sábado, 13 de dezembro de 2014

A sequela do caso Petrobrás

Transcrevo a seguir excelente artigo do renomado economista  e Professor Julian Alfonso de Magalhães Chacel, sobre a Petrobras. Tais contribuições valorizam este Blog.




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A Sequela do Caso Petrobras

No imbróglio em que a Petrobras foi envolvida, a palavra mais usada como instrumento para descolar contratos milionários é propina. Cuja raíz é grega, passa por sua origem latina como gorjeta e termina no “pourboire” francês. Faz-se um agrado para “molhar a goela”, como reconhecimento de um serviço prestado. Data vênia dos profissionais da imprensa, talvez a palavra mais apropriada fosse pedágio. Que tem a conotação de pagamento “para deixar passar”, ou seja, cruzar a cancela que se interpõe no caminho que leva ao contrato. Ou, simplesmente, dizer em bom português que a palavra certa é suborno.

Deixando de lado as firulas semânticas, estamos diante de uma estrutura de mercado na qual a empresa estatal como compradora de bens e serviços próprios da indústria do petróleo é um quase monopsônio, em presença de um conjunto restrito de grandes empreiteiras que, por isso, mesmo formam um oligopólio. Compondo numa ponta e noutra um exemplo clássico das Teorias da Competição Imperfeita de Joan Robinson e Edward Chamberlin.

Em contraste com estruturas de mercado formadas por grande número de compradores, de um lado, e grande número de vendedores, de outro, a posição de único ou quase único comprador permite uma dominância sobre os vendedores na configuração dos contratos e fixação do preço: o reverso da medalha está em que o reduzido número destes permite toda sorte de arranjos e combinações que garantam a “rotatividade” nos concursos para a adjudicação dos contratos.

É esse desenho de um mercado imperfeito que, na ausência de rigorosos controles, a boa governança corporativa, deu margem numa escala nunca dantes conhecida aos desvios dos dinheiros da Petrobras, com vistas a garantir a perpetuidade de um partido político no Poder.

Dada a dimensão da Petrobras e seus programas de produção e investimentos, para avaliar as sequelas econômicas do escândalo vale recorrer à matriz de Leontieff e os efeitos de “linkagem” sugeridos por Hirschman. A tabela de insumo/produto em suas linhas e colunas mostra os cruzamentos ou interações de um dado setor da atividade econômica sobre todas as demais, nesta incluída o consumo final. Os efeitos indutores da produção à frente (forward linkages) e a ré (bacward linkages) põem em evidência as demandas por bens e serviços expressas por determinada atividade sobre todas as outras.

Ora, os vultosos contratos da Petrobras têm fortes efeitos à ré sobre a demanda de matérias primas e toda sorte de equipamentos usados na construção das plataformas de exploração e nas instalações de distribuição de petróleo e gás; e os efeitos à frente alcançam a logística dos meios de transporte e a cadeia de distribuição dos produtos finais nas estações de serviço.

Fácil é perceber que enquanto as investigações que buscam apurar os malfeitos na Petrobras estão em curso, o processo decisório na empresa fica comprometido. Suspensas ou diferidas certas iniciativas, a consequência do peso da Petrobrás sobre toda a economia nacional é a de contrair o nível de atividade. Um efeito recessivo numa hora em que a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) reflete estagnação econômica.

Há um sentimento quase unanime sobre a necessidade de ajustes em nossa economia, notadamente a da correção da desordem em que se encontram as finanças públicas. E a sequela do caso Petrobras pode resultar num furo a mais no aperto do cinto. Não é à toa que o novo Ministro da Fazenda, na certeza de queda da arrecadação tributária, assume o prudente compromisso de um modesto superávit primário do PIB, ao invés dos 3% inicialmente prometidos e não alcançados este ano.

Para encurtar razões, as vicissitudes porque passa a Petrobras em nada facilitam a tarefa da equipe econômica nomeada para o novo mandato da Senhora Presidenta. Serão dois anos de ritmo lento da economia, para só então voltar à trilha do crescimento econômico.

Rio de Janeiro 01 de dezembro de 2014


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