domingo, 8 de março de 2015

A guerra das religiões



Resultado de imagem para fotos do estado islamicoNos meados do Século XVII eclodiu a guerra das religiões, onde o Catolicismo e o Protestantismo, ignorando a origem comum do Cristianismo,  lançaram-se em violência pagã, homens contra homens, Estados contra Estados. Somente após trinta anos e torrentes de sangue e maldades, chegou-se ao  bom senso que só a iminente catástrofe engendra. Contudo, não se engane o leitor, pois sob a capa do fervor religioso vicejava os interesses e ambições geopolíticas dos adversários.

Sete Séculos após a paz alcançada, depara-se o planeta com nova guerra de religiões. O atual conflito no Oriente Médio parece repetir o estado de paroxismo violento que outrora motivou a guerra sem quartel entre facções Cristãs. Hoje, denominações Islâmicas, sujeitas ao mesmo Deus, às mesmas escrituras, ceifam vidas em nome de Allah.

O advento do Estado Islâmico (EI), em cruel semelhança às hordas Mongóis do Século XIII, surge em cena e espalha o terror. O faz como tática de guerra. Ainda, o absolutismo Salafista e Wahabita da Al Queda declara guerra sem quartel aos xiitas e sunitas moderados.  

Mas enganam-se aqueles que presumem uma lealdade religiosa dentre os protagonistas. Nem sempre as estratégias tem por  motivação a pureza teológica para a escolha de  seus objetivos. Tal qual a França católica que aliava-se a Estados protestantes para melhor prejudicar os Habsburgos católicos, os partícipes do Oriente Média conflagrado condicionam suas ações em obediência a seus objetivos de longo prazo.  A Arábia Saudita, aliada aos Estados Unidos, joga seu xadrez, onde o xeque mate desejado é a neutralização do Irã xiita e sua influência sobre a Síria e minorias disseminadas.

Se a  intervenção Americana foi vigorosa na defesa do território Curdo contra a ofensiva do EI,   o foi por ser o Curdistão  sunita e hospedeiro de empresas multinacionais exploradoras de ricos campos de petróleo. Washington atendeu, assim, seus interesses diretos, em sintonia com os desejos de Riad.  

Já, ao chegar às portas de Bagdá, as hostes fanáticas do EI foram contidas pelas forças xiitas do governo Iraquiano. Com o auxilio de quadros Iranianos e milícias xiitas, o exército Iraquiano repele o invasor empurrando-o para as portas de Tikrit, seu bastião mais ao Norte. Contudo, afora umas centenas de soldados norte-americanos, afetos ao treinamento da tropa, a participação norte-americana e de seus aliados Sunitas,  em terra e ar, não se materializou. Seria a solidariedade de Washington para com Bagdá  tão frágil?

Até o momento as alianças parecem multiformes, ajustando-se no tempo e no espaço aos objetivos geopolíticos, onde a tática se submeta à estratégia. O observador perguntar-se-ia: para Riad e seus aliados, melhor seria manter o Iraque e seu aliado Iraniano (ambos xiitas)  acuados e imobilizados pelo Califado sunita? Será que a guerra de atrito imposta pelo sanguinário Baghdadi ao Iraque, trará para a Arábia Saudita maiores vantagens do que a derrota do agressor fanático?

Aproveitando-se do caos da guerra múltipla, Israel recusa, formalmente, qualquer concessão de terras aos Palestinos, assim sepultando toda esperança de Paz e concórdia entre os povos judeus e árabes. Netanyahu, fortalecido pelo recém recebido apoio do Partido Republicano quando em Washington, despreza, os apelos de Barack Obama. Com a exigência de ser denominado um Estado Judeu, o Primeiro Ministro fragiliza sua condição democrática, onde a diversidade se impõe, para tornar-se também teocrático. 

Se ao leitor o relato parece confuso e intrincado, porém em nada é mais complexo do que a Guerra dos Trinta Anos. Por enquanto, pelo andar da carruagem, não se vislumbra no horizonte  a paz trazida pelo Tratado de Westphalia. Pelo contrário, a instabilidade e suas conseqüências destrutivas prometem longa paragem na região.




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