A julgar pelo discurso
de Donald Trump na inauguração de seu mandato, o mundo, doravante,
será outro.
Sua primeira frase
revela o desprezo que nutre pelas instituições democráticas de seu
país. Promete governar sem a intermediação do quadro político, do
Congresso, tornando seu diálogo com o povo direto, sem
intermediários. Do alto de um incontido ego, o presidente parece
descartar o que seja um processo político, repleto de checks and
balances, essencial ao funcionamento harmonioso de uma
democracia. Revela-se arauto da vontade do povo ainda que a
compreensão desta vontade seja limitada pelos seus próprios
preconceitos. Estes excluem os anseios de importante segmentos da
população norte-americana.
Tornou nítida a
confrontação com a política até agora seguida por Washington, não
apenas diferindo do governo que ora substitui, mas também dos
governos passados liderados por companheiros de partido, o
Republicano. Tece uma intriga, colocando-se ao lado do povo, este
abandonado pela classe política. Descreve-a com desprezo, “aqueles
que muito falam e que nada fazem”. Embalado por um apoteótico
surto de auto estima, em confusa percepção de eficácia
empresarial, assume o comando do que pretende ser USA Corp.,
concedendo a si próprio o título de Chief Executive Officer.
Não leva em conta que a maioria dos “acionistas” votou contra
sua candidatura.
Rumando pelas plagas
estrangeiras, Mr. Trump determina a revisão das alianças vigentes
de forma a explicitar as vantagens que cabem à America, sem dar-se
conta de ser esta a regra vigente. Rebela-se contra subsídios
concedidos aos aliados como se não fossem moeda de troca para
benefícios recebidos. Revela ignorar o quid
pro quo que tais alianças, há décadas, permitem aos Estados
Unidos manter-se como a mais poderosa das nações.
Talvez seja no campo
interno que o novo presidente alcance genuína popularidade quando
acentua America First, Buy American, Employ American. Porém
as vantagens inicias de tal política poderão trazer no seu cerne o
germe do fracasso.
Nesta mensagem
isolacionista se insere o maior obstáculo ao crescimento da economia
global. As barreiras erguidas à concorrência internacional poderão
interromper a progressão da globalização, levando os grandes polos
econômicos ao estreitamento de seus canais de comercio externo com
consequências restritivas no fluxo financeiro mundial. Tal onda
recessiva não deixaria de atingir as praias dos Estados Unidos.
Talvez, a mais lúcida
de suas visões seja a que envolve a estratégia militar a ser
seguida pelo Pentágono. Trump parece acertar ao priorizar sua
política militar na eliminação do Islã radical. Se assim for, e
tendo a Rússia por aliado de singular eficácia na luta contra o
terrorismo, poder-se-á vislumbrar a neutralização dos focos
terroristas no Oriente Médio e países vizinhos. Tal aliança
favoreceria a redução das tensões no teatro europeu sem prejuízo
para sua segurança, e uma concentração de esforços de Washington
na contenção da expansão militar e geográfica da China.
Estas observações
presumem a sinceridade do candidato ao elencar suas prioridades e
preferências. Será Donald Trump sincero em suas declarações?
Saberá ele navegar o turbulento mar político que o espera? Merecerá
ele o apoio e solidariedade de seus correligionários Republicanos?
O
que promete ser o leit motif de seu governo sera a
imponderabilidade que decorre de sua impulsividade e de seu
amadorismo.
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