Aqui não vai qualquer desrespeito. Marina Silva nada tem do rinoceronte, merecedor de relevante votação já faz mais de década. Na época, o sucesso de Cacareco deveu-se a profunda decepção do eleitorado com os políticos, enviando forte mensagem democrática. Constata-se, desde as manifestações de junho, que tomaram conta das ruas do país, o ambiente de revolta do eleitor.
Poucos momentos na história republicana revelam, como hoje, tamanho
desrespeito pelas instituições basilares da Nação. O legislativo desponta como o maior perpetrador
da quebra de ética pública, onde o eleito, supostamente responsável pelo
cumprimento do programa partidário, se desvencilha de suas obrigações, optando
pelos caminhos oblíquos e fáceis que levam ao benefício pessoal. Respeitando-se
poucas exceções, a conclusão inevitável é de repúdio aos legisladores pela
opinião pública.
Após resgate temporário, ocorrido imediatamente após as
condenações do Mensalão, ocorreu nova liquefação do respeito à pedra angular da
República, sua suprema Corte. Nada mais importante do que impor a Justiça à
Nação, que tem por dever a proteção do cidadão contra os abusos dos poderosos,
sejam eles o Poder político ou econômico. A autoridade e a severidade dos
tribunais vêm se diluindo, por submeter-se aos labirintos da formalidade e assim subtraindo-se do
essencial.
Já o Executivo perde sua eficiência pela incapacidade de
priorizar e executar. A confusão se soma à corrupção, aliadas inseparáveis, que
desfazem os benefícios da boa intenção. Descendo-se a pirâmide do Poder, o
exemplo que de cima vem espalha-se dentre os milhares de chefetes que abocanham o comércio do processo
decisório, tornando difícil o fácil, o
errado em certo, assim extraindo a riqueza que do povo emana.
Não surpreendo, assim, a acensão de Marina da Silva, despoluída
na sustentabilidade de sua silenciosa trajetória política. Sua evolução de
cidadã e de política é inatacável, seja por opção, seja por omissão. Seu
repúdio às manobras do PT, ocasionando sua rejeição ao ministério de Lula
revelou seu caráter. Sua permanência no Senado não a contaminou. Seu semblante
severo parece dizer ” basta de risos quando o povo sofre”. Sua plataforma eleitoral é um exemplo de bom senso. Como mero joguete do
Acaso, torna-se, agora, a urna da
desilusão e revolta popular.
Boa sorte, Marina Silva.
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