segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
Holocausto
Este planeta ja exhibiu momentos trágicos, porém nenhum supera aqueles promovidos pelo Homem. Na sexta feira passada cumpriu funesto aniversário a inominável matança engendrada pela máquina Nazista, em nome do princípio de higienização de uma raça superior. Milhões de Judeus sucumbiram nos campos de extermínio e nas câmaras de gaz, ao lado de outros como ciganos, homosexuais e deficientes mentais.
O experimento revelou a aberração de sua concepção. Nada mais perigoso, nada mais nocivo do que um "princípio" ou um "ideal" quando dão à crueldade o manto da respeitabilidade.
Setenta e dois anos se passaram desde o final da Segunda Guerra Mundial, quando a plena extensão da barbárie foi conhecida. Há sessenta e nove anos foi criado um Estado por um concerto de nações denominado Nações Unidas como justa reparação do sofrimento de um povo massacrado. Outro Estado foi criado, como reparação ao povo Palestino deslocado pela criação do estado judeu.
Hoje, ao ver o pujante e notável desenvolvimento de Israel resulta a admiração. Seu povo sofrido, perseguido, torturado levantou-se e ergueu-se por seu mérito e pela solidariedade política e material que recebeu das grandes nações.
À seu lado, outro povo, o Palestino, dependente, ocupado, controlado por àqueles outrora perseguidos não recebeu destes a tolerância, a compreensão que lhes foram, no passado, concedidas. Que a reflexão sobre o Holocausto e seus horrores abram as portas da concórdia entre estes antigos inimigos.
sábado, 28 de janeiro de 2017
Uma nova tempestade?
Marine le Pen, François Fillon e Emmanuel Macron |
A União Européia, já abalada na sua integridade com o abandono britânico, sacudida pela enorme migração do Oriente Médio e do Norte africano, preocupada com o renascimento da extrema direita separatista tanto na França quanto na Alemanha, Holanda e Dinamarca, se vê confrontada com nova crise de proporções tectônicas.
Trata-se da reviravolta que ameaça as eleições presidenciais francesas em maio próximo. Ajudado pelo impopular governo socialista de François Hollande, o partido dos Les Republicains (novo nome da antiga UBP) parecia empolgar a preferência da maioria moderada. Vencedor nas primarias de seu partido, François Fillon derrota, facilmente o ex presidente Nicholas Sarkosy e se afirma como novo líder do mais favorecido dos partidos franceses.
As pesquisas pareciam indicar que, confrontado com o neo-socialista Emmanuel Macron e a ultra direitista, Marine le Pen, a candidatura Fillon seria vencedora. Tanto no primeiro quanto no provável segundo turno. Tal resultado traria à França e seus parceiros europeus um alento, onde prevaleceria o equilíbrio e a moderação no trato das grandes questões políticas. Teria por influência fortalecer as candidaturas estáveis e confiáveis nas demais nações da União Européia.
Porém, o germe da corrupção se revelou, no mais delicado dos momentos. O irreverente periódico parisiense Canard Enchainé revelou a extensão dos benefícios que teriam sido indevidamente concedidos à mulher do candidato preferencial. A Sra. Fillon é, no momento, objeto de averiguações quanto aos 500.000 euros recebidos, segundo o jornal.
Por resultado, observa-se uma queda abrupta, que promete tornar-se permanente, nas intenções de voto em M. Fillon. Assim sendo, vê-se o centro-direita francês seriamente enfraquecido face à determinada Marine le Pen, cuja vitória não pode ser descartada. Volta a cena a volatilidade e instabilidade destes novos tempos.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
Para entender a atual situação do Sistema Elétrico Brasileiro
Joaquim
Francisco de Carvalho *
É
escusado insistir em que eletricidade é um insumo vital para a
indústria, comércio, transportes, universidades, residências,
escolas, laboratórios, hospitais, enfim, para tudo. Energia é vida.
E,
como todas pagam tarifas, o setor elétrico é uma espécie de
“coletor automático” de uma boa parte da renda nacional.
Coletor, aliás, muito mais eficiente do que o fisco, porque as
contas de eletricidade são pagas implacavelmente, sob pena de corte
do fornecimento, enquanto os impostos podem ser parcialmente (quando
não totalmente) sonegados, graças à manigância de contadores
ardilosos.
Talvez mal avisado por seus conselheiros, ao assumir a
presidência da república, o honrado Fernando Henrique Cardoso
anunciou que adotaria o “modelo britânico” na privatização do
sistema elétrico, ignorando que tal modelo não é aplicável no
Brasil.
De
fato, o parque gerador britânico é termoelétrico, enquanto o
brasileiro é preponderantemente hidroelétrico.
E
reservatórios hidroelétricos pressupõem usos múltiplos, que
requerem pesados investimentos em programas de regularização de
bacias hidrográficas, controle de enchentes, preservação da fauna
ictiológica, proteção dos solos e da flora ribeirinha, irrigação
de terras agrícolas, construção de hidrovias e outros, quase todos
deficitários para o empresário privado, embora sejam indispensáveis
para o equilíbrio ambiental, para desenvolvimento econômico e para
o bem-estar da sociedade, como um todo.
Por
isso as empresas elétricas públicas reservavam fatias importantes
de seus orçamentos para investimentos em programas dessa natureza.
Era assim que faziam a CESP, a CPFL e a Eletropaulo, quando eram
estatais paulistas.
Privatizadas,
elas agora extraem máximos lucros para remeter a seus acionistas
(quase sempre no exterior), deixando com o Estado a responsabilidade
de investir nos programas ambientais, o que, evidentemente,
compromete recursos que deveriam ir para a expansão e modernização
do próprio sistema e para a área social (educação, saúde,
habitação popular, segurança pública, etc.).
A
importância do controle público sobre as bacias hidrográficas é
tal que até nos Estados Unidos, onde quase tudo é privado, as
principais hidroelétricas são controladas por empresas públicas
regionais ou federais e até pelo Exército.
O
governo FHC alegava que, sem privatizar as empresas de eletricidade,
o Estado não teria recursos para investir os 8,5 bilhões de reais
(da época) previstos para atender à expansão da demanda de
eletricidade até 2004.
Mas
os fatos mostraram que isso não era verdade. O sistema elétrico
regrediu com as privatizações: os controladores privados das
antigas estatais, ávidos por lucros, não fizeram os investimentos
previstos para a expansão da capacidade, comprometendo seriamente a
confiabilidade do sistema (o risco de deficit
saltou dos 5% com que trabalhava o sistema público, para mais de
15%), enquanto as tarifas - que eram acessíveis até para a
população mais pobre - estão hoje entre as mais caras do mundo.
A
situação geral do país também se agravou, embora o governo
afirmasse que, com a receita das privatizações, a dívida pública
seria reduzida e que, sem o ônus de administrar empresas estatais, o
governo poderia concentrar recurso nos chamados programas sociais. O
resultado foi o oposto do prometido: sob a administração FHC a
dívida interna saltou de R$ 58 bilhões para mais de R$ 550 bilhões,
o endividamento externo passou de US$ 112 bilhões a US$ 380 bilhões,
a saúde pública, o ensino básico e a pesquisa científica ficaram
à míngua, aumentou o desemprego, o valor aquisitivo dos salários é
ridículo e a violência é o que se vê.
Entretanto
as remessas de lucros, que eram de US$ 750 milhões, chegaram perto
de US$ 8 bilhões, por ano.
Dourar
a pílula das privatizações com uma ilusória “pulverização de
ações” não mudou nada:
no Brasil, o mercado de ações é fraco e desmoralizado.
Para terminar, assinalo que - com as atuais tarifas - o faturamento do sistema elétrico brasileiro está à volta de R$ 200 bilhões, por ano. Esse faturamento deverá subir muito, pois a ANEEL não tem poder, nem competência, muito menos vontade política para controlar nada.
Por
outro lado, como o sistema é preponderantemente hidroelétrico
(funciona com a potência da água que corre em nossos rios, sem
consumir combustíveis) e as usinas estão quase todas contabilmente
amortizadas, os custos de geração são baixíssimos e o lucro
líquido do sistema verticalizado (geração, transmissão e
distribuição), pode chegar a 50% do faturamento. Com as elevações
de tarifas previstas para o futuro próximo, tais lucros poderão
superar R$ 100 bilhões, por ano.
As
empresas do sistema foram construídas com dinheiro público e
funcionavam muito bem. Não houve razão plausível para entregar seu
lucro (que de justiça deveria ser reinvestido na área social e no
aperfeiçoamento e expansão do próprio sistema) a especuladores,
corretores e banqueiros, sejam eles nacionais ou estrangeiros.
E
tudo isso piorou muito nas administrações do PT, porque aí entrou
a corrupção em escala nunca vista, nem mesmo por aqui.
___________________
Joaquim
F. de Carvalho, engenheiro nuclear, licenciado em física e doutor em
energia, foi coordenador do setor industrial do Ministério do
Planejamento, diretor
da NUCLEN (atual Eletronuclear) e engenheiro da CESP.
domingo, 22 de janeiro de 2017
Uma nova America
A julgar pelo discurso
de Donald Trump na inauguração de seu mandato, o mundo, doravante,
será outro.
Sua primeira frase
revela o desprezo que nutre pelas instituições democráticas de seu
país. Promete governar sem a intermediação do quadro político, do
Congresso, tornando seu diálogo com o povo direto, sem
intermediários. Do alto de um incontido ego, o presidente parece
descartar o que seja um processo político, repleto de checks and
balances, essencial ao funcionamento harmonioso de uma
democracia. Revela-se arauto da vontade do povo ainda que a
compreensão desta vontade seja limitada pelos seus próprios
preconceitos. Estes excluem os anseios de importante segmentos da
população norte-americana.
Tornou nítida a
confrontação com a política até agora seguida por Washington, não
apenas diferindo do governo que ora substitui, mas também dos
governos passados liderados por companheiros de partido, o
Republicano. Tece uma intriga, colocando-se ao lado do povo, este
abandonado pela classe política. Descreve-a com desprezo, “aqueles
que muito falam e que nada fazem”. Embalado por um apoteótico
surto de auto estima, em confusa percepção de eficácia
empresarial, assume o comando do que pretende ser USA Corp.,
concedendo a si próprio o título de Chief Executive Officer.
Não leva em conta que a maioria dos “acionistas” votou contra
sua candidatura.
Rumando pelas plagas
estrangeiras, Mr. Trump determina a revisão das alianças vigentes
de forma a explicitar as vantagens que cabem à America, sem dar-se
conta de ser esta a regra vigente. Rebela-se contra subsídios
concedidos aos aliados como se não fossem moeda de troca para
benefícios recebidos. Revela ignorar o quid
pro quo que tais alianças, há décadas, permitem aos Estados
Unidos manter-se como a mais poderosa das nações.
Talvez seja no campo
interno que o novo presidente alcance genuína popularidade quando
acentua America First, Buy American, Employ American. Porém
as vantagens inicias de tal política poderão trazer no seu cerne o
germe do fracasso.
Nesta mensagem
isolacionista se insere o maior obstáculo ao crescimento da economia
global. As barreiras erguidas à concorrência internacional poderão
interromper a progressão da globalização, levando os grandes polos
econômicos ao estreitamento de seus canais de comercio externo com
consequências restritivas no fluxo financeiro mundial. Tal onda
recessiva não deixaria de atingir as praias dos Estados Unidos.
Talvez, a mais lúcida
de suas visões seja a que envolve a estratégia militar a ser
seguida pelo Pentágono. Trump parece acertar ao priorizar sua
política militar na eliminação do Islã radical. Se assim for, e
tendo a Rússia por aliado de singular eficácia na luta contra o
terrorismo, poder-se-á vislumbrar a neutralização dos focos
terroristas no Oriente Médio e países vizinhos. Tal aliança
favoreceria a redução das tensões no teatro europeu sem prejuízo
para sua segurança, e uma concentração de esforços de Washington
na contenção da expansão militar e geográfica da China.
Estas observações
presumem a sinceridade do candidato ao elencar suas prioridades e
preferências. Será Donald Trump sincero em suas declarações?
Saberá ele navegar o turbulento mar político que o espera? Merecerá
ele o apoio e solidariedade de seus correligionários Republicanos?
O
que promete ser o leit motif de seu governo sera a
imponderabilidade que decorre de sua impulsividade e de seu
amadorismo.
domingo, 15 de janeiro de 2017
Eleições francesas
A Europa chega à
encruzilhada; as eleições, francesas e alemãs,
que se aproximam fortalecerão a União Européia ou trarão o
início de sua dissolução?
A dúvida instaurada
pelo Brexit agora se extende pelas próximas eleições francesas nos
meses de abril, primeiro turno, e maio, o último
turno. O candidato Republicain, François Fillon já
teve sua candidatura sufragada nas primarias de seu partido,
derrotando MM. Juppé e Sarkozy. Sua
plataforma é de teor liberal.
Já, Manuel Valls
parece prestes a herdar o comando do Partido Socialista caso François
Hollande confirme sua desistência. Apesar de compelido à
flexibilizar o rigor das primeiras medidas tributárias adotadas
pelo seu partido, mantém a decisão de rever o emaranhado
previdenciario em busca de maior equilibrio. A
primeira agrada, já a segunda provoca a ira dos sindicatos.
Porém, uma nova
estrela ascendente promete iluminar o
firmamento político gaulês. O jóvem, 38
anos, Emmanuel Macron, presidente e fundador do
recente partido “En Marche” defende uma plataforma
liberal. Egresso das hostes socialistas, convidado por Hollande para
Ministro da Economia, o jóvem polytechnitien
renunciou às teses anteriores, oferecendo ao eleitorado o que
alguns chamariam de “terceira via”, esta configurada segundo os
textos mais
próximos à ortodoxia. Valeu-lhe o epíteto de traidor
por seus antigos correligionarios, porém
conquista com sucesso novos seguidores.
Já, a
nemesis dos demais partidos, Marine le Pen cresce na opinião
publica, cavalgando a crise econômica, a ameaça terrorista e a
invasão muçulmana. Oferece soluções simplistas, tão ao gosto
populista, tanto para reverter o ainda substancial desemprego, como o
que considera a perda de identidade da população de souche*
vis-a-vis a crescente presença árabe em território francês. Tão
importante quanto, defende, a priori, o abandono do clube do Euro e a
retomada da moeda nacional. Não descarta abandonar a União
Europeia.
Assim estes três
candidatos, Valls, Macron e Fillon se
enfrentarão em busca do voto moderado e em oposição ao voto
radical de Marine le Pen. As pesquisas, até
o momento, indicam uma tenue liderança de Fillon
sobre Le Pen, tendo Macron como um próximo terceiro colocado. A se
projetar um segundo turno, seja o primeiro liderado por um dos dois
liberais ou, ainda, pela radical de direita, é provavél que Macron
ou Fillon conquiste a presidência. Se assim for, preserva-se, por
enquanto, a União Européia.
Qual
seria a influência de Donald Trump, empossado e poderoso, terá
sobre os destinos desta eleição? Talvez, nem tão importante, tendo
em vista as incompreensões que toldam as duas culturas.
A
ver...
* de
origem centenária francesa
quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
O Desenvolvimento Econômico e a Organização Política
Este Blog agradece ao Professor Julian Alfonso de Magalhães Chacel por esta valiosa colaboração, de especial interesse para seus leitores.
Com o
país imerso em severa recessão e uma resiliente taxa de inflação
que resiste ao choque dos juros vale a pena trazer à colação
ideias e conceitos que formam a estrutura da Nova Escola
Institucional Americana. Doutrina que tem seus lideres em dois
Prêmios Nobel de Economia. Ronald Coase e Douglass North.
O primeiro
nascido na Inglaterra e o segundo nos Estados Unidos.
De Ronald
Coase cabe reter o conceito de custos de transação que
aparece pela primeira vez em seus escritos quando escrevia sobre a
Natureza da Empresa. De Douglass North a importância das
instituições e sua correlação com o avanço econômico de um
país.
Em Coase,
em paralelo com os custos incorridos na produção de bens e na
prestação de serviços existem os custos da negociação, redação
e cumprimento dos contratos.
North,
numa visão histórica sobre o desenvolvimento, dá especial atenção
aos limites da imaginação humana que condicionam a interação
entre a política, o econômico e o social. Às normas formais como a
Constituição e as Leis acrescenta as normas não formais como a
tradição, os costumes e os códigos de conduta.
Ao
observador e analista do atual Cenário Brasileiro certamente não há
de escapar que custos de transação e as tortuosas interações
entre as instituições explicam muito das vicissitudes pelas quais
passa nosso país. Sintetizadas num presidencialismo de coalizão,
figura de linguagem do sociólogo Sergio Abranches hoje consagrada,
onde o Executivo, a cada passo, tem de negociar nas Casas do
Congresso com uma coorte de partidos políticos, a maioria destes sem
maior expressão eleitoral mas que na hora da verdade podem ser o
fiel da balança.
Parece no
dia de hoje haver consenso em relação à mudança da moldura
institucional que envolve a atividade política em nosso país. O
jogo terá de ser jogado com novas regras, para que as reformas
econômicas fiscais e previdenciárias possam recolocar o país na
rota do desenvolvimento sustentado. Apesar da vastidão temática da
Reforma Política, duas medidas já propaladas constituiriam desde
logo enorme avanço.
A adoção
da cláusula de desempenho dos partidos políticos nas eleições
gerais para que haja, por estes, representação da cidadania na
Câmara dos Deputados e possam representar as unidades federadas no
Senado da República. Quando da rejeição à cláusula de barreira o
STF não esteve em seu melhor momento.
Na falta da cláusula, o ambiente assim criado, na maioria dos casos
torna a aprovação das Leis objeto de uma negociação, por vezes
tensa, entre Executivo e Legislativo; e cria uma membrana permeável
entre os dois Poderes por que “no dando é que se recebe” o
Senador ou Deputado transformasse em Ministro de Estado em pastas de
grande visibilidade e alentado orçamento. Frauda-se a vontade do
eleitor.
A
interdição das coligações para a disputa eleitoral teria o condão
de melhor espelhar a vontade do eleitor, de vez que hoje figuras
midiáticas, os puxadores de votos, com seu robusto quociente
eleitoral levam às casas do Congresso candidatos menos votados,
quando comparados os resultados em número de votos diretos
obtidos por candidatos de outras legendas.
Tudo
ficando como está os custos de transação do presidencialismo de
coalizão são altíssimos em face da Nação. E a atual configuração
de nossa organização política dificulta o bom funcionamento das
instituições, gerando uma situação em que o Poder Judiciário
através do STF é instado constantemente a decidir. Nada a ver com o
Equilíbrio de Poderes imaginado pelo Barão de Montesquieu.
JAMC
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Politizar a segurança
A matança
que vem acontecendo nas penitenciarias e cadeias não
é novidade. Ocorre em ciclos de extrema violência seguidos por
etapas de maior tranquilidade. Uma vez exaurido o capital criminoso
para tal mobilizado. Mas que capital será este?
Certamente
o dinheiro necessário para corromper os guardas carcerários para
facilitar o motim, para azeitar a direção do presidio para que os
olhos fiquem fechados, para comprar a neutralidade de facções
duvidosas, para mobilizar os advogados que atenuem o castigo. Porém,
mais importante, é o capital humano, o contingente de combate,
pronto para matar e morrer.
Toda
esta engrenagem se beneficia de duas condições, a corrupção e a
ineficiência. As consequências da corrupção são óbvias e
evidentes. Ainda, mesmo em contexto honesto, a ineficiência gera a
brecha pela qual penetra o crime. O diretor relapso ou pouco atento, o
carcerário desmotivado, a revista negligente de presos e visitas. E
por aí vai.
A
soma de todos estes fatores revela um quadro que potencializa e torna
ubíqua a criminalidade no país, fere a sociedade brasileira,
desvaloriza nossa imagem internacional. Como corrigir o rumo? Serão
muitas as formas de derrotar este inimigo; não faltarão aqueles, e
dentre eles, talvez um Beltrame, ou mesmo especialistas estrangeiros,
que ofereçam a metodologia e planos para reverter a situação. De qualquer forma, novas prisões que permitam condições humanas será um ponto unanime na gênese de tal projeto.
Porém
uma alerta: a solução não advirá da criação de um Ministério
da Segurança. Pelo contrário, a criar-se tal órgão governamental, estará se
politizando a tarefa eminentemente profissional do combate ao crime.
A começar pela barganha parlamentar para a escolha do ministro,
passando pela criação do núcleo politico de apoio ao ministro, este
formado por assessores e apaniguados, chegando-se ao desvirtuamento
quando da seleção de delegados e demais operadores.
Tal
quadro subverteria o atual organograma. Hoje observa-se a distância
e isenção que rege o relacionamento entre o Ministro da Justiça e
os responsáveis pelas polícias federal e outras, onde existe a
meritocracia no acesso de carreira, onde vem se observando a
independência de ação, esta isenta de pressões políticas. Ao
aproximar-se o Ministro da Segurança da organização e da operação
de combate ao crime, a contaminação pelo troca-troca aético que
caracteriza o estamento político será inevitável.
Como
soe acontecer em momentos de crise, o congresso brasileiro é fecundo
em novas ideias, novas leis, novos órgãos. O fazem por buscar a
atenção pública e os dividendos políticos que resultam.
Esquecem, porém, a pletora de leis, muitas excelentes, que tratam
do assunto. Esquecem-nas porque não são cumpridas, são esquecidas e
desprezadas pela anomia que assalta nossos governantes.
As instituições já
existem; se estes não funcionam será pela absoluta falta de vontade
política, incapacidade administrativa, ou, por uma conveniente
displicência que deixem as portas abertas a vantagens e benefícios.
Nada
de novas leis nem novos ministérios, senhor Presidente. Usem, e usem bem o que aí já
está. Façam seu trabalho, senhores políticos em vez de assaltarem
o combalido erário da República.
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