O Urso Russo |
O líder inconteste neste mundo em mudança continua sendo os
Estados Unidos, dominante a partir de 1989. Os demais, a União Européia, mais
próxima da America do Norte, a China e a Rússia compõem a quadríga que tem o
poder para moldar a harmonia no planeta ou levá-lo ao confronto e o conflito. Concorrem
com os Estados Unidos e entre si, não pelo domínio global pelas armas, difícil
numa era de proliferação nuclear, mas na
busca continua de vantagens econômicas através
da preponderância política, seja ela global ou regional.
No entanto, dificilmente os impérios coabitam pacificamente.
Hoje, estes se denominam “blocos” ou “polos”, e entre eles o conflito
localizado sempre será possível. O polo
Norte Americano, vencedor inconteste no embate com a União Soviética, busca consolidar
a vantagem conquistada, perseguindo o objetivo de reduzir a Rússia à
impotência.
Coerente, Bill Clinton descartou Mikhail Gorbachev como interlocutor
que visava uma gradual retirada do comunismo, e apoiou a ascenção de Boris
Yeltsin cobrando-lhe o preço da privatização imediata da economia Soviética. O
açodamento da empreitada desbaratou a economia e o safety net social russo,
causando uma queda do PIB superior a 60% ao longo de seu governo. Boris Yeltsin
recebeu o governo com o PIB de US$ 569 bilhões; o entregou a Wladimir Putin com
US$ 195 bilhões. Em 2014 o PIB russo atinge 2.057 bilhões.
Concomitante à transformação para o modelo de privatização
acelerada, Washington manteve a OTAN apesar do colapso da União Soviética e a
emergência de uma nação aliada. Pelo contrário, teve prosseguimento a expansão
da OTAN através da co-optação dos países da Europa Oriental e Báltica que recém
descartavam o jugo de Moscou. Apesar dos seguidos protestos do Kremlin, já
livre do comunismo e de ambições expansionistas, ampliou-se, mesmo assim, o
cerco à Rússia.
Em movimento oposto, a Russia desfez-se dos tratados que
outrora lhe unia à Ucrânia, à Bielorússia, à Georgia e aos demais países da
Asia central, como o Casaquistão, concedendo-lhes plena independência. Em movimento autônomo, desmontava-se, assim,
o Império Soviético, e as ameaças que continha.
O caos político-econômico instalado, causado pela
desestruturação industrial Russa propiciou a ascenção de Wladimir Putin ao
poder. Este decidiu ajustar o projeto anterior, estancando e revertendo a
sangria iniciada por Boris Yeltsin. Mantendo uma democracia mais restrita do que o
modelo Ocidental, ajustando-se à sua história e sua configuração geo-política,
Putin dedicou-se ao soerguimento econômico do país, restabelecendo a tendência
positiva do PIB e tornando-o um “player” inconteste no mercado global de
energia.
Observação mais profunda dos casos onde a intervenção russa
ocorreu, na Georgia e na Ucrânia, revela que estes decorreram da iminente
cooptação destas nações pela OTAN. Representavam, assim, conforme anterior
e seguidamente declarado pelo Kremlin às
potenciais Ocidentais, ameaça grave à integridade da Rússia. A deposição, e o reconhecidamente ilegal, do presidente Ucraniano, seguidos de ameaças à
população russófona bem como o ataque lançado pelas forças armadas da Georgia
contra a Ossétia, território associado à Rússia, provocou resposta imediata. Assim, rompeu-se um equilíbrio que se tornara instável.
No contencioso ucraniano, Moscou reagiu, incorporando a
Criméia, território essencial à segurança da Rússia, bem como apoiando o
movimento separatista. Respondendo ao ataque de Tiblisi, o exército russo
apoiou a separação da Ossétia e a Abcásia, territórios russófonos, até então
parte da Georgia. O Kremlin, desta forma, deixa o Ocidente saber que ameaças futuras
a suas fronteiras custarão alto preço.
Front Ucraniano
A presente crise na Ucrânia vem suscitando crescente
especulação quanto à política expansionista da Rússia. Especial preocupação vem
sendo revelada pelos países limítrofes da Europa Oriental. Estar-se-ia, então,
diante de uma nova expansão nos moldes Soviéticos? Conforme as observações a
seguir, as condições mínimas para o sucesso de tal aventura não parecem
existir:
_ A combinação dos
PIB da União Europeia e dos Estados Unidos (sete vezes o da Rússia) ultrapassam
ao da Rússia de tal forma que a vitória final, fruto de supremacia econômica (excluídos
alguns sucessos táticos), seria
impossível.
_ A população Rússia, de aproximadamente 145 milhões de almas, é uma pálida comparação com os 290 milhões alcançados pela União Soviética, que, ainda assim, evitava qualquer confronto direto com a aliança Ocidental.
_ As forças armadas russas, negligenciadas aos longo dos anos pela penúria orçamentária e pela inadequada manutenção e atraso tecnológico decorrentes, não se aproxima do parque bélico Norte-Americano.
_ Sua extensão e configuração territorial (6.400 km de Moscou a Vladivostok na costa Leste) a torna vulnerável, pois dificulta ao Kremlin defender todos os possíveis teatros do conflito, dado a impossibilidade de transferência de ativos militares em quantidade e oportunidade.
_ O armamento nuclear Russo dificilmente estará em condições de suplantar ou neutralizar retaliação da aliança Ocidental.
_ A proximidade de bases europeias permitiria o acesso logístico-militar norte-americano, neutralizando o impeditivo geográfico das grandes distâncias. Ainda, a proximidade do Alaska à costa oriental da Rússia, permitiria às forças ocidentais o estabelecimento de dois fronts, condição determinante para a derrota do adversário.
_ O risco de uma derrota levaria a Rússia ao seu desmembramento, condição inaceitável.
Esta condição de inferioridade, leva à conclusão que a
agressividade do Kremlin decorre do medo, e não de ambições territoriais. Temor de um inimigo potencial muitíssimo mais poderoso. Escolhe, portanto,
proteger-se através de ações limitadas ainda que incisivas. Assim, pretende desestimular manobras hostis que
alterem o status quo nas demais
republicas lindeiras com o imenso, e quase
desguarnecido, território russo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário