Nos meados do Século XVII eclodiu a guerra das religiões,
onde o Catolicismo e o Protestantismo, ignorando a origem comum do
Cristianismo, lançaram-se em violência
pagã, homens contra homens, Estados contra Estados. Somente após trinta anos e
torrentes de sangue e maldades, chegou-se ao
bom senso que só a iminente catástrofe engendra. Contudo, não se engane o leitor, pois sob a capa do fervor religioso vicejava os interesses e ambições geopolíticas dos adversários.
Sete Séculos após a paz alcançada, depara-se o planeta com
nova guerra de religiões. O atual conflito no Oriente Médio parece repetir o
estado de paroxismo violento que outrora motivou a guerra sem quartel entre
facções Cristãs. Hoje, denominações Islâmicas, sujeitas ao mesmo Deus, às
mesmas escrituras, ceifam vidas em nome de Allah.
O advento do Estado Islâmico (EI), em cruel semelhança às
hordas Mongóis do Século XIII, surge em cena e espalha o terror. O faz como tática
de guerra. Ainda, o absolutismo Salafista e Wahabita da Al Queda declara guerra
sem quartel aos xiitas e sunitas moderados.
Mas enganam-se aqueles que presumem uma lealdade religiosa dentre
os protagonistas. Nem sempre as estratégias tem por motivação a pureza teológica para a escolha de
seus objetivos. Tal qual a França católica
que aliava-se a Estados protestantes para melhor prejudicar os Habsburgos católicos,
os partícipes do Oriente Média conflagrado condicionam suas ações em obediência
a seus objetivos de longo prazo. A
Arábia Saudita, aliada aos Estados Unidos, joga seu xadrez, onde o xeque mate
desejado é a neutralização do Irã xiita e sua influência sobre a Síria e
minorias disseminadas.
Se a intervenção
Americana foi vigorosa na defesa do território Curdo contra a ofensiva do EI, o foi
por ser o Curdistão sunita e hospedeiro
de empresas multinacionais exploradoras de ricos campos de petróleo. Washington
atendeu, assim, seus interesses diretos, em sintonia com os desejos de Riad.
Já, ao chegar às portas de Bagdá, as hostes fanáticas do EI
foram contidas pelas forças xiitas do governo Iraquiano. Com o auxilio de
quadros Iranianos e milícias xiitas, o exército Iraquiano repele o invasor empurrando-o
para as portas de Tikrit, seu bastião mais ao Norte. Contudo, afora umas
centenas de soldados norte-americanos, afetos ao treinamento da tropa, a
participação norte-americana e de seus aliados Sunitas, em terra e ar, não se materializou. Seria a
solidariedade de Washington para com Bagdá
tão frágil?
Até o momento as alianças parecem multiformes, ajustando-se
no tempo e no espaço aos objetivos geopolíticos, onde a tática se submeta à
estratégia. O observador perguntar-se-ia: para Riad e seus aliados, melhor
seria manter o Iraque e seu aliado Iraniano (ambos xiitas) acuados e imobilizados pelo Califado sunita?
Será que a guerra de atrito
imposta pelo sanguinário Baghdadi ao Iraque, trará para a Arábia Saudita maiores vantagens do que a derrota do
agressor fanático?
Aproveitando-se do caos da guerra múltipla, Israel recusa,
formalmente, qualquer concessão de terras aos Palestinos, assim sepultando toda
esperança de Paz e concórdia entre os povos judeus e árabes. Netanyahu, fortalecido
pelo recém recebido apoio do Partido Republicano quando em Washington, despreza, os apelos de Barack Obama. Com a exigência de ser denominado um Estado Judeu, o Primeiro Ministro fragiliza sua condição democrática, onde a diversidade se impõe, para tornar-se também teocrático.
Se ao leitor o relato parece confuso e intrincado, porém em
nada é mais complexo do que a Guerra dos Trinta Anos. Por enquanto, pelo andar da
carruagem, não se vislumbra no horizonte a paz trazida pelo Tratado de Westphalia. Pelo
contrário, a instabilidade e suas conseqüências destrutivas prometem longa paragem na região.
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