacionais, deverá gerar
crescente retaliação tarifária, muitas vezes já ameaçada por Donald Trump.
Atenção, recém divulgado. Xi Jinping pretende eternizar-se no comando da China. Ainda que hábil e racional, poucos políticos superam os riscos que acompanham a autocracia. Aumenta a nota de imprevisibilidade.
Atenção, recém divulgado. Xi Jinping pretende eternizar-se no comando da China. Ainda que hábil e racional, poucos políticos superam os riscos que acompanham a autocracia. Aumenta a nota de imprevisibilidade.
Vê-se, pois, que o planeta não está
tranquilo apesar das promessas de crescente prosperidade.
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