A economia mundial, mais uma vez, se vê diante do espectro
de forte crise. Dois eventos parecem causar a súbita aparição de mal
estar nos corredores de bancos centrais e privados.
O primeiro evento engloba
as sanções econômicas, financeiras e comerciais impostas à Rússia pela
aliança Ocidental. Importante notar que as sanções aplicadas variam em
qualidade e intensidade, de acordo com
as características e interesses da cada país.
O uso de sanções impostas pelos Estados Unidos, e, de forma
mais tímida, seguidos pela EU vem se
transformando em arma “à tout faire”. Melhor estrangular economicamente os adversários do que gastar bilhões
fazendo-lhes guerras. A arma é, sem
dúvida eficaz, porém resta saber se ela atinge, alem dos benefícios que se
esperam, malefícios inesperados.
Quanto às sanções aplicadas à Rússia por conta do apoio de
Moscou aos separatistas Ucranianos, (a anexação da Criméia não tem volta e,
portanto parece já ter sido
precificada), os efeitos se revelam diferenciados. Do lado norte-americano, a
aplicação das medidas restritivas prejudica, a primeira vista, somente os
Russos.
No caso das sanções impostas à Rússia pela União Européia,
a história é bem outra. Ainda que as medidas sancionadas pela Alemanha, França
e outros tenham causado desconforto a Moscou, as contra-sanções Russas tiveram efeito
considerável na parte politicamente sensível da economia européia; a agricultura. Parecem retardar a recuperação Europeia, ha tanto desejada.
Já, o segundo evento
de impacto global foi a derrocada do preço do petróleo, caindo cerca de 40% ao longo do trimestre. A razão ostensiva
para tal queda decorre da familiar lei que regula os mercados; a oferta, face à
uma demanda cada vez mais tímida, vem buscando um preço que lhe dê equilíbrio.
No momento se situa em torno de US$ 60 por barril. Ora, a velocidade da queda e
o minguado valor absoluto do barril sugere a manipulação e a politização do preço.
Duas alternativas, não mutuamente excludentes, poderiam desanuviar a neblina que envolve as
intenções políticas. A primeira opção seria uma conspiração da OPEP, à revelia
de Washington, para inviabilizar o boom
do fracking, tornado inviável a preços em torno de US$70,00 por barril. A
segunda teoria conspiratória seria o
conluio dos Estados Unidos e a Arábia Saudita para atingir a produção e desbaratar
o orçamento Russo. Em ambos os casos, torna-se pertinente a indagação: por
quanto tempo os produtores arcarão com este significativo custo de oportunidade, para os produtores mais eficientes, e o enorme prejuízo para as nações menos eficazes na produção de petróleo? Por quanto
tempo poderá resistir a OPEC face ao sacrifício que lhe imporiam os objetivos
políticos?
Do ponto de vista global, parece lícito prever-se
o efeito desestabilizador da combinação
dos prejuízos causados com o entupimento dos canais de financiamento. A expectativa de crescente fragilização da dívida pública e privada Russa,
com acesso limitado ao mercado financeiro internacional poderá causar uma reação
em cadeia, uma nova ameaça à estabilidade econômica mundial. A crescente
desconfiança e incerteza, potencializada pela globalização dos mercados, sugere ser particularmente severa para com os países
emergentes.
N.R. Caberia a indagação quanto à legitimidade de tais
sanções, quando não validadas pelas Nações Unidas? Poderiam ser elas
contestadas uma vez que sua aplicação unilateral violaria acordos multilaterais e bilaterais sancionados pela Organização Mundial de Comércio (OMC)? Caberia a uma das partes negar,
em prejuizo da outra, acesso ao serviço de clearing internacional prestados
pela SWIFT? Estas e outras perguntas possivelmente testariam aspectos da Lei
Internacional, ainda não invocados.
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