Ícaro
O superlativo é uma condição máxima, e sua busca, teórica ou
ideal, não é atingível no mundo real. A
sua busca trás no seu bojo a semente de sua destruição, pois para que se atinja
o absoluto deve-se renunciar ao possível contido nos limites que a vida impõe.
Já na mitologia vemos a busca superlativa de Ícaro, em busca
do vôo ilimitado, buscando na mais alta das alturas a perfeição. No confronto do objetivo ideal e a limitação da
realidade Ícaro teve suas asas queimadas pelo Sol, de quem se aproximara. Das
alturas despencou.
Nem o amor superlativo seria possível, pois mataria o ser
amado pela intensidade sufocante da totalidade. Na busca do oxigênio essencial
à individualidade, e este essencial à vida, o objeto do ilimitado amor
ver-se-ia fraccionado e rasgado por vontades e ímpetos contrários à imposição absoluta.
No laboratório sócio-político buscou-se a utopia da sociedade
igualitária, totalmente protegida do
berço ao tumulo. Onde a justiça sócio-econômica protegeria as gerações
presentes e futuras, resguardando o
mundo das contradições das ambições descontroladas. Assim, o comunismo não
resistiu às imposições da realidade, onde o bem total submeteu-se ao poder total,
transformando-se em caricatura do que poderia ser, mas não pôde.
E assim chegamos à noção de segurança superlativa. Onde,
para evitar a morte raivosa, a bomba inesperada e para preservar a sociedade justa, buscou-se proteção total. Foi neste experimento de universalidade,
de absolutismo, onde nada poderia penetrar suas fronteiras que nasceu os
primeiros indícios de um esgarçamento moral e político. Em busca deste superlativo,
paga a sociedade, atemorizada e absolutista, o preço moral da tortura de inimigos,
o custo cívico da espionagem de seus cidadãos e aliados, e o sangue derramado em terras longínquas, onde inimigos morrem e renascem multiplicados.
Herdeiros que foram
de uma história admirável, vê-se, hoje, os Estados Unidos despertarem, brutalmente
acordados pela rebelião da realidade.
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