Já fazem 55 anos que o ditador, Fulgêncio Batista, foi
derrubado de seu trono em Havana. Era um homem sanguinário e corrupto, lá
instalado com o beneplácito de Washington, sem o qual nenhuma iniciativa
política poderia prosperar, e com a conivência da elite local dominante. Ao
projeto se aliavam os grandes capitais, nativos e, sobretudo, os norte-americanos.
No entanto, impulsionada pelo turismo (e seus excessos, como
a corrupção, o jogo e a prostituição)
bem como pelo preço favorecido de suas
exportações de açúcar para os Estados Unidos, era grande a prosperidade nos
grandes centros urbanos, destacando-se Havana
como o maior pólo hedonista das
Américas. No entanto, a penúria
caracterizava o interior rural do país, seus lavradores limitados ao trabalho
sazonal dos “macheteros” (bóia fria).
A rebelião foi conseqüência. Começou bem, em busca de
democracia, mas perdeu o caminho por razões internas (Fidel Castro alijando as
pressões democratizantes do Diretório Estudantil e sindicatos e optando pela
formula comunista) e externas (incapacidade do governo Norte-Americano de
ajustar-se ao início do movimento “independista” da ilha). Washington não compreendeu as
pressões nacionalistas que se acumulavam em contraposição ao Platt Amendment,
que mantinha Cuba na condição de colônia, só revogado em 1934. Em 1959, Cuba
era independente ha somente 25 anos.
Hoje, nova oportunidade de entendimento se abre. O
restabelecimento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba pode propiciar
uma fase virtuosa nas Américas. À primeira vista é lícito esperar-se uma forte
redução na hostilidade explicita e implícita que caracterizava as relações dos
dois países. A derrubada das barreiras, que impediam as viagens de norte-americanos
de origem cubana e outros à ilha, deverá
irrigar não somente a compreensão mútua, mas estimular crescente atividade
econômica. Este novo cenário poderá levar a ilha rebelde na direção de uma
sociedade mais aberta, econômica e politicamente.
A derrubada do “muro da intolerância mútua” deverá surtir
efeitos positivos nas chancelarias latino americanas, especialmente naquelas
dos países de tendências esquerdistas. Venezuela, Bolívia, Equador,
Argentina,e, em menor grau, o Brasil perderão boa parte de seu discurso
contestador. Não mais terão o isolamento
de Cuba como munição para reforçar posições anti-americanas. Outros contenciosos, alguns válidos como a
permanência do embargo e outros nem tanto, persistirão, porém provavelmente
mais atenuados.
Porém, cautela, comedimento e muita diplomacia deverão
conter o afã norte-americano de alcançar objetivos irrealistas. O ímpeto
empreendedor e atropelador, tão comum nos “yankees”, poderá acelerar, indevidamente, o desejado
processo de simbiose. Estes, na busca incessante de oportunidades comerciais
poderão desrespeitar restrições legais, de cunho comunista, ainda em vigor. Poderão,
ainda, ferir o sentimento arraigado de soberania que incute o povo cubano. Ainda, para assegurar um marcha sustentável, Washington
deverá conter o vigor excessivo na desmontagem das restrições antidemocráticas.
E muito cuidado com a extrema susceptibilidade do regime
Cubano. Estar-se-á patinando em gelo fino.
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