terça-feira, 15 de março de 2016
A torre de Putin
E a torre se move no tabuleiro, mais uma vez surpreendendo um adversário atônito, apesar de dono de Rei e Rainha. Wladimir Putin, mais uma vez colhe de surpresa o estamento politico-militar de Washington e de seus aliados.
A decisão súbita e inesperada de retirar as forças Russas da Síria é um exemplo deste modus operandi.
Terá razões para satisfação, o novo Czar. Em constantes inciativas cria ele fatos novos e assim neutraliza o opositor. Desta vez, porém, seus objetivos convergem com os de Washington, pois lhe convêm favorecer a estabilidade na Síria e no Oriente Médio, assim preservando suas duas bases militares
Seu plano, defendido junto às capitais Ocidentais, prevendo a continuidade de Bashir al Hassad até que novas eleições possam ser organizadas pelas Nações Unidas, foi aprovado por Washington, como sendo o único projeto realista.
Corretamente, Putin insistia com seu colega Obama que o desejo deste último, de prioritáriamente derrubar o ditador Sírio para depois promover as eleições, não era factível. Pecava por menosprezar, erroneamente, o caos que se seguiria numa Síria acéfala, inviabilizando qualquer projeto estabilizador.
Ao reverter o enfraquecimento de Assad, o presidente Putin criou condições para que os rebeldes Sírios concordassem em dialogar em busca de solução política, uma vez que a opção armada parecia inatingível graças à força aérea Russa. Assim foi feito, e sob a coordenação de Steffan de Mistura, representante das Nações Unidas, tiveram início as negociações.
Qual seriam, então, as razões que levaram à decisão ontem anunciada?
Missão cumprida, pensaria o presidente? Podemos voltar para casa? Talvez, mas pouco provável. A decisão de Putin mais parece um blefe no poker que joga com um Assad relutando conceder novas eleições. Um Assad, fortalecido pelo apoio Rússo, porém confundindo o benefício temporário com uma solução permanente. Sem os aviões de Putin o alívio do ditador Sírio será, necessariamente, fugaz.
Será o blefe de Putin eficaz o bastante para incutir o bom senso em seu interlocutor, e levá-lo de volta à mesa? Possível.
Por outro lado, para o líder Russo, o eventual colapso das negociações transformariam uma iniciativa até agora vitoriosa em mais uma tentativa fracassada visando restabelecer o equilíbrio na região. Tal fracasso macularia sua imagem, ferida profunda em sua personalidade narcisista.
Outra alternativa para decisão tão surpreendente seria: "Dei aos Estados Unidos as condições para levar a bom termo as negociações. Fiz a minha parte; agora cabe à Obama". Desta forma Moscou se livraria de qualquer responsabilidade pelo fracasso das negociações, transferindo-a para Washington. Simultaneamente, interromperia a sangria financeira que lhe impõem as operações militares, ao ritmo de 3 milhões de dólares por dia.
Contudo, os benefícios trazidos por esta hipótese dificilmente compensariam o substancial custo estratégico, face ao contencioso com a OTAN, decorrente da perda das bases de Tartus e Khmeimim. A Rússia perderia sua autonomia militar no espaço Mediterrâneo. Caindo Damasco sob domínio hostil, dificilmente preservar-se-iam as bases.
Assim, ao leitor este Blog oferece alternativas, que não são únicas, com o intuito de especular quais os meandros que percorre este notável enxadrista.
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