quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Sanções e petroleo



A economia mundial, mais uma vez, se vê diante do espectro de forte crise. Dois eventos parecem causar a súbita aparição de mal estar nos corredores de bancos centrais e privados.

O primeiro evento engloba  as sanções econômicas, financeiras e comerciais impostas à Rússia pela aliança Ocidental. Importante notar que as sanções aplicadas variam em qualidade e intensidade,  de acordo com as características e interesses da cada país.

O uso de sanções impostas pelos Estados Unidos, e, de forma mais tímida,  seguidos pela EU vem se transformando em arma “à tout faire”. Melhor estrangular economicamente  os adversários do que gastar bilhões fazendo-lhes guerras.  A arma é, sem dúvida eficaz, porém resta saber se ela atinge, alem dos benefícios que se esperam, malefícios inesperados.

Quanto às sanções aplicadas à Rússia por conta do apoio de Moscou aos separatistas Ucranianos, (a anexação da Criméia não tem volta e, portanto parece  já ter sido precificada), os efeitos se revelam diferenciados. Do lado norte-americano, a aplicação das medidas restritivas prejudica, a primeira vista, somente os Russos. 

No caso das sanções impostas à Rússia pela União Européia, a história é bem outra. Ainda que as medidas sancionadas pela Alemanha, França e outros tenham causado desconforto a Moscou, as contra-sanções Russas tiveram efeito considerável na parte politicamente sensível da economia européia; a agricultura. Parecem retardar a recuperação Europeia, ha tanto desejada.

Já,  o segundo evento de impacto global foi a derrocada do preço do petróleo, caindo cerca de  40% ao longo do trimestre. A razão ostensiva para tal queda decorre da familiar lei que regula os mercados; a oferta, face à uma demanda cada vez mais tímida, vem buscando um preço que lhe dê equilíbrio. No momento se situa em torno de US$ 60 por barril. Ora, a velocidade da queda e o minguado valor absoluto do barril sugere a manipulação e a politização do preço.

Duas alternativas, não mutuamente excludentes,  poderiam desanuviar a neblina que envolve as intenções políticas. A primeira opção seria uma conspiração da OPEP, à revelia de Washington,  para inviabilizar o boom do fracking, tornado inviável a preços em torno de US$70,00 por barril. A segunda teoria conspiratória seria o conluio dos Estados Unidos e a Arábia Saudita para atingir a produção e desbaratar o orçamento Russo. Em ambos os casos, torna-se pertinente a indagação: por quanto tempo os produtores arcarão com este significativo custo de oportunidade, para os produtores mais eficientes, e o enorme prejuízo para as nações menos eficazes na produção de petróleo? Por quanto tempo poderá resistir a OPEC face ao sacrifício que lhe imporiam os objetivos políticos?

Do ponto de vista global,  parece lícito prever-se o efeito desestabilizador da  combinação dos prejuízos causados com o entupimento dos canais de financiamento. A expectativa de crescente fragilização da dívida pública e privada Russa, com acesso limitado ao mercado financeiro internacional poderá causar uma reação em cadeia, uma nova ameaça à estabilidade econômica mundial. A crescente desconfiança e incerteza, potencializada pela globalização dos mercados, sugere ser particularmente severa para com os países emergentes.




N.R.            Caberia a indagação quanto à legitimidade de tais sanções, quando não validadas pelas Nações Unidas? Poderiam ser elas contestadas uma vez que sua aplicação unilateral  violaria acordos multilaterais e bilaterais sancionados pela Organização Mundial de Comércio (OMC)? Caberia a uma das partes negar, em prejuizo da outra, acesso ao serviço de clearing internacional prestados pela SWIFT? Estas e outras perguntas possivelmente testariam aspectos da Lei Internacional, ainda não invocados.

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